Jornal da Gíria
Jornal Mensal em idioma gírio – Edição 055 – Ano VIII – Niterói
RJ –Setembro/Outubro de 2008
Haddad: acordo ortográfico entra em vigor até 2011
Ministro disse que impacto da reforma será mais político
Jair Rattner, De Lisboa para a BBC Brasil, em 25.07.2008
O ministro da Educação, Fernando Haddad, afirmou nesta sexta-feira em Lisboa
que o acordo ortográfico da língua portuguesa deverá estar implantado no Brasil
até 2011.
No início da 7ª Conferência de Chefes de Estado e de Governo da Comunidade dos
Países de Língua Portuguesa, Haddad apontou o acordo como uma peça-chave da
cooperação com os países africanos.
"Estamos tendo conversas informais com grupos editoriais brasileiros, sobretudo
os que trabalham com livros didáticos, prevendo um prazo de dois ou três anos
(para a implementação do acordo)", disse o ministro.
Segundo ele, a idéia é levar a consulta pública dentro de 30 dias a minuta do
decreto presidencial sobre o acordo. "Pretendemos publicar esse decreto
presidencial talvez ainda em setembro ou outubro", afirmou.
Segundo o ministro, a grande mudança a partir da unificação do português será
política, em relação ao papel que a língua portuguesa tem no mundo.
"A ortografia muda muito pouco. Tanto no Brasil como em Portugal a expectativa
é que a adaptação seja relativamente simples. Mas em foros internacionais e
sobretudo na CPLP penso que a cooperação vai ser muito promovida. Imagine a
dificuldade de uma língua ser (usada) em foros internacionais sem uma ortografia
comum."
Mudanças
O acordo consagra mudanças relativamente pequenas. Segundo os linguistas que
prepararam o acordo – Antônio Houaiss, pelo Brasil, e João Malaca Casteleiro,
de Portugal –, 0,43% das palavras no Brasil e 1,42% em Portugal passarão por
mudanças.
Os brasileiros deixam de utilizar acentos em vogais duplas como na palavra "voo",
e os tritongos deixam de ser acentuados, como nas palavras "assembleia"
ou "ideia".
Os portugueses perdem o "c" em "acto" e "tecto",
o "p" em "óptimo" ou "Egipto" e as letras duplas
em "connosco" ou "comummente".
No entanto, o acordo mantém divergências: os acentos são diferentes em "Antônio"
e "António", "gênero" e "género". Portugal passa
a escrever "receção" (com o mesmo som de recessão) em vez de "recepção".
E não há uma unificação da sintaxe e da semântica – em Portugal usa-se a forma
"até ao fim" em vez de "até o fim", e costuma-se falar "sabe
bem" para dizer que uma comida é saborosa.
Universidade
O ministro disse que uma parte importante da cooperação com os outros países
de língua portuguesa será a criação da Universidade Luso-Afro-Brasileira, que
deve ter sua sede em Redenção, no Ceará.
"O presidente ontem (quinta-feira) encaminhou ao Congresso Nacional a proposta
de criação de uma universidade voltada para os países da CPLP. Vai se chamar
Unilab, Universidade Luso-Afro-Brasileira, com o objetivo de criar um ambiente
político-pedagógico voltado para a promoção da língua."
"A Universidade Luso-Afro-Brasileira só faz sentido na medida em que todos
os países se pronunciem de maneira decisiva sobre o desejo de integração",
completou.
Cúpula em Lisboa debate difusão do português no exterior
Jair Rattner, De Lisboa para a BBC Brasil, 24.07.2008
O presidente Luiz Inácio Lula
da Silva chegou nesta quinta-feira a Lisboa para participar da 7ª Conferência
da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), que terá como principal
assunto a política para a língua portuguesa.
O tema foi escolhido pelos portugueses que, na reunião que começa na sexta-feira,
assumem a Presidência da organização por dois anos.
Do lado português, a cúpula ficará marcada pela constituição de um fundo de
30 milhões de euros (o equivalente a R$ 100 milhões) para financiar a expansão
internacional da língua.
Segundo o ministro da Cultura de Portugal, José Antônio Pinto Ribeiro, o fundo
vai ser usado para promover o ensino do português no exterior e em investimentos
em áreas como audiovisual, cooperação, publicação de livros e jornais, financiamento
de traduções de autores em língua portuguesa e digitalização de documentos para
colocar na internet.
Os portugueses pretendem reformular o Instituto Camões, atualmente responsável
por garantir o ensino de português em universidades de 16 países.
Simbolicamente, o presidente português escolheu esta semana para promulgar o
acordo ortográfico, que prevê uma maior unificação da escrita do português entre
os oito países que usam o idioma como oficial (Portugal, Brasil, Angola, Moçambique,
Timor Leste, Guiné-Bissau, Cabo Verde, São Tomé e Príncipe). No entanto, só
dentro de seis anos o acordo ortográfico estará em vigor no país.
Do lado brasileiro, a aposta será no fortalecimento do Instituto Internacional
da Língua Portuguesa, criado em 1988 pelos países que falam o português, mas
com pouca atividade concreta até agora.
Na reunião, o presidente Lula apresentará como novidade a Universidade da Comunidade
dos Países de Língua Portuguesa ou Universidade da Integração Luso-Afro-Brasileira
(ainda falta definir o nome), que ficará em Redenção, no Ceará, voltada para
as necessidades educacionais dos países que falam português.
À noite, o presidente vai estar na entrega do Prêmio Camões, o mais importante
prêmio literário de língua portuguesa. Este ano, o premiado é o romancista português
Antônio Lobo Antunes.
O Brasil está propondo a criação do Prêmio José Aparecido de Oliveira, que seria
entregue a uma personalidade que tenha se destacado na construção da Lusofonia
e que seja reconhecida por seus méritos intelectuais.
Parlamento português aprova acordo ortográfico
Acordo é primeiro passo para internacionalização da língua
Jair Rattner, De Lisboa para a BBC Brasil, 16.05.2008
Passados 16 anos desde a assinatura, Portugal aprovou nesta sexta-feira o acordo
ortográfico, que unifica a forma como é escrito o português nos países lusófonos.
Apesar de polêmico, o texto foi aprovado por deputados de todos os quadrantes
políticos – desde o CDS à direita, até o Bloco de Esquerda – com três votos
contra e muitos deputados abandonando o plenário durante a votação.
As mudanças na forma de escrever o idioma em Portugal vão valer dentro de seis
anos, enquanto no Brasil os livros escolares deverão ser mudados até 2010.
Questionado sobre o acordo, o escritor José Saramago, prêmio Nobel de literatura,
optou por não entrar em polêmica: "Vou continuar escrevendo do mesmo jeito.
Isso agora vai ser com os revisores".
Vitória brasileira?
Houve grande polêmica em Portugal. A iniciativa contrária à reforma com maior
impacto no país foi uma petição na internet, que tentava convencer parlamentares
a votar contra o acordo.
O documento, que criticava a proposta por entender que este significava que
Portugal cedia aos interesses brasileiros, teve mais de 35 mil assinaturas desde
o início do mês, grande parte delas de intelectuais.
"A língua portuguesa é o maior patrimônio que Portugal tem no mundo",
afirmou o deputado Mota Soares, do partido CDS.
Ironicamente, dois deputados que encabeçaram a petição – Zita Seabra e Vasco
Graça Moura – não estavam no plenário na hora da votação.
Zita Seabra disse que, como é proprietária de uma editora, havia conflito de
interesses para votar o texto.
Alterações
Os estudos lingüísticos que basearam o acordo indicam que os portugueses terão
mais modificações do que os brasileiros. O dicionário português terá de trocar
1,42% das palavras, enquanto no Brasil apenas 0,43% sofrerão mudanças.
Para os portugueses, caem as letras não pronunciadas, como o "c" em
acto, direcção e selecção, e o "p" em excepto.
A nova norma acaba com o acento no "a" que diferencia o pretérito
perfeito do presente (em Portugal, escreve-se passámos, no passado, e passamos,
no presente).
Algumas diferenças vão continuar. Em Portugal, polémica e génesis manterão o
acento agudo – o Brasil continuará escrevendo com o circunflexo.
Os portugueses manterão o "c" em facto – fato em Portugal é roupa
– e vão tirar o "p" que no país não é pronunciado na palavra recepção.
Atraso
Aprovar as mudanças foi um longo processo. O conteúdo do acordo já tinha sido
aprovado há 16 anos, mas não podia entrar em vigor sem que os Parlamentos ratificassem
o protocolo modificativo.
O protocolo previa que o acordo entrasse em vigor quando três países aprovassem
o acordo – e não todos os que falam o português, como estava no texto original.
No ano passado, São Tomé e Príncipe foi o terceiro a aprovar o acordo, dando
validade ao documento.
Para o governo português, a aprovação do acordo é o primeiro passo para existência
de uma política internacional da língua portuguesa, que será anunciada quando
Portugal assumir a presidência rotativa da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa
(CPLP), em julho deste ano.
"É necessário agora desenvolver uma política de internacionalização, consolidação
e aprofundamento da língua portuguesa, e o acordo ortográfico é um instrumento
para isso", afirmou o ministro da Cultura, Antônio Pinto Ribeiro.
José Saramago critica acordo de unificação
da língua portuguesa
da Efe, em Lisboa , em 22.04.2008
Em entrevista coletiva concedida em Lisboa, o escritor português José Saramago,
85, Prêmio Nobel de Literatura em 1998, se mostrou crítico ao acordo de unificação
ortográfica que Portugal, Brasil e outros países lusófonos desejam implantar.
O escritor disse que o acordo mudaria a cara da língua portuguesa. No entanto,
Saramago afirmou que permaneceria escrevendo as suas obras sem incorporar as
mudanças de grafia previstas.
A entrevista marcou o retorno do escritor a Portugal, que se mostrou recuperado
dos graves problemas de saúde que enfrentou em 2007.
Saramago chegou a perder 51 quilos e afirmou, com seu ácido senso de humor,
que tinha a aparência de uma "múmia andante Portugal deve pedir adiamento
da reforma ortográfica
Acordo vem sendo atacado pelo setor editorial
de Portugal
Jair Rattner, De Lisboa, 14.11.2007
O governo de Portugal deve pedir aos outros sete países de língua portuguesa
que a reforma ortográfica, que pretende unificar a escrita do português, seja
adiada em dez anos.
A decisão foi divulgada pela ministra da Cultura de Portugal, Isabel Pires de
Lima, durante uma sessão de perguntas e respostas no Parlamento, na terça-feira.
Segundo Maria do Céu Novais, assessora de imprensa da ministra, "este foi
o período considerado mais adequado pelo Ministério da Cultura e pelo Ministério
dos Negócios Estrangeiros. A proposta de moratória deverá ser apresentada aos
outros países no momento certo".
O Ministério da Cultura afirma que o processo de modificação e ratificação do
acordo da reforma ortográfica está nas mãos do Ministério dos Negócios Estrangeiros.
A assessoria de imprensa desse Ministério foi consultada pela BBC Brasil e ainda
não respondeu sobre quando o acordo será levado ao Parlamento português.
Críticas
O acordo vinha sendo atacado por setores ligados ao mercado editorial português,
que não quer mudar seus arquivos. Além disso, a proposta de adotar a reforma
ortográfica no ano seguinte à assinatura do acordo contraria a lei portuguesa
que prevê que os livros escolares durem quatro anos.
Com a aprovação do tratado por parte de São Tomé e Príncipe, o número de países
que vão adotar as modificações chegou a três – os outros são Brasil e Cabo Verde
–, o que garante a sua validade.
Como o tratado prevê que, antes da entrada em vigor da reforma, é preciso que
se chegue a uma ortografia comum para as palavras nos países participantes,
um cronograma mais apressado pode fazer com que aqueles que ainda não assinaram
o tratado fiquem de fora.
Assinado em 1990 com o objetivo de passar a vigorar em 1994, o acordo ortográfico
teve um protocolo que o modificou em 1998 – que prevê que bastam três países
para que ele entre em vigor, e não os sete iniciais (Timor Leste ainda era controlado
pela Indonésia).
O tratado deverá modificar 0,48% das palavras atualmente usadas no português
do Brasil e 1,42% das que são utilizadas em Portugal.
Como exemplos das mudanças, os brasileiros deixarão de colocar acentos em "idéia"
e "assembléia" e ficarão sem o trema. Os portugueses perdem o c não
pronunciado em "acto" e o "p" não pronunciado em "Egipto"
ou "óptimo".
As regras para a utilização do hífen serão unificadas, e ficarão consagradas
algumas diferenças: os portugueses passam a tirar o "p" que não pronunciam
de "recepção" e mantém o c em "facto" – fato em Portugal
significa roupa.
Brasil dá primeiro passo para unificar língua
portuguesa
ANDRÉ SOLIANI, da Folha de S. Paulo, em Brasília,
As duas ortografias oficiais da língua portuguesa --a do Brasil e a de Portugal--
estão prestes a se tornar uma só. Na quinta-feira (21), o governo brasileiro
aprovou um protocolo que deverá, em breve, promover a unificação.
Com a reforma pela qual a língua passará, o trema deixará de existir, a não
ser em nomes próprios e seus derivados, e o alfabeto passará a ter 26 letras
--incorporará mais três: "k", "w" e "y".
O filólogo Antônio Houaiss, representante brasileiro durante as negociações
com Portugal (que terminaram em 1990), aponta no livro "A Nova Ortografia
da Língua Portuguesa" cerca de 40 mudanças que terão de ser incorporadas
ou à ortografia brasileira ou à portuguesa.
As mudanças, no entanto, ainda dependem da aprovação do protocolo por Portugal
e Cabo Verde. O Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa existe desde 1990, mas
nunca foi implementado, pois precisava da ratificação de todos os oito membros
da CPLP (Comunidade de Países de Língua Portuguesa). Apenas três deles --Portugal,
Brasil e Cabo Verde-- haviam começado a adaptar suas legislações ao acordo.
Para agilizar o processo de reforma da língua, os chefes de Estado da CPLP decidiram,
na última reunião de cúpula, em meados deste ano, que bastaria a ratificação
do acordo por três países para que ele passasse a valer. O protocolo assinado
pelo Brasil ontem é o que permite a entrada em vigor do acordo com apenas três
ratificações.
O governo brasileiro conta agora com a aprovação do protocolo em Portugal e
Cabo Verde. Para isso, o Ministério de Relações Exteriores pediu às embaixadas
brasileiras nos dois países que promovam a aceleração da aprovação do protocolo.
Mudanças
As novas regras ortográficas obrigarão os portugueses a grafarem algumas palavras
como no Brasil. O verbete "acção" passará a ser "ação".
Os portugueses também terão de retirar o "h" inicial de algumas palavras,
como em "herva" e "húmido", que passarão a ser grafadas
como no Brasil: "erva" e "úmido".
Para as palavras que admitem diferentes pronúncias, manteve-se a possibilidade
de duas grafias. Os brasileiros escreverão "fato", e os portugueses,
"facto". As duas formas de grafar esse substantivo serão consideradas
corretas nos países signatários do acordo.
Segundo um integrante do governo ligado à área da cultura, que preferiu permanecer
no anonimato para evitar desgastes com Portugal, a reforma fará com que o português
falado no Brasil se torne o internacional.
Mas os brasileiros também terão de se acostumar com mudanças. Não se usará mais
o acento circunflexo nas terceiras pessoas do plural do presente do indicativo
ou do subjuntivo dos verbos "crer", "dar", "ler",
"ver" e seus derivados. A grafia correta será "creem", "deem",
"leem" e "veem". O acento circunflexo em palavras terminados
em hiato "oo", como "enjôo", também cairá. O acento também
deixará de ser usado para diferenciar "pára" (verbo) de "para"
(preposição). Alguns acentos já haviam sido abolidos no Brasil na reforma ortográfica
de 1971.
Na opinião de Carlos Alberto Xavier, assessor do ministro da Educação, a unificação
da ortografia é importante para o futuro da língua portuguesa no mundo. O português
é a terceira língua ocidental mais falada, atrás apenas do inglês e do espanhol.
O fato de existirem duas ortografias dificulta campanhas de divulgação do idioma
e a sua adoção em fóruns internacionais. "A entrada em vigor do acordo
é condição essencial para a definição de uma política de promoção e difusão
da língua portuguesa", afirma nota divulgada ontem pelo Itamaraty.
Unificação da ortografia é gesto político
THAÍS NICOLETI DE CAMARGO, Especial para a Folha22/10/2004
Uma língua é muito mais que a sua ortografia. É um sistema de representação
verbal que permite a comunicação entre os indivíduos. Como conjunto de mecanismos
e recursos expressivos que traduzem a cultura de um povo, uma língua, quando
falada em diferentes países, assume características próprias, decorrentes da
trajetória histórica de cada um.
O português falado em Portugal, no Brasil, em Moçambique, em Angola, na Índia
ou na China é uma só língua. Variações ficam por conta da extensão do léxico,
da grafia, do uso mais ou menos corrente de certas expressões ou estruturas
sintáticas, da pronúncia, bem como da incorporação da influência de outras línguas.
Unificar a grafia do português nos países lusófonos é antes um gesto político,
no qual parece estar o mérito da ação. Afinal, estimula-se assim a mobilização
em torno de um fator de identidade nacional e a conscientização da vitalidade
do idioma e dos traços comuns entre as culturas que se expressam por meio dele.
Isso tende a fazer surgir um maior intercâmbio entre as obras literárias produzidas
nesses países.
Outros aspectos da questão são o desgaste de reaprender algo que já está automatizado
e o custo econômico de substituir os livros, sobretudo os didáticos, que envelhecem.
Mas, passada a fase de transição, o saldo deve ser positivo.
ACORDO ORTOGRAFICO
Vivi cinco anos no Rio.
Das diferenças linguísticas, a que mais me impressionou pela diferença foi a
palavra 'seção' (pronunciada 'sêção') quando escrita mas, sobretudo, sempre
que pronunciada nas reuniões do ramo (secção) carioca da SPE (Society of Petroleum
Engineers). Claro que tive
que me acostumar a outros termos pronunciados e grafados de maneira diferente
da que conhecia de Portugal: 'abisurdo' (absurdo), 'Brasiu' (Brasil), 'cotidiano'
(quotidiano), 'enxáguo' (enxaguo), 'gentchi' (gente), (...) 'nego' (negro),
. (...)'teto' (tecto), 'úmido' (húmido), 'Vietnã' (Vietname).
Confrontado agora com o Segundo Protocolo Modificativo do Acordo Ortográfico,
pergunto-me se será necessário proceder a alterações que, por um lado, eliminam
a raça, a personalidade e até a expressividade de certos termos (adoptar, facto,
húmido) e, por outro, vão fazer com que a pronúncia das vogais tenda para sons
mais fechados (dirêtor). Lembremos que tais consoantes não têm sido, até agora,
a causa primeira de se não lerem mais livros portugueses no Brasil e mai~ brasileiros
em Portugal. Ninguém em Portugal precisa de alterações ortográficas para ler
Jorge Amado ou as crónicas de Luís Fernando Veríssimo no Expresso, nem o Brasil
deixa de ler Fernando Pessoa (...).
As grandes diferenças lingüísticas entre Portugal e o Brasil encontrei-as eu,
não na pronúncia nem na ortografia mas, antes, na sintaxe e na semântica.
Coligi, naqueles cinco anos, mais de 5000 termos e expressões: à Beça, abilolado,
acabar em pizza, alcagüete, almoxarifado, amigo-oculto,
(...) balacobaco, bamba, banguela, baranga, baseado, bater de letra, beque da
roça, bilhete azul, birita, birosca, bóia-fria, bolinar, botar a azeitona na
empada, botar o bloco na rua, (...) bruaca, burro sem rabo, Cosme-e-Damião,
cueca samba-canção, cuspir marimbombos, dar chabú, (...) etc.
Esta obra, para publicação sem fins lucrativos, não encontrou, mesmo assim,
até hoje, patrocínio que a torne economicamente viável, no dizer
das editoras portuguesas. A ortografia também tem variantes entre Inglaterra
e os EUA (<<center»,«centre»), o mesmo sucedendo com a pronúncia «<water»é
'uóta' em Inglaterra e é 'uóra' nos EUA), e nem por isso se fez acordo ortográfico.
Também a Espanha não o fez com a Venezuela, o México e o Uruguai, para não falar
nas diferenças ortográficas e fonéticas com a Ga1iza.
ANTÓNIO CORREIA DE PINHO, Lisboa, Expresso, 25.04.2008, Carta da Semana
Entenda o Capixaba e o Capixabês
Para o capixaba não tem essa de "mermão", nem de
"ô loco"...
Nada de "meu rei", "barbaridade", "uai", "sô",
muito menos "vixe".
Capaixaba tem linguajar próprio. Duvida?
Então veja só:
- Em qualquer lugar do Brasil, a bola ESTOURA. Para o capixaba, ela POCA (pronuncia-se
"póca", com ênfase no "ó", como pó...)
- Por sinal, "pocar" é um verbo que só existe na língua capixabesa.
- Eu poco
- Tu pocas
- Ele poca...
- Capixaba não vai embora. Ele "poca fora".
Outras:
- Capixaba não rouba, ele "cata".
- Para o capixaba, um acidente de carro é uma "chapoletada".
- Capixaba não desembarca do ônibus, ele "salta".
- Capixaba não tem medo de lagartixa, mas sim de "taruíra".
- Capixaba não vai ao centro, ele vai À CIDADE.
- Capixaba não chama a polícia, chama "uszomi".
- Capixaba não pega ônibus, pega "buzú".
- Capixaba não sente agonia, ele sente "gastura".
- Capixaba não se estressa, ele fica INJURIADO.
- Capixaba não pára no semáforo, pára no SINAL.
- Para o capixaba, as coisas não se estragam, elas "dão tilt".
- Capixaba não come pão francês, ele come PÃO DE SAL.
- Capixaba inicia as frases com "deixa falar..."
- Para capixaba, não existe tangerina, e sim "mixirica".
- Capixaba não sai à noite. Ele vai "pros rock", mesmo se "os
rock" for techno, axé, pagode...
- Capixaba não acha Sem graça, ela acha "palha".
Se você entender pelo menos 3/4 dessa mensagem, parabéns! Você é um capixaba.
Aqui vai umas dicas para saber se você é um autêntico capixaba:
*VOCÊ JÁ SUBIU, PELO MENOS UMA VEZ NA VIDA, O CONVENTO DA PENHA A PÉ!
*TODOS SÃO CHAMADOS DE "CARA", OS MAIS CHEGADOS DE "BROTHER".
*VOCÊ ENTENDE A RIVALIDADE ENTRE NACIONAL E DARWIN,MESMO SABENDO QUE A MAIORIA
DOS ALUNOS SÃO UM BANDO DE PLAYBOYZINHOS E PATRICINHAS.
* VOCÊ JÁ SUBIU, PELO MENOS UMA VEZ NA VIDA, O CONVENTO DA PENHA A PÉ!
*TODOS SÃO CHAMADOS DE "CARA", OS MAIS CHEGADOS DE "BROTHER".
*VOCÊ ENTENDE A RIVALIDADE ENTRE NACIONAL E DARWIN,MESMO SABENDO QUE A MAIORIA
DOS ALUNOS SÃO UM BANDO DE PLAYBOYZINHOS E PATRICINHAS.
* VOCÊ ACHA O FIM (MAS MUITO ENGRAÇADO) A TV TRIBUNA (RETRANSMISSORA DO SBT),TIRAR
ONDA DE "2º LUGAR ABSOLUTO EM AUDIÊNCIA", NA TV.
*VOCÊ ESTÁ CARECA DE SABER QUEM É O CHEFE DO CRIME ORGANIZADO DO ESTADO, E MAIS
CARECA AINDA DE SABER QUE NINGUÉM VAI FAZER NADA COM ELE.
*FALAR COM O SOTAQUE, PRA VOCÊ, É O FIM!... SOTAQUE BAIANO, MINEIRO OU PAULISTA,
É MOTIVO DE GOZAÇÃO ETERNA NA SUA TURMA.
*JÁ TOMOU VINHO DE JABUTICABA PELO MENOS UMA VEZ!
BOM, SE VOCÊ LEU ISSO TUDO, E SABE DO QUE EU ESTOU FALANDO,CONSIDERE-SE UM CAPIXABA
DO MAIS
Noção básica do Goianês,
Ah nem: interjeição para dizer: "oh não, que ruim, isto
não poderia ser desta forma!".
ANÊINNNNNN - Verbete usual e excessivamente falado para desiguinar contradição,
desagrado.
ANÊINNNNNN, LELECO - Verbete usual e excessivamente falado para desiguinar contradição,
desagrado. Também é uma forma de homenagear o radialista goiano Luiz César do
Amaral Muniz
Anêim - Algo que parece ter vindo de “Ah, não!”, que virou “Ah, nem!”. Mas,
às vezes, é simplesmente usado na frase com um sentido de desagrado. Existem
algumas variantes de escrita, como anein, aneim, anêim ou até onde a imaginação
permitir. Ex.: Algum professor “mata a aula”, deixando o palhaço aqui com cara
de bobo, logo exclamo: “Anêim, esse professor é um...!”.
Alugar: Conversar fiado
Arredar: Tirar
Assuntar: procurar descobrir alguma coisa
Arrependimento (no trânsito): Retorno
Arvre - Árvore (isso me lembra “As arvres somos nozes”)
Arvrinha - Árvore pequena.
Arvrona - Árvore grande.
Bão? - Goianês para “Tudo bem?” Também é usada a forma bããããão?
Bão, bichão? - Ao contrário de outras terras, este bichão é de amizade não tendo
nenhuma conotação de homossexualidade. Trata-se de um cumprimento amistoso:
“Como vai você, está bem, amigo?”.
Bão dimais da conta! : muito bom
Bão mesmo? - É comum usar o “mesmo?” depois de coisas como “e aí, tá bom/bão”,
como se pedisse uma confirmação de que a pessoa está bem e não apenas fingindo
que está.
Barracão: meia-casa
Baú ou Buzú: ônibus coletivo
Calçada - Pode significar: 1. Lugar para estacionar carros;
2. Local onde se colocam as mesas dos botecos e restaurantes. Note que não existe,
em Goiás, calçada no sentido de lugar para pedestre, pois não sobra espaço para
pedestres entre os carros e as mesas.
Chega dói - Chega a doer. Ex.: Deixa eu te falar, essa luz é tão forte que chega
dói a vista. Na verdade essa forma pode ser usada com quaisquer outros verbos
combinados com o verbo “chegar”. Ex.: chega arranha, chega machuca, chega engasga.
Chega doeu - Chegou a doer, ou seja, o passado de chega dói.
Chique no úrtimo: Muito chique
Coisar: Fazer algo qualquer. O verbo coisar é transitivo direto e pede objeto.
Quem coisa, coisa alguma coisa.
Coisar o trem: Fazer algo relativo a alguma coisa.
Corgo - Lê-se córrr-go. Córrego.
Corguim - Lê-se córrr-guim. Diminutivo de corgo.
Coró - O mesmo que mandruvá.
Custoso – Pessoa atentada. Ex.: “Esse menino é muito custoso! Assim eu num dô
conta!”.
Custoso(a): situação difícil ou criança sapeca
Dar rata - Algo como cometer uma gafe.
Dar uma sapituca: explodir de raiva
De doce - Se 'de sal' é salgado, então 'de açúcar' é doce, certo? Errado! Em
Goiás as coisas não são doces, elas são de doce.
De sal - Salgado. Ex.: Pamonha de Sal.
De vez (fruta): Nem verde, nem madura.
Deixa eu te falar - Com a variação Ow, deixa eu te falar. Introdução goiana
para um assunto sério. Nunca, mas nunca mesmo, chegue para um goiano falando
diretamente o que você tem que falar. Primeiro você tem que dizer 'ow, deixa
eu te falar', para prepará-lo para o assunto. Em Goiás você precisa seguir o
ritual de uma conversação. Ex.: “E aí, bão? E o Goiás, hein? Perdeu! Tem base?
É por isso que eu torço pro Vila. Ow, deixa eu te falar, lembra aquele negócio
que eu te pedi...” A forma abreviada é te falar.
Deixa eu te perguntar - A mesma coisa que deixa eu te falar, mas usado, obviamente,
quando você vai perguntar algo.
Descrença: desânimo, preguiça. Estar desacreditado da vida.
Disgrama: Desgraça
Encabulado - Impressionado. Ex.: Estou encabulado que você
nunca tenha ouvido alguém falar “chega dói” antes.
Estrupício: feio, horrível
Esturdia: Outro dia
Fera: muito bom ou muito bonito
Fíi, fio, fia: filho(a)
Fih – Filho. Usada geralmente no lugar do nome próprio de um amigo em diversas
expressões, como “Anêim fih!”, ou “E aí fih? Bão?”.
Frevo: festa com multidão ou bagunça
Istrovano: Atrapalhando
Galinhada: arroz com galinha
Grilado: Revoltado, chateado, bravo, enraivecido.
Largar: deixar de lado
Lascado: encrencado, enrolado, ferrado
Madurar - Amadurecer.
Mais - substituto goiano da conjunção “e”. Ex.: Eu mais fulano estamos no Goiás.
Mala: mau-elemento
Malinha: mau-elemento em desenvolvimento. Menino de rua.
Maria Izabel: arroz com carne de sol
Massa: bom, ótimo, excelente
Moco: abreviação de mocorongo
Minino: criança, independente do sexo.
Mocorongo: bobo
Mocozar: esconder
Morcegar: ficar a toa, matando tempo
MURIÇOCA - Pernilongo
MURIÇOCA DA DENGUE - Mosquito da Dengue
No Goiás - Em Goiás.
No mocó: escondido
Num dou conta: não consigo
Num dô conta - Pode ser traduzido como Não consigo, não sei, não quero, não
gosto, etc. No resto do País, não dar conta é usado mais no sentido de “não
aguentar”. Por exemplo: Não dei conta do recado, ou Não dou conta de comer isso
tudo sozinho. Já em Goiás é usado para quase tudo. Ex.: Num dô conta de falar
inglês (não sei falar inglês); Num dô conta de continuar em Goiás nas férias
(não quero/não aguento continuar em Goiás nas férias); Num dô conta de imprimir
usando esse programa (não sei imprimir usando esse programa).
Ocê – Você. Variante: Cê.
Ow – Maneira goiana de atrair a atenção de alguém para estabelecer um diálogo
se inicie. É muito usado no início de expressões, como “Ow, deixa eu te falar
uma coisa...”. Você também encontra a variável “Ei” usada com o mesmo sentido.
Paia: Ruim ou desagradável
Pegar descendo: ir embora de um lugar
Pelejar: tentar
Piqui - Pequi, fruto típico de Goiás, bastante usado na culinária goiana.
Pirei: ter ficado imensamente admirado ou assustado
Pizêro: bagunça
Pit dog: sanduicheria de rua. Embora o nome faça pensar o contrário, tem muito
mais do que hot dogs. Muitas vezes nem tem hot dogs.
Pit Dog - Uma espécie de filho bastardo de uma lanchonete com uma barraquinha
de cachorro-quente. Apesar desse nome estranho, os sanduíches são muito bons!
Pulá o corguim: passar dos limites ou dizer algo absurdo
Purgante: chato, enjoado
Quando é fé - Algo como de repente, ou até que. Ex.: “Estava
no consultório do dentista, ouvindo aquele barulhinho de broca, e quando é fé
sai um menininho chorando de lá.”.
Queijim - Rotatória.
Queijinho (no trânsito): Rotatória
Rabicho (no trânsito): Engate
Rata: fora
Ridica: Pessoa que não divide comida. (Verbo: Ridicar)
Dicionário Goianês
Deixa eu te falar - Com a variação Ow, deixa eu te falar. Introdução
goiana para um assunto sério. Nunca, mas nunca mesmo, chegue para um goiano
falando diretamente o que você tem que falar.
> Primeiro você tem que dizer 'ow, deixa eu te falar', para prepará-lo para
o assunto. Em Goiás você precisa seguir o ritual de uma conversação. Ex.: "E
aí, bão? E o Goiás, hein? Perdeu! Tem base? É por isso que eu torço pro Vila.
Oww, deixa eu te falar, lembra aquele negócio que eu te pedi..." A forma
abreviada é te falar.
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Deixa eu te perguntar - A mesma coisa que deixa eu te falar, mas usado, obviamente,
quando você vai perguntar algo.
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Chega dói - Chega a doer. Ex.: Deixa eu te falar, essa luz é tão forte que chega
dói a vista. Na verdade essa forma pode ser usada com quaisquer outros verbos
combinados com o verbo "chegar"..
Ex.: chega arranha, chega machuca, chega engasga.
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Chega doeu - Chegou a doer, ou seja, o passado de chega dói.
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Uai - Palavra que normalmente não tem sentido, mais ou menos como o tchê do
gaúcho. Usado normalmente em respostas. Ex.: Pergunta: Goiano, você vai à festa
hoje?; Resposta: Uai, vou!
> Nota do Gump: Dá impressão que o uai é parecido com o ué usado em outras
regiões. Mas o ué muitas vezes é usado no caso de a pessoa achar a pergunta
estranha. Cheguei a me revoltar bastante com o uso do "uai" nas frases
quando vim pra cá, pois achava que as pessoas estavam insinuando que eu estava
perguntando alguma idiotice. Só depois aprendi que as pessoas falam uai por
falar.
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Encabulado - Impressionado. Ex.: Estou encabulado que você nunca tenha ouvido
alguém falar 'chega dói' antes.
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Bão? - Goianês para "Tudo bem?" Também é usada a forma bão?
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- Anêim - Algo que parece ter vindo de "Ah, não!",
que virou "Ah, nem!" Mas, às vezes, é
simplesmente usado na frase com um sentido de desagrado. Quando vejo escrito
por aí, vejo o povo escrevendo "anein", "aneim", "anêim"
e outras variantes. Ex.: se eu ia viajar com a turma e de repente não posso
mais, alguém exclama: "Anêeeim, gump! Que pena!"
- Arvre - Árvore (isso me lembra "As arvres somos nozes")
- Arvrinha - Árvore pequena.
- Arvrona - Árvore grande.
- Bão mesmo? - É comum usar o "mesmo?" depois de coisas como "e aí, tá bom/bão", como se pedisse uma confirmaão de que a pessoa tá bem e não apenas fingindo que está bem.
- Calçada - Pode significar: 1. Lugar para estacionar carros;
2. Local onde se colocam as mesas dos restaurantes. Note que não existe, em
Goiás, calçada no sentido de lugar para pedestre, pois não sobra espaço para
pedestres entre os carros e as mesas.
- Corgo - Lê-se córrr-go. Córrego.
- Corguim - Lê-se córrr-guim. Diminutivo de corgo.
- Coró - mesmo que mandruvá..
- Dar rata - Algo como cometer uma gafe. Ou seja, dar rata
é o goianês para "fazer gumpice"
- De sal - Salgado. Ex.: Pamonha de Sal. (Eu jurava que era de milho... dã)
- De doce - Se "de sal" é salgado, então "de aúcar" é doce,
certo? Errado! Em Goiás as coisas não são doces, elas são de doce.
- Madurar - Amadurecer.
- Mais - substituto goiano da conjunção "E". Ex.: Eu mais fulano estamos
no Goiás.
- Mandruvá - Mandorová.
- Na Goiânia - Em Goiânia.
- No Goiás - Em Goiás.
- Num dô conta - Pode ser traduzido como Não consigo, não sei, não quero, não
gosto, etc. No resto do País, não dar conta é usado mais no sentido de "não
aguentar". Por exemplo: Não dei conta do recado, ou Não dou conta de comer
isso tudo sozinho. Já aqui em Goiás é usado para quase tudo.
Ex.: Num dô conta de falar inglês ("não sei falar inglês"); Num dô
conta de continuar em Goiânia nas férias ("Não quero/não aguento continuar
em Goiânia nas férias); Num dô conta de imprimir usando esse programa ("não
sei imprimir usando esse programa").
- Piqui - Pequi, fruto típico de Goiás, bastante usado na culinária
goiana.
- Pit Dog - Uma espécie de filho bastardo de uma lanchonete com uma barraquinha
de cachorro-quente. Apesar desse nome estranho, os sanduíches são muito bons!
- Quando é fé - Algo como de repente, ou até que. Ex.: "Estava
no consultório do dentista, ouvindo aquele barulhinho de broca, e quando é fé
sai um menininho chorando de lá."
Queijim - Rotatória.