Jornal Mensal em idioma gírio.
Edição 042 - ANO Vl – Niterói/RJ
–Março e Abril de 2006 |
GIRIAS DE 1898
Agradeço aos 164.430 visitantes desta página, que se
tornou referência nos estudos do idioma gírio.
Prosseguimos nas pesquisas sobre os primórdios da gíria
no país. Nesta edição, duas contribuições
valiosas, de J. Romaguera Correa e Lima Barreto.
Já está em nosso poder o material da próxima
edição sobre a gíria no Rio de Janeiro, com base
em trabalho publicado por Sergio Porto, Stanislaw Ponte Preta, em
um dos livros de Carlos Drummond de Andade e Manuel Bandeira sobre
os 400 anos do Rio de Janeiro.
Sabe-se que o primeiro livro de gíria publicado no Brasil foi
o Vocabulário Sul-Riograndense, (236 p) de J. Romaguera Correa,.Echenique
& Irmão Editores, Livraria Universal, Pelotas, Rio Grande
do Sul, com nota subscrita em 1897 e referência ao Dicionário
de Vocábulos Brasileiros, do Visconde de Beaurepaire-Rohan.
Não é propriamente um dicionário de gíria,
embora possamos identificar muitas delas nos regionalismos gaúchos,
já incorporados ao patrimônio gírio brasileiro.
O Vocabulário não altera o marco gírio, de 1854,
com a publicação do livro Memórias de um Sargento
de Milícias, de Manuel Antonio de Almeida
Vejamos algumas:
Abichornar aborrecer-se, acabrunhar, envergonhar;
agalhudo esforçado, forte, audaz
aperriado emagrecido, enfraquecido, enfesado;
aporreado indomável;
aspa chifre, corno, ponta;
bahianada fiasco;
baladronada fanfarronada;
barriga verde catarinense;
biboca barrancos, precipícios;
bruaca sacos de couro;
broma troça, caçoada, gracejo;
calombo protuberância, inchaço;
carão admoestação;
chucro bravio esquivo;
conchavo emprego;
embarrigar criar barriga, locupletar-se com o dinheiro alheio;
embromar caçoar, fazer troça;
empacar emperrar, deter-se, parar;
entrevero mistura, desordem, confusão;
faceiro elegante, garboso, taful;
fachado lindo, belo, bonito, elegante;
farrear sair à pândega, a troça, a folia;
fuxicar bolir em qualquer coisa;
gaudério parasita, vive a custa de outrem aqui e ali;
gringo estrangeiro;
guri menino;
jururu tristonho;
lindaço mui lindo, bonito, garboso;
macanudo poderoso, forte;
mambira grosseiro, rude;
moçada porção ou grupo de moços;
paquete bem vestido e com elegância;
perereca pessoa pequena e buliçosa;
piá moço até 16 ou 18 anos;
querendão amoroso, alegre, afetuoso;
roupa velha espécie de passoca;
sopetão de repente, repentinamente, de improviso;
trepada subida, ladeira, encosta;
trompaço encontrão;
unhar surrupiar alguma coisa.
GIRIAS DE 1917
Lima Barreto é um dos grandes escritores brasileiros. Seu
clássico é, sem dúvida, “Triste Fim de
Policarpo Quaresma”
Os textos de “Os Bruzundangas” (sua melhor sátira)
começaram a ser publicados no semanário ABC .do Rio
de Janeiro, em 1917, e em diferentes revistas, em 1919. Esperava ele
que o livro saísse em vida, como registro em carta de 1921,
mas só publicado após sua morte, em 1922.
Recebi recomendação para identificar gírias em
seu texto. É o que aqui faço, com base na edição,
texto integral, da editora Ática, de 1985, 141 p., incluindo
“Outras histórias dos brunzundangas”.
Não chega a ser um livro escrito em idioma gírio.
Achegos suborno, corrupção. “Os cargos são
rendosos, pelos vencimentos marcados em lei, como dão direito
a propinas e outros achegos”. (108)
Apatacado com dinheiro, rico. “Os vates de lá (Bruzundanga)
estão sempre dispostos a bajular os titulares ou os apatacados
burgueses” (102)
Aperuado enfeitado. “Todos os vates de lá , com a sua
mentalidade de parvenus aperuados estão sempre dispostos a
bajular os titulares ou os apatacados burgueses” (102)
Babado de gozo encantado, fascinado. “O dr. Adahil apareceu
ontem no Lírio inteiramente fashionable. Eu fiquei babado de
gozo”. (82)
Babar interessar, gostar, adotar. “É que os bruzundanguenses
babam-se inteiramente por esse negócios de condecorações
e comendas ” (55)
Barafunda confusão. “Os advogados ou bacharéis
em direito devem ter a obrigação de conhecer a barafunda
de leis”. (60)
Bonanchão bonachão. “Entre os costume são
dignos de acurado estudo., como o riso bonanchão de Rabelais”.
(42)
Bonequinho pessoa “Não houve bonequinho mais um menos
vazio ou empomadado que ele não nomeasse para essa ou aquela
legação”. (55)
Bonzos broncos, ignorantes. “O Mandachuva começa sua
carreira relacionando-se com os bonzos de sua província”.(61)
Brigona
Cachola cabeça. “Ninguém era capaz de sacar-lhe
da cachola uma idéia de governo”. (103)
Casa de pasto restaurante “Assim como um gordo proprietário
de casa de pasto na Rua da Misericórdia que estava sentado
a uma mesinha, coberta com uma toalha eloquentemente imunda”
(90)
Chic chique, elegante. “Outro deputado de Bruzundanga foi como
parlamentar mais chic do Congresso Nacional” (31)
Cobres dinheiro. “Um rapaz de certos haveres , cujo pai mourejara
muito para arranjar alguns cobres”. (41)
Capacho bajulador. “O deputado Fur-hi-Bundo passou uma descomposturas
no serventuário do Ministério, chamando-o de capacho”.(94)
Cavação procura de emprego. “Halaké Bem
Thoreca se banalizou com o casamento e a conseqüente cavação
de empregos”. (80)
Damas alegres prostitutas de alto estilo. “Uma noite, em que
estava cercado de damas alegres, em uma mesa de café cantante,
uma delas deu na telha de trata-lo de marquês”. (41)
Dernier bateau última moda. “O doutor Karpatoso voltou
da Europa e trouxe na mala fatos, botas chapéus, bengalas,
dernier bateau, como dizem os smarts das colonias francesas da Ásia”.
Deu na telha vontade súbita de dizer ou de fazer alguma coisa.
“Uma delas deu na telha de trata-lo de marquês”.
(41)
Dez-mil réis de mel coado ninharia, sem muito valor. “O
ministro do Imperador de Bruzundanga se transformou em açougueiro
para vender carne aos vizinhos a dez mil-reis de meil coado, graças
as isenções que obteve”. (16)
Empomadado recomendado. “Não houve bonequinho mais um
menos vazio ou empomadado que ele não nomeasse para essa ou
aquela legação”. (55)
Estranja estranjeiro. “O cidadão que partira da Bruzundanga
com o nome de Carlos Cervantes voltou da estranja com altissonante
título de Marquês de Libreville”. (41)
Expoente celebridade. “Feito amanuense, aprendeu logo a copiar
minutas e acabou eleito para a Academia de Letras da Bruzundanga.
Ficou sendo o que aqui se chama – um “expoente”.(107)
Fashionable da moda. “O dr. Adahil apareceu ontem no Lírio
inteiramente fashionable. Eu fiquei babado de gozo”. (82)
Figurões altas autoridades. “É preciso mandar
alguns filhos de “figurões” para o estrangeiro”.
(54)
Fofo fósforo. “O vendedor ambulante oferecia: fofo barato!
Fofo barato! Duas caixa um tostão”. (90)
Frege restaurante ruim,. De má qualidade. “A aula de
“frege” ficará dividida em duas partes:cantata
da lista e encomenda de pratos à cozinha”. (90)
Gentlemen gentis, educados finos. “Os diplomatas da Bruzundanga
se julgam todos eles artistas, literatos, homens finos, gentlemen”.
(54)
Javanês mulato, moreno, caboclo. “Lima Barreto elegeu
os javaneses como seus ícones”.
Lacaio bajulador . “O deputado Fur-hi-Bundo passou uma descomposturas
no serventuário do Ministério, chamando-o de lacaio”.(94)
Lavador de tinteiro bajulador. “O deputado Fur-hi-Bundo passou
uma descomposturas no serventuário do Ministério, chamando-o
de lavador de tinteiro”.(94)
Letras garrafais letras grandes. “ Publicou em papelão
um discurso, impresso em letras garrafais, conseguindo assim organizar
um volume” (55)
Mandachuva chefe, Presidente da República. “Na Bruzundanga,
em geral, o Mandachuva é escolhido entre os advogados”
(61)
Nhonhôs pessoas gradas, amigos. “Mando-no para a Câmara
e, na primeira legislatura, encarregam-no de dempenhar-se pelos exames
dos nhonhôs”. (61)
Parvenus indivíduo que ascendeu socialmente sem aprimorar seu
modo de agir ou de pensar. “Todos os vates de lá , com
a sua mentalidade de parvenus aperuados estão sempre dispostos
a bajular os titulares ou os apatacados burgueses” (102)
Pistolão pessoa importante que nomeia outras para altos cargos.
“O deputado Fur-hi-Bundo quis nomear alguém mas o Mi
nistro não lhe pôde servir e atendeu a outro “pistolão”.(94)
Pot-de-vin suborno. “Jornalistas acostumados a canonizações
simoníacas e parlamentares gostavam de pot-de-vin”. (100)
Quizília diferença, birra, implicância. “Uma
das quizílias do Visconde Pancome era com os feios e, sobretudo,
com os bruzundanguenses de origem javanesa”.(99)
Rabona de sarja. “Conheci na Bruzundanga um rapaz de rabona
de sarja e ares de familiar do Santo Ofício”.(16)
Remoques deboche. “Os javaneses incomodavam os estrangeiros
e provocavam os remoques dos caricaturistas da República das
Planícies”.(101)
Soba mor chefe. “Phrancisco Novilho Bem Kosta tinha adiantado
dinheiro e assoldado gente para que o general Tupinambá tomasse
lugar do soba-mor Cravho Ben Matos” (68)
Toma-larguras guarda costas, segurança. “O deputado Fur-hi-Bundo
passou uma descomposturas no serventuário do Ministério,
chamando-o de toma-larguras”.(94)
Turumbamba protegido, amigo. “ “Na província das
Canas, houvera um turumbamba mis ou menos oficialmente protegido prum
mandachuva”.(67)
REPERCUSSÕES DA 7ª EDIÇÃO DO DICIONÁRIO
DE GÍRIA NA MÍDIA BRASILEIRA:
O Povo, de Fortaleza/CE, registro na coluna Vale Tudo, de Alan Neto,
em 10.04.2005;
Jornal do Commércio, do Rio de Janeiro/RJ, registro na coluna
de Aziz Ahmed, em xxx
Jornal do Commércio, do Rio de Janeiro/RJ, “Gíria
é tema de novo Dicionário”, em l0.04.2005;
Diário do Nordeste, de Fortaleza/CE, registro na coluna de
Lustosa da Costa, em 28.04.2005;
Diário do Nordeste, de Fortaleza/CE, registro na coluna de
Brasília, de Rangel Cavalcante, 1º/05/2005;
Florida Review Magazine Brazil, de Miami/EUA. Registro na coluna de
Rangel Cavalcante, na 1ª. Quinzena de maio de 2005;
Jornal do Comércio, de Manaus/AM, “Sétima edição
do Dicionário de Gíria”, de 16/17/18. 05.2005;
Jornal da Comunidade, de Brasília/DF: “Com quantas gírias
se faz uma língua portuguesa”, em 4-10.06.2005;
Correio Braziliense, Brasília/DF: “Língua viva
sai das ruas e vira verbetes”, em 12.06.2005;
O GLOBO, Niterói/RJ, registro na coluna de Gilson Monteiro,
em 19.06.2005
Entrevista concedida à TV Diário, de Fortaleza/Ce.
Entrevista ao programa de Palavra, do prof. Sergio Nogueira Duarte,
que foi ao ar na Rede STV, nos dias 27.28.30.06 e 1.2.3.07.2005
Entrevista no programa Hoje em Dia, da Rede Record, com Brito Jr.
E Ana Hickmann, em 23.08.2005.
O GLOBO, 2º Caderno, Rio de Janeiro/RJ, “O mensalão”
na língua portuguesa veio para ficar. Próxima edição
do Dicionário de Gíria vai registrar termo, assim como
“valerioduto” e outros”, de Orivaldo Perin, 31.10.2005.
Radio Roquete Pinto, Rio de Janeiro/RJ, Programa “Show da Notícia”,
com Mauro Belizário, 31.10.2005, 9h50m.
Radio Haroldo de Andrade, Rio de Janeiro/RJ, Programa “Haroldo
de Andrade”, 07.11.2005, 10h15m
Radio Eldorado, São Paulo/SP, Programa “Panorama na Cultura”,
com Leandro Andrade, 08.11.2005.
Entrevista para o Bom Dia Brasil, da Rede Globo de Televisão,
exibido em 29.12.2005; sobre “A Polêmica das gírias”,
apresentado por Edney Silvestre.
Entrevista para o Espaço Aberto Literatura, da GloboNews, apresentado
por Edney Silvestre, exibido em 05.01.2006
ENTREVISTA PARA O BOM DIA BRASIL, da Rede Globo de Televisão,
de 29.12.2005
A polêmica das gírias
Nas conversas de todas as classes sociais, de todas as categorias
profissionais, de todas as idades, nem sempre o português formal
é o mais utilizado. O brasileiro fala, em grande parte, gírias.
A gíria é adotada sem restrições por uns
e rejeitada por outros. Ainda assim, tem lugar garantido na língua
portuguesa.
Há quem goste...
"É um meio legal para as pessoas se comunicarem",
diz um rapaz.
Há quem critique...
"Eu não gosto, acho que não é bom para a
educação, inclusive para as crianças, no futuro",
acha uma senhora.
O português que nós falamos no Brasil tem cerca de 160
mil vocábulos em uso. São 20 mil a mais do que o português
falado em Portugal. Em parte, porque nós usamos palavras de
origem indígena e africana.
Os especialistas, no entanto, acreditam que a outra grande fonte de
termos é a gíria. Isso significaria o dinamismo da nossa
língua ou um empobrecimento e descaracterização
daquilo que permite a transmissão da cultura, do conhecimento,
da nossa identidade como povo?
As gíria são muito antigas, têm mais de três
séculos. "Baiuca" é daqueles tempos, sinônimo
de taberna. Já "festa de arromba" e "zorra"
entraram no vocabulário em 1759. Mas o que é gíria,
afinal?
"A gíria é a linguagem falada, não é
padrão. É uma linguagem alternativa. Inicialmente de
grupos exclusivos, mas que acaba se tornando de grupos abertos",
explica o antropólogo e pesquisador J.B. Serra e Gurgel.
Serra e Gurgel é autor de um dicionário de gírias
que registra 28 mil vocábulos. Só na última edição,
foram acrescentados mais de 11 mil novos termos. O nosso povo está
falando cada vez mais gíria. Por quê?
"As pessoas não estudam a língua, a gramática,
acham muito difícil, as terminações, plural,
fonemas, morfologia, isso é muito complexo para as pessoas.
Daí a grande simplificação e a linguagem simplificada
são é um dos vetores formadores de gíria também”,
conta o pesquisador.
Falar gíria já foi coisa de malandro, como o inesquecível
Moreira da Silva. Há gírias que permanecem. Uma cantada
já era uma tentativa de sedução quando as mulheres
ainda se cobriam até os pés, em 1903.
"Em Brasília a gente não usa muita gíria",
comenta uma jovem.
Pode ser que não usem, mas a política dá origem
a muita gíria, a exemplo do termo "mensalão".
A gíria empobrece a língua?
“Acho que é um costume, não é empobrecimento”,
acredita um homem.
“Mas é claro que é empobrecimento. A coisa está
anormal. Eu não entendo nada do que essa garotada fala”,
diz uma mulher.
Na fala do povo hoje, pode estar o futuro da língua oficial
amanhã. É um fenômeno mundial. Nos Estados Unidos,
por exemplo, são vendidos aos turistas dicionários de
gírias.
ENTREVISTA PARA O PROGRAMA ESPAÇO ABERTO/LITERATURA, DA GLOBO
NEWS
Programa exibido em 05.01.2006
HORÁRIO
Todos os dias 21:30
HORÁRIOS ALTERNATIVOS
Todos os dias 05:30, 15:30, 08:30
Dom,Ter,Qua,Qui,Sex,Sab 01:30
Seg 03:05
Sab 11:05, 19:05, 17:05, 13:05
A influência da gíria na língua portuguesa
A presença da gíria é empobrecimento da língua
ou um estímulo à dinâmica? O professor J.B. Serra
e Gurgel, autor do Dicionário de Gíria, explica a evoluçào
das expressões no português falado no Brasil
ENTREVISTA PARA A REVISTA LINGUA PORTUGUESA
1 - Quando e por que o senhor acredita que surgiram as gírias
no Brasil?
As girias estão presentes na lingua portuguesa, ao que contam,
desde o século XVI.
Há registros esparsos, mas consistentes.
Em Portugal, o marco principal é do sec. XVIII, o Dicionário
do padre Raphael Bluteau, publicado sob aprovação da
Santa Inquisição, que define gíria e cita alguns
verbetes.
No Brasil, o marco é o livro Memórias de um Sargento
de Milicias, de 1854, de Antonio Manuel de Almeida. Afirmo que foi
o primeiro livro escrito em idioma gírio. Contém muitas
gírias do Rio de Janeiro, daquela época.
As gírias surgem por diversos motivos. Um deles, é a
necessidade dos grupos se entenderem no dia a dia, já que pela
linguagem padrão, da norma culta, seria uma linguagem dificil.
Pura, castiça, mas complicada.
2 - Por que o senhor acredita que as gírias são utilizadas
por determinados grupos?
Para que se entendam com mais facilidade, rapidez e flexibilidade.
Funcionam como um código de decodificação imediata,
inicialmente restrita aos membros do proprio grupo. Neste caso, são
gírias exclusivas. Quando rompem o grupo e são usadas
por diversos grupos, se transformam em gírias de amplo uso.
3 - O senhor acredita que as gírias ajudam a diferenciar determinados
grupos dentro da sociedade e, por esta razão também,
elas acabam sendo depois utilizadas de modo discriminatório?
Não. O discriminatório é o políticamente
correto, uma espécie de censura. Em principio, na linguagem,
não deve haver restrições, ainda que ouvidos
sensíveis se sintam agredidos quando há um verbete mais
forte, fora de contexto. No contexto, nem o palavrão doi. As
gírias não diferenciam grupos, mas dão uma identidade
linguística à diversidade,.para que tenha uma visibilidade
mais efetiva. A gíria é modismo.
4 - As gírias perdem o seu sentido original quando se popularizam?
Por que?
Não acredito. Pelo contrário, a popularização
contribui para sua difusão. Veja que no país não
temos dialetos – salvo nos grupos indigenas. Temos regionalismos,
que se fortaleceram, apesar da massificação. Os regionalismos
são gírias exclusivas daqueles grupos regionais. Quando
saem das fronteiras, viram gírias. O que muitas vezes ocorre
é que uma gíria tem multiplos significados, dentro do
nosso país e nos paises de lingua portuguesa. Isto é
normal e assim deve ser compreendido.
MPF/SP QUER DISCIPLINAR USO DE ESTRANGEIRISMOS NO COMÉRCIO
O MPF está investigando desde outubro passado o uso de estrangeirismos,
principalmente o inglês, nas relações de consumo.
O objetivo do procedimento, instaurado pelo procurador da República
Matheus Baraldi Magnani, de Guarulhos, é o ajuizamento de uma
Ação Civil Pública visando disciplinar o uso
de língua estrangeira nas relações de consumo
em todo o Brasil.
Para o MPF, o grande problema no uso de estrangeirismos nas relações
comerciais é que a prática prejudica o consumidor, que
tem dificuldades para saber ao certo preços, condições
de pagamento, descontos, características de produtos e riscos
na sua utilização, além de ser discriminatória.
``Em primeiro lugar, a lei exige que a comunicação com
o consumidor seja clara e precisa. Em língua estrangeira não
há clareza. Em segundo lugar, uma parcela pequena da população
tem acesso ao aprendizado de língua estrangeira. Assim, uma
sociedade democrática não deve se organizar excluindo
da grande massa o direito de entender o que se escreve nas vitrines
do próprio país´´, assinala o procurador
da República.
Não se trata de banir o inglês ou qualquer outra língua
das lojas e shopping centers, explica Magnani, mas de garantir ao
consumidor a oferta de informação na mesma proporção
na língua que ele fala. Se a loja exibir as expressões
´sale´ ou ´50% off´ na vitrine, por exemplo,
o MPF exigirá que a expressão venha traduzida com letras
de mesmo destaque.
Entrevistas - O procurador iniciou o trabalho por meio de entrevistas
realizadas com 30 consumidores em shoppings e ruas comerciais de São
Paulo. ``A receptividade à idéia foi enorme, principalmente
entre as pessoas das classes C, D e E´´, disse.
Segundo Magnani, muitos não compreendem os termos de outras
línguas usados no comércio e que têm vergonha
por não entender um anúncio em território nacional.
``Alguns revelam, inclusive, constrangimento, como se a loja estivesse
selecionando clientes´´, revela.
O próximo passo da apuração é ouvir especialistas
em língua portuguesa e ONGs ligadas a direito do consumidor.
Já estão convidados a dar informações
ao MPF os professores Pasquale Cipro Neto, apresentador do programa
Nossa Língua Portuguesa, da TV Cultura, e colunista da Folha
de S. Paulo, e Bruno Dallari, da PUC-SP.
Além disso, o procedimento do MPF será democratizado
e interativo, pois os cidadãos terão a disposição
um endereço eletrônico (e-mail) para opinar sobre o tema.
Uma audiência pública, em local a ser definido, deverá
ser agendada para os próximos dias. O objetivo é colher
mais subsídos de consumidores, ONGs e outras entidades representativas
da sociedade civil.
Diferentemente do que foi noticiado no último sábado
(28/01) no Jornal Nacional, da TV Globo, a ação não
será ajuizada esta semana. A ação só será
apresentada à Justiça Federal após ampla discussão
com a sociedade sobre o tema.
O GRANDE CAÇADOR DE VOGAIS E CONSOANTES
Por Lucas Mendes, no site BBC Brasil
Peter Ladefoged estava no aeroporto de Londres, em trânsito,
voltando da Índia para a Califórnia, quando teve um
derrame cerebral.
Tinha 80 anos, e a morte dele provavelmente passou em branco na imprensa
brasileira.
Aqui quase passou, mas duas semanas depois da morte dele o New York
Times publicou um longo obituário, no qual há uma breve
referência aos índios Pirahãs, na Amazônia.
No ano 2000, eles eram apenas 360, mas são famosos entre lingüistas,
porque falam a única língua no mundo sem noção
de números, sem conceito de contagem nem número gramático.
Peter Ladefoged publicou um estudo sobre os Pirahãs com outro
conhecido lingüista, Daniel Everett que, para espanto dos Pirahãs,
fala a língua deles.
Daniel conta que durante a viagem Ladefoged foi escovar os dentes
no rio Maici, quando alguém disse a ele que tomasse cuidado
porque estava infestado de piranhas.
Volta ao mundo
O lingüista, de pijamas e tênis, pulou dentro do rio, nadou
uns 75 metros até a outra margem, e na volta, disse ao colega
que não se preocupasse com ele.
Na época, tinha 70 anos.
Ladefoged deu a volta ao mundo investigando línguas e publicou
The Sounds of World's Languages, considerado o catálogo definitivo
de consoantes e vogais nas seis mil línguas faladas neste planeta.
Naquela época, pré-computador, Ladefoged viajava carregando
pesada tralha de gravadores, fitas e microfones.
O vasto material recolhido está no Laboratório de Lingüística
da Universidade da Califórnia, em Los Angeles, criado por ele,
e considerado o melhor do mundo.
Dos seus livros didáticos, A Course in Phonetics, é
o mais usado nas universidades para ensinar fonética.
Fora do mundo acadêmico, Peter Ladefoged ficou famoso como consultor
do filme Minha Bela Dama, de 1964. Ele ensinou o professor Henry Higgins
(Rex Harrison) a falar como um lingüista da era Eduardiana.
Quando tinha 20 anos, eu tive um professor de fonética que
tentou me ensinar a falar com clareza.
Depois, em 75, quando entrei na televisão, a TV Globo investiu
um bom dinheiro na minha dicção. Outro desperdício.
Esta semana mesmo recebi queixas de que falo para dentro.
Não tive um professor Ladefoged
A 7ª EDIÇÃO DO DICIONARIO DE GIRIA CONTINUA A VENDA
A 7ª edição do DICIONÁRIO DE GÍRIA,
do Prof. JB Serra e Gurgel, com 28.500 verbetes, segue à venda.
O Dicionário tem como principais novidades:
- datas de algumas gírias, por solicitação principalmente
de tradutores;
- identificação das regiões brasileiras onde
provavelmente tenham surgido;
- recuo do marco gírio brasileiro para 1854, data da publicação
de Memórias de um Sargento de Milicia de Joaquim Manuel de
Almeida
- inserção de gírias (calões) de Portugal.
O DICIONÁRIO DE GIRIA continua sendo o único, no gênero,
publicado na Comunidade dos Países de Lingua Portuguesa.
Contém de gírias de grafiteiros, policiais, jornalistas,
futebol, presídios, funks, skatistas, economês, cheques,
cornos e malandros.
(Serviço: para entender o que está neste JORNAL
DA GIRIA compre o DICIONÁRIO DE GÍRIA, de JB Serra e Gurgel, à venda na Saraiva e na
Siciliano, a 20 mangos, 20 contos, 20 merréis, 20 reais, 20 barões, 20 paus, 20 pratas,
20 pilas. Se preferir, peça direto ao autor, com direito a autografo. E-mail: gurgel@cruiser.com.br
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