Jornal Mensal em idioma gírio – Edição 72 – Ano XI- Niterói/RJ –julho 2011


 

500mil

Esta é uma edição especial sobre um tema polêmico.

Uma questão que é o ápice da omissão dos que tinham, até aqui, o dever de defender a língua portuguesa.

Não é dever da Academia Brasileira de Letras faze-lo. Não tem mandato legal para isso.

A defesa da língua, patrimônio do povo brasileiro, cabe ao Estado e ao governo, através dos ministérios da Educação e da Cultura.

A língua é elemento constitutivo de um Estado.

Não há, lamentavelmente, um Tribunal de Haia para julgar e punir os trogloditas que fazem o que o ministro da Educação fez contra a língua.Um crime hediondo, com requintes de barbarismos, solecismos e vícios de linguagem.

Membro graduado do grupo de analfabetos funcionais que dirige o país, impunemente investiu milhões em ONG suspeita, para fazer a cartilha ensinando o brasileiro a falar errado, como falava o ex-presidente Lula, crente que estava abafando, orgulhoso de ter chegado aonde chegou, sem ter estudado ou lido um livro!

Como autor de um Dicionário de Gíria, a linguagem falada do povo brasileiro, registrando sua evolução social, tenho creditado a expansão da fronteira gíria , a 9ª. edição tem 35.500 gírias, ao baixo nível da educação no país, especialmente no ensino da língua, a ausência de qualquer respeito de qualquer autoridade pela linguagem padrão.

Limito-me aqui a reavivar os registros sobre o fato, certo que seus autores ficarão impunes .

Querem assassinar a Língua Portuguesa. A turma "vão" permitir isso?

Publicado: 22-05-2011 | Autor: Eliomar de Lima | Categoria(s): Blogs O POVO

Eis um dos destaques da revista Isto É desta semana:

Querem assassinar a Língua Portuguesa? Confira:

Imagine a seguinte cena: na sala de aula, o adolescente levanta o braço para perguntar à professora se ele pode falar "nós pega o peixe". Ato contínuo, a mestre pede ao jovem para consultar o livro "Por uma Vida Melhor" e dar uma olhada na página 16. Sedento por conhecimento, o aluno acompanha com olhos curiosos enquanto a docente lê o trecho proposto. O garoto, enfim, sacia a dúvida: sim, ele pode falar "nós pega o peixe". Está escrito ali, claro como a soma de dois mais dois em uma cartilha de matemática. Com nuances diferentes, a situação descrita acima provavelmente vai se repetir em milhares de escolas públicas de todo o País. Não é difícil calcular os efeitos nefastos no futuro dos 485 mil estudantes do ensino fundamental que devem receber a obra distribuída pelo Ministério da Educação por meio do Programa Nacional do Livro Didático. De autoria da professora Heloísa Campos e outros dois educadores, "Por uma Vida Melhor" defende a ideia de que erros gramaticais são aceitáveis na língua falada. Para Heloísa, frases como "os livro ilustrado mais interessante estão emprestado" (tal pérola aparece em destaque no material) não podem ser condenadas se forem expressas verbalmente. Mesmo que em uma sala de aula.

MALTRATARAM A GRAMÁTICA: na lógica do livro que tem o aval do MEC, a frase "os menino pega o peixe" é aceitável

Autora desconhecida, sem grandes feitos na área da educação, Heloísa se viu no centro de uma polêmica que envolveu escritores, linguistas e professores. Por mais que alguma voz aqui e ali tenha defendido os argumentos de Heloísa, além dos eternos demagogos de plantão, a maioria esmagadora condenou seus métodos de ensino.

Uma das mais importantes escritoras brasileiras, Nélida Piñon tem autoridade – como poucos, a propósito – para falar sobre a língua portuguesa. Eis seu veredicto: "O livro confirma a tese de que esteve sempre em curso no Brasil o projeto de manter uma legião de brasileiros como cidadãos de segunda classe", diz a autora de "Vozes no Deserto". Escritor que conseguiu a rara combinação de fazer sucesso junto ao público e, ao mesmo tempo, conquistar a crítica, Fernando Morais está indignado. "Esse livro é uma barbaridade", diz o biógrafo do jornalista Assis Chateaubriand. "Trata-se de um desastre, o oposto do que é pregado por uma pessoa minimamente civilizada." Linguista com décadas de serviços prestados à educação brasileira e ex-professor da Unifesp, Francisco da Silva Borba amplia a discussão. "O aluno tem que ser ensinado", afirma. "Se ele tolerar infração às regras, então para que serve a escola?"

Sob diversos aspectos, "Por uma Vida Melhor" tem potencial para piorar a existência de meio milhão de brasileiros. Se realmente for levado a sério pelas escolas públicas, a obra vai condenar esses jovens a uma escuridão cultural sem precedente. Ao dificultar o aprendizado da norma correta, os professores da ignorância terão criado uma espécie de "apartheid linguístico", para usar uma expressão do ex-ministro da Educação Cristovam Buarque. De um lado, os ricos e bem instruídos. De outro, os jovens reféns da falta de conhecimento gramatical. Se é evidente que o livro assassina a língua portuguesa, na medida em que diz que o aluno pode, na fala, escolher usar a concordância ou não, por que diabos ele teve o aval do MEC? Procurado, Fernando Haddad, o atual ministro da pasta, não quis se pronunciar (leia quadro). A autora Heloísa Campos pelo menos não se furtou ao dever de defender sua obra. "Falar ‘os livro’ do ponto de vista da linguagem popular não é um erro", diz a professora. "A nossa abordagem é de acolher a fala que o aluno traz da sua comunidade. A cultura dele é tão válida quanto qualquer outra."

Embora não faça referências diretas, Heloísa repete as máximas do livro "Preconceito Linguístico", do professor e escritor Marcos Bagno, que faz certo sucesso entre educadores modernos por colocar questões políticas e ideológicas na discussão. Bagno afirma que a linguagem reproduz desigualdades sociais – como se isso fosse uma descoberta assombrosa. É claro que sim. A questão não é essa. Em vez de manter o jovem que não domina a língua imerso na triste ignorância – a pretexto de preservar suas raízes culturais –, por que não retirá-lo de lá? Falar corretamente não é o primeiro passo para, no avanço seguinte, escrever melhor? Escrever melhor não representa uma oportunidade de crescimento pessoal e profissional? Tente conseguir um emprego falando "nós vai" e você certamente terá suas chances reduzidas a zero. É simples assim.

Pode ser bonito, pode ser simpático, pode ser ousado defender o direito de as pessoas cometerem barbaridades gramaticais, mas na vida prática isso é uma tragédia. É claro que todos nós cometemos erros ao falar – intencionais ou não –, como é óbvio que, em certos ambientes, se expressar como um decano da linguística pode soar arrogante e desnecessário. Mas, na vida real, falar minimamente direito só traz vantagens e são justamente essas vantagens que autores como Heloísa Campos desprezam. "Uma coisa é compreender a evolução da língua, que é um organismo vivo, a outra é validar erros grosseiros", diz Marcos Vilaça, presidente da Academia Brasileira de Letras. "É como ensinar tabuada errada. Quatro vezes três é sempre 12, na periferia ou no palácio." Mesmo para aqueles que, em tese, defendem a abordagem de Heloísa, o livro é visto como uma obra menor. "Não há nenhuma novidade no que o livro diz", afirma o professor de português Pasquale Cipro Neto. "Ele tem uma ou outra passagem meio ingênua, pueril, mas no todo cumpre o seu papel."

Para um país que nos últimos anos vem registrando índices de crescimento assombrosos e tem a ambição de reduzir o abismo da desigualdade social, a educação é talvez a arma mais poderosa que existe. Nesse campo, conforme estudos internacionais demonstram, o Brasil está encalhado na rabeira global. Aqui pouco se lê, pouco se estuda, pouco valor se dá ao conhecimento. Não é hora de mudar? A língua, como já observaram pesquisadores importantes, é um elemento que traduz a identidade nacional. É um instrumento de unificação – e não de segregação entre os que sabem e os que não merecem saber. Ela é, acima de tudo, um princípio de cidadania. Diante da onda de protestos provocada pela notícia da distribuição de "Por uma Vida Melhor", é possível que o livro encontre alguma resistência entre os professores. Na semana passada, a procuradora da República Janice Ascari, do Ministério Público Federal, afirmou que a Justiça provavelmente receberá uma avalanche de ações contra a publicação. Ela própria foi incisiva em seu blog. "Vocês estão desperdiçando dinheiro público com material que emburrece em vez de instruir", escreveu Janice. "Essa conduta é inadmissível." Se as ações vingarem, os jovens terão a chance de dizer, alto e bom som: "Nós pegamos o peixe."

As trapalhadas de Haddad

A polêmica sobre os livros didáticos distribuídos pelo MEC não foi a única a atormentar o ministro Fernando Haddad nos últimos tempos. O episódio da fraude no Enem em 2009, quando foram roubadas provas dentro da gráfica responsável pela confecção dos testes, foi mais uma de suas trapalhadas. No ano seguinte, constatou-se erro na impressão das provas – e de novo a responsabilidade recaiu sobre o Ministério da Educação. À época, os exames correram sério risco de serem cancelados, o que acabou não acontecendo. Os equívocos não param por aí. Neste ano, surgiu a denúncia de fraudes no Prouni, com estudantes beneficiados pelo programa, mas que não se enquadravam nos limites de renda. Ao mesmo tempo, veio à tona o episódio da sobra de vagas, principalmente no caso de bolsas parciais e no programa de educação a distância, o que demonstraria uma falha administrativa. Para aumentar o desgaste de Haddad, entidades internacionais de fomento não cansam de advertir que o grande gargalo ao desenvolvimento do Brasil continua a ser o baixo nível da educação.

Categoria(s): Blogs O POVO por Eliomar de Lima - Jornal O POVO - Fortaleza Ce

Educação

Haddad defende livro, mas Enem exige norma culta

Publicada em 18/05/2011 às 10h39m

Demétrio Weber, Adauri Antunes Barbosa e Rodrigo Gomes, Globo

BRASÍLIA, SÃO PAULO e RIO - Apesar de o ministro da Educação, Fernando Haddad, ter saído nesta terça-feira em defesa do livro didático da Coleção "Viver, Aprender" que diz que é correto falar com erros de concordância, dependendo do contexto, o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) exige o domínio da norma culta da língua portuguesa e não admite a norma popular.

A mesma orientação fez o coordenador do vestibular da UFRJ, Luiz Otávio Langlois.

- A universidade não vai mudar seus parâmetros do vestibular em cima de um livro. Na prova continuará valendo a norma culta da língua portuguesa - disse.

Em entrevista à CBN, Haddad defendeu o sistema de avaliação de livros didáticos do governo federal e disse que recolher os exemplares da obra "Por uma vida melhor" (Editora Global) seria o equivalente a praticar censura. O livro foi distribuído a turmas de ensino fundamental de jovens e adultos, este ano, pelo Ministério da Educação.

Para o ministro, o livro toma a norma popular da língua como ponto de partida para ensinar a norma culta. O livro diz num trecho: "Você pode estar se perguntando: 'Mas eu posso falar os livro?' Claro que pode. Mas fique atento porque, dependendo da situação, você corre o risco de ser vítima de preconceito linguístico". Haddad enfatizou ainda que o compromisso da escola é com a norma culta.

O linguista Marcos Bagno, professor da Universidade de Brasília (UnB), contestou nesta terça-feira a opinião da procuradora Janice Ascari, do Ministério Público Federal em São Paulo que acusou os responsáveis pela edição do livro de estarem cometendo um crime contra a educação.

- A procuradora falou de modo leviano, sem conhecimento de causa, inspirada somente no que ouviu dizer. Fez um escândalo sobre o que não existe. Ninguém está propondo 'ensinar a falar errado', mas simplesmente a reconhecer a realidade linguística multifacetada, heterogênea - criticou Bagno, autor de vários livros sobre o tema.

Segundo o professor da UnB, a procuradora não sabe que há mais de 15 anos o ensino do português no Brasil diferencia a língua falada da escrita para que o aluno passe a perceber e a apreender a linguagem culta.

No Rio, o defensor público federal André Ordacgy, disse que a postura do MEC abre precedentes para que o estudante que se sentir prejudicado no vestibular ou no Enem, por usar a linguagem popular na prova, possa entrar na Justiça com uma ação de danos morais.

- O estudante aprende na escola que as duas formas (culta e coloquial) da língua portuguesa estão corretas. O MEC não pode chegar na prova do Enem, por exemplo, e tirar ponto de quem escrever na linguagem popular. O fato dá margem a pedidos de revisão ou até ação na Justiça por conta de erros como o uso de linguagem oral - justificou.

Ordacgy afirmou que nesta quarta-feira vai oficiar o MEC pedindo esclarecimento sobre a adoção de um livro com erros.

Para o estudante do ensino médio e candidato ao vestibular da Uerj Mateus Alves, de 18 anos, o livro deve ser tirado de circulação porque é um insulto ao bom português:

- Tem que ser ensinada a norma culta e não a linguagem popular. O português, na gramática e na forma oral, tem que ser um só. Na vida, no trabalho, é feio falar a forma coloquial.


Linguagem popular?

Para presidente da ABL, livro adotado pelo MEC valida erros grosseiros

Publicada em 16/05/2011 às 23h31m

Dandara Tinoco, o Globo

RIO - O presidente da Academia Brasileira de Letras (ABL), Marcos Vilaça, criticou nesta segunda-feira a adoção, pelo Ministério da Educação, do livro "Por uma vida melhor", que aceita o uso da linguagem popular com erros como "nós pega o peixe".

" Discordo completamente do entendimento que os professores que fizeram esse trabalho têm "

- Discordo completamente do entendimento que os professores que fizeram esse trabalho têm. Uma coisa é compreender a evolução da língua, que é um organismo vivo, a outra e validar erros grosseiros. É uma atitude de concessão demagógica. É como ensinar tabuada errada. Quatro vezes três é sempre 12, na periferia ou no palácio - afirmou.

Vilaça foi enfático ainda ao comentar a declaração de um auxiliar do ministro Fernando Haddad, que nesta segunda-feira afirmou que o MEC não é o "Ministério da Verdade":

- Na língua, deveria ser (ministério) da verdade, sim.

No início da noite desta segunda-feira, a Academia divulgou uma nota oficial em que diz discordar da posição do ministério e que estranha "certas posições teóricas dos autores de livros".

Segundo a ABL, embora todas "as feições sociais" da Língua Portuguesa constituam objeto de análise para disciplinas científicas, o professor espera que os livros respaldem o uso da língua padrão, "variedade que eles (os alunos) deverão conhecer e praticar no exercício da efetiva ascensão social que a escola lhes proporciona".

"O cultivo da Língua Portuguesa é preocupação central e histórica da Academia Brasileira de Letras e é com esta motivação que a Casa de Machado de Assis vem estranhar certas posições teóricas dos autores de livros que chegam às mãos de alunos dos cursos fundamental e médio com a chancela do Ministério da Educação, órgão que se vem empenhando em melhorar o nível do ensino escolar no Brasil", diz a nota da ABL, que completa:

"Todas as feições sociais do nosso idioma constituem objeto de disciplinas científicas, mas bem diferente é a tarefa do professor de Língua Portuguesa, que espera encontrar no livro didático o respaldo dos usos da língua padrão que ministra a seus discípulos, variedade que eles deverão conhecer e praticar no exercício da efetiva ascensão social que a escola lhes proporciona. A posição teórica dos autores do livro didático que vem merecendo a justa crítica de professores e de todos os interessados no cultivo da língua padrão segue caminho diferente do que se aprender nos bons cursos de Teoria da Linguagem. O nosso primeiro e grande linguista brasileiro, Mattoso Câmara Jr., nos orienta para o bom caminho nesta lição já de tantos anos, mas ainda oportuna, a respeito da qual devem refletir os autores de obras didáticas sobre a língua materna: 'Assim, a gramática normativa tem o seu lugar no ensino, e não se anula diante da gramática descritiva. Mas é um lugar à parte, imposto por injunções de ordem prática dentro da sociedade. É um erro profundamente perturbador misturar as duas disciplinas e, pior ainda, fazer linguística sincrônica com preocupações normativas' (Estrutura da Língua Portuguesa, 5). O manual que o Ministério levou às nossas escolas não o ajudará no empenho pela melhoria a que o ministro tão justamente aspira".


Arte de escrever sem saber

Alunos copistas são a nova face do analfabetismo funcional, que chega a atingir um terço da população brasileira

Publicada em 16/05/2011 às 09h56m

Alessandra Duarte e Efrém Ribeiro

RIO e TERESINA - Foi no 4º ano do fundamental que Vanderson Washington da Silva aprendeu a ler e a escrever. Até ali, o jovem morador de Duque de Caxias, Baixada Fluminense, era um aluno copista: só copiava no caderno o que via no quadro - letras que, para ele, foram por muito tempo desenhos sem significado. O problema dos alunos copistas é um exemplo recente do analfabetismo funcional, que no país atinge um terço da população. Dos que aprenderam a ler e escrever mais tarde, entre 9 e 14 anos - característica do copista -, só 13% se tornaram plenamente alfabetizados, apontam dados inéditos calculados pelo Instituto Paulo Montenegro a pedido do GLOBO, sobre jovens de 15 a 24 anos das nove principais regiões metropolitanas do país.

Se a definição mais conhecida de analfabeto funcional é quem lê mas não interpreta um texto, com o copista é pior: como só copia, não sabe que o "a" que escreveu, por exemplo, é um "a".

" A professora passava no quadro, eu copiava, copiava, mas não entendia nada, não "

- São crianças que não se apropriam do significado das palavras. Mas vão galgando as séries porque, como copiam, conseguem cumprir algumas tarefas em sala - diz Marilene Proença, professora da USP e integrante da Associação Brasileira de Psicologia Escolar e Educacional.

Mostrando como o estudo sobre o copista é relativamente recente, é de 2007 uma das primeiras pesquisas sobre o tema, uma dissertação de Giuliana Temple na USP, orientada por Marilene Proença, com copistas da rede estadual paulista. O GLOBO teve contato com o problema dos copistas meses atrás, em reportagem sobre outro tema em Saracuruna, ao conversar com Marilene Silva, professora que coordena uma creche comunitária na área, a Santa Terezinha. Além de creche, ela oferece reforço gratuito a alunos da região. Foi lá que Vanderson se alfabetizou.

- No colégio, a professora passava no quadro, eu copiava, copiava, mas não entendia nada, não - diz o menino, que sonha ser "dono de empresa".

"Chegam aqui sem conhecer o alfabeto"

Também recebem apoio na Santa Terezinha os irmãos Keteley e Erick do Nascimento, na mesma sala de reforço de Jéssica da Silva e Douglas Ribeiro. Estudam na região, no Ciep 318 e na Escola Municipal Marcílio Dias.

- Na escola, estão em anos que seriam as antigas 1ª, 2ª, 3ª e 4ª séries. Chegam aqui sem conhecer o alfabeto. Às vezes, nem números - diz a aluna do ensino médio Cristiane Mattos, que, dando aula na Santa Terezinha, é a alfabetizadora das crianças.

No Piauí, Weldey Frankin, 14 anos, está matriculado no 3º ano do fundamental em Chapadinha Sul, zona rural de Teresina. Mas não sabe ler. Mudo, não passou por escola especial. Segundo a irmã, Amanda, "é ótimo desenhista". Desenha as letras dos livros. "Na hora de ele responder os exercícios, aponto as respostas no livro e ele copia", diz a irmã.

- Já peguei um caderno de um aluno da 7ª série, de um colégio municipal de Porto Alegre, com tudo copiado corretamente. E ele não sabia ler. Era um artista! - conta Esther Grossi, ex-secretária de Educação de Porto Alegre e ex-deputada, presidente do Grupo de Estudos sobre Educação, Metodologia de Pesquisa e Ação (Geempa), que atua com correção de fluxo escolar.

- O aluno copista é forte candidato a ser um analfabeto funcional ao longo da vida - diz Ana Lúcia Lima, diretora-executiva do Instituto Paulo Montenegro, que desde 2001 calcula o Indicador de Alfabetismo Funcional (Inaf). - Ele tem grande risco de se tornar o chamado alfabetizado rudimentar: reconhece algumas palavras, escreve um bilhete, dá um troco, e pronto.

Dois dos principais motivos apontados para o analfabetismo funcional são alfabetização tardia e baixa escolaridade dos pais. Segundo dados inéditos do Instituto Paulo Montenegro, sobre jovens das Regiões Metropolitanas, entre os alfabetizados plenos, 90% aprenderam a ler até os 8 anos. Quando o pai ou a mãe tem o fundamental, cerca de 69% dos filhos são analfabetos funcionais ou alfabetizados em nível básico. Mas, quando o pai ou a mãe tem nível superior, até 75% são alfabetizados plenos.

O peso da educação dos pais na dos filhos é mostrado ainda por dados do Pnud sobre jovens na América Latina. Quando os pais têm nível secundário, os filhos têm 5,4% de chance de chegar à universidade; já quando os pais têm nível universitário, os filhos têm 71,6% de chance de ir à faculdade. O pai de Vanderson, Jorge Salindo, estudou até a antiga 5 série; teve de ir "trabalhar em obra para ajudar em casa".

No caso do copista, haveria mais um motivo: um sistema de ciclos ou progressão continuada malfeito. Aí, o aluno, mesmo só copiando, avança nas séries sem repetir. São em escolas com ciclo - prática que se intensificou no país a partir dos anos 1990 - que estudavam os copistas do estudo da USP e os que precisam do reforço da Santa Terezinha. Marilene Proença diz que o ciclo "é política cara", que requer ações como reforço e contraturno. Para Esther Grossi, o copista "é um fenômeno dos ciclos".

A Secretaria estadual de Educação de São Paulo informou que oferece "o Projeto Intensivo de Ciclo, que possibilita recuperação da aprendizagem de leitura e escrita por turmas especiais". Secretária de Educação de Duque de Caxias, Roseli Duarte diz que a rede tem um programa de apoio com contraturnos.

- Não podemos aceitar a existência de alunos copistas. Mas os ciclos são uma resposta à repetência, que, além de levar à evasão, nos anos iniciais causa a distorção idade-série - diz a secretária de Educação Básica do Ministério da Educação, Maria do Pilar. - Temos de pensar é em ações como educação integral, que já há em 15 mil escolas, e em qualificar os professores de alfabetização, com projetos como o Pró-Letramento, que já atingiu 300 mil professores.

Educação

Haddad defende livro, mas Enem exige norma culta

Publicada em 17/05/2011 às 23h23m

Demétrio Weber, Adauri Antunes Barbosa e Rodrigo Gomes

BRASÍLIA, SÃO PAULO e RIO - Apesar de o ministro da Educação, Fernando Haddad, ter saído nesta terça-feira em defesa do livro didático da Coleção "Viver, Aprender" que diz que é correto falar com erros de concordância, dependendo do contexto, o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) exige o domínio da norma culta da língua portuguesa e não admite a norma popular.

A mesma orientação fez o coordenador do vestibular da UFRJ, Luiz Otávio Langlois.

- A universidade não vai mudar seus parâmetros do vestibular em cima de um livro. Na prova continuará valendo a norma culta da língua portuguesa - disse.

Em entrevista à CBN, Haddad defendeu o sistema de avaliação de livros didáticos do governo federal e disse que recolher os exemplares da obra "Por uma vida melhor" (Editora Global) seria o equivalente a praticar censura. O livro foi distribuído a turmas de ensino fundamental de jovens e adultos, este ano, pelo Ministério da Educação.

Para o ministro, o livro toma a norma popular da língua como ponto de partida para ensinar a norma culta. O livro diz num trecho: "Você pode estar se perguntando: 'Mas eu posso falar os livro?' Claro que pode. Mas fique atento porque, dependendo da situação, você corre o risco de ser vítima de preconceito linguístico". Haddad enfatizou ainda que o compromisso da escola é com a norma culta.

O linguista Marcos Bagno, professor da Universidade de Brasília (UnB), contestou nesta terça-feira a opinião da procuradora Janice Ascari, do Ministério Público Federal em São Paulo que acusou os responsáveis pela edição do livro de estarem cometendo um crime contra a educação.

- A procuradora falou de modo leviano, sem conhecimento de causa, inspirada somente no que ouviu dizer. Fez um escândalo sobre o que não existe. Ninguém está propondo 'ensinar a falar errado', mas simplesmente a reconhecer a realidade linguística multifacetada, heterogênea - criticou Bagno, autor de vários livros sobre o tema.

Segundo o professor da UnB, a procuradora não sabe que há mais de 15 anos o ensino do português no Brasil diferencia a língua falada da escrita para que o aluno passe a perceber e a apreender a linguagem culta.

No Rio, o defensor público federal André Ordacgy, disse que a postura do MEC abre precedentes para que o estudante que se sentir prejudicado no vestibular ou no Enem, por usar a linguagem popular na prova, possa entrar na Justiça com uma ação de danos morais.

- O estudante aprende na escola que as duas formas (culta e coloquial) da língua portuguesa estão corretas. O MEC não pode chegar na prova do Enem, por exemplo, e tirar ponto de quem escrever na linguagem popular. O fato dá margem a pedidos de revisão ou até ação na Justiça por conta de erros como o uso de linguagem oral - justificou.

Ordacgy afirmou que nesta quarta-feira vai oficiar o MEC pedindo esclarecimento sobre a adoção de um livro com erros.

Para o estudante do ensino médio e candidato ao vestibular da Uerj Mateus Alves, de 18 anos, o livro deve ser tirado de circulação porque é um insulto ao bom português:

- Tem que ser ensinada a norma culta e não a linguagem popular. O português, na gramática e na forma oral, tem que ser um só. Na vida, no trabalho, é feio falar a forma coloquial.


Haddad falta a audiência do Senado sobre livros didáticos e líder do PSDB pede recolhimento de obras com erros

Plantão | Publicada em 17/05/2011 às 15h22m

Demétrio Weber

BRASÍLIA - O ministro da Educação, Fernando Haddad, não compareceu nesta terça-feira (17) a audiência pública da Comissão de Educação do Senado que tratou da qualidade dos livros didáticos. A audiência havia sido convocada para discutir sobre livros de história do Brasil acusados de fazer críticas ao governo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e elogios ao de Luiz Inácio Lula da Silva. Mas os senadores acabaram falando também sobre a obra didática de língua portuguesa "Por uma Vida Melhor", da Coleção Viver, Aprender (Editora Global), distribuída pelo Ministério da Educação a escolas públicas e que considera correto, em certos contextos, o uso de linguagem oral com erros de concordância.

O líder do PSDB no Senado, senador Álvado Dias (PR), defendeu o recolhimento dos livros didáticos. Ele vai propor à bancada tucana no Senado que envie representação à Procuradoria-Geral da República, pedindo ao Ministério Público que acione a Justiça. O objetivo é evitar que os alunos da rede pública estudem com base nessas obras.

- Acho que caberia a governadores e prefeitos devolverem esses livros, já que eles deformam a gramática e transformam um livro didático em panfleto eleitoral - disse Dias, que criticou a ausência de Haddad. - O ministério está sendo acusado de se transformar em comitê eleitoral, com livro didático com proselitismo político e erros gramaticais grosseiros que transformam a ortografia em pornografia grama tical, e o ministro não comparece. Acho que é uma irresponsabilidade.

A assessoria de Imprensa do MEC divulgou que Haddad não compareceu por problemas de agenda.

O presidente da Comissão de Educação, senador Roberto Requião, não aceitou que Haddad fosse substituído por representantes do MEC, entre eles o presidente do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), Daniel Balaban, responsável pela compra e distribuição dos livros didáticos. A comissão renovou o convite a Haddad, na expectativa de que o ministro compareça na semana que vem para falar tanto das coleções de história quanto da de língua portuguesa.

- O ministro pode aceitar ou não o convite. Mas não pode mandar representantes. Isso não tem cabimento - disse Requião.

O senador e ex-ministro da Educação Cristovam Buarque (PDT-DF) criticou o livro "Por uma Vida Melhor", destinado a alunos de educação de jovens e adultos (antigo supletivo ) e distribuído a 4.236 escolas do país.

- Não pode haver duas formas de falar português que sejam oficiais. Nós temos que ensinar as pessoas a falarem o português certo. E não dizer: "Não temos preconceito contra quem fala errado e pode continuar falando errado." Sabe por quê? Porque, quando esse que fala errado fizer o concurso, não vai passar. Vai ser reprovado - disse Cristovam.

O ex-ministro, no entanto, não se posicionou sobre o eventual recolhimento dos livros didáticos.

- Não sei qual é a solução - disse Cristovam.

O presidente da Abrelivros (Associação Brasileira de Editores de Livros Escolares), Jorge Yunes, era o outro convidado para a audiência pública. Ele defendeu tanto a isenção dos livros de história quanto a adequação da obra de língua portuguesa, desde que devidamente contextualizada.

- Se você deixa fora de contexto, realmente fica errado, fica esquisito. Mas o importante é contextualizar. Ninguém está dizendo para ensinar errado ou falar errado. No livro, está contextualizado - afirmou Yunes sobre o volume da Coleção Aprender, Viver.

Em relação aos livros de história do Brasil, ele declarou:

- Acho que a Casa conseguiu entender que não existe nenhum privilégio entre um e outro governante - disse Yunes.


Um crime contra nossos jovens

Procuradora da República prevê ações contra uso de livro com erros pelo MEC; autora se defende

Publicada em 16/05/2011 às 23h32m

Adauri Antunes Barbosa e Demétrio Weber

SÃO PAULO e BRASÍLIA - Diante da denúncia de que o livro "Por uma vida melhor", da professora Heloísa Ramos - que foi distribuído a 485 mil estudantes jovens e adultos pelo Programa Nacional do Livro Didático, do Ministério da Educação -, defende o uso da linguagem popular e admite erros gramaticais grosseiros como "nós pega o peixe", a procuradora da República Janice Ascari, do Ministério Público Federal, previu que haverá ações na Justiça. Para ela, os responsáveis pela edição e pela distribuição do livro "estão cometendo um crime" contra a educação brasileira.

" Vocês estão cometendo um crime contra os nossos jovens, prestando um desserviço à educação "

- Vocês estão cometendo um crime contra os nossos jovens, prestando um desserviço à educação já deficientíssima do país e desperdiçando dinheiro público com material que emburrece em vez de instruir. Essa conduta não cidadã é inadmissível, inconcebível e, certamente, sofrerá ações do Ministério Público - protestou a procuradora da República em seu blog.

No domingo, o livro já tinha sido duramente criticado por educadores e escritores. O MEC confirmou que não pretende retirar a publicação das escolas, alegando que não tem ingerência sobre o conteúdo das obras. Afirmando que se manifestava como mãe e sem analisar o aspecto jurídico da questão, Janice disse que ficou chocada com as notícias sobre o livro com erros aprovado e distribuído pelo MEC. Os autores defendem que essa linguagem coloquial não poderia ser classificada de certa ou errada, mas de adequada ou inadequada.

- Ainda não estou refeita do choque sofrido com as notícias sobre o conteúdo do livro aprovado pelo MEC, no qual consta autorização expressa para que os alunos falem "Nós pega o peixe", "Os livro mais interessante estão emprestado" e por aí vai. Não, MEC e autores do livro, definitivamente isso não é certo e nem adequado - disse Janice Ascari.

Para MEC, debate é nas universidades

O MEC confirmou nesta segunda-feira que não cogita alterar o processo de seleção e avaliação de livros didáticos. As obras são lidas por professores de universidades públicas, a quem cabe selecionar os títulos que farão parte do catálogo nacional de livros. É com base nesse catálogo que escolas de todo o país escolhem as coleções que receberão gratuitamente, distribuídas pelo Programa Nacional do Livro Didático.

O MEC diz que o debate sobre a adequação ou não de uma obra didática deve ocorrer nas universidades, como é no sistema atual, e não dentro do ministério. Do contrário, segundo o MEC, haveria o risco de direcionamento político na escolha das obras a serem aprovadas para uso em sala de aula.

A professora Heloísa Ramos, autora do livro, discorda de que seja preciso modificar qualquer trecho. Ela argumenta que a frase discutida em seu livro trata de linguagem oral, e não escrita. E que a norma popular da língua é diferente da norma culta, mas não necessariamente errada, no caso da linguagem oral.

- Eu não admito mais que alguém escreva que o nosso livro ensina a falar errado ou que não se dedica a ensinar a norma culta - disse Heloísa. - Por que, em educação, todo mundo acha que conhece os assuntos e pode falar com propriedade? Este assunto é complexo, é para especialistas.

Professora aposentada de língua portuguesa da rede estadual de São Paulo, Heloísa presta serviços de consultoria e escreve uma coluna na revista "Nova Escola", dedicada a tirar dúvidas de professores. Segundo ela, o livro "Por uma vida melhor" é pioneiro ao destacar a importância da norma popular da língua, o que considera um avanço, no sentido de não menosprezar a fala da população menos instruída.


Polêmica

Responsável por livro com erros admite mudar texto

Publicada em 16/05/2011 às 23h32m

O Globo

BRASÍLIA e SÃO PAULO - Responsável pela produção do livro didático "Por uma vida melhor", da Editora Global, a ONG Ação Educativa admite que poderá mudar o texto, numa eventual nova edição. É o que disse nesta segunda-feira a coordenadora-geral da ONG, Vera Masagão. Ela classificou como infeliz a frase que considera correto, em certos contextos, falar com erros de concordância:

- Não acho que seja necessário recolher os livros, de forma nenhuma. Eventualmente, numa próxima vez, a gente pode colocar uma frase que não gere mal-entendidos. Concordo que a frase é infeliz, ainda mais destacada do contexto.

"Você pode estar se perguntando: 'Mas eu posso falar os livro?'. Claro que pode. Mas fique atento porque, dependendo da situação, você corre o risco de ser vítima de preconceito linguístico", diz a frase criticada por ela.

Para Vera, a leitura integral do capítulo deixa claro que o foco é o ensino da norma culta da língua. O capítulo se chama "Escrever é diferente de falar". O professor Marcos Bagno, da Universidade de Brasília (UnB), disse que não há motivo para polêmica, porque já faz mais de 15 anos que os livros didáticos de língua portuguesa aprovados pelo MEC abordam o tema da variação linguística:

- Não é coisa de petista. Já no governo Fernando Henrique, sob a gestão do ministro Paulo Renato, os livros didáticos de português avaliados pelo MEC começavam a abordar os fenômenos da variação linguística, o caráter inevitavelmente heterogêneo de qualquer língua viva falada no mundo transforma qualquer idioma usado por uma comunidade humana.


MEC distribui livro que aceita erros de português

Plantão | Publicada em 14/05/2011 às 09h28m

O Globo

BRASÍLIA - O Programa Nacional do Livro Didático, do Ministério da Educação (MEC), distribuiu a cerca de 485 mil estudantes jovens e adultos do ensino fundamental e médio uma publicação que faz uma defesa do uso da língua popular, ainda que com incorreções. Para os autores do livro, deve ser alterado o conceito de se falar certo ou errado para o que é adequado ou inadequado. Exemplo: "Posso falar 'os livro'?' Claro que pode, mas dependendo da situação, a pessoa pode ser vítima de preconceito linguístico" - diz um dos trechos da obra "Por uma vida melhor", da coleção "Viver, aprender".

Outras frases citadas e consideradas válidas são "nós pega o peixe" e "os menino pega o peixe". Uma das autoras do livro, Heloisa Ramos afirmou, em entrevista ao "Jornal Nacional", da Rede Globo, que não se aprende a língua portuguesa decorando regras ou procurando palavras corretas em dicionários.

- O ensino que a gente defende é um ensino bastante plural, com diferentes gêneros textuais, com diferentes práticas de comunicação para que a desenvoltura linguística aconteça - disse Heloisa Ramos.

Em nota encaminhada ao "Jornal Nacional", o Ministério da Educação informou que a norma culta da língua será sempre a exigida nas provas e avaliações, mas que o livro estimula a formação de cidadãos que usem a língua com flexibilidade. O propósito também, segundo o MEC, é discutir o mito de que há apenas uma forma de se falar corretamente. Ainda segundo o ministério, a escrita deve ser o espelho da fala.

Livro com erros

Imortal da ABL também critica a cartilha

Publicada em 16/05/2011 às 09h43m

O Globo

RIO - A escritora Ana Maria Machado, imortal da Academia Brasileira de Letras (ABL), foi outra a desaprovar o livro:

- Custo a crer que seja exatamente isso que a notícia traz, descontextualizado. Se for, é um absurdo total. Equivale a pretender aceitar que dois mais dois possam ser cinco, com a "boa intenção" de derrubar preconceitos aritméticos. Para evitar a noção de "errado", prefere-se, então, esse paternalismo condescendente de não corrigir.

Para ela, pode haver "malabarismos linguísticos", mas dentro de um contexto:

- Com isso, consolida-se outro conceito, o de "coitadinho", tão pernicioso e tão prejudicial ao pleno desenvolvimento dos cidadãos. É claro que qualquer um pode cometer todos os barbarismos linguísticos que quiser, mas deve saber que eles só se sustentam dentro de um contexto (um autor que reproduza a fala popular, por exemplo) e têm um preço social.

" É um absurdo. O ensino já está tão ruim. Trata-se de um incentivo ao desvio da norma "

Ela ressalta, porém, que a escola deve ajudar o cidadão a ser poliglota da própria língua:

- A escola deve ajudar o cidadão a se tornar um poliglota em sua própria língua, capacitando-o a utilizar registros diversos de linguagem em circunstâncias diferentes.

O professor Sérgio Nogueira também não concorda com o tratamento adotado nos livros distribuídos pelo MEC:

- É um absurdo. O ensino já está tão ruim. Trata-se de um incentivo ao desvio da norma. Acham que o aluno é incapaz de aprender concordância. Existem variantes na nossa língua. Só que todos terem de aceitar é uma outra história.

Segundo o ministério, a escolha dos livros didáticos não passa pelo crivo dos gestores públicos. A indicação é feita por universidades a partir de ofertas das editoras em licitações públicas. As universidades fazem a seleção com base na análise de livros sem capa e sem identificação de origem. Com a indicação, os livros vão para o catálogo do ministério. Mas o livro só é comprado e distribuído se algum professor se interessar pelo texto e fizer o pedido ao Programa Nacional do Livro Didático.

SEGUNDO A NORMA CULTA

Cartilha distribuída pelo MEC defende erro de concordância

15/05/2011 às 07:32h

Segundo o MEC, o livro está em acordo com os PCNs (Parâmetros Curriculares Nacionais)

Um livro didático para jovens e adultos distribuído pelo MEC a 4.236 escolas do país reacendeu a discussão sobre como registrar as diferenças entre o discurso oral e o escrito sem resvalar em preconceito, mas ensinando a norma culta da língua.

Um capítulo do livro "Por uma Vida Melhor", da ONG Ação Educativa, uma das mais respeitadas na área, diz que, na variedade linguística popular, pode-se dizer "Os livro ilustrado mais interessante estão emprestado".

Em sua página 15, o texto afirma, conforme revelou o site IG: "Você pode estar se perguntando: 'Mas eu posso falar os livro?'. Claro que pode. Mas fique atento porque, dependendo da situação, você corre o risco de ser vítima de preconceito linguístico".

Segundo o MEC, o livro está em acordo com os PCNs (Parâmetros Curriculares Nacionais) --normas a serem seguidas por todas as escolas e livros didáticos.

"A escola precisa livrar-se de alguns mitos: o de que existe uma única forma 'certa' de falar, a que parece com a escrita; e o de que a escrita é o espelho da fala", afirma o texto dos PCNs.

"Essas duas crenças produziram uma prática de mutilação cultural que, além de desvalorizar a forma de falar do aluno, denota desconhecimento de que a escrita de uma língua não corresponde inteiramente a nenhum de seus dialetos", continua.

Heloísa Ramos, uma das autoras do livro, disse que a citação polêmica está num capítulo que descreve as diferenças entre escrever e falar, mas que a coleção não ignora que "cabe à escola ensinar as convenções ortográficas e as características da variedade linguística de prestígio".

O linguista Evanildo Bechara, da Academia Brasileira de Letras, critica os PCNs.

"Há uma confusão entre o que se espera da pesquisa de um cientista e a tarefa de um professor. Se o professor diz que o aluno pode continuar falando 'nós vai' porque isso não está errado, então esse é o pior tipo de pedagogia, a da mesmice cultural", diz.

"Se um indivíduo vai para a escola, é porque busca ascensão social. E isso demanda da escola que lhe ensine novas formas de pensar, agir e falar", continua Bechara.

Pasquale Cipro Neto, colunista da Folha alerta para o risco de exageros. "Uma coisa é manifestar preconceito contra quem quer que seja por causa da expressão que ela usa. Mas isso não quer dizer que qualquer variedade da língua é adequada a qualquer situação."

Cartilha do MEC defende erros de concordância

Publicado em Monday, 16 May 2011 13:55

Reportagem de Kethulin Lopes

"Para uma vida melhor", da coleção Viver, aprender, distribuído pelo Ministério da Educação (MEC) em 4236 escolas do país reacendeu a discussão sobre como registrar as diferenças entre o discurso oral e o escrito sem resvalar em preconceito, mas ensinando a norma culta da língua.

"Nós pega o peixe" ou "os menino pega o peixe". Para os autores do livro de língua portuguesa o uso da língua popular - ainda que com seus erros gramaticais - é válido.

Segundo o MEC, o livro está em acordo com os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) normas a serem seguidas por todas as escolas e livros didáticos.

"A escola precisa livrar-se de alguns mitos, o de que existe uma única forma certa de falar, a que parece com a escrita; e o de que a escrita é o espelho da fala", afirma o texto dos PCNs.

"Essas duas crenças produziram uma prática de mutilação cultural que, além de desvalorizar a forma de falar do aluno, denota desconhecimento de que a escrita de uma língua não corresponde inteiramente a nenhum de seus dialetos", continua.

O linguista Evanildo Bechara, da Academia Brasileira de Letras, critica os PCNs. "Há uma confusão entre o que se espera da pesquisa de um cientista e a tarefa de um professor. Se o professor diz que o aluno pode continuar falando 'nós vai' porque isso não está errado, então esse é o pior tipo de pedagogia, a da mesmice cultural", diz.

"Se um indivíduo vai para a escola, é porque busca ascensão social. E isso demanda da escola que lhe ensine novas formas de pensar, agir e falar", continua Bechara.

Pasquale Cipro Neto, colunista da Folha alerta para o risco de exageros. "Uma coisa é manifestar preconceito contra quem quer que seja por causa da expressão que ela usa. Mas isso não quer dizer que qualquer variedade da língua é adequada a qualquer situação."

Da Redação


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