Jornal da Gíria

Jornal Mensal em idioma gírio – Edição 048 – Ano VII – Niterói RJ – Maio-Julho de 2007
Agradeço aos 300981 navegadores que tiveram acesso a esta página, de valorização da gíria brasileira.
Vamos em frente, agitando as massas.
Há um nicho gírio, com um duto de expressões por descobrir, nas letras dos rappers.
Ainda não tive tempo para me debruçar sobre esta avalanche que está impondo uma nova linguagem à periferia descoberta pela irreverência, competência e criatividade de Regina Casé.

Espero chegar lá.

GIRIAS DO BAIANÊS

'Colé, meu brodi'! - Olá, amigo
'E aí pai'? - Olá, amigo
'Fala nigrinha!' - Olá, amigo
''Diga aê seu xibungo' - Olá, amigo
'Faaaala minha puta'! - Olá, amigo
'Colé miserê'! Olá, amigo
>'Diga aê disgraça'!- Olá, amigo
AE??? 'Digái Negão'! -Olá, amigo (independente da cor do amigo)
'Ô véi' - Olá amigo!
'Colé de mermo?' - Como vai você?
'Aonde'! - Não mesmo!
'Vô quexá aquela pirigueti'! - Vou paquerar aquela garota!
'Vô cume água'! - Vou beber (álcool)
'Colé de mermo a sua'! - Qual o seu problema?
'Tá me tirando de otário é '? - Está me fazendo de otário ?
'Shhh... Ai, mainha'' - Até hoje não se sabe a tradução. Sabe-se apenas
que nas músicas de pagode, o vocalista está excitado com sua respectiva
amante.
'oxi'! - Todo baiano usa essa expressão para tudo, mas um forasteiro nunca
acerta quando usa.
'Lá ele'! - Eu não, sai fora, ou qualquer outra situação da qual a
pessoa queira se livrar.

ACORDO INTERNACIONAL DEVE MUDAR ORTOGRAFIA NO BRASIL

Divulgou o Jornal Nacional, de 08.05:2007
SÃO PAULO - As normas que regem a escrita no Brasil têm futuro incerto. Com o acordo ortográfico discutido pelos países que falam o português, muitas mudanças podem vir por aí.
Na hora de enfrentar papel e caneta, o bom português nem sempre está na ponta da língua. As dúvidas agora chegam até a Academia Brasileira de Letras (ABL).
Em um mês de funcionamento, o serviço que responde a perguntas sobre a língua portuguesa recebeu 1.500 consultas pela internet. E muito mais pode vir por aí, quando o acordo ortográfico discutido pela Comunidade dos Países de Língua Portuguesa sair do papel.
Será uma nova reforma para deixar mais parecido o português que se escreve no Brasil, em Portugal e mais seis países. O acordo ortográfico vai mudar uma parte desse enorme universo de palavras. Hoje, no Brasil, são 360 mil e AE???todas elas estão aqui no vocabulário oficial da ABL.

A maneira de escrever muitas dessas palavras deve mudar para que os países de língua portuguesa possam, no futuro, consultar um dicionário único. Para que a gente, além de falar, também escreva a mesma língua.
"Vantagens culturais, vantagens de ordem política, vantagens de ordem de econômica até, porque aí a língua portuguesa não terá duas vertentes em matéria de ortografia", explica Evanildo Bechara, gramático e membro da ABL.
A idéia é economizar acentos. O circunflexo, popular chapeuzinho, sai de cena em palavras como vôo, abençôo,enjôo. E o trema? Tão desprezado que tem gente que nem sabe o nome.
"Não tá faltando nada?", pergunta a repórter a uma mulher ao mostrar "linguiça" escrito em um papel. "Acho que a crase", responde a mulher. "Dois pontinhos pra você é crase?", pergunta a repórter. "É. Até hoje em dia, sim", finaliza a mulher.
Pois os dois pontinhos podem ser extintos. Para os jovens da geração internet, que já aboliram os acentos por conta própria, a mudança vem tarde. "Não vai fazer grande diferença, porque a gente já não usa mesmo", reconhece uma jovem estudante.
Brasil, Cabo Verde e São Tomé e Príncipe já ratificaram o acordo, mas Portugal não se posicionou, por isso, a mudança ainda não vale.

FREEDOM HOUSE: PORTUGAL TEM LIBERDADE TOTAL DE IMPRENSA

Portugal, Cabo Verde e São Tomé e Príncipe são os únicos países lusófonos com liberdade total de imprensa, considerou a Freedom House.
No seu relatório anual sobre a liberdade de imprensa, a organizaão sedeada em WashingtoAE???n coloca Portugal em 12º lugar na lista liderada pela Finlândia e Islândia com o mesmo número de pontos.
Portugal partilha a posião com o Liechenstein e Palau (Micronésia), ficando acima de países como a Alemanha, Irlanda e EUA, que partilham o 16º lugar.
A avaliaão é feita com base no «ambiente jurídico em que os media operam, as influências políticas na actividade jornalística e acesso a informaão e pressões económicas sobre o conteúdo e disseminaão de notícias».
Cabo Verde e São Tomé são, por seu turno, dois dos apenas oito países africanos onde, segundo a organizaão, existe liberdade de imprensa. À escala mundial, as duas naões estão colocados em 61º lugar.
No ano passado, Cabo Verde foi colocado entre os países de liberdade «parcial» de imprensa e a organizaão afirma que a sua subida nos «rankings» se deve à contínua consolidaão das tendências democráticas que levaram a uma maior abertura no ambiente em que os média operam e numa diminuião dos casos de intimidaão legal e de ataques a jornalistas».
Moçambique (87º lugar), Timor-Leste (90º), Brasil (90º) e Guiné-Bissau (102º) são considerados países onde existe a liberdade «parcial» de imprensa, enquanto Angola (135º) é considerado um pais onde não existe essa liberdade.
O relatório afirma que «apesar de garantias constitucionais, a liberdade de imprensa é restrita em Angola».
O documento descreve como uma «melhoria» uma nova lei de imprensa aprovada no ano passado mas diz que esta contém ainda «várias normas restritivas».
«Apesar de o Governo na generalidade tolerar críticas dos média privados, entidades governamentais muitas vezes pressionam os media independentes a cobrir o Governo a uma luz mais favorável», diz o documento, acrescentando que «detençõAE???es arbitrárias, intimidação e ataques contra jornalistas continuam a ocorrer».
Diário Digital / Lusa


"FAZER A CICARELLI" E "ELITE BRANCA" ESTÃO ENTRE AS GÍRIAS DE 2006
RAFAEL CARIELLO, da Folha de S.Paulo, em 31.12.2006

"Nunca antes neste país" se ouviu falar tanto em "desligar o transponder" e "destravar o Brasil". O ano termina recheado de expressões e palavras criadas, reveladas ou recicladas no calor dos acontecimentos, mas que, em muitos casos, parecem ter vindo para ficar.

É o caso --quase imbatível-- de "elite branca", achado do governador Cláudio Lembo (PFL-SP). A expressão, que sintetiza um aspecto do conflito social no Brasil, surpreendeu por partir de um pefelista do qual se imaginava uma versão light do Picolé de Chuchu.

Algo, afinal, tinha que crescer --ainda que fosse o léxico--, em um ano de novas perdas para a classe média (veja verbete "Isso não te pertence mais") e de crescimento medíocre do PIB (veja "destravar o Brasil").

Outras expressões resumem momentos importantes do ano, mesmo aqueles que seriam melhor esquecer. Encaixam-se aí o "quadrado mágico", da seleção, e "desligar o transponder", que na sua acepção estrita contribuiu para o pior desastre aéreo da história do país.

Essa última é forte candidata a ressurgir no Carnaval de 2007, como sinônimo de "grande lambança" ou "enfiar o pé na jaca". Bebeu todas, saiu destrambelhado atrás do primeiro bloco e cortou as comunicações pelo cAE???elular com a patroa? "Desligou o transponder."

Foi pego em flagrante delito contra as sensibilidades mais puritanas em seguida? Dependendo do cenário, podem acusá-lo de "fazer a Cicarelli".

Seja como for, em 2007, "destrave" e dê um "choque de gestão" em sua vida --já que na economia e na política é difícil esperar que essas expressões venham a se tornar realidade.

Confira as expressões e palavras que entraram no vocabulário do brasileiro em 2006:

Aloprado - Todo e qualquer petista que impede a vitória de Lula já no primeiro turno. Se não traz prejuízo eleitoral, passa a ser chamado apenas de "companheiro".

Eu não sabia - Expressão que deve ser usada para tentar convencer a opinião pública de que você não tem nenhum controle sobre o que fazem as pessoas que trabalham para você. Afinal, como é possível saber o que se passa na cabeça de um aloprado.

Sanguessugas - Não se refere a atacantes gordos e fora de forma, mas a uma das máfias montadas para roubar dinheiro da Saúde. Análoga à máfia dos Vampiros ou à dos anões do Orçamento, empreendimentos suprapartidários que fazem da política brasileira um péssimo filme de terror.

Elite branca - Num país em que o líder do principal partido de esquerda diz que a "espécie humana caminha para o centro", não deveria causar espanto o fato de ter vindo de um governador do PFL, Cláudio Lembo (SP), a expressão que sintetizou e tornou consciente o aumento do conflito social e étnico na sociedade.

Destravar o Brasil - Depois de mais um ano em queAE??? a economia do país se comportou como a seleção de Carlos Alberto Parreira na Copa de 2006, este é o novo nome da fórmula mágica para o crescimento. Até agora, a comissão técnica de Lula não conseguiu chegar a uma conclusão sobre que esquema adotar. Alguns esperam que Delfim Neto surja como um Dunga da área e "tonifique" o PIB.

Nunca antes neste país - Nunca antes neste país um presidente usou tantas vezes a expressão "nunca antes neste país". É o modo petista de dizer que fez um choque de gestão à frente da Presidência.

Apagão aéreo - Expressão guarda-chuva, abriga as até pouco tempo também pouco conhecidas "transponder", "ponto cego", "controlador de vôo" e "plano de vôo". Provoca saudade do tempo em que "não decolar" era apenas uma metáfora para descrever o país.

Desligar o transponder - Gíria nova para enfiar o pé na jaca.

RDD e RBD - Não confundir "Regime Disciplinar Diferenciado", rígido sistema penitenciário que causa tanto pânico ao PCC quanto a organização criminosa provocou em São Paulo neste ano, com o grupo "teen" mexicano Rebeldes --embora alguns críticos desejassem aplicar o primeiro ao segundo.

Emo - Novo estilo de música e de comportamento entre os jovens. A atitude é próxima à do presidente Lula nas cerimônias de diplomação para a Presidência da República.

Deixa o homem trabalhar - Parece um lema pós-feminista, mas, como se sabe, é a fórmula que enaltecia o trabalhador Lula na campanha presidencial. Ajudou a destravar a votação.

Você foi mó rata comigo - AoAE???s 64, Caetano Veloso, inspirado em seu filho, continua liderando o movimento de emancipação masculina no país.

Eu sou o presidente da minha vida - Exemplo de atitude auto-ajuda do ano, o concorrente do programa "Aprendiz" encarou corajosamente o topete de Roberto Justus e "demitiu" o chefe. A idéia pode ter servido de inspiração para os controladores de vôo --e, segundo petistas, para os "aloprados".

Quadrado mágico - Nunca antes neste país jogadores de futebol se pareceram tanto com deputados federais. Muita atenção às próprias finanças, e pouca ao trabalho que era deles esperado.

Se ela dança, eu danço - Expressão "motivacional" do ano. Roberto Carlos (o cantor) gostou da idéia. Já Roberto Carlos (o lateral) ficou ajeitando o meião.

De onde veio o dinheiro? - Síntese da metafísica eleitoral tucana formulada pelo filósofo Picolé de Xuxu. Entrou para o rol das perguntas sem resposta, como "de onde viemos", "para onde vamos" e "que diabos estamos fazendo aqui".

Isso não te pertence mais - Bordão de "Zorra Total" e das perdas da classe média no governo Lula.

Fazer a Cicarelli - expulsar alguém de festa ou fazer sexo na praia. Fonte de problemas, nos dois casos. A moça devia deixar o pessoal se divertir mais, e vice-versa.

UMA CRONICA EM IDIOMA GÍRIA E SUA TRADUÇÃO

Recebi do leitor Aleksander o seguinte material que é interessante.
Ajudará a reduzir o estresse de centenas de internautas que muitas vezes me cobram um texto em idioma gírio com a respectiva tradução.
Vale principalmente para as mães aflitas que me procuram , geralmente na véspera da entrega de um trabalho por seu filho, querendo detalhes sobre textos e tradução das palavras.

Aproveito a oportunidade para listar os seguintes endereços na Web onde há gírias:
http://www.felipex.com.br/glossario_policial01.htm
http://www.felipex.com.br/palavras_palavras.htm
http://www.felipex.com.br/expres_interes01.htm
http://www.felipex.com.br/dic_terc_setor.htm
http://www.felipex.com.br/fl_glos_ubanda.htm
http://www.felipex.com.br/palavr_expres.htm
http://www.felipex.com.br/dic_peao.htm

A Crônica

Na década de 50, o malandro carioca "Zé da Ilha" prestou o seguinte depoimento à polícia:

"Seu doutor, o patuá é o seguinte: Depois de um gêlo da coitadinha resolvi esquinar e caçar uma outra cabrocha que preparasse a marmita e amarrotasse o meu linho no sabão. Quando bordejava pelas vias, abasteci a caveira e
troquei por centavos um embrulhador. Quando então vi as novas do embrulhador, plantado com um poste bem na quebrada da rua, veio uma pára-quedas se abrindo, eu dei a dica, ela bolou, eu fiz a pista, colei; solei, ela aí bronquiou, eu chutei, bronquiou mas foi na despista, porque, muito vivaldina, tinha se adernado e visto que o cargueiro estava lhe comboiando.

Morando na jogada, o Zezinho aqui ficou ao largo e viu quando o cargueiro jogou a amarraão dando a maior sugesta na recortada. Manobrei e procurei ingrupir o pagante, mas, sem esperar, recebi um cataplum no pé do ouvido. Aí
dei-lhe um bico com o pisantAE???e na altura da dobradiça, uma muqueada nos mordedores e taquei-lhe os dois pés na caixa de mudança pondo-o por terra.
Ele se coçou, sacou a máquina e queimou duas espoletas. Papai, muito esperto, virou pulga e fêz a duquerque, pois o vermelho não combina com a côr do meu linho. Durante o boogi, uns e outros me disseram que o sueco era
tira e que iria me fechar o paletó. Não tenho vocaão para presunto e corri.

Peguei uma borracha grande e saltei no fim do carretel, bem no vazio da Lapa, precisamente às 15 para a côr-da-rosa. Como desde a matina não tinha engolido a gordura, o roque do meu pandeiro estava sugerindo sarro. Entrei
no china-pau e pedi um boi a mossoró com confeti de casamento e uma barriguda bem morta. Engoli a gororoba e como o meu era nenhum, pedi ao caixa prá botá na pindura que depois eu iria esquentar aquela fria.

Ia pirar quando o sueco apareceu. Dizendo que eu era produto do Mangue, foi direto ao médico-legal para me escolachar. Eu sou preto mas não sou Gato Félix, me queimei e puxei a solingea. Fiz uma avenida na epiderme do moço.

Êle virou logo América. Aproveitei a confusa para me pirar mas um dedo-duro me apontou aos xifópagos e por isto estou aqui."

Tradução "malandrês-português":

 
  patuá   forma giriática para substituir "o negócio", "a questão", "o problema".
  gêlo   desprezo
  esquinar   ficar parado em esquinas, à espera de algo
  cabrocha   mulher
  que preparasse a marmita e amarrotasse o meu linho no sabão   que cozinhasse para mim e lavasse a minha roupa
  bordejava pelas vias   perambulava pelas ruas
  abasteci a caveira   tomei uma bebida - uma cachaça
  troquei por centavos um embrulhador   comprei um jornal
  na quebrada da rua   na esquina
  veio uma pára-quedas se abrindo   veio uma mulher demonstrando interesse pelo malandro
  eu dei a dica   o malandro dirigiu um gracejo à mulher
  ela bolou   a mulher foi receptiva à lisonja do malandro
  eu fiz a pista   acompanhei-a
  colei   aproximei-me, caminhando ao lado da mulher
  solei   conversei com a mulher
  bronquiou   demonstrou com palavras iradas, o seu desagrado
  vivaldina   viva, esperta, inteligente
  o cargueiro estava lhe comboiando   o namorado a estava acompanhando
  morando na jogada   compreendendo a situação
  o Zezinho aqui   forma do malandro referir-se a si mesmo
  o cargueiro jogou a amarração   o namorado se aproximou dela
  um cataplum no pé do ouvido   um soco ou bofetada na orelha
  dei-lhe um bico com o pisante na altura da dobradiça   dei-lhe um pontapé no joelho
  uma muqueada nos mordedores   forma de muque - um soco nos dentes
  taquei-lhe os dois pés na caixa de mudança   saltei-lhe com os dois pés sobre o peito
  ele se coçou, sacou a máquina e queimou duas espoletas   sacou o revólver e fez dois disparos
  papai   (outra forma do malandro referir-se a si mesmo)
  virou pulga   deu um salto
  fêz a dunquerque   evadiu-se, fugiu (alusão à famosa retirada de dunquerque, na Segunda Guerra Mundial)
  vermelho não combina com a cor do meu linho   referia-se ao vermelho do sangue
  tira   policial, detetive, investigador.
  fechar o paletó   matar
  não tenho vocação prá presunto   referia-se ao seu apego à vida
  borracha grande   ônibus
  no fim do carretel   no fim da linha, no ponto final
  bem no vazio da lapa   no Largo da Lapa
  às 15 para a côr deAE??? rosa   às 17 horas e 45 minutos
  matina   manhã (observe-se a influência do elemento imigrante através desse vocábulo italiano)
  o roque do meu pandeiro   o ruído do meu estômago
  china-pau   "china" - (pequenos restaurantes chineses que serviam pratos a preços populares, na época, muito comuns no Rio de Janeiro)
  boi a mossoró com confeti de casamento   bife a cavalo com arroz
uma barriguda bem morta

  cerveja bem gelada
  como o meu era nenhum   como não tinha dinheiro...
  pedi ao caixa prá botá na pindura que depois eu iria esquentar aquela fria   pedi ao caixa um crédito, dizendo-lhe que pagaria a despesa mais tarde.
  dizendo que eu era produto do mangue   o Mangue é um dos prostíbulos do Rio de Janeiro - (curioso notar o eufemismo desta construção)
  me queimei e puxei a solingea   irritei-me e saquei a navalha (a marca do instrumento Solingen, passou a sinônimo de navalha)
  fiz uma avenida na epiderme do moço   fiz um talho na pele...
  êle virou logo américa   ficou vermelho como sangue (América Futebol Clube, cujo uniforme se compõe de camisas vermelhas)
  dedo-duro   delator
  xifópagos   policiais do Rio de Janeiro que sempre andam em duplas (também chamados Cosme e Damião)
 
  patuá   forma giriática para substituir "o negócio", "a questão", "o problema".
  gêlo   desprezo
  esquinar   ficar parado em esquinas, à espera de algo
  cabrocha   mulher
  que preparasse a marmita e amarrotasse o meu linho no sabão   que cozinhasse para mim e lavasse a minha roupa
  bordejAE???ava pelas vias   perambulava pelas ruas
  abasteci a caveira   tomei uma bebida - uma cachaça
  troquei por centavos um embrulhador   comprei um jornal
  na quebrada da rua   na esquina
  veio uma pára-quedas se abrindo   veio uma mulher demonstrando interesse pelo malandro
  eu dei a dica   o malandro dirigiu um gracejo mulher
  ela bolou   a mulher foi receptiva à lisonja do malandro
  eu fiz a pista   acompanhei-a
  colei   aproximei-me, caminhando ao lado da mulher
  solei   conversei com a mulher
  bronquiou   demonstrou com palavras iradas, o seu desagrado
  vivaldina   viva, esperta, inteligente
  o cargueiro estava lhe comboiando   o namorado a estava acompanhando
  morando na jogada   compreendendo a situaão
  o Zezinho aqui   forma do malandro referir-se a si mesmo
  o cargueiro jogou a amarraão   o namorado se aproximou dela
  um cataplum no pé do ouvido   um soco ou bofetada na orelha
  dei-lhe um bico com o pisante na altura da dobradiça   dei-lhe um pontapé no joelho
  uma muqueada nos mordedores   forma de muque - um soco nos dentes
  taquei-lhe os dois pés na caixa de mudança   saltei-lhe com os dois pés sobre o peito
  ele se coçou, sacou a máquina e queimou duas espoletas Sacou o revólver e fez dois disparos

  papai   (outra forma do malandro referir-se a si mesmo)
  virou pulga   deu um salto
  fêz a dunquerque   evadiu-se, fugiu (alusão à famosa retirada de dunquerque, na Segunda Guerra Mundial)
  vermelho não combina com a cor do meu linho   referia-se ao vermelho do sangue
  tira  policial, detetive, investigador.
  fechar o paletó   matar
  não tenho vocaão pr presunto   referia-se ao seu apego à vida
  borracha grande   ônibus
  no fim do carretel   no fim da linha, no ponto final
  bem no vazio da lapa   no Largo da Lapa
  às 15 para a côr de rosa   às 17 horas e 45 minutos
  matina   manhã (observe-se a influência do elemento imigrante através desse vocábulo italiano)
  o roque do meu pandeiro   o ruído do meu estômago
  china-pau   "china" - (pequenos restaurantes chineses que serviam pratos a preços populares, na época, muito comuns no Rio de Janeiro)
  boi a mossoró com confeti de casamento   bife a cavalo com arroz
  e uma barriguda bem morta   cerveja bem gelada
  como o meu era nenhum   como não tinha dinheiro...
  pedi ao caixa prá botá na pindura que depois eu iria esquentar aquela fria   pedi ao caixa um crédito, dizendo-lhe que pagaria a despesa mais tarde.
  dizendo que eu era produto do mangue   o Mangue é um dos prostíbulos do Rio de Janeiro - (curioso notar o eufemismo desta construão)
  me queimei e puxei a solingea irritei-me e saquei a navalha (a marca do instrumento Solingen, passou a sinônimo de navalha)
  fiz uma avenida na epiderme do moço   fiz um talho na pele...
  êle virou logo américa   ficou vermelho como sangue (América Futebol Clube, cujo uniforme se compõe de camisas vermelhas)
  dedo-duro   delator
  xifópagos   policiais do Rio de Janeiro que sempre andam em duplas (também chamados Cosme e Damião)