Jornal Mensal em idioma gírio – Edição 81 – Ano XII- Niterói/RJ –Novembro e Dezembro de 2012
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Caminhamos para os 600 mil., novo marco da gíria e deste Dicionário na Web. É
muita coisa para um site de gíria.
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Estados Unidos, Argentina, Portugal, França, Reino Unido, Canadá, Alemanha e
Espanha.
No Brasil, fomos visitados por brasileiros de São
Paulo, Rio de Janeiro , Salvador , Belo Horizonte,
Brasília, Goiânia e Manaus, Recife, Fortaleza, Vitória, Curitiba, São Luís,
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Uberlândia, Cuiabá. Niterói, Joinville e Ribeirão Preto.
COISA
A Palavra "coisa" é um bombril do idioma. Tem mil e uma
utilidades. É aquele tipo de termo-muleta ao qual a
gente recorre sempre que nos faltam palavras para exprimir uma idéia. Coisas do português.
A natureza das coisas: gramaticalmente,
"coisa" pode ser substantivo, adjetivo, advérbio. Também pode ser
verbo: o Houaiss registra a forma "coisificar". E no Nordeste há
"coisar": "Ô, seu coisinha, você já coisou aquela coisa que eu mandei você coisar?".
Coisar, em Portugal,
equivale ao ato sexual, lembra Josué Machado. Já as "coisas"
nordestinas são sinônimas dos órgãos genitais, registra o Aurélio. "E
deixava-se possuir pelo amante, que lhe beijava os pés, as coisas, os
seios" (Riacho Doce, José Lins do Rego). Na Paraíba e em Pernambuco,
"coisa" também é cigarro de maconha.
Em Olinda, o bloco carnavalesco
Segura a Coisa tem um baseado como símbolo em seu estandarte. Alceu
Valença canta: "Segura a coisa com muito cuidado
/ Que eu chego já." E, como em Olinda sempre há bloco mirim equivalente ao
de gente grande, há também o Segura a Coisinha.
Na literatura, a "coisa" é
coisa antiga. Antiga, mas modernista: Oswald de Andrade escreveu a crônica O Coisa em 1943. A Coisa é título de romance de Stephen
King. Simone de Beauvoir escreveu A Força das Coisas, e Michel Foucault, As
Palavras e as Coisas.
Em Minas Gerais ,
todas as coisas são chamadas de trem. Menos o trem, que lá é chamado de "a
coisa". A mãe está com a filha na estação, o trem se aproxima e ela diz:
"Minha filha, pega os trem que lá vem a coisa!".
Devido lugar: "Olha que coisa mais
linda, mais cheia de graça (...)". A garota de Ipanema era coisa de fechar
o Rio de Janeiro. "Mas se ela voltar, se ela voltar / Que coisa linda /
Que coisa louca." Coisas de Jobim e de Vinicius, que sabiam das coisas.
Sampa também tem dessas coisas (coisa de
louco!), seja quando canta "Alguma coisa acontece no meu coração", de
Caetano Veloso, ou quando vê o Show de Calouros, do Silvio Santos (que é coisa
nossa).
Coisa não tem sexo: pode ser masculino
ou feminino. Coisa-ruim é o capeta. Coisa boa é a Juliana Paes. Nunca vi coisa
assim!
Coisa de cinema! A Coisa virou nome de
filme de Hollywood, que tinha o seu Coisa no recente
Quarteto Fantástico. Extraído dos quadrinhos, na TV o personagem ganhou também
desenho animado, nos anos 70. E no programa Casseta e
Planeta, Urgente!, Marcelo Madureira faz o personagem
"Coisinha de Jesus".
Coisa também não tem tamanho. Na boca
dos exagerados, "coisa nenhuma" vira "coisíssima". Mas a
"coisa" tem história na MPB. No II Festival da Música Popular
Brasileira, em 1966, estava na letra das duas vencedoras: Disparada, de Geraldo
Vandré ("Prepare seu coração / Pras coisas que eu vou contar"), e A
Banda, de Chico Buarque ("Pra ver a banda passar / Cantando coisas de amor"),
que acabou de ser relançada num dos CDs triplos do compositor, que a Som Livre
remasterizou. Naquele ano do festival, no entanto, a coisa tava preta (ou
melhor, verde-oliva). E a turma da Jovem Guarda não tava nem aí com as coisas:
"Coisa linda / Coisa que eu adoro".
Cheio das coisas. As mesmas coisas,
Coisa bonita, Coisas do coração, Coisas que não se esquece, Diga-me coisas
bonitas, Tem coisas que a gente não tira do coração. Todas essas coisas são
títulos de canções interpretadas por Roberto Carlos, o "rei" das
coisas. Como ele, uma geração da MPB era preocupada com as coisas.
Para Maria Bethânia, o diminutivo de
coisa é uma questão de quantidade (afinal, "são tantas coisinhas
miúdas"). Já para Beth Carvalho, é de carinho e intensidade ("ô
coisinha tão bonitinha do pai"). Todas as Coisas e Eu é título de CD de Gal. "Esse papo já tá qualquer coisa...Já qualquer
coisa doida dentro mexe." Essa coisa doida é uma citação da música
Qualquer Coisa, de Caetano, que canta também: "Alguma coisa está fora da
ordem."
Por essas e por outras, é preciso
colocar cada coisa no devido lugar. Uma coisa de cada vez, é claro, pois uma
coisa é uma coisa; outra coisa é outra coisa. E tal coisa, e coisa e tal. O
cheio de coisas é o indivíduo chato, pleno de não-me-toques. O cheio das
coisas, por sua vez, é o sujeito estribado. Gente fina é outra coisa. Para o
pobre, a coisa está sempre feia: o salário-mínimo não dá pra coisa nenhuma.
A coisa pública não funciona no Brasil.
Desde os tempos de Cabral. Político quando está na oposição é uma coisa, mas,
quando assume o poder, a coisa muda de figura. Quando se elege, o eleitor
pensa: "Agora a coisa vai." Coisa nenhuma! A coisa fica na mesma. Uma
coisa é falar; outra é fazer. Coisa feia! O eleitor já está cheio dessas
coisas!
Coisa à toa. Se você aceita qualquer
coisa, logo se torna um coisa qualquer, um coisa-à-toa.
Numa crítica feroz a esse estado de coisas, no poema Eu, Etiqueta, Drummond
radicaliza: "Meu nome novo é coisa. Eu sou a coisa, coisamente."
E, no verso do poeta, "coisa" vira "cousa".
Se as pessoas foram feitas para ser
amadas e as coisas, para ser usadas, por que então nós amamos tanto as coisas e
usamos tanto as pessoas? Bote uma coisa na cabeça: as melhores coisas da vida
não são coisas. Há coisas que o dinheiro não compra: paz, saúde, alegria e
outras cositas más.
Mas, "deixemos de coisa, cuidemos
da vida, senão chega a morte ou coisa parecida",
cantarola Fagner em Canteiros, baseado no poema Marcha, de Cecília Meireles,
uma coisa linda. Por isso, faça a coisa certa e não esqueça o grande
mandamento: "amarás a Deus sobre todas as coisas".
ENTENDEU
O ESPÍRITO DA COISA?
O SIGNIFICADO DO I
O
"i" na vida dos americanos
iPhone, iPod, iPad, iMac, i30, iBM, intel
O
"i" na vida dosbrasileiros : iPTU, iPVA, iCMS, iSS, iNSS , iRF;
iPI, iOF, iMiFudi.
GÍRIAS DE PESSOAS
Bebum
chama Jesus de Genésio
Cadê
Teresa?
Chamar
o Hugo (vomitar)
Chamar
o Raul (vomitar)
Dar
a Cesar o que é de César (fazer o que é justo, correto)
Dar
uma de João sem braço (golpe baixo)
Dar
uma de migué (tentar enganar)
Didi
mocó colesterol mufumbo
Don
Juan de meia tijela (galã de subúrbio)
E
agora, José?
É
mentira, Terta?
É
um Matusalém (velho demais)
Ela
está de chico (menstruada)
Está
mais perdido do que a mãe de São Pedro (perdido)
Falar
com o Miguel (ir ao banheiro)
Foi
nesta posição que Napoleão perdeu a guerra (vacilar)
Golpe
do João sem braço (golpe baixo)
Isto
aqui virou casa da mãe Joana (caos, zona)
João
ninguém
Joãozinho
das candongas
Lular (roubar,
mentir, enganar)
Madalena
arrependida (hipócrita)
Malufar (roubar, mentir,
enganar)
Mané
(bobo)
Mané
isso , mané aquilo (Que mané roubo?)
Maria
batalhão (que namora soldado, polícia)
Maria
candelária é alta funcionária
Maria
chuteira (que namora jogador de futebol)
Maria
de nada
Maria
Madalena dos anzóis pereira
Maria
ninguém
Maria
vai com as outras (que segue qualquer um)
Marilia
de Dirceu
Mateus,
primeiro os meus
Mora
onde Judas perdeu as botas e as esporas (longe)
Onde
andará Maria Rita?
O
ovo de Colombo (solução simples)
Parente
por parte de Adão
Pau
que bate em Chico bate em Francisco
Pedro
Bó
Põe
na conta do Abreu, nem ele paga, nem eu
Quem?
Eu? Mariazinha?Nunquinha
Quem
pariu Mateus que o embale
Se
Maomé não vai a montanha a montanha vem a Maomé
Vai
ganhar o que Luzia ganhou na horta
Vamos
aproveitar enquanto o Brás é tesoureiro
Você
conhece o pedreiro Valdemar?
DITADOS POPULARES EM LINGUAGEM UTILIZADA
NA O.A.B
A
fêmea ruminante deslocou-se para terreno sáfaro e alagadiço.
(A
vaca foi para o brejo)
(Vá
tomar no cu)
(Vá
se foder)
(Você
tá de sacanagem)
(Conversa
mole pra boi dormir )
(Quebrar a cara)
(Pagar
um mico)
(Encher o saco)
(Dar
um pé na bunda)
(Chutar
o pau da barraca)
(Engolir
um sapo)
(Meter
o rabo entre as pernas)
(Cair
matando)
(Azarar)
(Dar
o velho golpe do João sem braço)
(Nem
a pau)
(Nem
que a vaca tussa)
,
(Nem fodendo)
(Chutar
o balde)
(CÚ
DE BÊBADO NÃO TEM DONO)
A LINGUAGEM DE PACO, REGIONAL E UNIVERSAL
Por
JB Serra e Gurgel (*)
Nada errado na forma de escrever dos
nossos cronistas sociais, jornalistas, repórteres, comentaristas, formadores de
opinião, verdadeiros especialistas em vaidades e veleidades humanas, no
individual e no coletivo. A maioria usa
de recursos lingüísticos para que possam ser melhor compreendidos por seus leitores. Com o nosso Lúcio
Brasileiro, o Paco, não é diferente. Seu repertório é rico. Como não tenho toda
a sua obra, o que vai aqui anotado foi colhido no “Assim falava Paco...
Contos de um repórter opovoano”, com apresentação de Juarez
Leitão, orelhas de Fernanda Quinderé e Tarcisio
Tavares “in memoriam”.
Paco sentencia em seu registro “Exugando”: ”Leitores de minha coluna de O POVO perguntam porque ao invés de dizer “especialmente”, digo “especial”e “conterra” no lugar de “conterrâneo” e “sugesta” ao invés de
“sugestão”, ora, escrever é uma arte, e
sou dotado de texto enxuto., e “veio especialmente de Brasília pro casamento”
dá perfeitamente pra entender sem necessidade do “mente”, além do mais, detesto
palavras grandes ou terminadas em ão,que o espanhol,
por exemplo, não tem”.
Trabalhei por longo tempo com quem considero o
maior de todos os cronistas sociais, ou repórteres sociais, Ibrahim Sued. Não foi o pioneiro, pois Jacinto de Thormes veio antes, como outros do mesmo calibre. Ibrahim atuava em
equipe e sua coluna no Diário da Noite (começo), Diário de Notícias (período
curto) e em O GLOBO constitui um repositório de registros históricos não apenas
do mundanismo do passado mas dos protagonistas e
atores de uma sociedade já emergente na sua época. Ibrahim usou e abusou de
expressões e bordões que era sua forma ousada de buscar a empatia com seus
leitores. Fez escola por seu estilo de fácil percepção, teve o seu
reconhecimento por paraninfar
uma turma de Comunicação Social da Universidade de Brasília,
escreveu livros e foi muito além do que certamente imaginava. Sem concessões,
escreva-se.
Paco não saiu do Ceará, mas tem
trajetória parecida, marcada por seu protagonismo na sociedade cearense, com
ousadia, desenvoltura, responsabilidade e seriedade. Sem esses valores, não
teria sobrevivido a meio século de presença na boca de cena do jornalismo
cearense, como repórter bem informado, educado, refinado ,cidadão do mundo,
sabendo tudo de beleza, culinária, enologia, sociedade, política,
economia. Nesta linha contribuiu
silenciosamente para a “revolução dos costumes” na sociedade cearense, atuando
de fora para dentro, ditando padrões de civilização, forçando as mudanças e
transformações que acompanhou na beira do gramado, seja no Ugarte,
Torre do Iracema, Fortaleza, Paris, Nova Iorque e Rio de Janeiro...
Aqui vai um registro de gírias, ou quase
gírias, neologismos, expressões, regionalismos, bordões que Paco utilizou no
seu “Assim Falava Paco...”. Optei por relacionar por ordem alfabética,
desobedecendo a ordem de entrada nas suas notas
contidas no livro. No colunismo, a licença de estilo vai do título das notas ao
que comporta a narrativa, para impactar, surpreender e informar.
Adjuntos adverbiais de tempo (uísque),
ao pé da letra (fidelidade), arrufo (briga), arrufado (brigado), baixaria
(mesquinharia), Bicho papão (terror), Big boss
(líder), Bola na rede (algo bem feito), bom tom (educado), botafora
(despedida), cabeça chata (cearense), cap (capitão de
indústria), carta branca (autorização), champagnota (champagne), chegado (próximo), ciço
(bobo), cocorotes (cascudos), comes e bebes (comidas e bebidas), comemores
redondos (aniversários de40,50,60,70 anos),confreiros (colegas, companheiros), conterra
(conterrâneo) conversa fiada (conversa sem nexo), desmancha prazer (pessoa desagradavel), deu branco (esqueceu), devagar com o andor
(calma), disse-me-disse (intriga),enxugar (beber), era uma uva (linda), escapei
fedendo (livrei-me de uma situação difícil),
especial (especialmente), espritou (ficou com
raiva), fazendo de conta (supondo), fim de festa (acabou), fio da meada
(principio de alguma coisa), fofoca (intriga), it (charme), gabolar
(gabar-se), gotoso (gostoso), macaco
velho (experiente), mão aberta (generoso), menino véi
(menino), lança (lançamento), mão de vaca (sovina), marmota (algo
inusitado), metendo a colher (se
intrometendo), mexerico (intrigas), miserê
(miserável), moçada rosada (gay,homossexual), mostarda do que nunca (mais tarde
do que nunca), mulherio (mulheres), na garapa (sem pagar, de graça), não
entregar a rapadura (não se deixar vencer),
pagar pato(saldar dívida), paixonite (paixão extrema ou aguda), papo
furado (conversa sem nexo), pastorando (fiscalizando, observando), pavio curto
(explosivo), pebol (futebol), pelo fio (por
telefone), penetra (pessoa que vai aos lugares sem ser convidado), perdendo o
rebolado (errando),pingo nos iis (esclarecer),
pintei o sete (fiz o que devia como queria), pisando no tomate
(errando), presepada (armação, improvisação), pretensão e água benta (não fazem
mal), qüiproquó (confusão), rabo de palha (nada
desabonador), restô
(restaurante), sangue nas teclas (bom pianista), soçaite (sociedade), sugesta
(sugestão),tapando buraco (agindo provisoriamente),
tem dó (paciência), veterados (governos de Virgilio
Távora, o VT), vida airada (vida alegre),volta por cima(vitória com desforra).
O maior escritor da língua portuguesa,
Eça de Queiroz, usou do recurso gírio, de regionalismo, sem as vulgaridades
recorrentes, para escrever seus melhores livros. O texto de Paco é ”enxuto”,
direto, cristalino e às vezes irônico, como recurso de crítica social às
grandezas e as fraquezas humanas.
(*)
JB Serra e Gurgel (Acopiara), jornalista e escritor
(**)
Artigo publicado na edição de agosto de 2012 do Jornal Ceará em Brasília
Do Prof.
JB Serra e Gurgel
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gurgel@cruiser.com.br
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