Jornal Mensal em idioma gírio – Edição 81 – Ano XII- Niterói/RJ –Novembro e Dezembro de 2012


500mil
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No mês de setembro chegamos a 589.496 acessos. Caminhamos para os 600 mil., novo marco da gíria e deste Dicionário na Web. É muita coisa para um site de gíria.

Registramos em setembro 1,027 visitas, sendo 970 visitantes únicos.

No exterior, fomos visitados por nacionais dos Estados Unidos, Argentina, Portugal, França, Reino Unido, Canadá, Alemanha e Espanha.

No Brasil, fomos visitados por brasileiros de São Paulo, Rio de Janeiro , Salvador , Belo Horizonte, Brasília, Goiânia e Manaus, Recife, Fortaleza, Vitória, Curitiba, São Luís, Teresina, Campinas, Natal, Porto Alegre, Osasco, Belém , João Pessoa, Uberlândia, Cuiabá. Niterói, Joinville e Ribeirão Preto.

 
COISA

 ESTAMOS CHEGANDO AOS 600 MIL ACESSOS

A Palavra "coisa" é um bombril do idioma. Tem mil e uma utilidades. É aquele tipo de termo-muleta ao qual a gente recorre sempre que nos faltam palavras para exprimir uma idéia. Coisas do português.

A natureza das coisas: gramaticalmente, "coisa" pode ser substantivo, adjetivo, advérbio. Também pode ser verbo: o Houaiss registra a forma "coisificar". E no Nordeste há "coisar": "Ô, seu coisinha, você já coisou aquela coisa que eu mandei você coisar?".

Coisar, em Portugal, equivale ao ato sexual, lembra Josué Machado. Já as "coisas" nordestinas são sinônimas dos órgãos genitais, registra o Aurélio. "E deixava-se possuir pelo amante, que lhe beijava os pés, as coisas, os seios" (Riacho Doce, José Lins do Rego). Na Paraíba e em Pernambuco, "coisa" também é cigarro de maconha.

Em Olinda, o bloco carnavalesco Segura a Coisa tem um baseado como símbolo em seu estandarte. Alceu Valença canta: "Segura a coisa com muito cuidado / Que eu chego já." E, como em Olinda sempre há bloco mirim equivalente ao de gente grande, há também o Segura a Coisinha.

Na literatura, a "coisa" é coisa antiga. Antiga, mas modernista: Oswald de Andrade escreveu a crônica O Coisa em 1943. A Coisa é título de romance de Stephen King. Simone de Beauvoir escreveu A Força das Coisas, e Michel Foucault, As Palavras e as Coisas.

Em Minas Gerais , todas as coisas são chamadas de trem. Menos o trem, que lá é chamado de "a coisa". A mãe está com a filha na estação, o trem se aproxima e ela diz: "Minha filha, pega os trem que lá vem a coisa!".

Devido lugar: "Olha que coisa mais linda, mais cheia de graça (...)". A garota de Ipanema era coisa de fechar o Rio de Janeiro. "Mas se ela voltar, se ela voltar / Que coisa linda / Que coisa louca." Coisas de Jobim e de Vinicius, que sabiam das coisas.

Sampa também tem dessas coisas (coisa de louco!), seja quando canta "Alguma coisa acontece no meu coração", de Caetano Veloso, ou quando vê o Show de Calouros, do Silvio Santos (que é coisa nossa).

Coisa não tem sexo: pode ser masculino ou feminino. Coisa-ruim é o capeta. Coisa boa é a Juliana Paes. Nunca vi coisa assim!

Coisa de cinema! A Coisa virou nome de filme de Hollywood, que tinha o seu Coisa no recente Quarteto Fantástico. Extraído dos quadrinhos, na TV o personagem ganhou também desenho animado, nos anos 70. E no programa Casseta e Planeta, Urgente!, Marcelo Madureira faz o personagem "Coisinha de Jesus".

Coisa também não tem tamanho. Na boca dos exagerados, "coisa nenhuma" vira "coisíssima". Mas a "coisa" tem história na MPB. No II Festival da Música Popular Brasileira, em 1966, estava na letra das duas vencedoras: Disparada, de Geraldo Vandré ("Prepare seu coração / Pras coisas que eu vou contar"), e A Banda, de Chico Buarque ("Pra ver a banda passar / Cantando coisas de amor"), que acabou de ser relançada num dos CDs triplos do compositor, que a Som Livre remasterizou. Naquele ano do festival, no entanto, a coisa tava preta (ou melhor, verde-oliva). E a turma da Jovem Guarda não tava nem aí com as coisas: "Coisa linda / Coisa que eu adoro".

Cheio das coisas. As mesmas coisas, Coisa bonita, Coisas do coração, Coisas que não se esquece, Diga-me coisas bonitas, Tem coisas que a gente não tira do coração. Todas essas coisas são títulos de canções interpretadas por Roberto Carlos, o "rei" das coisas. Como ele, uma geração da MPB era preocupada com as coisas.

Para Maria Bethânia, o diminutivo de coisa é uma questão de quantidade (afinal, "são tantas coisinhas miúdas"). Já para Beth Carvalho, é de carinho e intensidade ("ô coisinha tão bonitinha do pai"). Todas as Coisas e Eu é título de CD de Gal. "Esse papo já tá qualquer coisa...Já qualquer coisa doida dentro mexe." Essa coisa doida é uma citação da música Qualquer Coisa, de Caetano, que canta também: "Alguma coisa está fora da ordem."

Por essas e por outras, é preciso colocar cada coisa no devido lugar. Uma coisa de cada vez, é claro, pois uma coisa é uma coisa; outra coisa é outra coisa. E tal coisa, e coisa e tal. O cheio de coisas é o indivíduo chato, pleno de não-me-toques. O cheio das coisas, por sua vez, é o sujeito estribado. Gente fina é outra coisa. Para o pobre, a coisa está sempre feia: o salário-mínimo não dá pra coisa nenhuma.

A coisa pública não funciona no Brasil. Desde os tempos de Cabral. Político quando está na oposição é uma coisa, mas, quando assume o poder, a coisa muda de figura. Quando se elege, o eleitor pensa: "Agora a coisa vai." Coisa nenhuma! A coisa fica na mesma. Uma coisa é falar; outra é fazer. Coisa feia! O eleitor já está cheio dessas coisas!

Coisa à toa. Se você aceita qualquer coisa, logo se torna um coisa qualquer, um coisa-à-toa. Numa crítica feroz a esse estado de coisas, no poema Eu, Etiqueta, Drummond radicaliza: "Meu nome novo é coisa. Eu sou a coisa, coisamente." E, no verso do poeta, "coisa" vira "cousa".

Se as pessoas foram feitas para ser amadas e as coisas, para ser usadas, por que então nós amamos tanto as coisas e usamos tanto as pessoas? Bote uma coisa na cabeça: as melhores coisas da vida não são coisas. Há coisas que o dinheiro não compra: paz, saúde, alegria e outras cositas más.

Mas, "deixemos de coisa, cuidemos da vida, senão chega a morte ou coisa parecida", cantarola Fagner em Canteiros, baseado no poema Marcha, de Cecília Meireles, uma coisa linda. Por isso, faça a coisa certa e não esqueça o grande mandamento: "amarás a Deus sobre todas as coisas".

ENTENDEU O ESPÍRITO DA COISA?

 
O SIGNIFICADO DO I

O "i" na vida dos americanos
iPhone, iPod, iPad, iMac, i30, iBM, intel
O "i" na vida dosbrasileiros : iPTU, iPVA, iCMS, iSS, iNSS , iRF; iPI, iOF, iMiFudi.

 
GÍRIAS DE PESSOAS

 
Bebum chama Jesus de Genésio
Cadê Teresa?
Chamar o Hugo (vomitar)
Chamar o Raul (vomitar)
Dar a Cesar o que é de César (fazer o que é justo, correto)
Dar uma de João sem braço (golpe baixo)
Dar uma de migué (tentar enganar)
Didi mocó colesterol mufumbo
Don Juan de meia tijela (galã de subúrbio)
E agora, José?
É mentira, Terta?
É um Matusalém (velho demais)
Ela está de chico (menstruada)
Está mais perdido do que a mãe de São Pedro (perdido)
Falar com o Miguel (ir ao banheiro)
Foi nesta posição que Napoleão perdeu a guerra (vacilar)
Golpe do João sem braço (golpe baixo)
Isto aqui virou casa da mãe Joana (caos, zona)
João ninguém
Joãozinho das candongas

Lular (roubar, mentir, enganar)
Madalena arrependida (hipócrita)

Malufar (roubar, mentir, enganar)
Mané (bobo)
Mané isso , mané aquilo (Que mané roubo?)
Maria batalhão (que namora soldado, polícia)
Maria candelária é alta funcionária
Maria chuteira (que namora jogador de futebol)
Maria de nada
Maria Madalena dos anzóis pereira
Maria ninguém
Maria vai com as outras (que segue qualquer um)
Marilia de Dirceu
Mateus, primeiro os meus
Mora onde Judas perdeu as botas e as esporas (longe)
Onde andará Maria Rita?
O ovo de Colombo (solução simples)
Parente por parte de Adão
Pau que bate em Chico bate em Francisco
Pedro
Põe na conta do Abreu, nem ele paga, nem eu
Quem? Eu? Mariazinha?Nunquinha
Quem pariu Mateus que o embale
Se Maomé não vai a montanha a montanha vem a Maomé
Vai ganhar o que Luzia ganhou na horta
Vamos aproveitar enquanto o Brás é tesoureiro
Você conhece o pedreiro Valdemar?

 
DITADOS POPULARES EM LINGUAGEM UTILIZADA NA O.A.B

 
A fêmea ruminante deslocou-se para terreno sáfaro e alagadiço.

(A vaca foi para o brejo)

 Desejo veementemente que V.Sa. receba contribuições inusitadas em vossa cavidade retal.

(Vá tomar no cu)

 Desejo veementemente que V.Sa. performe fornicação na imagem de sua própria pessoa.

(Vá se foder)

 Creio que V.Sa. apresenta comportamento galhofeiro perante a situação aqui exposta.

(Você tá de sacanagem)

 Prosopopéia flácida para acalentar bovinos.

(Conversa mole pra boi dormir )

 Romper a face.

(Quebrar a cara)

 Creditar um primata.

(Pagar um mico)

 Inflar o volume da bolsa escrotal.

(Encher o saco)

 Impulsionar a extremidade do membro inferior contra a região glútea de outrem.

(Dar um pé na bunda)

 Derrubar, com a extremidade do membro inferior, o suporte sustentáculo de uma das unidades de acampamento.

(Chutar o pau da barraca)

 Deglutir um batráquio..

(Engolir um sapo)

 Colocar o prolongamento caudal em meio aos membros inferiores.

(Meter o rabo entre as pernas)

 Derrubar com intenções mortais.

(Cair matando)

 Eximir de qualquer tipo de sorte.

(Azarar)

 Aplicar a contravenção do Senhor João, este deficiente físico desprovido de um dos membros superiores.

(Dar o velho golpe do João sem braço)

 Sequer considerar a utilização de um longo pedaço de madeira.

(Nem a pau)

 Sequer considerando a possibilidade da fêmea bovina expirar fortes contrações laringo-bucais .

(Nem que a vaca tussa)

 Sequer considerando a prática de conúbio carnal.

, (Nem fodendo)

 Derramar água pelo chão através do tombamento violento e premeditado de seu recipiente.

(Chutar o balde)

 O orifício circular corrugado, localizado na parte ínfero-lombar da região glútea de um indivíduo em avançado estado etílico, deixa de estar em consonância com os ditames referentes ao direito individual de propriedade.

(CÚ DE BÊBADO NÃO TEM DONO)

 
A LINGUAGEM DE PACO, REGIONAL E UNIVERSAL

 
Por JB Serra e Gurgel (*)

 
Nada errado na forma de escrever dos nossos cronistas sociais, jornalistas, repórteres, comentaristas, formadores de opinião, verdadeiros especialistas em vaidades e veleidades humanas, no individual e no coletivo.  A maioria usa de recursos lingüísticos para que possam ser melhor compreendidos por seus leitores. Com o nosso Lúcio Brasileiro, o Paco, não é diferente. Seu repertório é rico. Como não tenho toda a sua obra, o que vai aqui anotado  foi colhido no “Assim falava Paco... Contos de um repórter opovoano”, com apresentação de Juarez Leitão,  orelhas de Fernanda Quinderé  e Tarcisio Tavares “in memoriam”.

Paco sentencia em seu registro “Exugando”: ”Leitores de minha coluna de O POVO perguntam porque ao invés de dizer “especialmente”, digo “especial”e “conterra” no lugar de “conterrâneo” e “sugesta” ao invés de “sugestão”, ora,  escrever é uma arte, e sou dotado de texto enxuto., e “veio especialmente de Brasília pro casamento” dá perfeitamente pra entender sem necessidade do “mente”, além do mais, detesto palavras grandes ou terminadas em ão,que o espanhol, por exemplo, não tem”.

Trabalhei por longo tempo com  quem considero o maior de todos os cronistas sociais, ou repórteres sociais, Ibrahim Sued. Não foi o pioneiro, pois Jacinto de Thormes veio antes, como outros  do mesmo calibre. Ibrahim atuava em equipe e sua coluna no Diário da Noite (começo), Diário de Notícias (período curto) e em O GLOBO constitui um repositório de registros históricos não apenas do mundanismo do passado mas dos protagonistas e atores de uma sociedade já emergente na sua época. Ibrahim usou e abusou de expressões e bordões que era sua forma ousada de buscar a empatia com seus leitores. Fez escola por seu estilo de fácil percepção, teve o seu reconhecimento por paraninfar  uma turma de Comunicação Social da Universidade de Brasília, escreveu livros e foi muito além do que certamente imaginava. Sem concessões, escreva-se.

Paco não saiu do Ceará, mas tem trajetória parecida, marcada por seu protagonismo na sociedade cearense, com ousadia, desenvoltura, responsabilidade e seriedade. Sem esses valores, não teria sobrevivido a meio século de presença na boca de cena do jornalismo cearense, como repórter bem informado,  educado, refinado ,cidadão do mundo, sabendo tudo de beleza, culinária, enologia, sociedade, política, economia.  Nesta linha contribuiu silenciosamente para a “revolução dos costumes” na sociedade cearense, atuando de fora para dentro, ditando padrões de civilização, forçando as mudanças e transformações que acompanhou na beira do gramado, seja no Ugarte, Torre do Iracema, Fortaleza, Paris, Nova Iorque e Rio de Janeiro...

Aqui vai um registro de gírias, ou quase gírias, neologismos, expressões, regionalismos, bordões que Paco utilizou no seu “Assim Falava Paco...”. Optei por relacionar por ordem alfabética, desobedecendo a ordem de entrada nas suas notas contidas no livro. No colunismo, a licença de estilo vai do título das notas ao que comporta a narrativa, para impactar, surpreender e informar.

Adjuntos adverbiais de tempo (uísque), ao pé da letra (fidelidade), arrufo (briga), arrufado (brigado), baixaria (mesquinharia), Bicho papão (terror), Big boss (líder), Bola na rede (algo bem feito), bom tom (educado), botafora (despedida), cabeça chata (cearense), cap (capitão de indústria), carta branca (autorização), champagnota (champagne), chegado (próximo), ciço (bobo), cocorotes (cascudos), comes e bebes (comidas e bebidas), comemores redondos (aniversários de40,50,60,70 anos),confreiros (colegas, companheiros),  conterra (conterrâneo) conversa fiada (conversa sem nexo), desmancha prazer (pessoa desagradavel), deu branco (esqueceu), devagar com o andor (calma), disse-me-disse (intriga),enxugar (beber), era uma uva (linda), escapei fedendo (livrei-me de uma situação difícil),  especial (especialmente), espritou (ficou com raiva), fazendo de conta (supondo), fim de festa (acabou), fio da meada (principio de alguma coisa), fofoca (intriga), it (charme), gabolar (gabar-se), gotoso (gostoso),  macaco velho (experiente), mão aberta (generoso), menino véi (menino), lança (lançamento), mão de vaca (sovina), marmota (algo inusitado),  metendo a colher (se intrometendo), mexerico (intrigas), miserê (miserável), moçada rosada (gay,homossexual), mostarda do que nunca (mais tarde do que nunca), mulherio (mulheres), na garapa (sem pagar, de graça), não entregar a rapadura (não se deixar vencer),  pagar pato(saldar dívida), paixonite (paixão extrema ou aguda), papo furado (conversa sem nexo), pastorando (fiscalizando, observando), pavio curto (explosivo), pebol (futebol), pelo fio (por telefone), penetra (pessoa que vai aos lugares sem ser convidado), perdendo o rebolado  (errando),pingo nos iis (esclarecer),  pintei o sete (fiz o que devia como queria), pisando no tomate (errando), presepada (armação, improvisação), pretensão e água benta (não fazem mal), qüiproquó (confusão), rabo de palha (nada desabonador),  restô (restaurante), sangue nas teclas (bom pianista), soçaite (sociedade), sugesta (sugestão),tapando buraco (agindo provisoriamente), tem dó (paciência), veterados (governos de Virgilio Távora, o VT), vida airada (vida alegre),volta por cima(vitória com desforra).

O maior escritor da língua portuguesa, Eça de Queiroz, usou do recurso gírio, de regionalismo, sem as vulgaridades recorrentes, para escrever seus melhores livros. O texto de Paco é ”enxuto”, direto, cristalino e às vezes irônico, como recurso de crítica social às grandezas e as fraquezas humanas.

(*) JB Serra e Gurgel (Acopiara), jornalista e escritor

(**) Artigo publicado na edição de agosto de 2012 do Jornal Ceará em Brasília

 
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