Jornal Mensal em idioma gírio – Edição 052 – Ano VIII – Niterói RJ – Março/Abril de 2008
RESGATANDO A MINEIRICE
O Verdadeiro Significado da Palavra TREM
Interessante que o assunto
mineirês veio à tona logo no dia em que alguns transtornos foram causados pelo
seu desconhecimento por parte de alguns jornalistas, que escreveram a seguinte
manchete: - ´ Trens batem de frente em Minas.´
Os mineiros, obviamente, não deram a devida importância, já que para eles isto
quer dizer apenas que duas coisas bateram. Poderia ter sido dois carros, um
carro e uma moto, uma carroça e um carro de boi; ou até mesmo um choque entre
uma mala de viagem e a mesa de jantar.
Movido pela curiosidade, resolvi então consultar o Aurélio. E vejam o que diz:
TREM [Do francês/inglês. train.] Substantivo masculino
Conjunto de objetos que formam a bagagem de um viajante.
2. Comitiva, séquito.
3. Mobiliário duma casa.
4. Conjunto de objetos apropriados para certos serviços...
5. Carruagem, sege.
6. Vestuário, traje, trajo.
7.Mar. G. Bras. Grupamento de navios auxiliares destinados aos serviços(reparos,
abastecimento, etc.) de uma esquadra.
8.Bras. Comboio ferroviário; trem de ferro.
9.Bras. Bateria de cozinha.
10.Bras. MG C.O. Pop. Qualquer objeto ou coisa; coisa, negócio, treco, troço:
´ensopando o arroz e busando da pimenta, trem especial, apanhado ali mesmo,
na horta.´ (Humberto Crispim Borges, Cacho de Tucum, p. 186).
11.Bras. MG S. Fam. Indivíduo sem préstimo, ou de mau caráter; traste..Vejam
que o sentido de comboio ferroviário é apenas o 8º, e ainda é considerado um
brasileirismo.
Comentei o fato com um amigo especialista em etimologia, que me esclareceu a
questão: o comboio ferroviário recebeu o nome de trem justamente porque
trazia, porque transportava, os trens das pessoas. Vale lembrar que nessa época
o Brasil possuía uma malha ferroviária com relativa capilaridade e o transporte
ferroviário era o mais importante. Assim, era natural que as pessoas fizessem
essa associação.
Moral da estória:
O mineiro é, antes de tudo, um erudito. Além de erudito, ainda é humilde e aceita
que o pessoal dos outros estados tripudie da forma como usa a palavra trem.
Na verdade, acho que isso f
Colaboração de Wilson Ibiapina
NE: Vejam no DICIONÁRIO DE GÍRIA o significado de trem que tem significados
próximos e separados em Minas e Goiás.
OS PAUS DO SAUDOSO MÁRIO
Por Fernando Antônio Gonçalves (*)
Rendo minhas homenagens aos construtores da cultura popular nordestina. Que
ainda não bateu pino graças aos esforços de um grupo de abnegados, que efetivam
suas pesquisas sacrificadamente, tirando dos magérrimos próprios bolsos o necessário
para divulgação dos seus estudos.
Nesse resistente universo, o lugar do folclorista Mário Souto Maior, hoje assessor
em assuntos de folclore na Mansão Celestial, está no primeiríssimo escalão.
Os seus livros Nomes Próprios Pouco Comuns, Dicionário do Palavrão e Dicionário
Folclórico da Cachaça subsidiam centenas de pesquisas, que necessitam de trilhas
seguras e honestas, distanciadas dos embusteiros pesquisadeiros, macunaímicos
e vivaldinos.
Além da trilogia acima, o Souto Maior também fez entrega ao Nordeste Cultural
de um texto pra lá de apetitoso: Geografia Popular do Pau Através da Língua
Portuguesa. Trezentas e cincoenta expressóes analisadas, sem resvalar para o
chulo e o grotesco. Sem obscenizar seu meticuloso ensaio, ele demonstrou como
o pau contribuiu para as manifestações do nosso brasileiríssimo dia-a-dia, ainda
não de todo tragado pelos importados maneirismos primeiromundistas.
Imaginei logo uma pessoa muito distanciada das raízes da nossa gente entender
o significado da frase “no largo da feira de Casa Amarela encontrei o Dr. Fulano
a-meio-pau, caindo pelas tabelas”. Ou uma outra, recém-chegada do outro lado
do Atlântico, ainda toda ardida pelos anos de bunda esfregada nos bancos de
pós-pós-graduação sobre quase nada, a não entender opinião de companheiro de
academia: “o deputado fulano de tal está sujo-que-nem-pau-de-galinheiro na CPI
do Cartão Corporativo”.
Outro dia, uma faxineira declarava para uma madame toda perua que era pau-pra-toda-obra,
indo logo por-cima-de-paus-e-pedras quando algum afoito desejava por-os-pauzinhos-ao-sol.
E o marido da soçaite quase cai em desespero, ao ouvir de auxiliar, alto e bom
som, que estava de olho grande num pauzão e que por conta disso já estava ajeitando
o pauzinho-do-matrimônio. E que o casório aconteceria rapidamente, pois gostava
mesmo era de pau-na-égua. Pedia apenas ao dono da casa, autoridade de primeira
entrância, que fosse na sua vara bulir-com-os-pauzinhos, pois, mais que ninguém,
o patrão era habituado a conhecer-o-pau-pela-raiz.
Para não fazer-casa-com-pau-bichado, já li um bocado de vezes, de cabo a rabo,
o imperdível livro do Mário Souto Maior. Também não desejando ser pau-de-amarrar-égua,
nem tolerando os que adoram viver-à-sombra-do-pau, fiz questão de ganhar-os-paus
para me deliciar com a leitura da pesquisa do Mário, meu ex-companheiro da Fundação
Joaquim Nabuco, pai do Jan e avô do Bruno, esses arretados da Informática, consultores
de tudo que é gente, inclusive burra que nem eu, um metido, vez por outra, a
descobrir-o-mel-de-pau na minha área de trabalho.
Tomei ciência que souto, em Portugal, é bosque espesso. E o Mário Souto Maior,
folclorista popular de primeira linha, nunca desejou mudar-de-pau-pra-cacete,
ficando sempre no bosque dele, convencido que nem-todo-pau-dá-esteio.
Sempre estudioso, graduado em Direito, o Mário Souto Maior jamais foi de passar-pelo-pau-do-canto.
Nem de ficar-com-cara-de-pau, pois ladino como ele era, dominava como ninguém
a situação, tal e qual formiga-que-sabe-que-pau-rói.
Não desejando deitar-os-pauzinhos-fora, reverencio com muita saudade um intelectual
pernambucano que jamais quis ser um dois-de-paus, em tempo algum desejando disputar-pau-a-pau
com quem quer que fosse.
Um autêntico sábio nordestino foi o Mário Souto Maior. Agrestino, jamais negou
que se um-dia-é-do-pau-o-outro-é-do-machado. Um intelectual que está a merecer
justa homenagem num logradouro público da nossa região metropolitana.
(NE: Não tenho autorização para a transcrição. Devo porém dizer que mantive
um bom relacionamento com o Mario Souto Maior. Dele recebi edições de seu Dicionário.
Um grande pernambucano. Um defensor da língua, ao contrário do que dizem seus
detratores).
A REFORMA NÃO VINGOU
Por Aristides Coelho Neto , publicado no Correio Braziliense, de 04.02 2008
O novo acordo ortográfico
faz 18 anos. Está desempregado, pois ainda não é empregado. Atinge a maioridade,
não namora e nem fica. Eleitor? Ninguém sabe se rende votos ou não
O novo acordo ortográfico faz 18 anos. Está desempregado, pois ainda não é empregado.
Atinge a maioridade, não namora e nem fica. Eleitor? Ninguém sabe se rende votos
ou não. Se dirige? Não, ainda não se dirige aos 230 milhões de falantes de português
que há por aí. Dizem que ele não serve para nada. Há quem diga que ele nem existe.
Se fosse um ser humano, haja psicólogo para ajeitar os traumas nessa situação
delicada.
Celebrado em 1990, o tal acordo entraria em vigor em 1994. No Brasil, o assunto
esquentou um pouco ao final de 2007. Mas ficou mais efervescente em Portugal.
E falou-se em iniciarmos 2008 com a vitória dos que "creem na "ideia"
da unificação, enchendo "linguiça para quem "argue", um "enjoo
só, dizendo que o tempo não "para", procurando beleza por trás da
"feiura. Auto-estradas ficariam mais curtas: seriam "autoestradas".
E Portugal perderia algo de sua "humidade" — o "h", exatamente.
Mas sabe-se que os lusitanos estão é sem humildade de aceitar que "humidade"
se torne "umidade" apenas porque algumas ex-colônias andam querendo.
Coisa boa para Wilmas e Wandas: o reconhecimento do valor do w, agora parte
integrante do alfabeto, ao lado do y e do k.
Já guardei um trema — ainda vivo — numa caixinha para mostrar aos meus netos,
pois sempre tive os dois pontinhos como uma das coisas mais chiques da língua
portuguesa. Tenho até um amigo Boëchat, com trema elegantíssimo em local totalmente
inusitado.
Dizem que o acordo propicia unidade entre os países que falam português. Para
alguns, chega em boa hora a tal da reforma. Há gente que até comemora. Para
outros, ela é imposição sem sentido. Língua é organismo vivo e não se sujeita
a regras padronizadas em nações de histórias diferentes, com muitas línguas
regionais remanescentes. Para outros ainda, a reforma tem de ser mais radical.
Como está, é superficial, embora com poder arrasador.
A vigorarem as mudanças, as bibliotecas escolares ficam inviabilizadas, pois
não é recomendável que as crianças continuem tendo contato com a ortografia
antiga. Nessa exterminação de livros, incluem-se as gramáticas. E os livros
didáticos. E os dicionários. E logicamente o corretor ortográfico do word, já
tão fraquinho. Reviravolta no meio editorial por pouca coisa. A meu ver, custo–benefício
é o tipo de análise que tem sido menosprezada. Com reforma ou sem reforma, a
maneira de se escrever no Brasil e em Portugal continuará a ser diferente. Quem
deveria estar morrendo de alegria são os revisores. Mas a empolgação não acontece.
No planeta, são oito países-membros da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa:
Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, Portugal, São Tomé e Príncipe,
e Timor-Leste. Fala-se português também em Macau, em Goa e no Damão. Fala-se
um pouquinho também em Andorra, Luxemburgo e Namíbia.
Bom lembrar que os integrantes da CPLP revelam diferenças significativas, de
ordem socioeconômica e cultural. Entre eles reina também a desconfiança dos
africanos, provocada pelos resquícios e seqüelas que ainda subsistem do colonialismo.
E há interesses discrepantes em cada um dos países-membros. Uns imaginando unificação
da língua, outros com olhos no desenvolvimento, outros mais querendo é se livrar
de barreiras impostas pelo mundo desenvolvido. Alguns convictos de uma necessidade
de difundir a língua portuguesa. Fala-se de cooperações diversas, circulação
mais facilitada para os cidadãos de países lusófonos, integração cultural, combate
à aids nos países africanos. Enfim, acordos assinados, prioridades não muito
definidas, falta definição de rumos. E o acordo ortográfico, debatido por dezoito
anos, reflete o desnorteamento da CPLP.
Ao final do ano passado, estava eu na iminência de lançar um livro sobre revisão
textual. Vingasse o acordo, uma obra totalmente inexeqüível. Pensei em mudar
o capítulo sobre o assunto. No texto, registro os pitacos de 2002 de Fernando
Henrique. Mas, lançamento em 2008, melhor seria procurar por manifestações recentes
de Lula sobre o assunto. Não achei. Então, como pouco ou nada mudou, fica o
texto do jeito que foi concebido à época. Afinal, passou janeiro... e nada!
E Portugal, com reforma ou sem reforma, vai anunciar "berbequim para betão
ao desbarato", enquanto o Brasil dirá "furadeira para concreto em
oferta", como bem registrou o professor Cláudio Moreno.
A reforma não vingou. Se vocês já tiraram o trema, favor botar de volta. Por
enquanto, nada feito! E cá pra nós, o trema é tão elegante, não é mesmo?
CRIATIVA E ORIGINAL...
Vestibular da Universidade da Bahia cobrou dos candidatos a interpretação do seguinte trecho de poema de Camões:
'Amor é fogo que arde sem
se ver,
é ferida que dói e não se sente,
é um contentamento descontente,
dor que desatina sem doer'.
Uma vestibulanda de 16 anos deu a sua interpretação :
'Ah! Camões, se vivesses
hoje em dia,
tomavas uns antipiréticos,
uns quantos analgésicos
e Prozac para a depressão.
Compravas um computador,
consultavas a Internet
e descobririas que essas dores que sentias,
esses calores que te abrasavam,
essas mudanças de humor repentinas,
esses desatinos sem nexo,
não eram feridas de amor,
mas somente falta de sexo!'
OBS: Ganhou nota dez. Foi
a primeira vez que, ao longo de mais de 500
anos, alguém desconfiou que o problema de Camões era falta de mulher
Colaboração de Ayrton Rocha
OXENTE! É UM VERDADEIRO DIALETO NORDESTINO
Se é miúdo é pixototinho
Se é pequeno é cotôco
Se é alto é galalau
Se é franzino é xôxo
Tudo que é bom é massa
Tudo que é ruim é peba
Rir dos outros é mangar
O bobo se chama leso
E o medroso chama frouxo
Tá torto é tronxo
Se vai sair diz vou chegando
Dar a volta é arrodeio
Se é longe é o fim do mundo
Dinheiro é mufunfa
Cabra sem dinheiro é liso
Pernilongo é muriçoca
Chicote se chama peia
Quem entra sem licença emburaca
Sinal de espanto é vôte
Se tá folgado tá folóte
Quem tem sorte é cagado
Quem dá furo é fulero
Sujeira de olho é remela
Gente insistente é pegajosa
Agonia é aperreio
Meleca se chama catota
Gases se chamam bufa
Catinga de suor é inhaca
Mancha de pancada é roncha
Palhaçada é munganga
Desarrumado é malamanhado
Pessoa triste é borocoxô
"É mesmo" é "e apôis"
Pois sim é não concordo
Pois não é estou as ordens
Correr atrás de alguém é dar carreira
Passear é bater perna
Fofoca é resenha
Estouro se chama pipôco
Confusão é rolo
Travessura é presepada
Gente complicada é nó cego
Paquerar é se inxerir
Distraído é aluado
Fala-se que o nordestino
tem uma linguagem errada, fraca e pobre.
Não existe essa língua errada, fraca ou pobre.
Falamos apenas – DIFERENTE.
Mas, quem fala igual???
Até você, fala diferente dependendo da situação ou do receptor.
O Brasil por possuir uma
extensão territorial imensa, tem regiões diferentes. Seja no clima, que por
sua vez produz flora e faunas diferentes; seja na cultura, oferecendo costumes,
tipos físicos e comidas diferenciadas e também na fala. Cada região tem seu
sotaque, dialeto ou gírias.
E isto não é POBREZA e sim RIQUEZA!!
Assim como o gaúcho, o
mineiro, o paraense e todos os outros; o nordestino tem sua forma peculiar de
se expressar.
Por isso pense duas vezes antes de falar, para não falar bobagens.
Valorize sua terra! Valorize seu povo!
Colaboração de Wilson Ibiapina
ANTOLOGIA DA FINA FLOR DO TUCANÊS
01 - Prosopopéia flácida
para acalentar bovinos (Conversa mole pra boi dormir)
02 - Colóquio sonolento para bovino repousar (História pra boi dormir)
03 - Romper a face (Quebrar a cara)
04 - Creditar o primata (Pagar o mico)
05 - Inflar o volume da bolsa escrotal (Encher o saco)
06 - Derrubar, com a extremidade do membro inferior, o suporte sustentáculo
de uma das unidades de acampamento (Chutar o pau da barraca)
07 - Deglutir um batráquio (Engolir um sapo)
08 - Derrubar com intenões mortais (Cair matando)
09 - Aplicar a contravenão do Dr.. João, deficiente físico de um dos membros
superiores (Dar uma de João sem braço)
10 - Sequer considerar a utilizaão de um longo pedaço de madeira (Nem a pau)
11 - Sequer considerar a possibilidade da fêmea bovina expirar fortes contraões
laringo-bucais (Nem que a vaca tussa)
12 - Derramar água pelo chão através do tombamento violento e premeditado de
seu recipiente (Chutar o balde)
13 - Retirar o filhote de eqüino da perturbaão pluviométrica (Tirar o cavalinho
da chuva)
14 - Bucéfalo de oferendas não perquiris formação ortodôntica! (Cavalo dado
não se olha os dentes!)
15 - Orifício coloquial (Papo furado)Essa última foi tirada do mais culto dos
livros de palavras clássicas da língua portuguesa.. Outra que entendemos ser
de agrado do povo das letras (he, he, he)
Colaboração de Stélio Dias.
PALÍNDROMO
Um palíndromo, como vc deve saber, é uma palavra ou um número que se lê da mesma maneira nos dois sentidos - normalmente, da esquerda para a direita e ao contrário.
Exemplos: OVO, OSSO, RADAR. O mesmo se aplica às frases, embora a coincidência seja tanto mais difícil de conseguir quanto maior a frase; é o caso do conhecido SOCORRAM-ME, SUBI NO ÓNIBUS EM MARROCOS, de nossa amiga Tajana.
Diante do interesse pelo assunto (confesse, você leu a frase de trás pra frente), tomamos a liberdade de selecionar alguns dos melhores palíndromos da língua de Camões...
ANOTARAM A DATA DA MARATONA
ASSIM A AIA IA A MISSA
A DIVA EM ARGEL ALEGRA-ME A VIDA
A DROGA DA GORDA
A MALA NADA NA LAMA
A TORRE DA DERROTA
LUZA ROCELINA, A NAMORADA DO MANUEL, LEU NA MODA DA ROMANA: ANIL É COR AZUL
O CÉU SUECO
O GALO AMA O LAGO
O LOBO AMA O BOLO
O ROMANO ACATA AMORES A DAMAS AMADAS E ROMA ATACA O NAMORO
RIR, O BREVE VERBO RIR
SAIRAM O TIO E OITO MARIAS
ZÉ DE LIMA RUA LAURA MIL E DEZ
Colaboração de Stélio Dias.
Se você souber de algum, acrescente e remeta a gurgel@cruiser.com.br
BRASIL É REPROVADO, DE NOVO, EM MATEMÁTICA E LEITURA
ANTÔNIO GOIS
da Folha de S.Paulo, no Rio
ANGELA PINHO
da Folha de S.Paulo, em Brasília
A péssima posição do Brasil no ranking de aprendizado em ciências se repetiu
nas provas de matemática e leitura. Os resultados do Pisa (sigla, em inglês,
para Programa Internacional de Avaliação de Alunos), divulgados ontem pela OCDE
(Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico), mostram que os
alunos brasileiros obtiveram em 2006 médias que os colocam na 53ª posição em
matemática (entre 57 países) e na 48ª em leitura (entre 56).
O objetivo do Pisa é comparar o desempenho dos países na educação. Para isso,
são aplicados de três em três anos testes a alunos de 15 anos em nações que
participam do programa. O ranking de ciências, divulgado na semana passada,
colocava o Brasil na 52ª posição.
Além de estarem entre os piores nas três provas nessa lista de países, a maioria
dos estudantes brasileiros atinge, no máximo, o menor nível de aprendizado nas
disciplinas.
O pior resultado aparece em matemática. Numa escala que vai até seis, 73% dos
brasileiros estão situados no nível um ou abaixo disso. Significa, por exemplo,
que só conseguem responder questões com contextos familiares e perguntas definidas
de forma clara.
Em leitura, 56% dos jovens estão apenas no nível um ou abaixo dele. Na escala,
que vai até cinco nessa prova, significa que são capazes apenas de localizar
informações explícitas no texto e fazer conexões simples.
Em ciências, 61% tiveram desempenho que os colocam abaixo ou somente no nível
um de uma escala que vai até seis. Isso significa que seu conhecimento científico
é limitado e aplicado somente a poucas situações familiares.
Nos três casos, a proporção de alunos nos níveis mais baixos é muito maior do
que a média da OCDE, que congrega, em sua maioria, países ricos.
Comparando o desempenho do Brasil no exame 2003 (que já era ruim) com o de 2006,
as notas pioraram em leitura, ficaram estáveis em ciências e melhoraram em matemática.
Uma melhoria insuficiente, porém, para tirar o país das últimas posições, já
que foi em matemática que o país se saiu pior em 2006, com médias superiores
apenas às de Quirguistão, Qatar e Tunísia e semelhantes às da Colômbia.
Como há uma margem de erro para cada país, a colocação brasileira pode variar
da 53ª, no melhor cenário, para a 55ª, no pior. O mesmo ocorre para as provas
de leitura e ciências. No de leitura, varia da 46ª à 51ª. Em ciência, da 50ª
à 54ª.
A secretária de Educação do governo José Serra (PSDB-SP), Maria Helena de Castro,
diz que o resultado em leitura é lamentável. "Essa é uma macrocompetência,
básica para que os alunos desenvolvam as outras, como matemática, raciocínio
crítico." Nos exames, São Paulo ficou abaixo da média nacional nas três
áreas avaliadas.
Suely Druck, da Sociedade Brasileira de Matemática, diz que, em geral, os alunos
de outros países, assim como os do Brasil, tiveram desempenho pior em matemática
na comparação com as outras disciplinas.
"A matemática se distingue das outras porque desde cedo a criança já tem
que ter conhecimento teórico e é um aprendizado seqüencial, ou seja, antes de
aprender a multiplicar, tem que saber somar." Por isso, defende que se
exija um conteúdo mínimo em matemática para o professor dos primeiros anos do
ensino fundamental, quando todas as matérias são ainda ensinadas pela mesma
pessoa.
O Pisa permite também comparar meninos e meninas. Em matemática e ciências,
no Brasil, eles se saíram melhor. Em leitura, elas foram melhor.
AS PALAVRAS E A POLÍTICA!
Trecho do artigo de Ricardo
Lagos no Clarin.
Quando as palavras prejudicam a política
1. Há pouco tempo, Saramago
disse com muita sabedoria. "Hoje, existe uma espécie de menosprezo por
essa coisa tão simples que antes era falar com propriedade. Quando eu era trabalhador,
sempre tinhas as ferramentas limpas e em bom estado. Não conheço uma ferramenta
mais rica e capaz que o idioma. E isso significa que se deve ser elegante na
dicção. Falar bem é um sinal de pensar bem".
(Lido no Ex-Blog do Cesar Maia 06/12/2007)