Jornal da Gíria
Jornal Mensal em idioma gírio – Edição 046 – Ano VII – Niterói RJ – Janeiro/Fevereiro de 2007

Em primeiro lugar, meus agradecimentos aos 259.578 visitantes desta página.
Um fato singular, no ambiente complexo dos estudos da língua portuguesa.
O Jornal da Gíria entra no sétimo ano, difundindo a gíria entre nós e ampliando progressivamente o universo na comunidade dos países de língua portuguesa, considerada sua diversidade.


NA LÍNGUA DAS GERAIS
Algumas pérolas do Dicionário mineirês-português:

NA: Não se trata de gíria, mas de regionalismo, que é um dos seus vetores.
Ressalto que do regionalismo à gíria é uma questão de tempo. Se o regionalismo sai da fronteira e alcança outras regiões assume a condição de gíria. Isto dentro de uma visão mais ampla do fenômeno gírio.
Um regionalismo que se acentuou na contramão dos que previram que desapareceria com o tempo, em função da melhoria da qualidade do ensino da língua portuguesa e da pressão unificadora da linguagem nacional através dos meios massivos de comunicação.
Pura balela.
O fenômeno não é restrito a Minas Gerais.
Acentua-se no Rio de Janeiro, São Paulo, Bahia, Ceará e Santa Catarina.
Veja a edição 036 do Jornal da Gíria, de Novembro-Deembro de 2004, com Gírias de Mineirês,Cearês. Carioquês e Paulistês


O mineirês em sua completa exuberância mineiral:
Procêis qui mora qui nuistadiminas e procêis qui vencá asveiz: Ói qui bão sô... procês intende mió o minero, uai!

PRESTENÇÃO - é quano eu tô falano iocê num tá ovino
CADIQUÊ ? - assim, tentanu intendê o motivo.
CADIM - é quano eu num quero muito, só um poquim
DEU - omez qui 'di mim'. Ex.: larga deu, sô!!
SÔ - fim de quarqué frase. Qué exêmpro tamem? : Cuidadaí, sô !!!
DÓ - omez qui 'pena', 'cumpaxão' : 'ai qui dó, gentch...!!!
NIMIM - omez qui ni eu. Exempro: Nóoo, ce vivi garrado nimim, trem!... Larga deu, sô !!!
NÓOO - Num tem nada a vê cum laço pertado, não! Omez qui 'nossa!..' Vem de Nóoosinhora!...
PELEJANU- omez qui tentanu: Tô pelejanu quesse diacho né di hoje, qui nó! (agora é nó mez!)
MINERIM - Nativo duistadiminnss.
UAI - Uai é uai, sô... uai!
ÉMÊZZZ ?! - minerim querêno cunfirmá.
NÉMÊZZZ ?! - minerim querêno sabê si ocê concorda.
OIAQUI - Minerim tentano chamá atenção pralguma coizz...
PÃO DI QUEJU - osscêis sabe!... Cumida fundamentar qui disputa com o tutu a preferênça dus minêro
TUTU - Mistura de farinha di mandioca (o di mio) cum fejão massadim. Bom dimais da conta, gentch!!!
TREIM - Qué dize quarqué coizz qui um minerim quizé! Ex "Já lavei us trem!" , Qui trem bão!!
NNN - Gerúndio du minerês. Ex: 'Eles tão brincannn', 'Ce ta innn, eu to vinnn...'
BELZONTCH - Capitár dustado.
PÓ PÔ - umez qui pó colocá
POQUIM - só um poquim, pra num gastá muito
JISGIFORA - Cidadi pertin du Ridijanero. Cunfunde a cabeça do minerim que si acha qui é carioca.
DEUSDE - desde. Ex: 'Eu sô magrelin deusde rapazin!
ISPÍA - nome da popular revista 'VEJA'
ARREDA - verbu na form imperativ (danu órdi), paricido cum sai. 'Arredaí, sô!'
IM - diminutivo. Ex: lugarzim, piquininim, vistidim, etc.
DENDAPIA - Dentro da pia.
TRADAPORTA - Atrás da porta.
BADACAMA - Debaixo da cama.
PINCOMÉ - Pinga com mel.
ISCODIDENTE - Escova de dente.
PONDIÔNS - Ponto de ônibus.
SAPASSADO - Sábado passado.
VIDIPERFUME - Vidru de perfume.
OIPROCÊVÊ (ou OPCV) - óia procê vê
TISSDAÍ - Tira iss daí.
ISTURDIA - Otru dia.
PROINOSTOINO? - pronde nós tamo inu?
CÊSSÁ SÊSSE ONS PASNASSAVAS? - ocê sabe se esse ônibus passa na Savassi?


BAFAFÁS, SURURUS, ETC

Ivan Lessa

Eu não gostaria de estar traduzindo nada do português para o inglês, espanhol ou francês, uma dessas línguas mais em voga, à exceção do mandarim, e ter que encontrar o equivalente para “embananamento” ou qualquer um de seus derivados, seja “bananosa” ou o transitivo direto pronominal “embananar-se”.


Em inglês, de estalo, em botaria “in a jam”, literalmente “numa geléia”. Guardaria um certo sabor doce e ficaria na parte de sobremesas do cardápio ou da lista de compras. Mas, vejam só! “geléia”, ainda mais “geral”, e eu ficaria, para não sair da problemática já citada, “embananado”.
Há um milhão, possivelmente mais, de palavras e expressões, que são só nossos e ninguém os tira de nós. Um ou outro mogno, tem malandro que consegue se safar carregando um nas costas pelas fronteiras. Agora “bafafá”, “serelepe” e “sururu” são de propriedade exclusiva nossa, além de dura extração.
O mesmo se dá com qualquer língua que se preze. Faça o país que a fale parte ou não do Conselho de Segurança das Nações Unidas ou do exclusivérrimo Clube Nuclear.
Dizem que o inglês, que o lugar-comum consagrou como “o idioma de Shakespeare”, é a língua mais rica do mundo e tem uma palavra para tudo, sendo inclusive a mais concisa.
Um livro recentemente publicado aqui no Reino Unido (“O significado de Tingo”, edições Penguin) contradiz com todos os Fs e Rs (que os ingleses verteriam para Ps e Qs, por sinal) a idéia mais do que recebida. Seu autor tem um nome à altura da dura missão a que se propôs: encontrar palavras que, de uma só botinada, dêem conta de um recado complexo: Adam Jacot de Boinod, um nome singular que os dicionários não registram a origem.
“Eu já vi esse cigerci antes”
Vamos alinhavar alguns exemplos eloquentes.
Areodjarekput, do inuit, a língua dos esquimós: é a troca de mulheres por alguns dias. Frisemos: alguns dias apenas.
Gagrom, da Índia: procurar alguma coisa debaixo d´água, nela batendo com os pés.
Giomalireached, do gaélico escocês: a mania de dar uma chegada à casa dos outros justamente na hora das refeições.
Gumusservi, do turco: é o luar brilhando nas águas.
Guree, do somali: se apertar em cima de um camelo para outra pessoa nele se acomodar.
Ichigo-ichie, do japonês: uma prática difícil, pois trata-se de aproveitar cada momento tentando torná-lo perfeito.
Ilunga, do dialeto tsishuba, falado no Congo: uma pessoa que esteja disposta a desculpar um desaforo ou abuso pela primeira vez, pela segunda vez, mas nunca, jamais, pela terceira vez.
Nakhur, do persa: um camelo, ou camela, que só dá leite depois de fazerem cócegas em seu nariz.
Pagezuar, do albanês: morrer antes de desfrutar da alegria ou de se casar ou de ver ao menos um filho ou filha se casar.
Razblyuto, do russo: o que se sente por pessoa que já foi mas não é mais amada
Torschlusspanik, do alemão: o medo que vem com o número cada vez menor de oportunidades à medida que se envelhece. Literalmente, pânico diante de um portão que se fecha, em geral aplicado às mulheres que passaram da idade de procriarem.
Ah, sim. “Gicerci” é aquele camarada que vende fígado e pulmões na Turquia. Não fica claro no livro em questão se de gente ou de bicho. Há que se conferir na obra do escritor turco Orhan Pamuk, recentemente contemplado com o Nobel de literatura. “Gumusservi” (a tal do luar) parece que ele emprega umas duas ou três vezes.
Ah, sim, número dois. “Tingo”, na ilha da Páscoa, quer dizer levar embora tudo da casa de um amigo mediante o expediente de ir pedindo emprestado uma coisa de cada vez.

NA: É mais uma homenagem que presto a Ivan Lessa, que trabalha em Londres para a BCC e que teve uma brilhante passagem pelo PASQUIM.

AGRESSIVIDADE PODE CONTRIBUIR PARA USO DAS LÍNGUAS NACIONAIS

Boaventura Cardoso

Luanda, 09/06 - A agressividade e ousadia por parte das instituições públicas e da sociedade civil pode fomentar o uso das línguas nacionais em todo território angolano, disse hoje, em Luanda, o ministro da Cultura, Boaventura Cardoso.

O governante, que fala durante a abertura da reunião de consulta sobre o Estatuto das Línguas Nacionais, disse ainda que as línguas nacionais em Angola são postas em segundo plano, devido ao longo período de colonização que o país viveu.

Para Boaventura Cardoso, não basta apenas definir políticas das línguas, sem antes submetê-las ao crivo de experimentação e da critica para a sua implementação.

"Qualquer política só se revitaliza se souber acolher e favorecer novidades e inovações", argumentou.

Segundo o titular da Cultura, é notório que as camadas jovens das populações rurais que, por consequência da guerra foram obrigadas a deixarem as suas zonas de origem para se fixarem nas cidades, passam por processos de urbanização que as levam a abandonar as sua línguas maternas em prol do português.

A reunião de consulta sobre o Estatuto das Línguas Nacionais é uma organização do Ministério da Cultura e visa conferir e dar maior dignidade as línguas nacionais.

Estiveram presentes no encontro os vice-ministros da Cultura, André Mingas e Virgílio Coelho, representantes de vários ministérios, igrejas, professores universitários, entre outros.

NA: Solicito aos leitores desta página que moram em Angola ou aos angolanos residentes no Brasil para que me enviem gírias angolanas.
Estou trabalhando na 8ª. Edição do meu DICIONARIO DE GÍRIA, idealizado para que fosse restrito às gírias brasileiras. Na 7ª. Edição, entraram gírias de Portugal.
Para a 8ª. Edição, as gírias de Portugal foram consideravelmente ampliadas.
Por outro lado, recebi muitas gírias de Moçambique.
Se puder e tiver condições incluirei gírias de Guiné Bissau e Cabo Verde.