Jornal Mensal em idioma gírio. Edição 013 – Ano 2 – Niterói/RJ, Maio/Junho de 2001

O FIM DO PORTUGUÊS NÃO É PIADA DE PORTUGUÊS
Nesta edição, uma citação que já deveria ter feito. A entrevista de Steven Roger Fischer, que dirige o Instituto de Línguas e Literatura Polinésias, na Nova Zelandia, concedida à VEJA em 04.04.2000, quando sentenciou o fim do português”... daqui a 300 anos. VEJA assinalou que o “lingüista americano diz que o Brasil está destinado a trocar o seu idioma pelo portunhol”. O portunhol como se sabe é um idioma gírio do Mercosul. O dr. Fischer observou que é

grande a influência do espanhol no português. O que o dr. Fischer ainda não sabe é que a maior influência no português é da gíria, aqui trazida por espanhóis, portugueses, italianos e outros bichos. Estamos cercados de espanhóis pelo Oeste e a influência deles, milongueiros, brasilguaios, cocaleros, etc. é irrelevante. Como profeta da nova ordem lingüística mundial, o dr. Fischer anunciou que em 100 anos haverá menos de mil línguas, hoje são 6.800. Em 300 anos, haverá apenas 24, entre elas, o espanhol, o inglês e o mandarim. O português terá ido pro espaco, depois de ser língua viva por mais de mil anos!

O PORTUGUÊS ESTÁ AMEAÇADO DE EXTINÇÃO. VIVA A GÍRIA!
No Jornal O Valor, de 18,19 e 20.08.2000, Carlos Haag escreveu artigo sob o título “Línguas Ameaçadas” em que comentou o “desaparecimento de idiomas em larga escala põe em risco a diversidade cultural”. Com base em outro profeta da nova ordem lingüística mundial, dr. David Crystal, autor da “Cambridge Encyclopedia of the English Language” e que lançou o “Language Death” preconizando que das 6 mil línguas existentes no mundo metade (3000) desaparecerá em 100 anos. O dr. Steven Roger Fischer é mais cruel! O dr. Haag assinalou que no Brasil, antes de 1500, havia cerca de 1.175 línguas (que precisão!) diminuídas para mil no século passado. Hoje, não passa, de 200. O dr. Crystal afirmou que o inglês já é falado por l,5 bilhão de pessoas (um quarto do mundo) e que 4% das línguas do planeta são faladas por 96%

das pessoas ou, invertendo a tragédia, 96% das línguas são usadas por cerca de 4% das pessoas.

PALAVRAS E GÍRIAS
Márcio Moreira Alves, em sua coluna em O GLOBO, de 02.03.2001, sob o título “Palavras e Gírias” ocupou-se da gíria a partir da “fitalhada”, que envolveu procuradores da República, senadores, jornalistas da Revista ISTO É. De saída, sentenciou: “sutil, ambíguo, malicioso, perverso ou divertido pode ser o emprego das palavras e das gírias.” O GLOBO deu em manchete “Enrolado em fitas”, usando o idioma gírio e referindo-se a um procurador da República,

que gravou conversas e as fitas sumiram ou foram destruídas. Acrescentou: fazer fita “é fingir, negacear, fazer-se passar pelo que não é ou sentir o que não se sente”. Arrematou: o Procurador “pisou na bola. Ou seja: cometeu um erro que o deixa mal”.

O MODISMO DA POPOZUDA
Artur Dapieve , em sua coluna em O GLOBO, de 02.03.2001, sob o título “Modo de Falar. De como as “popozudas” renovam a língua” dedicou-se a uma análise sentimental do modismo sazonal do funk carioca que além de popozuda, trouxe termos como rabiola e cerol. Acrescentou que “a gíria pode caducar rapidamente, mas é esta oxigenação que mantém a língua viva,

inventando-a e re-inventando-a”. Esta é uma das ótimas funções
da gírias, condenadas pelos pruristas da língua mãe. Observou ainda que uma “popozuda” não é uma boazuda, não é uma certinha do Lalau, (Stanislaw Ponte Preta, cronista carioca do século 20) nem uma raimunda. É uma menina da vinda do século XX para XXI que não só tem uma bunda grande e uma calça de cintura baixa como sabe usa-las no baile funk ou no programa de Luciana Gimenez”. Com humor fino, sentenciou: “há quem se horrorize com certas palavras só porque, com trocadilho, por favor, essas palavras vem de baixo. Da pirâmide social. Você já viu rico inventar palavra. Ele mandar trazer pronta do exterior. Fitness center, hair-dresser, personal trainer, home banking.... Inventar palavra ou sentido é coisa de pobre e classe média”. Bom, aqui a gente para.

LÍNGUA E NACIONALISMO
O filósofo Olavo de Carvalho, a exemplo de seu colega Leandro Konder, citado na última edição do Jornal da Gíria, escreveu um artigo patriótico em defesa da língua portuguesa, em O GLOBO, DE 03.04.2001, sob o título: “Língua e Nacionalismo”. Manifestou-se preocupados com políticos, escritores, professores e “até universitários capazes de conjugar um verbo ou colocar pronomes arvoram-se em guardiões da pureza vernácula, distribuindo nas ruas panfletos contra o imperialismo cultural nas horas de estudo em que deveriam estar aprendendo o português”. Olavo de Carvalho criticou o que chamou de “transgressivismo obrigatório, brasilianização esteriotipada e nacional-populismo” como causas do embrutecimento do nosso idioma , “favorecendo a fragmentação do português num esfarelado de dialetos provincianos mutuamente incompreensíveis”. Não falou de gíria, mas declarou guerra, nas entrelinhas.

COMO NASCEM AS GÍRIAS.
Muita gente pergunta pelo correio eletrônico, bem como em entrevistas, encontros, seminários etc como nascem as gírias.
As formas são muitas.
a) Neologismos
b) Metaplasmos
c) bordões, jargões, refrões, chavões, clichês etc
d) palavrões e calões
e) ditados, ditos e expressões populares, frases feitas, frases de efeito
f) modismos induzidos, especialmente na tevê, um bordão que vira modismo
g) modismos tecnificados, especialmente na publicidade, uma frase, um slogan,
uma palavra de ordem que vira modismo
h) regionalismo, caipirismo
i) vicios de linguagem, barbarismos, solecismos
j) palavras inventadas
k) corruptelas ou corrutelas
l) duplo significado. Na etimologia, uma coisa. Na gíria, outra
m) inclusão ou supressão de letras e sílabas
n) preguiça de se pronunciar a palavra por inteiro.

NA PAUTA
Aviso aos navegantes.
Na próxima edição do JORNAL DA GÍRIA publicaremos mais uma relação da gíria funk.

Estamos aceitando contribuições.

NA REDE VIDA
Estivemos nos estúdios da Rede Vida, em São José do Rio Preto/SP, em 27.04.2001, participando do Programa TRIBUNA INDEPENDENTE, quando fomos entrevistado por Andrea Botelli, Conceição Ribeiro Borges, presidente da Academia Barretense de Cultura, Mussa Calil Neto, suplente de deputado federal pelo PT/SP e Wanderley Mauro Dib, president do Instituto Barretos de Tecnologia. De São José do Rio Preto, como convidado, estivemos em Barretos/SP, em 28.04.2001, participando da festividade de entrega dos prêmios aos vencedores do 9º Concurso de Contos Jorge Andrade, da Academia Barretense de Cultura.


Onde encontrar o DICIONÁRIO DE GÍRIA?


O DICIONÁRIO DE GÍRIA poderá ser solicitado pelo Correio, ao preço de R$ 20,00, sem despesas adicionais de remessa, a JB Serra e Gurgel, SQS 302, Bloco B, apto. 403, CEP 70.338-020, Brasília-DF ou Rua Presidente Pedreira, 135, apto.701, Ingá, 24.210.470, Niterói-RJ. O pagamento também poderá ser feito através de crédito na conta 261-644-6, da Agência 0005, da Caixa Econômica Federal, ou na conta 825.754-X, da Agência 2873-8, do Banco do Brasil. O livro está disponível na rede SICILIANO de livrarias e nas livrarias SARAIVA, nas livrarias Acaiaca, de Belo Horizonte, Gutemberg, de Niterói, Ao Livro Técnico, de Fortaleza, e nas lojas da ArteCapital (Pátio Brasil, Shopping Taquatinga e Aeroporto) e nas livrarias Técnica (102) , da Rodoviária e Nossa Livraria (104) de Brasília. Maiores informações sobre a edição poderão ser obtidas no "site" da Internet: https://www.cruiser.com.br/giria ou pelo endereço eletrônico: gurgel@cruiser.com.br.

(Serviço: para entender o que está neste JORNAL DA GIRIA compre o DICIONÁRIO DE GÍRIA, de JB Serra e Gurgel, à venda na Saraiva e na Siciliano, a 20 mangos, 20 contos, 20 merréis, 20 reais, 20 barões, 20 paus, 20 pratas, 20 pilas. Se preferir, peça direto ao autor, com direito a autografo. E-mail: gurgel@cruiser.com.br

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