Crônica
A consciência de um poeta
by Olsen Jr.
* Evidentemente nossa época não é a da poesia, muito embora sempre haja um lugar para ela. Sozinho fiz muito pouco e posso concluir que ainda falta muito. Mesmo assim, nada teria sido possível sem uma pequena ajuda de meus amigos. Observe o que pensam do que faço e, ainda, o que faço para que eles continuem pensando:
* Se colaboro com jornais de fora, dizem que pretendo aparecer.
* Se deixo de colaborar, afirmam que não quero nada com nada e sou um acomodado.
* Se permaneço em casa trabalhando dia e noite, pregam que estou perdendo tempo e que não vou ganhar a vida com a literatura.
* Se monto um esquema de trabalho e o cumpro à risca, crêem que sou bitolado e escravo do horário.
* Se me inspiro no dia-a-dia, observando a realidade que me circunda, argumentam que "inspiração já era" e que o negócio é pôr o cérebro para funcionar e criar.
* Quando me esforço por fazer, dando tudo de mim para amenizar esta vida conturbada, alegam que estou é tentando criar caso.
* Se falo de quem está bem, pensam que estou puxando o saco.
* Se denuncio as injustiças e a exploração dos menos favorecidos, imaginam que ambiciono faturar em cima da pobreza.
* Se menciono o que está errado, aconselham-me a não me envolver em encrencas.
* Se comento o que me parece acertado - grande coisa! - todos já sabiam.
* Se brigo com o fulano, porque suponho que ele está monopolizando, garantem que não vou salvar o mundo.
* Se não me envolvo, sou alienado e não enxergo um elefante a um palmo do nariz.
* Se busco os fatos pequenos nos subúrbios, salientam que me estou preocupando com coisas à toa.
* Se me embrenho nos ditos problemas grandes, contestam-me porque os pequenos acontecimentos é que trazem os maiores benefícios.
* Se procuro conhecer as pessoas, convivendo com elas, participando de suas reuniões, repetem que um poeta deve ser um homem solitário, preocupado com suas introspecções.
* Se, ponderando, concluo que eles podem estar certos e retiro-me do convívio social, sou chamado de misantropo e de maluco.
* Quando, ainda indeciso, procuro mais uma vez acertar, apostam que não tenho iniciativa e que sou um ergófobo ou um moleirão.
* Se me proponho a melhorar, empenhando-me de corpo e alma nessas dúvidas, sou masoquista e não sei viver.
* Quando começo a viver, divertindo-me e esquecendo um pouco o trabalho, conjecturam que sou extremista e preciso ser mais flexível.
* Se, num esforço inaudito, consigo conciliar o trabalho, lazer e preocupações, juram que estou perdido e não tenho mais remédio.
* Quando paro para pensar, sentem que não sei o que quero.
* Quando faço o que sei, mostrando o que quero, acrescentam que estou na profissão errada.
* E, finalmente, quando resolvo argumentar, afirmando que estou farto de ser alvo de repressões, que estou cansado de colaborar com uma sociedade injusta e que também tenciono furtar-me às críticas, eles ainda ponderam: "Mas também você não faz nada, pô!"
Olsen Jr.
Recolhido na Internet e Transcrito por J.C.de S. Jr.
Clique aqui para retornar à Página do Menu.