Jornal Mensal em idioma gírio.
Edição 023 Ano 3 Niterói/RJ, Outubro / Novembrode
2002 |
MAIS LEITORES
Agradeço aos 43.332 internautas que visitaram esta página
que, dia a dia, se impõe como referência aos estudos
gírios em nosso país.
Devo revelar que apenas um internauta reagiu com indignidade à
página.
Há muitas e gratificantes referências de internautas
em todas as partes do mundo.
Um dos últimos, do Japão, entusiasmou-se pela página
e pela seriedade com que tratamos das questões gírias.
Mas nem tudo são flores.
Pelo menos dois ilustres membros da Academia Brasileira de Letras
nem se manifestaram sobre o DICIONÁRIO DE GIRIA que lhes foi
enviado.
Mais a Academia já incorporou à 6ª edição
à sua Biblioteca, como foram incorporadas as demais edições.
Mas na verdade, apesar da apresentação do Dicionário
ter sido feita pelo academico Arnaldo Niskier e do próprio
Dicionário ter surgido em razão de manifestações
do acadêmico Antonio Houaiss, a Academia não tem qualquer
simpatia pela causa gíria.
GIRIAS DE 1903, 1912 e 1922
Nesta edição, vamos tratar de gírias centenárias
inclusive, recorrendo a três marcos dos estudos gírios
em nosso país:
1903, lançamento do Dicionário Moderno, com 1.700 verbetes,
de José Angelo Vieira de Brito, o J, Brito, Bock, que entre
tantas atividades exercidas foi Senador da República, resgatado
pelo prof. Dino Pretti , da USP, em 1984. Os primeiros verbetes de
Bock foram publicados em 1902, em O Coió, que era um hebdomadário
ilustrado e humorístico que circulou em 1901 e 1902, no Rio
de Janeiro.
1912, lançamento do Gíria dos Gatunos Cariocas, de Elysio
de Carvalho, que nos seus registros indica a procedência de
muitos verbetes: França, Espanha, Argentina, Itália.
1922, lançamento do Geringonça Carioca, Vebetes para
um Dicionário de Gíria, de Raul Perdeneiras, que nos
indica as tribos que utilizavam as gírias, como a ladra, a
teatral, cigana, capoeiragem.etc.
Continuo pesquisando publicações do século XIX
na busca de novos marcos.
Aceitaria de boa vontade indicações de fontes e referências
no Brasil e em Portugal.
Compreendam que muito difícil, já que é indiscutível
a má vontade de bibliotecas com pesquisadores.
Posso dar meu testemunho
GÍRIAS DE 1903
Abundância (nádegas);
Babão (boquiaberto);
Brocha (sem disposição sexual);
Bolachas (nádegas);
Cantar (tentar conquistar com galanteios);
Canudo (diploma);
Divina (linda);
Embandeirado (ornamentação adulterina);
Enfeite (ornamentação adulterina);
Enrabichar (Ter paixão);
Galho (ornamentação adulterina);
Gostosa (mulher de alta cotação);
Lábia (astúcia);
Lesar (prejudicar);
Luneta (óculos);
Maciota (devagar para não doer);
Notório (conhecido);
Ostra (mulher velha);
Patroa (dona de casa);
Pingolão (mulher grande);
Protuberâncias (nádegas);
Quarentona (mulher velha);
Sapeca (namoradeira);
Trepar (fazer sexo);
Vaca (mulher de altas qualidades);
Xadrez (cadeia);
Zona (prostíbulo);
Zorra (confusão).
GÍRIAS DE 1912
Achacar (pedir dinheiro);
Afanar (roubar);
Aliviar (roubar);
Barrar (impedir);
Beiço (não pagar);
Berrante (revolver);
Bobo (relógio);
Cabreiro (desconfiado);
Cana (prisão);
Ciscante (galinha);
Dar o fora (fugir);
Encanar (prender);
Encrenca (confusão);
Escabriado (bêbado);
Espinafrar (descompor);
Farra (bebedeira);
Ficar tiririca (irritar-se);
Homens (autoridades policiais);
Lorota (mentira);
Lorto (nádegas);
Manjar (conhecer);
Micho (sem dinheiro);
Mina (mulher);
Osso (namorada);
Otário (ingênuo);
Paca (tolo);
Patota (grupo);
Patureba (tolo);
Penosa (galinha);
Pisantes (botinas);
Quengo (cabeça);
Ranzinza (renitente); rato de hotel (ladrão de hotel);
Serelepe (astuto);
Talagada (gole de aguardente); tira (agente da polícia); troços
(objetos)
Xereta (bajulador);
Zoeira (barulho).
GIRIAS DE 1922
Abacaxi (assunto ou negócio pesado, exaustivo ou prejudicial)
Abonado (endinheirado)
Almofadinha (tipo efeminado)
Babaca (A parte distintiva feminina)
Barganha (permuta, conchavo, negócio ilícito)
Bate papo (conversa banal, tagarelice)
Cambalacho (conchavo, arranjo clandestino, intriga)
Campanha (vigia que protege a manobra)
Canhão (mulher sem atrativos, feiosa e repulsiva)
Degas (a pessoa que fala)
Dolorosa (a conta da empresa)
Destabacado (desempenado, esperto)
Emburrado (aborrrecido, desanimado)
Encanar (prender)
Entornar o caldo (iniciar conflito)
Figurão (homem influente)
Figueiredo (fígado)
Frito (em maus lençóis, prejudicado, sem defesa)
Gambá (embriagado)
Gari (varredor de ruras)
Gigolô (moço que vive às custas de mundanas)
Igrejinha (grupo suspeito)
Implicante (intrigante, provocador)
Jacuba (café com farinha de mandioca)
Jururu (cabisbaixo, triste, desanimado, melancólico)
Justa (a prisão, a cadeia)
Ladainha (fala fastidiosa, lenga-lenga, repreensão)
Lambisgoia (mulher antipática)
Liso (sem recursos)
Macacada (grupo de pessoas)
Mamado (embriagado)
Mamata (comezaina, propina, achego ilícito)
Na rabada (em último lugar, na cauda da fila)
Néris (nada)
Nicles (coisa nenhuma)
Otário (tolo, inexperiente)
Ovo atravessado (contrariedade, situação esquerda)
Paises baixos (partes pudendas)
Patroa (esposa ou amásia)
Pé rapado (tipo desqualificado)
Quebradeira (falta de dinheiro)
Queima (liquidação comercial)
Quengo (cabeça)
Rancho (refeição, bóia)
Rebordosa (alarido, confusão, conflito)
Roupa velha (comida sobrada de véspera)
Sabão (descompostura, repreensão, censura)
Sacana (canalha, crapuloso, imoral)
Sacanagem (bandalheira)
Talagada (gole de bebida)
Tendinha (botequim modesto)
Tomates (testículos)
Uruca (mau olhado, enguiço)
Veado (coridon, ganimedes)
Verborragia (discurso longo e enfadonho)
Vôte (exclamação de espanto, de surpresa)
Xarope (coisa insossa, importunação)
Xingadela (insulto)
Xuxu (grande quantidade)
Zarpar (sair, evadir-se)
Zoar (atordoar, tontear)
Zonzo (tonto, aturdido)
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