Jornal da Gíria

Jornal Mensal em idioma gírio – Edição 054 – Ano VIII – Niterói RJ –Julho e Agosto de 2008

Logo passaremos os 400 mil.
Na edição de teremos novidades sobre a 8ª. Edição do Dicionário de Gíria.
Estamos ultimando uma publicação sobre os 300 anos de gíria na língua portuguesa.

ANTONIO FRAGA

Nesta edição, resgato as gírias das décadas de 30 e 40, no Rio de Janeiro, identificadas por Antonio Fraga (1916-1993) , no seu livro Desabrigo e outros tecos, resgatado pela pesquisadora Maria Célia Barbosa Reis da Silva, em 1999. Carioca, Antônio Fraga teve várias profissões: lanterninha de cinema, auxiliar de cozinha, jornalista, agitador cultural, editor. No livro, há um glossário sobre as gírias de eu tempo. Como a 1ª. Edição foi lançada em 1943, este é o marco de referência

Gírias de Antonio Fraga 1943

A
Abaçanado - que ostenta jóias ou veste roupas de bacana
Abacaxi – dificuldade
Abafante - pessoa que encanta pelos predicados físicos
Abafar - furtar
Afanar – roubar
Agá – momento culminante.
Agá 2 – auxiliar de camelô , o qual simula comprar-lhe as mercadorias para estimular as vendas.
Água que passarinho não bebe – bebida alcoólica forte
Água que passarinho não topa – bebida alcoólica forte.
Algum – dinheiro
Alopradio – alegre sem motivo, eufórico
Anauê – palavra indígena com a qual se designava o adepto do Partido Integralistam agremiação política de direita.
Atrasado – carente há muito tempo de relações sexuais.
Autópsia – furto de algo contido nos bolsos interiores da roupa
Avenida – corte extenso de arma branca
Azia – corruptela humorística de agá

B
Babaca – vagina
Babaca 2 – tolo
Bacana – que ostenta luxo, veste roupas de ecido caro e se adorna com jóias de alto preço.
Bafafá – confusão, tumulto.
Bagana – ponta de cigarro já fumado.
Baile – zanga, estrilo, briga verbal
Banho - qualquer disputa com ampla vantagem.
Banzé – bagunça, desordem, barulho
Baratinar – enganar ou prejudicar por meio de fraude. Provém de baratiner, gíria francesa de idêntico sentido.
Basquete – o mesmo que batente.
Bate-fundo – briga.
Batente – ocupação, trabalho.
Bira – abreviatura de birosca, hospedaria de péssima categoria, na qual se alugam camas por uma noite.
Blot – em argot, tarefa da qual alguém se desincumbe a contragosto. Ça c’est mon blot: esse é meu ofício.
Boiar – comer ( a bóia).
Botar no cabide – pôr na conta.
Brasileira – tuberculose

C
Cabaçuda – mulher dotada de cabaço (hímem).
Cabide – crédito, conta aberta.
Cagaço – medo, temor.
Calcanha – calcanhar.
Camelô – mercador de rua. Provém do francês popular camelot.
Cana – polícia, aprisionamento.
Canal – bairro de prostíbulos situado perto do canal do Mangue.
Canastra – pejorativo de cana.
Cara – pessoa indeterminada,
Carcamano – pejorativo de italiano.
Caridade – copular por bondade, em receber paga em troca ou porque sinta desejo.
Chapinha – jogo a dinheiro em que o apostador só ganha se acertar sob qual de três chapinhas de cerveja, dispostas sobre um cartão ou folha de papel dobrada, acha-se uma bolinha.
Chave micha – gazua.
China – restaurante de ínfima qualidade , explorado por chineses.
Chuveiro – anel de brilhantes dispostos em círculo.
Compadre – propietário de um bar freqüentado por malandros, cantores e compositores de música popular, situado próximo do Mangue.
Conasse – pejorativo de vagina (em argot).
Cicunscisfláutico - posudo (segundo Raul Pederneiras no seu Vocabulário Carioca)
Crivo – cigarro.

D
Dar as palas – mostrar incompletamente, deixar entrever.
Dar os pirantes – por-se a correr.
Dar soco - passar a noite em claro por não ter onde dormir.
Defesa – ganho ocasional, geralmente ilícito,
Desguiar – sair, ir embora.
Desmamar – namorar criança.
Desminlinguir - agitar, agir com frenesi.
Dona justa – a justiça.
Duro – sem dinheiro.

E
Enrustir – guardar, esconder.
Entrar em cana - ser preso.
Esbregue – barulho, conflito, sururu.
Escolado – esperto, conhecedor dos recursos de emergência a adotar para sobreviver.
Esculachar – bater, ofender.
Esporro – briga, barulho, carão.
Esquentar – bater, empurrar.]
Estácio –tolo, palerma, inicialmente, designação depreciativa de morador do bairro do Estácio por indivíduos de outros bairros; mais tarde, qualquer sujeito tolo.
Estar a nenhum – estar sem dinheiro.
Estar com a cara e a coragem – estar desprovido de tudo, sem ter perdido o ânimo.

F
Fandango – festa em que se dança ,
Faxina – aquela que executa serviço de limpeza na cadeia.
Ferro – arma branca (navalha, punhal etc)
Fiapo – olhar rápido de soslaio, olhadela.
Flozô – fazer-se de difícil, afetando virtude ou pudor.
Forra – desforço, vingança.
Frege – desordem, fuzuê, distúrbio.
Fruta – pederasta passivo.
Fuzarca – orgia, folia, pândega.

G
Gado – prostituta.
Gaita – dinheiro.
Galego – português (depreciativo).
Galhada – o que deriva de um ato, conseqüência.
Galhardo – Carlos galhardo, cantor popular de renome.
Galo – nota de cinqüenta mil reis.
Garce – prostituta em argot.
Getulinho – moeda divisionária com efígie de Getúlio Vargas.
Gordura – alimento, comida de sal.
Grana – o mesmo que gaita.
Grelar – olhar fixamente.
Gringo – estrangeiro não latino: sírio, judeu, alemão etc.
Grude – pejorativo de comida.
Grupo – mentira.
Guimba – ponta de cigarro já fumado, o mesmo que bagana.

H
Hora h - momento culminante.
Hora do abacaxi - programa radiofônico de encômios à ditadura getulista, denominado oficialmente Hora do Brasil

I
Igualdade – indivíduo prestimoso, amigo, boa pessoa.

L
Laite em pó – tradução cômica de Light and Power, empresa que explorava o transporte de bondes. Os funcionários da Light eram, em sua maioria, lusitanos. E. como estes também dominava na época o comércio de laticínios, dizia-se numa piada: “potruca trabalha na Laite em Pó ou é laiteiro”.
Leros – palavrório, conversa sem interesse, lengalenga.
Linha – atitude, postura.
Liso – sem dinheiro.
Lunfa – larápio. Provém da gíria Argentina, com o mesmo sentido.

M
Mancada – erro ou lapso.
Mangos – mil réis, cruzeiros.
Manjado – conhecido, observado.
Meia-trava – redução de velocidade em veículo motorizado.
Melado – sangue.
Michê – cliente de prostituta. Provém do vetusto francês michê.
Micheton – aumentativo de miché em argot.
Meter o calcanhar – pôr-se a caminhar.
Meter os peitos – dispor-se.
Micha – moeda ou jóia falsa.
Minetti – coito oral em mulher, no francês de prostíbulo.
Misere – estado de penúria extrema.
Mosquear – ficar às moscas, sem fazer nada.
Mulher de cinco mangos – prostituta de baixo meretrício, barateira.

N
Nacional – Radio Nacional do Rio de Janeiro. Emissora do Governo.
Nagô – pertencente à súcia dos nagôs, arruaceiros que alugavam a políticos, em dia de eleição, para impedir os eleitores dos adversários políticos de votar,.
Não dar pala – ocultar
Não pescar níquel – não entender nada.
Né – elisão de não é. Cremos ter sido o primeiro escritor a registra-la.
Neca – nada.
Nenhum – antônimo de algum, usado apenas precedido de artigo.
Néris – o mesmo que neca.
Néris de pitibiriba - nada de nada.
Neruscóide de pitibiróide, com sufixo parasitário oides, cujo valor é expletivo, tem idêntico sentido.
Níquel – moeda de pouco valor, coisa insignificante.
Nove pontos – velocidade máxima do bonde.

P
Pala – parte de alguma coisa.
Palpite – opinião de intrometido. Sugestão dada ou pedida em jogo de azar.
Panilairo – Paneleiro. E, calão português, pederasta passivo.
Panos – vestes.
Pau-pequeno – pequena caixa de fósforos.
Peito – coragem ânimo.
Peixe – matéria que se trata ao falar.
Peru – vinte mil réis.
Pesado – azarado, caipora, sem sorte.
Piçuda – irritada, furiosa.
Pilantra – indivíduo sem mérito e cheio de pretensões.
Pindura saia – pendura saia. Morro de favelador, situados na parte norte do Rio.
Pirante – os pés.
Pirar – ir embora, fugir.
Piva – menino marginalizado. Abreviatura de pivete.
Potruca – Português, variante de portuga.
Puxar saco – bajular.

Q
Quirica – vagina.

S
Saco – testículo,
Safo – capaz de sair de uma situação difícil .
Samba que abafa – samba de sucesso
Sinuca – dificuldade.
Sinuca de bico – grande dificuldade.
Sinuca de biculina – grande dificuldade.
Soco – vigília forçada.
Solinjada – navalhada.
Sueca – navalha, especialmente a de aço sueco da marca Solingen.
Sururu – briga, desordem.

T
Teço – reprimenda que pertuba, choca.
Teso – sem dinheiro.
Tira – policial.
Tiragem – bando de policiais, tiras
Tista – corruptela de tostão, moeda de cem réis.
Totó – o mesmo que cachorro.
Totó 2 – cinco mil réis.
Trela – conversa.
Tusta – variante de tista.

U
Ursada – maldade, deslealdade.

V
Vaca – em sentido erótico, prostituta.
Vaca – em sentido econômico, nota de cem mil réis.
Vê-oito – automóvel de oito cilindros dispostos em vê.
Vê oito – calcinha de mulher.
Veado – pederasta passivo.
Vila – o bairro de Vila Isabel, célebre por seus sambistas.
Vinte – ponta de cigarro já fumado.

W
W.C. – iniciais de water closet, pintadas na porta das latrinas de boteco.

X
Xilindró – cadeia

Z
Zona – local onde se localiza prostíbulo. Ver canal.
Zona do canal - bairro de prostíbulos situado perto do canal do Mangue.

Gírias de Antonio João 1963

As gírias foram contextualizadas do livro Malagueta, Perus e Bacanaço, retratando as gírias de São Paulo.

A
Armado o conluio – “estava armado o conluio funcionando a trapaça”.

B
Babados – “e é ouvir novela, ler romancinhos para moças, discutir babados”.
Baratas tontas – “Por isso tropicavam nas ruas, peitavam-se como baratas tontas”.
Bateram perna – “bateram perna, então, desde o Alto da Pompéia até os começos das Perdizes”.
Batifundo - “O mister aí da casa não quer batifundo, mora”.
Bazófias – “Bacanaço boquejando, largando desafios e bazófias”.
Boca de espera – “tão só n boca de espera,mora”.
Boquejavam - “àquela tarde, tinham manha, tinham charla, boquejavam a prosa mole”.
Bote fé – “bote fé, hoje na sinuca eu sou um cobra”.
Botei a boca no mundo – “moleque, botei a boca no mundo numa revolta danada”.

C
Cadelos!
Cafua – “um dia me pilharam jogando vinte um no picadeiro, onde e guardavam caminhões e outras viaturas. Cafua”.
Cagueta – “Se abrisse o bico, ouviria de Robertinho a palavra “cagueta”, que é o que mais dói para um malandro”.
Cai do cavalo – “Sem dinheiro, o maior malandro cai do cavalo”
Caixa do pensamento - - “e quando se manda um danado e folgado daqueles para a casa do diabo, metendo-lhe com fé uma ferrada nos cornos, uma cortada na cara ou um tiro no meio da caixa do pensamento, a coisa enfeia muito, vai-se dar com o lombo na Casa de Detenção”.
Cambada - “por que é que não ficam em casa , debaixo da saia da mãe? Cambada!”´
Cambada de folgados
Cambaio – “o homem batia os pés no chão, ameaçava socos no ar e ficava no meio do salão, cambaio, atrapalhando-se com o apelido e com as pernas que se desentendiam”.
Canalha – “dei-me com toda a canalha”.
Cantava de galo – “era quem primeiro cantava de galo”.
Cavalos de teta – “assim falam os trouxas e os coiós e os papagaios enfeitados e os mocorongos e os cavalos de teta”
Caxias – “eu não era tão trouxa nem tão Caxias”.
Charla – “àquela tarde, tinham manha, tinham charla, boquejavam a prosa mole”.
Choca – “A anuência de Perus foi choca, encolheu-se timidamente no blusão de couro”.
Chove não molha do capeta – “vocês são é de coisa nenhuma. Fica aí toda a curriola nesse pé-pé-pé,,,pé-ré-pé-pé, fazenda o quê. Punheta? Um chove não molha do capeta”!
Chumbado no chão.
Cobra – “Paraná era cobra lá no fim da Rua João Teodoro”.
Cobres – “arranjei umas escritas à noite, para defender uns cobres extras”.
Coiós – “o salão era na Lapa, era o velho Celestino, treze mesas, jogos bons, parceirinhos, coiós”.
Coió de mola – “vai levar muita porrada se quiser ser um virador, seu coió de mola”.
Coió sem sorte – “é que na Sorocabana trouxa, coió sem sorte andava esbagaçando um salário prêmio”.
Cortada na cara - “e quando se manda um danado e folgado daqueles para a casa do diabo, metendo-lhe com fé uma ferrada nos cornos, uma cortada na cara ou um tiro no meio da caixa do pensamento, a coisa enfeia muito, vai-se dar com o lombo na Casa de Detenção”.
Curriola – “a própria curriola se assanhou, desaprovando”.

D
Dar a ripada – “ô vontade de lhe dar a ripada!”
Dera crepe – “zanzara de lá pra cá, dera crepe ali, tropicara depois – estavam sem nenhum, desempregada”.
Desabonado – “meu faixa, tô desabonado”.
Descoroçoado – “Durão fez um barulho com a boca, descoroçoado, se foi com xícaras de café na mão”.

E
Encrespado – “se eu fosse um sujeito encrespado...”
Entregaram aos ratos – “entregaram Bacalau aos ratos”.
Entregasse o mocó – “e desse o dinheiro, entregasse o mocó, o arrenego para livrar a cara de Perus”.
Escamoso – “o bicho pe um escamoso”.
Escanzelada – “escanzelada, corpo ruim, os peitos eram uma tábua”.
Esporro – “Por isso aturava o esporro – queria dormir”.
Estias - “malandro ganhar vinte contos, não dar mimo a ninguém, não distribuir as estias. Que malandro era aquele?”

F
Faca de dois gumes – “Um tapeando o outro, se escondendo. Faca de dois gumes”.
Faixas - “Domicio e Ivo. Dois faixas”.
Fecha nunca – “ “Malagueta, Prus e Bacanaço faziam roda à porta do Jeca, boteco da concentração maior de toda a malandrgm, à esquina do Ipiranga, fecha nunca, boca do inferno, olho aceso por toda a madrugada”.
Feito boi ladrão – “suei feito boi ladrão”.
Ferrada nos cornos - “e quando se manda um danado e folgado daqueles para a casa do diabo, metendo-lhe com fé uma ferrada nos cornos, uma cortada na cara ou um tiro no meio da caixa do pensamento, a coisa enfeia muito, vai-se dar com o lombo na Casa de Detenção”.
Folgado – “tá dormindo, folgado”!
Franguinhas - “que nada... arranjaria um dessas franguinhas bobas, que se ajustam a meninos bonitos”.

G
Gabos – “Ouvira os gabos sem interesse”.
Galinha assanhada – “Julga-se por isso, moça distinta, troço importante cá na vila. Galinha assanhada”.
Galo –“Bacanao lhe escorregou um galo, uma nota de cinqüenta”.
Gente bem ajambrada – “ malandros pés de chinelo promiscuídos com finos malandros de turfe, ou bem bem ajambrada que caftinava alto e parecia deputado, senador”...
Gororoba – “era uma fome danada, sem meios, deveria ter comido a gororoba”.

J
Justa – “quando a justa, perua preta e branca dos homens da polícia roncava no asfalto”.

L
Lambão – “quer me matar, lambão”?
Lamber sabão – “ora, vá lamber sabão, touxa embandeirado”.
Larga a brasa, rapaz!
Lora – “vou tirar o chapéu desta lora”.
Lusco fusco – “lusco-fusco. A rua parece inchar”.

M
Malandro fino – “malandro fino, vadio de muita linha, tinha a consideração dos policiais”.
Mancada – “era mancada, pouco caso, era desdenhar, desconsiderar, que diabo”!
Manha – “pela charla que diziam e pela manha com que vinham...Ali não havia dinheiro”.
Maré de sorte – “esperar maré de sorte?”
Marreteiros – “Falando sou um sujeito como esses marreteiros que vivem por aí”
Pão duro!
Mandava para a casa do diabo – “desses que quando a conversa não interessa vão mandando para a casa do diabo”.
Me espianto – “esta partida aba e eu caio fora, me espianto”.
Mexia os pauzinhos – “mas Bacalau era um perigoso e tinha juízo, frintava na charla, mexia os pauzinhos”.
Mimo – “malandro ganhar vinte contos, não dar mimo a ninguém, não distribuir as estias. Que malandro era aquele?”
Mina – “aos catorze, num cortiço da Lapa de Baixo conheci a primeira mina”.
Mister – “O mister aí da casa não quer batifundo, mora”.
Mocorongos – “assim falam os trouxas e os coiós e os papagaios enfeitados e os mocorongos e os cavalos de teta”
Muamba – “Malagueta , piranha rápida, professor de encabulação e desacato, velho de muito traquejo, que debaixo do seu quieto muita muamba aprontava”.
Muquinfo – “ou em qualquer muquinfo por aí, porque todo muquinfo é muquinfo”.

N
Não dá pé – “esta Lapa não dá pé”..

O
Osso duro de roer – “jogava que jogava Caloi. Osso duro de roer”.
P
Pajeando – “ora o que! Não Pajeando a madame”.
Pala escarrapachada – “o velho Malagueta gesticulava, com fricotes na pala escarrapachada”.
Pano verde – “eram artistas do pano verde”.
Papagaios enfeitados – “assim falam os trouxas e os coiós e os papagaios enfeitados e os mocorongos e os cavalos de teta”
Parceirinho – “olá, meu parceirinho!. Está jogo ou está a passeio?”
Parolagem – “Malagueta ganhou força, começou a parolagem”.
Pé-pé-pé...pé-ré-pé-pé – “vocês são é de coisa nenhuma. Fica aí toda a curriola nesse pé-pé-pé,,,pé-ré-pé-pé, fazenda o quê. Punheta? Um chove não molha do capeta”!
Peguei rebordosas medonhas – “mas jogo é jogo e eu não nego – peguei rebordosas medonhas”.
Peixe - “mas eu ensinava jiu-jitsu aos filhos do comandante, era peixe...”
Penduricalhos - “Bacanaço tinha negócio com os mascates, aqueles que vendiam quinquilharias e penduricalhos nas beiradas da Lapa de Baixo”.
Pés de chinelo – “enfrentam as virações e a polícia porque têm fome. E vão como viradores, ofredores, pés-de chinelo. E só”.
Piranha esperava comida
Pixaim – “coçou o pixaim”.
Pixulés – “era tudo pixulés, caraminguás, notas de um, de dois, de cinco cruzeiros”.
Podar – “vou podar este menino”.
Pouca vergonha – “Da pouca vergonha que faz à noite , no namoro de portão, vive se esquecendo”.
Praça – “você não é praça?”
Procurando chifre em cabeça de cavalo – “agora me chamando de lambão, espezinhando, procurando chifre em cabeça de cavalo”
Punheta – “vocês são é de coisa nenhuma. Fica aí toda a curriola nesse pé-pé-pé,,,pé-ré-pé-pé, fazenda o quê. Punheta? Um chove não molha do capeta”!

Q
Quinquilharias “Bacanaço tinha negocio com os mascate, aqueles que vendiam quinquilharias e penduricalhos nas beiradas da Lapa de Baixo”.
Quizilentos – “topavam cachorros silenciosos, gatos quizilentos, urinavam nos tapumes, nos escuros”.

S
Sai do buraco - “Sem dinheiro, o maior malandro cai do cavalo e sofredor algum sai do buraco”.
Se raspando – “Bacanaço fez o sinal, mostrou a escada aos companheiros: desguiando. Se raspando”.
Se mordeu – “ a turma se mordeu, com aquilo a turma se queimou”.
Se queimou - “ a turma se mordeu, com aquilo a turma se queimou”.
Se vira – “Você não é praça? Se vira”.
Soltou a ladainha – “o malandro lhe devia coisas não poucas e ela soltou a ladainha”.


Tamborilar – “pôs-se a tamborilar, lento, contando as batidas”.
Tantã – “Caloi acabou falando sozinho, feito tantã de muita zonzeira lá num pavilhão do Juqueri”.
Tira o pé do buraco- “Não havendo capital, sofredor algum tira o pé do buraco”.
Tirando o pé da lama – “Bacalau estava com fome, sabia muito bem pedir e sempre lhe arranjavam algum para que o vagabundo se endireitasse, tirando o pé da lama”.
Tiririca – “o bicho ta tiririca”.
Tomar juízo. “É, já era hora de tomar juízo”.
Tonto – “eu vivo é tonto”.
Tostãozinho de gente – “este tostãozinho de gente aí é algum otário oferecido”.
Touro – “este menino e um touro”.
Trouxa – “eu não era tão trouxa nem tão Caxias”.
Touxa embandeirado – “ora, vá lamber sabão, trouxa embandeirado”.
Tropicassem – “se dessem azar, se tropicassem nas virações ninguém lhes daria a mínima colher de chá – curtissem sono e fome e cadeia”.

U
Uma canja – “os sacos de cebolas que fui buscar à subsistência, eram ralos e fáceis de costurar-se. Uma canja”.

V
Vadio de muita linha - “malandro fino, vadio de muita linha, tinha a consideração dos policiais”.
Vagal – “baixou os olhos, um vagabundo era um vagal e só”.
Vai pras cabeças!
Vida mansa – “mocorongo, trouxa, pixote, cavalo-de-teta, otário, vida mana algum nunca perceberia o que passava com Malagueta, Perus e Bacanaço”.
Vida xepe – “escritório, taxa de colégio, irmã galinha. Vida xepe, porcaria!”
Vinte paus - “vinte paus eu devia para o homem do rancho”.
Virações – “enfrentam as virações e a polícia porque têm fome. E vão como viradores, sofredores, pés-de chinelo. E só”.
Viradores – “enfrentam as virações e a polícia porque têm fome. E vão como viradores, sofredores, pés-de chinelo. E só”.

Z
Zonzeira – “Caloi acabou falando sozinho, feito tantã de muita zonzeira lá num pavilhão do Juqueri”.
Zonzo – “meia hora bobeando sem nexo pela Rua Galvão Bueno. Como um zonzo”.

PARLAMENTO PORTUGUÊS APROVA ACORDO ORTOGRÁFICO
Publicou Jair Rattner, De Lisboa para a BBC Brasil, em 16.05.2008:
Passados 16 anos desde a assinatura, Portugal aprovou o acordo ortográfico, que unifica a forma como é escrito o português nos países lusófonos.
Apesar de polêmico, o texto foi aprovado por deputados de todos os quadrantes políticos – desde o CDS à direita, até o Bloco de Esquerda – com três votos contra e muitos deputados abandonando o plenário durante a votação.
As mudanças na forma de escrever o idioma em Portugal vão valer dentro de seis anos, enquanto no Brasil os livros escolares deverão ser mudados até 2010.
Questionado sobre o acordo, o escritor José Saramago, prêmio Nobel de literatura, optou por não entrar em polêmica: "Vou continuar escrevendo do mesmo jeito. Isso agora vai ser com os revisores".
Vitória brasileira?
Houve grande polêmica em Portugal. A iniciativa contrária à reforma com maior impacto no país foi uma petição na internet, que tentava convencer parlamentares a votar contra o acordo.
O documento, que criticava a proposta por entender que este significava que Portugal cedia aos interesses brasileiros, teve mais de 35 mil assinaturas desde o início do mês, grande parte delas de intelectuais.
"A língua portuguesa é o maior patrimônio que Portugal tem no mundo", afirmou o deputado Mota Soares, do partido CDS.
Ironicamente, dois deputados que encabeçaram a petição – Zita Seabra e Vasco Graça Moura – não estavam no plenário na hora da votação.
Zita Seabra disse que, como é proprietária de uma editora, havia conflito de interesses para votar o texto.
Alterações
Os estudos lingüísticos que basearam o acordo indicam que os portugueses terão mais modificações do que os brasileiros. O dicionário português terá de trocar 1,42% das palavras, enquanto no Brasil apenas 0,43% sofrerão mudanças.
Para os portugueses, caem as letras não pronunciadas, como o "c" em acto, direcção e selecção, e o "p" em excepto.
A nova norma acaba com o acento no "a" que diferencia o pretérito perfeito do presente (em Portugal, escreve-se passámos, no passado, e passamos, no presente).
Algumas diferenças vão continuar. Em Portugal, polémica e génesis manterão o acento agudo – o Brasil continuará escrevendo com o circunflexo.
Os portugueses manterão o "c" em facto – fato em Portugal é roupa – e vão tirar o "p" que no país não é pronunciado na palavra recepção.
Atraso
Aprovar as mudanças foi um longo processo. O conteúdo do acordo já tinha sido aprovado há 16 anos, mas não podia entrar em vigor sem que os Parlamentos ratificassem o protocolo modificativo.
O protocolo previa que o acordo entrasse em vigor quando três países aprovassem o acordo – e não todos os que falam o português, como estava no texto original. No ano passado, São Tomé e Príncipe foi o terceiro a aprovar o acordo, dando validade ao documento.
Para o governo português, a aprovação do acordo é o primeiro passo para existência de uma política internacional da língua portuguesa, que será anunciada quando Portugal assumir a presidência rotativa da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), em julho deste ano.
"É necessário agora desenvolver uma política de internacionalização, consolidação e aprofundamento da língua portuguesa, e o acordo ortográfico é um instrumento para isso", afirmou o ministro da Cultura, Antônio Pinto Ribeiro.

FIM-DE-SEMANA
Publicou Ivan Lessa , Colunista da BBC Brasil, em 23.05:
Para me despedir: no título, fim de semana com hífen. Como querem, ou queriam, nossos avozinhos, os portugueses, que, afinal, acabaram enfiando o galho dentro e concordando com essa besteirada da uniformização ortográfica.
Neste espaço não caberiam todos aqueles que irão ganhar uma nota preta com a jogada. Já li e reli, estes anos todos, o que pude sobre a embromação. Poucos tiveram peito para expor as verdadeiras razões por trás da uniformização (e bota uniforme e medalha nisso).
Alguns se atreveram. Desapareceram todos misteriosamente. Tá bom, vá lá que seja. Estou exagerando um pouco. Mas que calaram a boca, calaram. Ou, mais provável (afinal de contas é a gente, minha gente), deram um cala-bôca (e é com hífen e acento só para sacanear alguém ou todo mundo) para o pessoal.
O resto, como de hábito, ou não ligou, ou de inconseqüência e patetice acabou topando. E citam o Saramago. Nem sempre lembrando que ele disse, entre outras coisas, que continuará escrevendo como sempre escreveu, que o resto é problema dos revisores. Está nas entrelinhas o que ele, de verdade, acha, pois não?
Em São Tomé e Príncipe, o clima é de festa. Enfim: um vôo sem circunflexo. Exatamente o que eles precisavam.
***
Recuso-me a comentar o final de uma dessas copas disputadérrimas aqui pelas ilhas e estas Oropas. Manchester United versus Chelsea. Em Moscou, coitada, como se já não bastasse tudo que essa pobre dessa cidade passou pela História a frente e afora. 42 mil ingleses zanzando pela cidade, pagando uma fortuna por tudo, desafiando uma polícia que, fosse nos bons tempos do comunismo, cairia de cacete em todos eles pelo menor dos motivos.
Os 5 ou 6 litros de cerveja que os fans (sim, são com ene e sem til, feito o futebol que assistem) consomem, e que sai a perto de 32 dólares o litro, mais a vodka (há quanto tempo, “dona” letra Ka, ou Kapa, em terras lusas!), que lá é baratinho, foram responsáveis pelas cenas dantescas que, na certa, se passaram em ruas e praças da capital russa.
O Manchester United é conhecido como The Reds, pelos pobres dos ingleses. O Chelsea como The Blues. Imensa, vasta pobreza. Desnecessário acrescentar que a terminologia foi violentada como uma rapariga inocente nas mãos e sob o etc dos sórdidos e repulsivos indivíduos que brutalizam diariamente a mídia britânica.
De Praça Vermelha a Tristezas (blues, confere?) e por aí adiante. Assim como o Saramago, não tomei conhecimento do jogo, da peleja, da contenda, que deve ter sido tudo isso ao mesmo tempo. Deixei para meus revisores.
E decisão por pênaltis é os tinflas.
42 mil torcedores ingleses de futebol. Foi para gente assim que Napoleão perdeu a guerra.
***
Outro dia me aborreceu, e eu acabei aborrecendo o leitor distraído, para não falar de meus revisores e os do Saramago, essa história de bicho em extinção.
Bicho é para ser extinto. Trata-se de uma lei imutável da vida. Algo assim feito a unificação da língua portuguesa. Foram-se os dinossauros e todos seus jurássicos companheiros. Em boa hora. Que seria dos museus de história natural se não fosse o desaparecimento daqueles biguanos todos?
Vocês têm uma ideia (atenção, primeiro uso legítimo e oficial da palavrinha sem o acentinho querido, essa alma minha, tão cedo desta vida, descontente, et cetera e tal), repito, vocês têm uma ideia (acumulei: segundão) onde estaríamos nós se cronossauros e brontossauros continuassem zanzando pelos campos e cidades do globo terrestre feitos torcedores do Manchester United ou do Chelsea?
Nem mesmo o mais arrojado voo de imaginação poderia conceber.
Nota minha para meus revisores e do Saramago: atenção, estou sendo o primeiro também a fazer uso da aérea modalidade, sem recorrer a mais ninguém, e chutando para corner, como um zagueiro do Manchester United, a palavra vôo sem o circunflexo, que tão bem sua cabecinha redonda cobriu e protegeu, estes anos todos, como um boné azulmarinho dos New York Yankees.
Reparem ainda no hífen afanado da cor do quepe. Sou um homem de nossos tempos: não valho nada.
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Chego agora finalmente, meio exausto, pondo os bofes para fora, onde já deveria estar há algumas linhas. As especialidades comestíveis também ameaçadas de extinção e não só de desastre igual a unificação ortográfica. Aí é chato.
Lá encontrei, na lista preparada por técnicos em coisas em extinção, gente do time dessa turma da reforma lusobrasileira (epa), delícias feito o aspargo ou espargo, como devem preferir o Saramago e seus revisores.
Vão acabar. Certos comestíveis. Não dão mais que 300 anos de vida para o espargo ou aspargo. Chato, muito chato. A alcaparra também está pela bola sete. Mais uns 200 anos e é beleléu garantido. Queijo de leite cru de vaca. Taí, esse eu tô (to?) pouco ligando. Pra mim é final entre Manchester United e Chelsea.
As peras. Mau, muito mau. Mas só as peras de Gloucestershire. No caso, então, tudo bem. Inglês não manja nada nem de pêra nem de banana.
Se é para extinguir, mandem bala, brasa ou o que for, no ruibarbo, na jaca e no quiabo. Aí sim. Esses, pra mim, numa mesa, são o equivalente a um trema e um hífen no português do século XXI.

Hifen-ação
Publicou Ivan Lessa, da BBC Brasil, em 26.09.2007
Pronto, começou a besteira. Os brasileiros estão há quase 20 anos (a bobajada começou em 1990) se esfalfando no sentido de uniformizar a língua portuguesa (palavra derivada de Portugal, país europeu da península ibérica) em sua ortografia.
Diga-se de passagem que só brasileiros e portugueses se “esfalfam”. Em países menos importantes, feito Moçambique e Angola, “dá-se duro” mesmo.
Brasileiro adora reforma ortográfica. Três acordos oficiais foram aprovados pelos países lusófonos (de luso, ou seja, relativo a Portugal ou o que é seu natural e habitante): em 1943, em 1971 e, em tese, essa que deverá entrar em vigor no ano que vem, 2008.
Isto, claro, se os portugueses (ou lusos, lusitanos ou ainda “nossos queridos primos e avozinhos”) concordarem pois, sem eles, nada feito.
É necessária a ratificação por pelo menos três países lusófonos. Saibam que, no Brasil, em 1995 quem aprovou a reforma foi o… o… exatamente, nosso Congresso. Podem rir agora.
As glórias de nossa língua
Segundo estudos fidedignos, o português (de Portugal, luso, lusitano etc.) é a quinta língua mais falada no mundo.
Cerca de 210 milhões de pessoas praticam a língua de Camões e José Sarney.
Segundo outros estudos, esses 210 milhões falam todos ao mesmo tempo e sem parar. E bem alto.
O português (de… creio que vocês já pegaram o espírito da coisa) tem duas grafias oficiais, o que dificulta o estabelecimento da língua como um dos idiomas oficiais da Organização das Nações Unidas, a ONU. Coisa que nos é indispensável.
Segundo acadêmicos e congressistas brasileiros, uma ortografia-padrão (falaremos logo adiante do hífen) facilitaria o intercâmbio cultural entre os países que falam o português, a saber, a Comunidade dos Países da Língua Portuguesa, ou CPLP, entre aqueles – aliás a maioria – que adoram siglas e acrônimos.
Esta Comunidade, com C maiúsculo (outra paixão nossa: o maiúsculo), é composta por oito países: Brasil, Portugal, Angola, Moçambique, Cabo Verde, Guiné-Bissau, São Tomé e Príncipe (os dois são um só) e Timor Leste (o Timor Oeste está noutra).
Há um argumento segundo o qual os livros, principalmente os científicos e didáticos, circulariam então livremente entre os países, sem necessidade de revisão, como já acontece em terras onde o espanhol é falado e cantado em tango, bolero, rumba e escritos do Gabriel Garcia Márquez.
Argumenta-se ainda, como se não bastasse, que a padronização do ensino do português seria sentida (ai!) ao redor do mundo.
Espiquíngres
Antes que eu me esqueça: o inglês do Reino Unido e o inglês dos Estados Unidos, dois importantes países que fazem parte da ONU, não viram necessidade de criar uma Comunidade de Países da Língua Inglesa, que incluísse Canadá, Austrália, Nova Zelândia, África do Sul e outros menos cotados.
Os ingleses escrevem e montam “theatre” e os americanos e o resto da turma levam em cartaz “theater”.
Ninguém fica confuso com isso e todas as palavras terminadas, no Reino Unido, em “our” (labour), e nos Estados Unidos em “or” apenas (labor), continuam assim nos livros editados dos dois lados do Atlântico e lá pela Oceania também.
Nunca um australiano perdeu seu “centre”, ou “center” de gravidade com essa filigrana, para nós rebuscada e de difícil compreensão. E nem vou falar no que uns e outros anglófonos fazem do uso do S e do Z em certos verbos.
Em compensação, São Tomé e Príncipe não tem (não têm?) a menor idéia de qual a diferença entre “acto” e “ato”, “facto” e “fato”. Vivem confusos.
Guiné-Bissau só se preocupa com o que vai ser de seu hífen. O hífen nos é de suma importância.
Embora os portugueses vejam essa coisa toda como uma tolice muito grande e, práticos e educados que são, vão mandando a reforma para as calendas.
Tremas, tremei!
Ah, sim. Entre dezenas de outras besteiras, nossos lecsicógrafos e congreçistas querem abolir o trema. Saibam que este sinal diacrítico já foi abolido em Portugal em 1946. Foi como quando nós abolimos a escravidão: ninguém ligou.
O danado do hífen
Pedra fundamental da reforma proposta é o hífen.
Nossos lexicógrafos querem mantê-lo nos substantivos compostos (arco-íris, guarda-chuva) e nas palavras compostas (norte-americanos, anglo-americano).
Mas o hífen é para ser chutado para corner (e escanteio também) em palavras nas quais “se perdeu” (conforme dizem eles) a noção de composição. Feito paraquedas e paraquedista.
Na mesma prefixação, querem sempre um hífen antes do H. Ex e vice não mudam. Caso contrário, eles perdem a prazerosa pensão.
Guiné-Bissau quer saber, eu quero saber, o mundo inteiro quer saber, se vai ou não perder o hífen. Idem, Timor Leste.
As outras crises são passageiras. Fome, passa. Hífen, não.
The damned hyphen
Não sei se foi influência da bossa nova (ou bossa-nova?) ou do neorealismo (neo-realismo?) cinematográfico brasileiro, mas o raio da questão do hífen baixou aqui.
Na mais recente edição revista desse monumento-tesouro que é o Oxford English Dictionary, 16 mil palavras até agora hifenadas foram para as blicas.
Monumento-tesouro, por exemplo. Folha de parreira, outro. Todo mundo se acostumou a ler, ver e usar “fig-leaf”. De repente, tacam um “figleaf” na gente, nos deixando a todos com as vergonhas à mostra.
Motivo alegado? A rapidez com que movemos nossos dedos pelos teclados dos computadores. Acham que nossos dedos se cansaram de sair catando o tracinho horizontal para fazer a devida ligação. Sem hífen é mais prático.
Os poetas, que amam o hífen, para colorir este mundão sem graça, estão uma fúria. Acabou-se, ao menos para o Oxford, a “copper-coloured hair” e o “rosy-fingered dawn”. E por aí afora.
Uma tristeza. Resta o consolo de saber que não haverá multa ou prisão para quem não seguir o que é apenas sugestão e não lei do Oxford.
Na nossa reforma, nada vi até agora que esclareça ou fale dessa outra paixão nossa: obrigatoriedade, pena de prisão, pau-de-arara (pau de arara?) e um sem mundo de penas para quem não cumpra o burríssimo e inútil esquema