Jornal Mensal em idioma
gírio. Edição 031 Ano IV Niterói/RJ, Fevereiro /
Março 2004 |
Em primeiro lugar,
os agradecimentos aos 86.280 visitantes desta página, principalmente
professores e estudantes, especialistas ou estudiosos de gíria.
Não é fácil manter uma página sobre uma
questão que é importante como o idioma gírio
no nosso país. Agradeço as manifestações
sempre generosas dos navegadores da Web, sempre em busca do novo,
do inusitado e que aqui encontraram alguma coisa.
Nesta edição, mais novidades, no rastilho das pesquisas
que empreendo sobre as raízes de nossa gíria, longe
do vulgar, do chulo, do lixão das ruas, fortes tributários
da gíria, mas em meio a obras clássicas de nossa literatura,
com autores consagrados.
No livro ‘O Cortiço”, lançado no Rio de
Janeiro, em 1890, Aluisio Azevedo deu seqüência ao registro
literário da gíria carioca, iniciado por Manuel Joaquim
de Almeida em 1854, em “Memórias de Um Sargento de Milícias”,
o primeiro livro escrito em idioma gírio. (veja Jornal da Gíria
nº 16, novembro/dezembro de 2001 e Janeiro/Fevereiro de 2002),
.
Raul Pederneiras, autor de “Geringonça Carioca”,
de 1922, ano da Semana de Arte Moderna, marco da primeira grande revolução
cultural do país, não menciona Manuel Joaquim de Almeida,
mas realça a importância da gíria de Aluisio Azevedo.
São gírias com mais de 110 anos, centenárias,
portanto, caminhando para os 114 anos, muitas delas, absolutamente
atuais.
Vamos às gírias de “o Cortiço”, sem
dúvida, o segundo livro no Brasil escrito no idioma gírio.
A
A dar a palha (1890) apresentar-se. “O Miranda queria dar a
palha para o povaréu da estalagem do João Romão”;
À peste (1890) à pessoa. Acabou-se o cativeiro de pagar-se
dez mil réis à peste”.
À socapa (1890) às escondidas. “Isaura e Leonor
serviam os comensais e riam à socapa”.
Abrir o bico (1890) falar. “Só abrirei o bico se der
motivo para isso”.
Aferrolhado (1890) guardado. “O velho Libório trazia
o dinheiro aferrolhado no colchão”.
Algibeira (1890) bolsa em que se guardava dinheiro. “Jerônimo
tirou as notas da algibeira”.
Agimbado (1890) com dinheiro. “O velho Libório era agimbado,
mas não parecia”.
Andorinha carro de mudança (1890) “Ambos vieram na boléia
da andorinha que lhes carregou os trens”.
Aos bordos (1890) muito bêbado. “Piedade, aos bordos,
tentava se livrar de Paquetá que lhe dava uns apalpões”.
Aos paus (1890) muito bêbado. “Leocádia estava
desempregada, devendo a estalagem, e aos paus”.
Apalpões (1890) apertos nas nádegas. “Isaura,
que fora tomar um capilé na venda, via-se tonta com os apalpões”
Apatetado (1890) bobo. “Estava apatetado, não respondia
as perguntas”.
Aperreada (1890) provocada. “A Rita Baiana era muito aperreada
pelos homens, por causa de sua sensualidade”.
Assanhada (1890) provocadora, excitante. “A Rita Baiana cada
vez mais ficava assanhada”.
Assim ou assado (1890) de qualquer maneira. “Assim ou assado,
a Léonie passa muito bem de boca e nada lhe falta”.
B
Babão (1890) pegajoso, apatetado. “Jerônimo quando
viu a Rita Baiana ficou de queixo bambo, babão”.
Baiacu de praia (1890) mulher gorda. “Piedade ficou tão
gorda que mais parecia um baiacu de praia”.
Bicho carpinteiro (1890) excitação interior. “Até
certa idade todos temos dentro um bicho carpinteiro”.
Berradora (1890) que fala alto, grita. “A Machona era berradora”.
Berraria (1890) gritaria. “O vendeiro disse para a Marciana
que não queria gritaria”.
Besta (1890) ignorante. “Fui uma besta! Repisava João
Romão”.
Bestialógicos (1890) desfile de besteiras, bobagens. “Firmo
e Porfiro trocavam bestialógicos, arremedando a fala dos pretos
caçanjes”.
Bico (1890) cala, não grita. “Bico ou chamo um urbano,
ameçou o vendeiro”.
Biraia (1890) mulher sem classe, “Bruno chamou Leocádia
de biraia e disse que ela não levaria nada de casa”.
Birra (1890) implicância. “Uma das birras mais cômicas
do Botelho era o seu ódio pelo Valentim”.
Bisbórria (1890) pessoa desprezível. “Jerônimo
dizia que não queria se lembrar de Firmo, aquele bisbórria”.
Botar os bofes pela boca (1890) cansado. “A Bertoleza botava
os bofes pela boca e rosnava enquanto dormia”
Bugiganga (1890) objetos, coisas. “Os italianos eram mascates
e vendiam bugigangas”.
Burra (1890) bolsa em que se guardava dinheiro. “A dinheirama
saia da burra para o banco”.
C
Cabravasco (1890) ignorante, grosseiro. “O Firmo era um cabravasco
apaixonado pela Rita Baiana”.
Cábula (1890) pessoa indigna. “O Firmo era um cábula,
um traste”.
Cacarecos (1890) tralhas, coisas velhas. “João Romão
jogou fora os cacarecos da Bertoleza”.
Cacaréus (1890) tralhas, coisas velhas. “Os cacaréus
foram recolhidos ao depósito público”.
Caco velho (1890) pessoa idosa. “Não sei o que um caco
velho fica fazendo no mundo”.
Cáfila (1890) grupo de salteadores. “Bandidos! Berrava
João Romão, Cáfila!”
Caiporismo (1890) azar. “O Costa sofria com o caiporismo da
Pombinha”.
Cair na esparrela deixar-se surprender. “Se ele cair na esparrela,
nos mandamos o Firmo para as minhocas”.
Caloji (1890) terreiro. “Tinham encontros misteriosos num caloji
de uma velha miserável da Rua da Passagem”.
Capadócio (1890) roceiro, rude, grosso. “A Rita deixava
o capadócio roçar nas suas pernas”
Capilé (1890) bebida .”Isaura gastava todo o vintenzinho
em comprar capilé na venda do João Romão”.
Cara de nabo (1890) pessoa feia. “Quem fez a maldade com a Florinda
foi aquele cara de nabo”.
Carapinha (1890) cabelo de negro. “A Leonor enfiou a carapinha
para ver o que se passava”.
Casa de pasto (1890). “A venda do João Romão também
era uma casa de pasto. A Bertoleza fazia a comida”.
Chalaças (1890) troças, bagunça. “Eles
comentavam com gargalhadas e chalaças gordas o que iam encontrando”.
Chinfrins (1890) pessoas reles. “Na estalagem, não havia
chinfrins”.
Chubregas (1890) pessoa humilde, mal ajambrada, bronca. “Já
se viu chubregas mais atrevido? Exclamou Firmo”
Chufas (1890) incentivos à disputa. “Os homens riam e
atiravam chufas às duas contendoras”.
Cobre (1890) dinheiro. “Em seguida à mela, corre logo
o cobre, quarenta mil réis para cada um”
Cobrir (1890) engravidar. “Se o caixeiro a cobriu, ele deveria
pagar pelo que fez”.
Cocote (1890) prostituta. “Léonie era uma cocote de trinta
mil réis pra cima”.
Coisa ruim pessoa (1890) imprestável. “É um coisa-ruim!
Não quero saber mais dele!...Um traste!”
Comia-lhe a pele (1890) explorava. “Seu senhor comia-lhe a pele”.
Cutruca ordinária (1890) mulher sem valor. “Repete, cutruca
ordinária! Berrou a mulata”.
D
Dar cabo da pele (1890) matar. “A intenção do
malvado era dar cabo da pele”.
Dar-se a maços (1890) trabalhos cansativos. “Voscemecezinha
anda tão tomada com seu enxoval e não há de querer
dar-se a maços”.
Dar uma perna ao demo (1890) dane-se o resto “Se você
estar comigo, dou uma perna ao demo”.
De cabo a rabo (1890) do começo ao fim. “João
Romão lia de cabo a rabo os fascículos de romances franceses
traduzidos”.
Deslambida (1890) mulher provocadora. “Rita Baiana era deslambida”.
Despache o beco (1890) saia. “Pois então, despache o
beco”.
Dez réis de mel coado (1890) ninharia. “João Romão
comprava por dez réis de mel coado o que os escravos roubavam
da casa de seus senhores”.
E
Embeiçado (1890) apaixonado, enfeitiçado . “Jerônimo
parecia embeiçado pela Rita Baiana”.
Embesourada (1890) carrancuda. “A Piedade estava embesourada”.
Encher o bandulho (1890) engravidar. “Todos queriam saber quem
encheu o bandulho da Florinda, que acabou confessando”.
Encontrar furo (1890) solução, saída para dificuldades.
“Todo homem bem disposto encontrava furo”.
Entre pernas (1890)– órgão sexual feminino. “Firmo
e Jerônimo se atracaram por causa do entre pernas da Rita Baiana”.
Esbodegar (1890) quebrar, destruir. “Bruno esbodegou todos os
trecos e catrecos da Leocádia”.
Escovar (1890) tratar. “Quanto mais escovar a mulher, melhor
ela ficará de gênio”.
Espocados (1890) velhos, estragados. “Os colchões estavam
espocados”.
Estar aos paus (1890) desempregado, em dificuldades, “Sei que
ela está desempregada e aos paus”.
Estorricar os miolos (1890) preocupar. “A febre daquela inveja
lhe estorricava os miolos”.
Estrompada (1890) cansada. “Bertoleza atirou-se no colchão,
estrompada”.
F
Farândola (1890) barulho. “A ruidosa farândola desfilava
pelas ruas chamando a atenção”.
Fartão (1890) pancada. “Firmo deu um fartão na
Rita Baiana”.
Fazer cera (1890) fingir que trabalha. “Comigo eles não
fariam cera na pedreira”.
Fazer escarcéu (1890) barulho. “Vamos parar de fazer
escarcéu”.
Fazer fosquinhas (1890) fazer gracinhas. “Se quer casar, tem
que deixar de fazer fosquinhas e ser mais decidido”.
Fecha fecha (1890) pressão. “A Leocádia escapou
das pauladas do marido , a quem o povaréu desarmara num fecha-fecha”.
Ferrar a sardinha no pandulho (1890) enfiar uma faca. “Vou a
procura daquele galego e ferrar a sardinha no pandulho”.
Ficar de pés unidos para sempre (1890) morto. “Com um
par de cocadas boas ficavam de pés unidos para sempre”
Ficar de alcatéia (1890) vigiar. “Enquanto um roubava,
outro ficava de alcatéia”.
Fogo no rabo (1890) excitante, provocadora. “A Rita Baiana parece
que tem fogo no rabo. Vive metida na pândega”.
Fona de uma figa (1890) pessoa indigna. “Sai do meu caminho,
fona de uma figa”.
Forrobodó (1890) festa, diversão. O samba rompeu mais
forte e mais cedo. Foi um forrobodó valente”.
Frege (1890) lugar ruim. “A venda do João Romão
era um frege”.
Fuças (1890) rosto, cara. “Não pude ver as fuças
do safado”.
Furo (1890) solução, saída para dificuldades.
“Todo homem bem disposto encontrava furo”.
G
Galego (1890) estrangeiro, português. “O Firmo partiu
pra cima do Jerônino chamando-o de galego ordinário”.
Galinha (1890) mulher sem classe. “O Bruno pegou a mulher com
outro e a chamou de galinha”;
Gambá (1890) bêbado. “O Firmo tava um gambá
no Garnisé”.
Gira (1890) doida. “Camarada, esta mulher é gira”.
Goela seca (1890) sem beber. “Enquanto houvesse dinheiro ninguém
morreria com a tripa murcha ou a goela seca”!
H
Homem de gravata lavada (1890) rico. “O verdadeiro proprietário
do cortiço era um homem de gravata lavada”.
J
Janotas (1890) malandros bem vestidos. “Lá dentro, janotas
estacionavam de pé, soprando fumo dos charutos”. e
Jornaleiro (1890) operário. “Por ali não se encontrava
jornaleiro cujo ordenado não fosse inteirinho parar às
mãos do velhaco”.
Jururu (1880) pessoa triste. “D.Leocádia pergunta quem
eram aqueles jururus”.
L
Lambuzão (1890) mal arrumado, sujo. “João Romão
já não era o mesmo lambuzão”.
Levada da breca (1890) difícil, complicada. “D. Estela
era uma mulherzinha levada da breca e dera muitos desgostos ao Miranda”
Levou a breca (1890) deu-se mal, morreu. “O pobre homem levou
a breca, como aconteceu ao ourives”.
Lixe-se! (1890) dane-se! “Ora lixe-se resmungou o caixeiro”.
M
Machona (1890) mulher com aparência de homem, pouco feminina.
“A Machona era uma portuguesa feroz, berradora, pulsos cabeludos
e grossos, anca de animal do campo”.
Maganão! (1890) sabido, interesseiro. “Maganão!
Exclamou o Botelho desconfiando das intenções do vendeiro”.
Magote grupo, bando (1890) “Um magote de italianos iam à
frente”.
Mais vale um gosto do que quatro vinténs (1890) é preferível.
“Ora! Mais vale um gosto do que quatro vinténs”.
Mal e porcamente (1890) desleixadamente. “Nesse dia serviu mal
e porcamente aos fregueses”.
Mandar para as minhocas (1890) matar. “Firmo dizia que mandara
para as minhocas dois galegos”.
Massagada (1890) muito. “João Romão pegou a massagada
de dinheiro velho guardada pelo Libório”.
Matreiro (1890) calculista. “João Romão era um
invencível matreiro”.
Meter no chinelo (1890) superar. “João Romão meteu
no chinelo o sobrado do Miranda”.
Morcego (1890) guarda-noturno. “Fora os morcegos! Gritaram todos”.
Morrinhento (1890) indisposto, incomodado. “Estou morrinhento,
indisposto”.
Mostrar os dentes (1890) não aparecer. “D. Estela não
mostrou os dentes desde que Valentim adoeceu”.
Mulata assanhada (1890) mulher devassa. “A Rita Baiana era uma
mulata assanhada, uma sirigaita”.
N
Nada de rolo (1890) nada de confusão. “Nada de rolo!
Não quero confusão aqui”.
Não me amole (1890) não me irrite. “Deixe-me!
Não me amole você também. Não estou bem
hoje”!
Não meter prego sem estopa (1890) não perde tempo. “O
João Romão não metia prego sem estopa”.
Negralhada (1890) grupo de negros. “João Romão
contratou três caixeiros para atender a negralhada da vizinhança”.
Nem pintada (1890) não interessa. “Aquela nem pintada.
É uma cocote muito cara”.
O
Os podres (1890) maus procedimentos. “Botelho queria saber os
podres dos poderosos”.
Ora bolas! (1890) vejam só. “Ora bolas! Exclamou o João
Romão. Isto aqui não é acoito de vagabundos”.
Ora pistolas! (1890) vejam só. “Se se incomodam com a
gente...os incomodados são os que se mudam. Ora pistolas!”
Ora sebo! (1890) vejam só. “O homem deixou-te? Ora sebo!
Mete-te com outro”.
P
Pagava de jornal (1890) pagar por dia de trabalho. ”Pagava de
jornal a seu dono vinte mil-réis por mês”.
Pagode (1890) festa, diversão. “As lavadeiras deixavam
as tinas e iam para o pagode que aparecesse”.
Palavra de honra! (1890) exato! “Palavra de honra! O que afirmo
é verdadeiro, dizia o Botelho”.
Pamonha (1890) bobo, palerma, otário. “Para Porfiro o
Albino era um pamonha e não conhecia mulher”.
Pândego (1890) vagabundo. “O Alexandre era um pândego”.
Pândego de marca maior (1890) vagabundo. “O Domingos pelo
que se transformou num pândego de marca maior”.
Patanfaçudo (1890) escandaloso. “Léonie exibia
seu pantafaçudo chapéu de imensas abas”.
Par de cocadas (1890) pancadas. “Com um par de cocadas boas
ficavam de pés unidos para sempre”.
Parati (1890) bebida alcoólica. “Na estalagem, bebia-se
vinho, cerveja e parati”.
Parece que tem fogo no rabo (1890) excitante, provocadora. “A
Rita Baiana parece que tem fogo no rabo. Vive metida na pândega”.
Patavina (1890) nada. “Domingos não respondeu patavina”.
Patife
Patuscada (1980) brincadeira, reunião com cantos, bebidas e
alegria, diversão. “A patuscada da Rita Baiana era a
mais animada da estalagem”
Pé-de-água (1890) chuva forte, “Um grande é
de água desabou cerrado”.
Pé-de-boi (1890) trabalhador. “O Miranda guardava a filha
para um cafezista pé de boi”.
Pedaço de asno (1890) pessoa inculta. “O Miranda tinha
o João Romão como um pedaço de asno”.
Perder o seu latim (1890) o que você fala ou diz não
tem importância, “O senhor perde o seu tempo e seu latim”.
Perder a tramontana (1890) perder o rumo. “A prosperidade do
vizinho faziam-lhe ferver o sangue e perder a tramontana”.
Perua choca (1890) mulher metida a ter classe sem Ter. “Pula
cá pra fora, perua choca, se és capaz!”
Por em cacos (1890) destruir. “Eles puseram em cacos tudo o
que encontraram”.
Procurar arranjo (1890) procurar outro emprego. “João
Romão não gostava de caixeiro amigado e mandou Domingos
procurar arranjo”.
Pulha (1890) reles. “O vendeiro ficou intrigado: por que o pulha
o convidara para a festa?”
Q
Quartos (1890) quadris. “Então, coisa ruim! Por onde
andastes atirando esses quartos?”
Rabujar (1890)
linguagem incompreensível. “A Bruxa rosnava, era um rabujar
confuso”.
R
Raio! (1890) arre! “Raio! Exclamou João Romão,
ameaçando chamar os urbanos”.
Ratonas (1890) pessoas gordas. “Piedade arremedava as figuras
ratonas da estalagem”.
Rega-bofe (1890) comida. “O pessoal ficou para o rega-bofe”.
Riu a bandeiras despregadas (1890) riu muito. “Leocádia
riu a bandeiras despregadas”.
Rolo (1890) confusão. “Houve um formidável rolo,
um rolo a valer”.
Ror de tempo (1890) muito tempo. “O cavouqueiro ficou um ror
de tempo conversando com o João Romão”.
Roupa de francês (1890) coisa que não tem dono. “Invadiram
a propriedade e puseram em cacos o que encontraram. Aquilo era coisa
de francês”.
Rusga (1890) desentendimento. “Não há chinfrins
na estalagem, se aparece uma rusga, logo se resolvia”.
S
Sabe-lhe a gaitas (1890) sabe de tudo. “Quando uma mulher passou
dos trinta e pilha um rapazito é como descobrisse ouro em pó.
Sabe-lha a gaitas!”
Safadagem (1890) safadeza. “Leocádia era uma excelente
rapariga, incapaz de qualquer safadagem”.
Safardaria (1890) esperto. “Não preciso de nenhum safardaria”!
Sarilho (1890) confusão. “Principiou um sarilho grosso”
Sebo! (1890) arre. “Sebo! Berrou ele. Sempre a mesma coisa!”
Secos e molhados (1890) atacadista ou retalhista de gêneros
alimentícios. “O Miranda ficara rico com secos e molhados”.
Sem precisar roer nenhum chifre (1890) sem passar privações
ou dificuldades. “Tinha inveja do outro português que
fizera fortuna em precisar roem nenhum chifre”.
Sem tugir nem mugir (1890) calmo, tranqüilo. “Ficou espiando,
sem tugir nem mugir, Estela entalada entre o muro e o Henrique.”
Serrazinar (1890) repreender, brigar. “João Romão
depois de serrazinar com os caixeiros tornou ao pátio da estalagem”.
Sirigaita (1890) mulher devassa. “A Rita Baiana era uma mulata
assanhada, uma sirigaita”.
Surumbamba (1890) confusão. “Logo todos perceberam que
estavam metidos no surumbamba”.
T
Tarecos coisas (1890) . Os tarecos fora! E já! Aqui mando eu!”
Temos mouro na costa (1890) pessoa estranha por perto. “Hum!
hum! temos mouro na costa! Rosnava ao capadócio”.
Ter para as peras (1890) receber alguma coisa depois de muita demora.
“Ela que caia nessa e verá se tem ou não para
as peras”.
Tetéia (1890) presente, lembrança. “A medalha
de prata era uma tetéia que valia só pela esquisitice”.
Traste (1890) pessoa imprestável. “É um coisa-ruim!
Não quero saber mais dele!...Um traste!”
Tratou aos repelões (1890) com grosseria . “Tratou aos
repelões a Bertoleza”.
Tripa murcha (1890) com fome. “Enquanto houvesse dinheiro ninguém
morreria com a tripa murcha ou a goela seca”!
Troça (1890) brincadeira. “Por toda a viagem discutiram
e altercaram em grande troça”.
Troca-queixo (1890) soco. “Piedade tinha levado um troca-queixo
do marido”.
U
Um par de cocadas (1890) pancadas. “Com um par de cocadas boas
ficavam de pés unidos para sempre”.
Urbano (1890) policia. “Os urbanos invadiram as casinhas no
cortiço”.
V
Vá cozer a mona (1890) recolha seus impulsos. “Vá
cozer a mona, na cama, no travesseiro”.
Vá à pata que o pôs! (1890) procure o que fazer.
“Vá à pata que o pôs! Exclamou ela com uma
cara que era um tomate”.
Vá à tábua! (1890) dane-se. “Vá
à tábua com com sua festa e seus títulos”
Vá às favas! (1890) procure o que fazer. “Vá
às favas seu Miranda”.
Vá pro diabo que o lixe! (1890) dane-se. “Vá pro
diabo que o lixe. Eu não como nem bebo do que é dele”.
Vai te catar! (1890) procure o que fazer. Ora, vai te catar!”
Vavau (1890) confusão. “Houve um vavau rápido
e surdo”.
Velhaco (1890) enganador, ludibriador. “Creio que não
me supõe um velhaco!”
Ver as fuças – ver o rosto, a cara
Vituperar (1890) criticar. “Vituperou os italianos que comiam
tagarelando”.
Voa-pés (1890) golpe de capoeira. “Jogaram-se as cabeçadas
e os voa-pés”.
Z
Zumba (1890) confusão. “Ninguém se conhecia naquela
zumba de gritos sem nexo”.
Zunzum (1890) barulho. “Em volta das bicas, no cortiço,
era um zunzum crescente”.
(Serviço: para entender o que está neste JORNAL
DA GIRIA compre o DICIONÁRIO DE GÍRIA, de JB Serra e Gurgel, à venda na Saraiva e na
Siciliano, a 20 mangos, 20 contos, 20 merréis, 20 reais, 20 barões, 20 paus, 20 pratas,
20 pilas. Se preferir, peça direto ao autor, com direito a autografo. E-mail: gurgel@cruiser.com.br
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