Jornal Mensal em idioma gírio. Edição 042 - ANO Vl – Niterói/RJ –Março e Abril de 2006

 

GIRIAS DE 1898

Agradeço aos 164.430 visitantes desta página, que se tornou referência nos estudos do idioma gírio.
Prosseguimos nas pesquisas sobre os primórdios da gíria no país. Nesta edição, duas contribuições valiosas, de J. Romaguera Correa e Lima Barreto.
Já está em nosso poder o material da próxima edição sobre a gíria no Rio de Janeiro, com base em trabalho publicado por Sergio Porto, Stanislaw Ponte Preta, em um dos livros de Carlos Drummond de Andade e Manuel Bandeira sobre os 400 anos do Rio de Janeiro.
Sabe-se que o primeiro livro de gíria publicado no Brasil foi o Vocabulário Sul-Riograndense, (236 p) de J. Romaguera Correa,.Echenique & Irmão Editores, Livraria Universal, Pelotas, Rio Grande do Sul, com nota subscrita em 1897 e referência ao Dicionário de Vocábulos Brasileiros, do Visconde de Beaurepaire-Rohan.
Não é propriamente um dicionário de gíria, embora possamos identificar muitas delas nos regionalismos gaúchos, já incorporados ao patrimônio gírio brasileiro.
O Vocabulário não altera o marco gírio, de 1854, com a publicação do livro Memórias de um Sargento de Milícias, de Manuel Antonio de Almeida


Vejamos algumas:
Abichornar aborrecer-se, acabrunhar, envergonhar;
agalhudo esforçado, forte, audaz
aperriado emagrecido, enfraquecido, enfesado;
aporreado indomável;
aspa chifre, corno, ponta;
bahianada fiasco;
baladronada fanfarronada;
barriga verde catarinense;
biboca barrancos, precipícios;
bruaca sacos de couro;
broma troça, caçoada, gracejo;
calombo protuberância, inchaço;
carão admoestação;
chucro bravio esquivo;
conchavo emprego;
embarrigar criar barriga, locupletar-se com o dinheiro alheio;
embromar caçoar, fazer troça;
empacar emperrar, deter-se, parar;
entrevero mistura, desordem, confusão;
faceiro elegante, garboso, taful;
fachado lindo, belo, bonito, elegante;
farrear sair à pândega, a troça, a folia;
fuxicar bolir em qualquer coisa;
gaudério parasita, vive a custa de outrem aqui e ali;
gringo estrangeiro;
guri menino;
jururu tristonho;
lindaço mui lindo, bonito, garboso;
macanudo poderoso, forte;
mambira grosseiro, rude;
moçada porção ou grupo de moços;
paquete bem vestido e com elegância;
perereca pessoa pequena e buliçosa;
piá moço até 16 ou 18 anos;
querendão amoroso, alegre, afetuoso;
roupa velha espécie de passoca;
sopetão de repente, repentinamente, de improviso;
trepada subida, ladeira, encosta;
trompaço encontrão;
unhar surrupiar alguma coisa.


GIRIAS DE 1917

Lima Barreto é um dos grandes escritores brasileiros. Seu clássico é, sem dúvida, “Triste Fim de Policarpo Quaresma”
Os textos de “Os Bruzundangas” (sua melhor sátira) começaram a ser publicados no semanário ABC .do Rio de Janeiro, em 1917, e em diferentes revistas, em 1919. Esperava ele que o livro saísse em vida, como registro em carta de 1921, mas só publicado após sua morte, em 1922.
Recebi recomendação para identificar gírias em seu texto. É o que aqui faço, com base na edição, texto integral, da editora Ática, de 1985, 141 p., incluindo “Outras histórias dos brunzundangas”.
Não chega a ser um livro escrito em idioma gírio.
Achegos suborno, corrupção. “Os cargos são rendosos, pelos vencimentos marcados em lei, como dão direito a propinas e outros achegos”. (108)
Apatacado com dinheiro, rico. “Os vates de lá (Bruzundanga) estão sempre dispostos a bajular os titulares ou os apatacados burgueses” (102)
Aperuado enfeitado. “Todos os vates de lá , com a sua mentalidade de parvenus aperuados estão sempre dispostos a bajular os titulares ou os apatacados burgueses” (102)
Babado de gozo encantado, fascinado. “O dr. Adahil apareceu ontem no Lírio inteiramente fashionable. Eu fiquei babado de gozo”. (82)
Babar interessar, gostar, adotar. “É que os bruzundanguenses babam-se inteiramente por esse negócios de condecorações e comendas ” (55)
Barafunda confusão. “Os advogados ou bacharéis em direito devem ter a obrigação de conhecer a barafunda de leis”. (60)
Bonanchão bonachão. “Entre os costume são dignos de acurado estudo., como o riso bonanchão de Rabelais”. (42)
Bonequinho pessoa “Não houve bonequinho mais um menos vazio ou empomadado que ele não nomeasse para essa ou aquela legação”. (55)
Bonzos broncos, ignorantes. “O Mandachuva começa sua carreira relacionando-se com os bonzos de sua província”.(61)
Brigona
Cachola cabeça. “Ninguém era capaz de sacar-lhe da cachola uma idéia de governo”. (103)
Casa de pasto restaurante “Assim como um gordo proprietário de casa de pasto na Rua da Misericórdia que estava sentado a uma mesinha, coberta com uma toalha eloquentemente imunda” (90)
Chic chique, elegante. “Outro deputado de Bruzundanga foi como parlamentar mais chic do Congresso Nacional” (31)
Cobres dinheiro. “Um rapaz de certos haveres , cujo pai mourejara muito para arranjar alguns cobres”. (41)
Capacho bajulador. “O deputado Fur-hi-Bundo passou uma descomposturas no serventuário do Ministério, chamando-o de capacho”.(94)
Cavação procura de emprego. “Halaké Bem Thoreca se banalizou com o casamento e a conseqüente cavação de empregos”. (80)
Damas alegres prostitutas de alto estilo. “Uma noite, em que estava cercado de damas alegres, em uma mesa de café cantante, uma delas deu na telha de trata-lo de marquês”. (41)
Dernier bateau última moda. “O doutor Karpatoso voltou da Europa e trouxe na mala fatos, botas chapéus, bengalas, dernier bateau, como dizem os smarts das colonias francesas da Ásia”.
Deu na telha vontade súbita de dizer ou de fazer alguma coisa. “Uma delas deu na telha de trata-lo de marquês”. (41)
Dez-mil réis de mel coado ninharia, sem muito valor. “O ministro do Imperador de Bruzundanga se transformou em açougueiro para vender carne aos vizinhos a dez mil-reis de meil coado, graças as isenções que obteve”. (16)
Empomadado recomendado. “Não houve bonequinho mais um menos vazio ou empomadado que ele não nomeasse para essa ou aquela legação”. (55)
Estranja estranjeiro. “O cidadão que partira da Bruzundanga com o nome de Carlos Cervantes voltou da estranja com altissonante título de Marquês de Libreville”. (41)
Expoente celebridade. “Feito amanuense, aprendeu logo a copiar minutas e acabou eleito para a Academia de Letras da Bruzundanga. Ficou sendo o que aqui se chama – um “expoente”.(107)
Fashionable da moda. “O dr. Adahil apareceu ontem no Lírio inteiramente fashionable. Eu fiquei babado de gozo”. (82)
Figurões altas autoridades. “É preciso mandar alguns filhos de “figurões” para o estrangeiro”. (54)
Fofo fósforo. “O vendedor ambulante oferecia: fofo barato! Fofo barato! Duas caixa um tostão”. (90)
Frege restaurante ruim,. De má qualidade. “A aula de “frege” ficará dividida em duas partes:cantata da lista e encomenda de pratos à cozinha”. (90)
Gentlemen gentis, educados finos. “Os diplomatas da Bruzundanga se julgam todos eles artistas, literatos, homens finos, gentlemen”. (54)
Javanês mulato, moreno, caboclo. “Lima Barreto elegeu os javaneses como seus ícones”.
Lacaio bajulador . “O deputado Fur-hi-Bundo passou uma descomposturas no serventuário do Ministério, chamando-o de lacaio”.(94)
Lavador de tinteiro bajulador. “O deputado Fur-hi-Bundo passou uma descomposturas no serventuário do Ministério, chamando-o de lavador de tinteiro”.(94)
Letras garrafais letras grandes. “ Publicou em papelão um discurso, impresso em letras garrafais, conseguindo assim organizar um volume” (55)
Mandachuva chefe, Presidente da República. “Na Bruzundanga, em geral, o Mandachuva é escolhido entre os advogados” (61)
Nhonhôs pessoas gradas, amigos. “Mando-no para a Câmara e, na primeira legislatura, encarregam-no de dempenhar-se pelos exames dos nhonhôs”. (61)
Parvenus indivíduo que ascendeu socialmente sem aprimorar seu modo de agir ou de pensar. “Todos os vates de lá , com a sua mentalidade de parvenus aperuados estão sempre dispostos a bajular os titulares ou os apatacados burgueses” (102)
Pistolão pessoa importante que nomeia outras para altos cargos. “O deputado Fur-hi-Bundo quis nomear alguém mas o Mi nistro não lhe pôde servir e atendeu a outro “pistolão”.(94)
Pot-de-vin suborno. “Jornalistas acostumados a canonizações simoníacas e parlamentares gostavam de pot-de-vin”. (100)
Quizília diferença, birra, implicância. “Uma das quizílias do Visconde Pancome era com os feios e, sobretudo, com os bruzundanguenses de origem javanesa”.(99)
Rabona de sarja. “Conheci na Bruzundanga um rapaz de rabona de sarja e ares de familiar do Santo Ofício”.(16)
Remoques deboche. “Os javaneses incomodavam os estrangeiros e provocavam os remoques dos caricaturistas da República das Planícies”.(101)
Soba mor chefe. “Phrancisco Novilho Bem Kosta tinha adiantado dinheiro e assoldado gente para que o general Tupinambá tomasse lugar do soba-mor Cravho Ben Matos” (68)
Toma-larguras guarda costas, segurança. “O deputado Fur-hi-Bundo passou uma descomposturas no serventuário do Ministério, chamando-o de toma-larguras”.(94)
Turumbamba protegido, amigo. “ “Na província das Canas, houvera um turumbamba mis ou menos oficialmente protegido prum mandachuva”.(67)

REPERCUSSÕES DA 7ª EDIÇÃO DO DICIONÁRIO DE GÍRIA NA MÍDIA BRASILEIRA:

O Povo, de Fortaleza/CE, registro na coluna Vale Tudo, de Alan Neto, em 10.04.2005;
Jornal do Commércio, do Rio de Janeiro/RJ, registro na coluna de Aziz Ahmed, em xxx
Jornal do Commércio, do Rio de Janeiro/RJ, “Gíria é tema de novo Dicionário”, em l0.04.2005;
Diário do Nordeste, de Fortaleza/CE, registro na coluna de Lustosa da Costa, em 28.04.2005;
Diário do Nordeste, de Fortaleza/CE, registro na coluna de Brasília, de Rangel Cavalcante, 1º/05/2005;
Florida Review Magazine Brazil, de Miami/EUA. Registro na coluna de Rangel Cavalcante, na 1ª. Quinzena de maio de 2005;
Jornal do Comércio, de Manaus/AM, “Sétima edição do Dicionário de Gíria”, de 16/17/18. 05.2005;
Jornal da Comunidade, de Brasília/DF: “Com quantas gírias se faz uma língua portuguesa”, em 4-10.06.2005;
Correio Braziliense, Brasília/DF: “Língua viva sai das ruas e vira verbetes”, em 12.06.2005;
O GLOBO, Niterói/RJ, registro na coluna de Gilson Monteiro, em 19.06.2005
Entrevista concedida à TV Diário, de Fortaleza/Ce.
Entrevista ao programa de Palavra, do prof. Sergio Nogueira Duarte, que foi ao ar na Rede STV, nos dias 27.28.30.06 e 1.2.3.07.2005
Entrevista no programa Hoje em Dia, da Rede Record, com Brito Jr. E Ana Hickmann, em 23.08.2005.
O GLOBO, 2º Caderno, Rio de Janeiro/RJ, “O mensalão” na língua portuguesa veio para ficar. Próxima edição do Dicionário de Gíria vai registrar termo, assim como “valerioduto” e outros”, de Orivaldo Perin, 31.10.2005.
Radio Roquete Pinto, Rio de Janeiro/RJ, Programa “Show da Notícia”, com Mauro Belizário, 31.10.2005, 9h50m.
Radio Haroldo de Andrade, Rio de Janeiro/RJ, Programa “Haroldo de Andrade”, 07.11.2005, 10h15m
Radio Eldorado, São Paulo/SP, Programa “Panorama na Cultura”, com Leandro Andrade, 08.11.2005.
Entrevista para o Bom Dia Brasil, da Rede Globo de Televisão, exibido em 29.12.2005; sobre “A Polêmica das gírias”, apresentado por Edney Silvestre.
Entrevista para o Espaço Aberto Literatura, da GloboNews, apresentado por Edney Silvestre, exibido em 05.01.2006

ENTREVISTA PARA O BOM DIA BRASIL, da Rede Globo de Televisão, de 29.12.2005


A polêmica das gírias
Nas conversas de todas as classes sociais, de todas as categorias profissionais, de todas as idades, nem sempre o português formal é o mais utilizado. O brasileiro fala, em grande parte, gírias.
A gíria é adotada sem restrições por uns e rejeitada por outros. Ainda assim, tem lugar garantido na língua portuguesa.
Há quem goste...
"É um meio legal para as pessoas se comunicarem", diz um rapaz.
Há quem critique...
"Eu não gosto, acho que não é bom para a educação, inclusive para as crianças, no futuro", acha uma senhora.
O português que nós falamos no Brasil tem cerca de 160 mil vocábulos em uso. São 20 mil a mais do que o português falado em Portugal. Em parte, porque nós usamos palavras de origem indígena e africana.
Os especialistas, no entanto, acreditam que a outra grande fonte de termos é a gíria. Isso significaria o dinamismo da nossa língua ou um empobrecimento e descaracterização daquilo que permite a transmissão da cultura, do conhecimento, da nossa identidade como povo?
As gíria são muito antigas, têm mais de três séculos. "Baiuca" é daqueles tempos, sinônimo de taberna. Já "festa de arromba" e "zorra" entraram no vocabulário em 1759. Mas o que é gíria, afinal?
"A gíria é a linguagem falada, não é padrão. É uma linguagem alternativa. Inicialmente de grupos exclusivos, mas que acaba se tornando de grupos abertos", explica o antropólogo e pesquisador J.B. Serra e Gurgel.
Serra e Gurgel é autor de um dicionário de gírias que registra 28 mil vocábulos. Só na última edição, foram acrescentados mais de 11 mil novos termos. O nosso povo está falando cada vez mais gíria. Por quê?
"As pessoas não estudam a língua, a gramática, acham muito difícil, as terminações, plural, fonemas, morfologia, isso é muito complexo para as pessoas. Daí a grande simplificação e a linguagem simplificada são é um dos vetores formadores de gíria também”, conta o pesquisador.
Falar gíria já foi coisa de malandro, como o inesquecível Moreira da Silva. Há gírias que permanecem. Uma cantada já era uma tentativa de sedução quando as mulheres ainda se cobriam até os pés, em 1903.
"Em Brasília a gente não usa muita gíria", comenta uma jovem.
Pode ser que não usem, mas a política dá origem a muita gíria, a exemplo do termo "mensalão".
A gíria empobrece a língua?
“Acho que é um costume, não é empobrecimento”, acredita um homem.
“Mas é claro que é empobrecimento. A coisa está anormal. Eu não entendo nada do que essa garotada fala”, diz uma mulher.
Na fala do povo hoje, pode estar o futuro da língua oficial amanhã. É um fenômeno mundial. Nos Estados Unidos, por exemplo, são vendidos aos turistas dicionários de gírias.


ENTREVISTA PARA O PROGRAMA ESPAÇO ABERTO/LITERATURA, DA GLOBO NEWS

Programa exibido em 05.01.2006
HORÁRIO
Todos os dias 21:30
HORÁRIOS ALTERNATIVOS
Todos os dias 05:30, 15:30, 08:30
Dom,Ter,Qua,Qui,Sex,Sab 01:30
Seg 03:05
Sab 11:05, 19:05, 17:05, 13:05
A influência da gíria na língua portuguesa
A presença da gíria é empobrecimento da língua ou um estímulo à dinâmica? O professor J.B. Serra e Gurgel, autor do Dicionário de Gíria, explica a evoluçào das expressões no português falado no Brasil

ENTREVISTA PARA A REVISTA LINGUA PORTUGUESA

1 - Quando e por que o senhor acredita que surgiram as gírias no Brasil?
As girias estão presentes na lingua portuguesa, ao que contam, desde o século XVI.
Há registros esparsos, mas consistentes.
Em Portugal, o marco principal é do sec. XVIII, o Dicionário do padre Raphael Bluteau, publicado sob aprovação da Santa Inquisição, que define gíria e cita alguns verbetes.
No Brasil, o marco é o livro Memórias de um Sargento de Milicias, de 1854, de Antonio Manuel de Almeida. Afirmo que foi o primeiro livro escrito em idioma gírio. Contém muitas gírias do Rio de Janeiro, daquela época.
As gírias surgem por diversos motivos. Um deles, é a necessidade dos grupos se entenderem no dia a dia, já que pela linguagem padrão, da norma culta, seria uma linguagem dificil. Pura, castiça, mas complicada.
2 - Por que o senhor acredita que as gírias são utilizadas por determinados grupos?
Para que se entendam com mais facilidade, rapidez e flexibilidade. Funcionam como um código de decodificação imediata, inicialmente restrita aos membros do proprio grupo. Neste caso, são gírias exclusivas. Quando rompem o grupo e são usadas por diversos grupos, se transformam em gírias de amplo uso.
3 - O senhor acredita que as gírias ajudam a diferenciar determinados grupos dentro da sociedade e, por esta razão também, elas acabam sendo depois utilizadas de modo discriminatório?
Não. O discriminatório é o políticamente correto, uma espécie de censura. Em principio, na linguagem, não deve haver restrições, ainda que ouvidos sensíveis se sintam agredidos quando há um verbete mais forte, fora de contexto. No contexto, nem o palavrão doi. As gírias não diferenciam grupos, mas dão uma identidade linguística à diversidade,.para que tenha uma visibilidade mais efetiva. A gíria é modismo.
4 - As gírias perdem o seu sentido original quando se popularizam? Por que?
Não acredito. Pelo contrário, a popularização contribui para sua difusão. Veja que no país não temos dialetos – salvo nos grupos indigenas. Temos regionalismos, que se fortaleceram, apesar da massificação. Os regionalismos são gírias exclusivas daqueles grupos regionais. Quando saem das fronteiras, viram gírias. O que muitas vezes ocorre é que uma gíria tem multiplos significados, dentro do nosso país e nos paises de lingua portuguesa. Isto é normal e assim deve ser compreendido.

MPF/SP QUER DISCIPLINAR USO DE ESTRANGEIRISMOS NO COMÉRCIO

O MPF está investigando desde outubro passado o uso de estrangeirismos, principalmente o inglês, nas relações de consumo. O objetivo do procedimento, instaurado pelo procurador da República Matheus Baraldi Magnani, de Guarulhos, é o ajuizamento de uma Ação Civil Pública visando disciplinar o uso de língua estrangeira nas relações de consumo em todo o Brasil.
Para o MPF, o grande problema no uso de estrangeirismos nas relações comerciais é que a prática prejudica o consumidor, que tem dificuldades para saber ao certo preços, condições de pagamento, descontos, características de produtos e riscos na sua utilização, além de ser discriminatória.
``Em primeiro lugar, a lei exige que a comunicação com o consumidor seja clara e precisa. Em língua estrangeira não há clareza. Em segundo lugar, uma parcela pequena da população tem acesso ao aprendizado de língua estrangeira. Assim, uma sociedade democrática não deve se organizar excluindo da grande massa o direito de entender o que se escreve nas vitrines do próprio país´´, assinala o procurador da República.
Não se trata de banir o inglês ou qualquer outra língua das lojas e shopping centers, explica Magnani, mas de garantir ao consumidor a oferta de informação na mesma proporção na língua que ele fala. Se a loja exibir as expressões ´sale´ ou ´50% off´ na vitrine, por exemplo, o MPF exigirá que a expressão venha traduzida com letras de mesmo destaque.
Entrevistas - O procurador iniciou o trabalho por meio de entrevistas realizadas com 30 consumidores em shoppings e ruas comerciais de São Paulo. ``A receptividade à idéia foi enorme, principalmente entre as pessoas das classes C, D e E´´, disse.
Segundo Magnani, muitos não compreendem os termos de outras línguas usados no comércio e que têm vergonha por não entender um anúncio em território nacional. ``Alguns revelam, inclusive, constrangimento, como se a loja estivesse selecionando clientes´´, revela.
O próximo passo da apuração é ouvir especialistas em língua portuguesa e ONGs ligadas a direito do consumidor. Já estão convidados a dar informações ao MPF os professores Pasquale Cipro Neto, apresentador do programa Nossa Língua Portuguesa, da TV Cultura, e colunista da Folha de S. Paulo, e Bruno Dallari, da PUC-SP.
Além disso, o procedimento do MPF será democratizado e interativo, pois os cidadãos terão a disposição um endereço eletrônico (e-mail) para opinar sobre o tema. Uma audiência pública, em local a ser definido, deverá ser agendada para os próximos dias. O objetivo é colher mais subsídos de consumidores, ONGs e outras entidades representativas da sociedade civil.
Diferentemente do que foi noticiado no último sábado (28/01) no Jornal Nacional, da TV Globo, a ação não será ajuizada esta semana. A ação só será apresentada à Justiça Federal após ampla discussão com a sociedade sobre o tema.

O GRANDE CAÇADOR DE VOGAIS E CONSOANTES


Por Lucas Mendes, no site BBC Brasil
Peter Ladefoged estava no aeroporto de Londres, em trânsito, voltando da Índia para a Califórnia, quando teve um derrame cerebral.
Tinha 80 anos, e a morte dele provavelmente passou em branco na imprensa brasileira.
Aqui quase passou, mas duas semanas depois da morte dele o New York Times publicou um longo obituário, no qual há uma breve referência aos índios Pirahãs, na Amazônia.
No ano 2000, eles eram apenas 360, mas são famosos entre lingüistas, porque falam a única língua no mundo sem noção de números, sem conceito de contagem nem número gramático.
Peter Ladefoged publicou um estudo sobre os Pirahãs com outro conhecido lingüista, Daniel Everett que, para espanto dos Pirahãs, fala a língua deles.
Daniel conta que durante a viagem Ladefoged foi escovar os dentes no rio Maici, quando alguém disse a ele que tomasse cuidado porque estava infestado de piranhas.
Volta ao mundo
O lingüista, de pijamas e tênis, pulou dentro do rio, nadou uns 75 metros até a outra margem, e na volta, disse ao colega que não se preocupasse com ele.
Na época, tinha 70 anos.
Ladefoged deu a volta ao mundo investigando línguas e publicou The Sounds of World's Languages, considerado o catálogo definitivo de consoantes e vogais nas seis mil línguas faladas neste planeta.
Naquela época, pré-computador, Ladefoged viajava carregando pesada tralha de gravadores, fitas e microfones.
O vasto material recolhido está no Laboratório de Lingüística da Universidade da Califórnia, em Los Angeles, criado por ele, e considerado o melhor do mundo.
Dos seus livros didáticos, A Course in Phonetics, é o mais usado nas universidades para ensinar fonética.
Fora do mundo acadêmico, Peter Ladefoged ficou famoso como consultor do filme Minha Bela Dama, de 1964. Ele ensinou o professor Henry Higgins (Rex Harrison) a falar como um lingüista da era Eduardiana.
Quando tinha 20 anos, eu tive um professor de fonética que tentou me ensinar a falar com clareza.
Depois, em 75, quando entrei na televisão, a TV Globo investiu um bom dinheiro na minha dicção. Outro desperdício. Esta semana mesmo recebi queixas de que falo para dentro.
Não tive um professor Ladefoged


A 7ª EDIÇÃO DO DICIONARIO DE GIRIA CONTINUA A VENDA

A 7ª edição do DICIONÁRIO DE GÍRIA, do Prof. JB Serra e Gurgel, com 28.500 verbetes, segue à venda.
O Dicionário tem como principais novidades:
- datas de algumas gírias, por solicitação principalmente de tradutores;
- identificação das regiões brasileiras onde provavelmente tenham surgido;
- recuo do marco gírio brasileiro para 1854, data da publicação de Memórias de um Sargento de Milicia de Joaquim Manuel de Almeida
- inserção de gírias (calões) de Portugal.
O DICIONÁRIO DE GIRIA continua sendo o único, no gênero, publicado na Comunidade dos Países de Lingua Portuguesa.
Contém de gírias de grafiteiros, policiais, jornalistas, futebol, presídios, funks, skatistas, economês, cheques, cornos e malandros.

(Serviço: para entender o que está neste JORNAL DA GIRIA compre o DICIONÁRIO DE GÍRIA, de JB Serra e Gurgel, à venda na Saraiva e na Siciliano, a 20 mangos, 20 contos, 20 merréis, 20 reais, 20 barões, 20 paus, 20 pratas, 20 pilas. Se preferir, peça direto ao autor, com direito a autografo. E-mail: gurgel@cruiser.com.br

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