Jornal Mensal em idioma gírio. Edição 041 - ANO Vl – Niterói/RJ –Janeiro e Fevereiro de 2006

 

2005: FELIZMENTE O BRASIL FICOU LIVRE DA CARTILHA DO POLITICAMENTE CORRETO FOI UMA VITÓRIA CONTRA A INTOLERÂNCIA

Agradeço aos 157.022l visitantes desta página, uma referência em gíria na Comunidade dos Países de Língua Portuguesa.

Este é um fato marcante, gratificante.

Em maio de 2005, o país foi surpreendido pelo lançamento do que O GLOBO classificou de “Cartilha do Bom-tom”, na verdade a Cartilha do “Políticamente Correto”, elaborada pela Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República.
A Cartilha caiu como uma bomba. Foram tantas as críticas que o governo houve por bem retira-la de circulação.
Se a Cartilha tivesse sido mantida talvez o JORNAL DA GIRIA não mais existisse e , certamente, o DICIONARIO DE GÍRIA seria censurado.
A Cartilha fez parte de uma ação mais ampla, de um projeto de poder, semelhante ao da Venezuela, que visava censurar o Ministério Público Federal e os meios de comunicação impressos, eletrônicos e digitais.

Vejam a memória da Cartilha:

POLITICAMENTE CORRETO
LINGUAGEM E DELÍRIO AUTORITÁRIO

João Ubaldo Ribeiro (*) em O Globo, de 29.04:

Texto de mensagem enviada pelo autor à sua lista de amigos na internet

Notícia publicada no Globo de sábado (29/4) é estarrecedora [veja íntegra abaixo]. Estamos ingressando numa era totalitária, em que o governo dá o primeiro passo para instituir uma nova língua e baixar normas sobre as palavras que devemos usar? Será proibido em breve o uso de palavrões na língua falada no Brasil? Serão eliminados dos dicionários vocábulos e expressões não considerados apropriados pelo governo? Palavras veneráveis da língua, como "beata", em qualquer sentido, deverão ser banidas? Será criada uma polícia da linguagem? Os brasileiros serão proibidos por lei de discutir vigorosamente e xingar os interlocutores?

Que autoridade tem essa secretaria [Especial dos Direitos Humanos] para emitir essas opiniões, que por enquanto podem ser apenas opiniões, mas nada impede, na ditadura mal disfarçada em que vivemos, que uma medida provisória, da mesma forma com que já nos confiscaram a poupança e os depósitos bancários, venha a ser baixada, confiscando também a nossa língua e os nossos costumes, mesmo os inaceitáveis pela maioria?

Os escritores e jornalistas terão seus livros e textos examinados, para que se expurguem termos ou expressões condenadas? Contar piadas será tido como conduta anti-social e discriminatória? O governo é o dono da língua? As palavras "negro", "preto", "escuro" e semelhantes, nos casos em que não estiverem sendo usadas sem relação alguma com a cor da pele de ninguém, serão vedadas, se em qualquer contexto julgado negativo? As nuvens de chuva por acaso são brancas e alguém está insultando os negros, quando diz que há nuvens negras no horizonte (e há)? Os túneis são escuros e existe alusão racial na expressão "luz no fundo do túnel"? A peste bubônica não poderá mais ser mencionada como a "peste negra"?

Tratar-se-á como injúria ou difamação chamar de comunista alguém que até o seja, mas não se considere como tal? Não se poderá mais dizer que alguém é burro ou cometeu uma burrice? Será publicada uma lista de palavras de uso permitido, ou de uso proibido? Acontece isto em alguma outra parte do mundo? Se um homossexual, como fazem muitos deles, rotular-se a si mesmo de "veado", poderá ser censurado ou punido? O pronome indefinido peculiar à língua falada no Brasil ("nêgo", como em "nêgo aqui gosta muito de uma festa") só será aceitável se for numa afirmação elogiosa ou "positiva"?

Ovinos imbecis

O ridículo dessa cartilha não nos deve cegar para o fato de que está começando o que parece ser uma ampla distribuição, que certamente atingirá as escolas, as quais, já hoje, são obrigadas a classificar racialmente os alunos, dando a entender que certas áreas certamente considerarão um progresso e um passo em direção ao ambicionado terceiro mundo a instituição da segregação no Brasil.

Não podemos aceitar esse delírio totalitário, autoritário, preconceituoso (ele, sim), asnático, deletério e potencialmente destrutivo – e, o que é pior, custeado com o nosso dinheiro. Que está acontecendo neste país? Aonde vamos, nesse passo? Quanto tempo falta para que os burocratas desocupados que incham a máquina governamental regulem nossa conduta sexual doméstica ou nosso uso de instalações sanitárias?

Enfim, o que é isso, pelo amor de Deus? Até quando vamos suportar sermos tratados como um povo de ovinos imbecis e submetidos ao jugo incontestável da "autoridade"? Todo poder emana do povo ou da burocracia? Podemos ser processados se chamarmos um membro do serviço público de "funcionário"? Temos liberdade para alguma coisa? Foi o Estado que nos concedeu o direito de pensar, opinar e dizer, ou este é um direito básico e inalienável, que não nos pode ser tirado?

Exijamos respeito

Não sei mais o que dizer sobre esse descalabro, esse escândalo, essa vergonha, esse sinal de atraso monstruoso, que de agora em diante não deverei mais poder chamar de palhaçada, para não insultar os palhaços. Até onde vamos regredir? É preciso que reajamos, é indispensável que os homens responsáveis por tal despautério sejam dispensados do serviço público, porque lá estão para cometer atentados à liberdade e arbitrariedades desse tipo. É indispensável que assumamos nosso papel de cidadãos detentores da soberania que, pelo menos nominalmente, é entre nós a soberania popular.

Chega de burrice, chega de abuso, chega de incompetência, chega de merda jogada sobre nossas cabeças! Ou então que nos calemos e vivamos o destino de gado a que forcejam para cada vez mais nos impor, a escolha é nossa e essa iniciativa grotesca e idiota seja imediatamente esmagada, ou em breve não teremos direito a mais nada, nem à nossa língua, aos nossos sentimentos e à escolha de nosso comportamento que, não sendo criminoso, é exclusivamente da nossa conta e de mais ninguém.

Não podemos ser mais humilhados e envergonhados dessa forma, exijamos respeito e seriedade, defendamos nossa integridade e dignidade, rebelemo-nos e, sim, xinguemos – bons filhos das putas – ou, melhor, bons rebentos de profissionais femininas do sexo, para respeitar as novas diretrizes. Vão se catar, e não às nossas custas, como vêm fazendo até agora. Desculpem, mas eu não posso conter a indignação e tentar passá-la para tantos compatriotas quanto possível. Saudações democráticas, revoltadas e dispostas a se tornarem revoltosas, de João Ubaldo Ribeiro.

QUANDO É DE BOM-TOM EVITAR PALHAÇO E BAIANADA

Evandro Éboli em O Globo, de 30.04:

BRASÍLIA. Com o objetivo de chamar a atenção da sociedade para os "preconceitos nossos de cada dia", a Secretaria especial dos Direitos Humanos elaborou e está distribuindo a cartilha "Politicamente correto". A publicação reúne 96 palavras, expressões e piadas consideradas pejorativas e que revelam discriminações contra pessoas ou grupos sociais, como negros, mulheres, homossexuais, religiosos, pessoas portadoras de deficiência e prostitutas.

A cartilha foi distribuída esta semana a vereadores, deputados estaduais, militantes de organizações não-governamentais e pessoas envolvidas com políticas de direitos humanos, num seminário na Câmara.

Tiragem inicial da cartilha é de cinco mil exemplares

Na cartilha, foram incluídas expressões como "a coisa ficou preta", "mulher no volante, perigo constante" e palavras como branquelo, burro, aidético, sapatão, veado, bêbado, ladrão e até comunista. A publicação foi organizada pelo subsecretário de Promoção e Defesa dos Direitos Humanos, Perly Cipriano, num convênio com a Fundação Universitária de Brasília.

A tiragem é de cinco mil exemplares e o público-alvo inclui ainda policiais, jornalistas e professores. O texto foi elaborado pelo professor Antônio Carlos Queiroz, da Universidade de Brasília (UnB).

"Todos nós utilizamos palavras, expressões e anedotas que, por serem tão populares e corriqueiras, passam por normais. Mas, na verdade, escondem preconceitos e discriminações contra pessoas ou grupos", afirma Cipriano, na apresentação da cartilha.

O livro aponta como politicamente incorreto chamar as pessoas de palhaço e barbeiro, já que ofenderia os profissionais dessas categorias. No caso de barbeiro, diz a cartilha: "Usado no sentido de motorista inábil, é ofensiva ao profissional especializado em cortar cabelo e aparar a barba".

Já a palavra palhaço não deveria ser usada porque os profissionais do ramo poderiam se ofender "quando alguém chama de palhaço uma terceira pessoa a quem se atribui pouca seriedade".

Baianada é outra expressão condenada na cartilha

Baianada é outra expressão condenada, considerada pejorativa porque atribui aos baianos inabilidade no trânsito. Para a Secretaria de Direitos Humanos, a expressão "preto de alma branca" é altamente racista e segregadora e um dos slogans mais terríveis do que chama de ideologia de branqueamento do país.

A palavra baitola, usada vulgarmente para referir-se a homossexuais, é apontada como depreciativa. A cartilha recomenda que se use as palavras gay ou entendido e entendida. O texto considera um insulto chamar de louco um portador de deficiência mental, expressão correta. "A palavra (louco) é usada também para reprimir pessoas que por razões políticas ou antiinstitucionais manifestam rebeldia".

Perly Cipriano afirma que a cartilha não quer promover discriminação às avessas, mas sim incentivar o debate e a reflexão

A cartilha condena:

A COISA FICOU PRETA: forte conotação racista contra os negros, pois associa o preto a uma situação ruim.

AIDÉTICO: termo discriminador, o correto é HIV positivo ou soropositivo, para quem não apresenta os sintomas, e pessoa com Aids ou doente de Aids, para quem apresenta os sintomas.

ANÃO: são vítimas de um preconceito peculiar: o de sempre serem considerados engraçados. Não há nada especialmente engraçado. O fato de ser anão não afeta a dignidade.

BAIANADA: atribui aos baianos inabilidade no trânsito. É um preconceito de caráter regional e racial, como os que imputam malandragem aos cariocas, esperteza aos mineiros, falta de inteligência aos goianos e orientação homossexual aos gaúchos.

BAITOLA: utilizada para depreciar os homossexuais, assim como bicha e boiola. Sugeridos como corretos: gay e entendido (a).

BARBEIRO: xingamento para motorista inábil. Ofensiva ao profissional especializado em cortar cabelo e aparar a barba.

BEATA: deprecia mulheres que vão com muita freqüência à missa.

CABEÇA-CHATA: termo insultuoso e racista dirigido aos nordestinos, cearenses em especial.

COMUNISTA: contra eles foram inventadas calúnias e insultos, para justificar campanhas de perseguição que resultaram em assassinatos em massa, de caráter genocida, como durante o regime nazista na Alemanha.

FARINHA DO MESMO SACO: junto com expressões como todo político é ladrão, todo jornalista é mentiroso, os muçulmanos são terroristas, ilustra a falsidade e leviandade das generalizações apressadas, base de todos os preconceitos. O fato de haver políticos corruptos, jornalistas imprecisos e muçulmanos extremistas não significa que a totalidade desses segmentos mereça aquelas respectivas acusações.

FUNCIONÁRIO PÚBLICO: depois de sistemáticas campanhas de desprestígio contra o serviço público, os trabalhadores dos órgãos e empresas públicas preferem ser chamados de servidores públicos, para enfatizar que servem ao público mais do que ao Estado.

GILETE: o termo adequado é bissexual.

HOMOSSEXUALISMO: é mais adequado usar homossexualidade. Homossexualismo tem carga pejorativa ligada à crença de que a orientação homossexual seria uma doença, uma ideologia ou movimento político.

LADRÃO: termo aplicado a indivíduos pobres. Os ricos são preferencialmente chamados de corruptos, o que demonstra que até xingamentos tem viés classista.

MULHER DA VIDA OU DE VIDA FÁCIL: eufemismos para caracterizar a profissional do sexo, prostituta.

MULHER NO VOLANTE, PERIGO CONSTANTE: frase preconceituosa contra as mulheres, a quem se atribui menos habilidade no trânsito em comparação com os homens, contrariando, aliás, os levantamentos estatísticos.

NEGRO: a maioria dos militantes do movimento negro prefere este termo a preto. Mas em certas situações as duas expressões podem ser ofensivas. Em outras, podem denotar carinho nos diminutivos neguinho ou minha preta.

PALHAÇO: o profissional que vive de fazer as pessoas rirem pode se ofender quando alguém chama de palhaço uma terceira pessoa a quem se atribui pouca seriedade.

PRETO DE ALMA BRANCA: um dos slogans mais terríveis da ideologia do branqueamento no país, que atribui valor máximo à raça branca e mínimo aos negros. Frase altamente racista e segregadora.

SAPATÃO: usada para discriminar lésbicas,mulheres homossexuais. Entendidas e lésbicas são termos mais adequados.

VEADO: uma das referências mais comuns e preconceituosas aos homossexuais masculinos. Expressões adequadas são gay, entendido e homossexual.

XIITA: um dos ramos do Islamismo se tornou no Brasil termo pejorativo que caracteriza militantes políticos radicais e inflexíveis.

PRESSIONADO, GOVERNO VAI REVER CARTILHA DO BOM-TOM

Publicou O Globo, de 03.05:
Diante das críticas e da repercussão negativa da cartilha “Politicamente correto”, a Secretaria Especial de Direitos Humanos decidiu enviar o texto para revisão. O ministro Nilmário Miranda admitiu mudar o conteúdo da publicação, que causou polêmica por desaconselhar o uso de palavras como palhaço, comunista, negro e barbeiro, consideradas pejorativas. A edição da cartilha foi revelada pelo GLOBO no sábado.
Nilmário afirmou que a cartilha foi publicada para fazer as pessoas refletirem sobre expressões do dia-a-dia. O ministro disse que sua secretaria jamais editaria um texto autoritário.

— Não há nada de autoritário na decisão do governo de publicar a cartilha. É um texto educativo. Não vai ser transformado em lei — disse.

A revisão será feita pelo Comitê Nacional de Educação em Direitos Humanos. Serão levadas em conta sugestões e críticas publicadas na imprensa nos últimos dias.
Idealizador do glossário quer incentivar a reflexão

A idéia de lançar o livro foi do subsecretário de Promoção e Defesa dos Direitos Humanos da secretaria, Perly Cipriano. Ontem, ele disse que o objetivo da cartilha não é normatizar nada:

— Ninguém do governo quer determinar o que se deve fazer ou dizer. Não vamos ficar vigiando ninguém. Há necessidade de refletir sobre expressões usadas no cotidiano. Se tiver alguma palavra que não esteja plenamente aceita, será revista — disse Cipriano, que não informou o valor gasto com a publicação de cinco mil exemplares do glossário, distribuído a jornalistas, policiais e profissionais da área de direitos humanos.

Na cartilha, foram incluídas expressões como “a coisa ficou preta”, “mulher no volante, perigo constante”, “branquelo”, “aidético”, “sapatão”, “bêbado” e até “comunista”. Ao todo, o glossário tem 96 termos, expressões e piadas consideradas pejorativas. Ele foi elaborado numa parceria da secretaria com a Fundação Universitária de Brasília, que contratou o jornalista Antônio Carlos Queiroz para produzir o texto. Queiroz disse que ouviu profissionais ligados a ONGs e pessoas que trabalham na Secretaria Especial de Direitos Humanos:

— Ninguém precisa concordar com o que está no livro. Não é uma coisa impositiva. É uma primeira tentativa e é bom que suscite polêmica. Não queríamos que saísse algo que não se discuta.

Palhaços não gostam quando profissão vira ofensa

Queiroz é vice-presidente do Sindicato dos Jornalistas do Distrito Federal e disse ter recebido R$ 5 mil para preparar a cartilha. Ele justificou a inclusão de algumas palavras e disse, por exemplo, que várias pessoas que trabalham como palhaço não gostam de ver sua profissão relacionada a pessoas pouco sérias.

Expressões condenadas

A COISA FICOU PRETA: conotação racista contra os negros, pois associa o preto a algo ruim.

AIDÉTICO: o correto é HIV positivo ou soropositivo (se não há sintomas), e pessoa com Aids ou doente de Aids (se há).

ANÃO: vítimas de um preconceito peculiar: o de sempre serem considerados engraçados.

BAIANADA: atribui aos baianos inabilidade no trânsito. Preconceito de caráter regional.

BAITOLA: deprecia homossexuais, bem como bicha e boiola. Sugeridos: gay e entendido (a).

BARBEIRO: insulto para motorista inábil. Ofensivo ao profissional que corta cabelo e barba.

BEATA: deprecia mulheres que vão com muita freqüência à missa.

CABEÇA-CHATA: termo insultuoso e racista dirigido aos nordestinos, cearenses em especial.

COMUNISTA: contra eles foram inventadas calúnias para justificar campanhas de perseguição que resultaram em assassinatos em massa, como durante o nazismo na Alemanha.

FARINHA DO MESMO SACO: com expressões como todo político é ladrão, muçulmanos são terroristas, ilustra a falsidade das generalizações, base dos preconceitos.

PALHAÇO: o profissional que vive de fazer as pessoas rirem pode se ofender quando alguém chama de palhaço uma terceira pessoa a quem se atribui pouca seriedade.

DIREITOS HUMANOS
Governo suspende a cartilha do "politicamente correto"
Publicou o Diário Vermelho, do PcdoB, de 06.05
O Comitê Nacional de Educação em Direitos Humanos decidiu em 06.05 suspender a circulação da cartilha “Politicamente Correto em Direitos Humanos”, elaborada pela Secretaria Nacional de Direitos Humanos (SEDH).
O impresso contém 96 palavras e expressões que os autores consideraram pejorativas e discriminatórias contra as mulheres, os negros, os homossexuais e os portadores de deficiência física, entre outros grupos sociais. Divulgada pelo jornal O Globo no sábado da semana passada, a cartilha provocou uma indignada carta do escritor João Ubaldo Ribeiro e uma polêmica nacional que continua.
Entre as 96 palavras e expressões tidas como preconceituosas incluem-se: "aidético", "anão", "barbeiro", "beata", "cabeça chata", "comunista", "funcionário público", "homossexual", "negro", "palhaço", "político" e "xiita".
O comitê, vinculado à secretaria do ministro Nilmário Miranda, é composto por 31 representantes de universidades, de organizações não-governamentais, do Congresso Nacional e de órgãos do governo.
O Comitê propôs a realização de um seminário para discutir a relação entre a linguagem e a discriminação. Previsto para junho, o seminário “Linguagem, poder e preconceito” irá discutir estratégias educativas para lidar com a questão.
Segundo a SEDH, "o tema foi considerado importante pelo comitê, que sentiu a necessidade de realizar uma discussão mais ampla sobre o assunto com estudiosos e a sociedade civil. Por considerar que a cartilha tem limitações, o Comitê decidiu aprofundar a discussão sobre o tema de forma interdisciplinar, ouvindo os grupos atingidos por discriminação, como afrodescendentes, homossexuais e pessoas com deficiência. O seminário irá discutir, além de estratégias educativas para tratar a linguagem, o papel do Estado nesta discussão", diz a SEDH.
Com agências e SEDH

JOSÉ JORGE DIZ QUE EXCESSO DE CARGOS É RESPONSÁVEL PELAS GAFES DO GOVERNO

Publicou o site do Senado Federal, de 09.05
O excesso de ministérios e de cargos que teriam sido criados pelo governo Luiz Inácio Lula da Silva para acomodar petistas derrotados em eleições estaria provocando um grande número de gafes e trapalhadas na esfera do Executivo federal. A opinião foi emitida pelo senador José Jorge (PFL-PE), na tarde desta segunda-feira (9), ao citar o exemplo da publicação, pela Secretaria de Direitos Humanos, da Cartilha do Politicamente Correto, posteriormente retirada de circulação.
- Com o excesso de cargos nos 36 ministérios atuais, tem muita gente sem fazer nada. Por causa disso, a cada dia o que se vê é um festival de besteiras que o governo Lula vem fazendo. Essa cartilha talvez seja um dos maiores absurdos que o governo já cometeu. Foi feita com dinheiro público, e o pior é que só notaram o absurdo depois que ela começou a ser distribuída e mandaram recolher - afirmou José Jorge.
A cartilha publicada pela Secretaria de Direitos Humanos, segundo José Jorge, recomenda que certas expressões não sejam utilizadas por formadores de opinião. Entre as palavras e termos que o governo não recomenda, enumerou o senador, estariam "fanático", "farinha do mesmo saco", "louco", "detento", "coxo" e "crioulo". Em tom irônico, o senador Mão Santa (PMDB-PI) indagou se a expressão "núcleo duro" (forma como é tratado o grupo de ministros mais importantes do governo) aparece na cartilha.
Depois de revelar que levou mais de uma semana para conseguir um exemplar da cartilha, e só obteve êxito por meio de um jornalista, que a emprestou para o senador se pronunciar em Plenário, José Jorge afirmou que mandará fazer, em uma gráfica, uma pequena tiragem para distribuir. Ele antecipou que um dos exemplares será entregue a um ministro do Supremo Tribunal Federal que entrou em contato demonstrando interesse em conhecer a publicação.
Em aparte, o senador Pedro Simon (PMDB-RS) opinou que o ministro da Secretaria de Direitos Humanos, Nilmário Miranda, deveria ser punido por ter ferido a imagem do governo federal. "O ministro publica e não vê a importância e o significado de uma medida como essa; esse cidadão não tem condições de cuidar dos direitos humanos", declarou Simon.
autorizar o patrocínio de um encontro de gays, lésbicas e travestis utilizando dinheiro do Fundo de Combate e Erradicação da Pobreza); e o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles (por aumentar a taxa de juros pela oitava vez consecutiva

A COISA ESTÁ BRANCA

Publicou FERREIRA GULLAR, na Folha de São Paulo, de 15.05:

Embora todo mundo já tenha escrito sobre a tal cartilha que a Secretaria Especial de Direitos Humanos do governo federal elaborou e editou, também vou meter o meu bedelho no assunto. Vocês hão de lembrar que sobre o papa eu não escrevi, que de papa eu não entendo; de cartilha também não, mas querer nos ensinar que pega mal usar expressões como "farinha do mesmo saco" indica que esse pessoal do Lula ou não tem mesmo o que fazer ou está a fim de nos encher o saco (com perdão da expressão politicamente incorreta).
Essa coisa de censurar palavras e expressões nascidas do falar popular é uma mania que de vez em quando aflora. Não faz muito, surgiu uma onda exigindo que se expurgassem dos dicionários palavras como "judiação" ou "judiar", sob o argumento de que são expressões anti-semitas. Bastava pensar um pouco para ver que tais palavras não se referem aos judeus, e sim a Judas Escariotes, isto é, à malhação do Judas no Sábado de Aleluia. Judiar ou fazer judiação é submeter alguém a maus-tratos semelhantes aos que a molecada faz com o boneco de Judas.
Outra expressão que a ignorância rancorosa considera insulto racista é "a coisa está preta", que, na verdade, como se sabe, alude ao acúmulo de nuvens negras no céu no momento que precede as tempestades. Assim, quando alguém pressente que as coisas estão se complicando, usa aquela expressão. Pois acreditem vocês que um conhecido meu, pessoa talentosa, me disse que em sua casa está proibido dizer "a coisa está preta"; lá se diz "a coisa está branca"! Pode?
Essa cartilha -que o governo promete consertar, como se tal coisa tivesse conserto- pode abrir caminho para restrições à liberdade de expressão, se não em termos de lei, mas por induzir pais de família e professores a discriminar textos literários ou jornalísticos e, conseqüentemente, seus autores. No que me toca, já estou de orelha em pé, pois acabo de lançar um livro para crianças (!!) cujo título é "Dr. Urubu e Outras Fábulas". Para azar meu, o poema que dá título ao livro começa assim: "Doutor Urubu, a coisa está preta".
Temo ser levado ao Tribunal da Inquisição por incorrer em duplo delito, pois, além de usar a expressão condenada, ainda dou a entender que a frase alude à cor negra da ave, e logo que ave! Um urubu, bicho repugnante, que só come carniça! Adiantaria alegar que não fui eu quem pintou o urubu de preto? Minha sorte é que vivemos numa democracia, e o nosso povo, por índole, é pouco afeito ao fanatismo desvairado, em que pesem as exceções.
Exagero? Pode ser, mas, se exagero, é de propósito, para pôr à mostra o que há de perigoso e burro nesses defensores do politicamente correto, porque, se não há o perigo da fogueira, há o perigo do império da burrice ir tomando conta do país. E tudo devidamente enfeitado de boas intenções.
Sim, porque, conforme alegou o autor da cartilha, ela foi concebida com o propósito de resguardar a suscetibilidade de brancos e negros, de judeus e muçulmanos, de cearenses e baianos, de palhaços e beatas... Até os comunistas foram beneficiados sob o pretexto de terem sido vítimas de graves calúnias. Não sei se a Secretaria de Direitos Humanos acha natural chamar a outros de fascistas ou nazistas; quanto a acoimá-los de vigaristas, creio que não, pois isso ofenderia os vigários em geral. Não posso afirmar se a cartilha resguarda também a suscetibilidade dos chifrudos, dos pançudos, dos narigudos, dos cabeludos e dos cabeçudos; dos pirocudos, acredito que não, pois isso é tido como elogio. Mas e as moças de pouca bunda e poucos seios (do tipo Gisele Bündchen), que o pessoal apelida de "tábua"? E o gorduchos, apelidados de "bolão"? Os magricelas, de "espeto"? E os baixotes, chamados de "meia porção"? Isso sem falar num respeitável senador da República a quem seus confrades -acredito que sem malícia- apelidaram de "lapiseira".
Estou de acordo com que não se deva tratar pessoa nenhuma por apelidos depreciativos. Por exemplo, num papo com Bin Laden, eu teria a cautela de não chamá-lo de terrorista, especialmente se ele estivesse acompanhado de um homem-bomba. Do mesmo modo agiria com o juiz Nicolau, a quem nunca trataria de "meritíssimo Lalau", embora certamente não lhe revelasse a senha de meu cartão de crédito.
Como se vê, isso de falar politicamente correto envolve muitos problemas, porque não se trata de engessar apenas o humor (bom ou mau) das pessoas, mas de engessar o próprio idioma. Falar, de certo modo, é reinventar a língua, já que o que se diz estava por ser dito e, ao dizê-lo, damos-lhe uma forma imprevisível até para nós mesmos. Além disso, há pessoas especialmente dotadas de verve, que nos surpreendem (e a si próprias) com expressões às vezes irônicas, sarcásticas ou simplesmente engraçadas. Criam modos de dizer inusitados, apelidos, ditos, tiradas, que nos divertem e enriquecem o nosso falar cotidiano. É que falar é um exercício de liberdade (para o bem ou para o mal), que não cabe nos preceitos de uma cartilha ou de um código de censura.
Aliás, para terminar, sugiro que se mudem os nomes de certos insetos como barata, formiga e piolho, por coincidirem lamentavelmente com os sobrenomes de algumas respeitáveis famílias brasileiras.

(Serviço: para entender o que está neste JORNAL DA GIRIA compre o DICIONÁRIO DE GÍRIA, de JB Serra e Gurgel, à venda na Saraiva e na Siciliano, a 20 mangos, 20 contos, 20 merréis, 20 reais, 20 barões, 20 paus, 20 pratas, 20 pilas. Se preferir, peça direto ao autor, com direito a autografo. E-mail: gurgel@cruiser.com.br

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