Jornal Mensal em idioma gírio – Edição 049 – Ano VII – Niterói RJ – Agosto-Outubro de 2007


Agradeço aos 302.649 mil visitantes desta página e deste Jornal da Gíria, criado sem pretensão de chegar onde já chegou. Não pretendo parar aqui, salvo obstáculos intransponíveis.

A gíria conquista dia a dia mais espaço e deverá ampliar seus redutos, enquanto o Ministério da Educação for dirigido por javaneses (literalmente na dimensão de Lima Barreto) e enquanto os demais javaneses das Universidades, Faculdades, Colégios e Cursos, em todos os níveis de alfabetização e escolarização, continuarem criando dificuldades para o ensino da Língua entre nós.

Estamos criando uma geração de javaneses com duas fortes agravantes. Nunca mais a Língua Portuguesa será a mesma a partir da Internet e da Periferia. São dois fenômenos que já produzem mudanças estruturais na Língua. A Internet é um fenômeno universal e global. A Periferia é um fenômeno calçado na exclusão social e na ignorância e na aculturação. Os estragos são grandes e deles não se deram conta os ditos professores de português, lingüistas, especialistas, pruristas, etc.

A Língua portuguesa, a língua padrão, a linguagem padrão, a norma culta , tudo está sendo jogado na lata do lixo, diante de uma omissão coletiva. Não apenas de um governo ocupado, de cabo a rabo, por gente inculta, analfabetos funcionais e ignorantes. Mas de uma nação que jamais se deu conta que tinha uma Lingua, uma identidade lingüística, uma referência, um patrimônio e nunca se empenhou em sua defesa.

Poucas instituições – como a Academia Brasileira de Letras – saem em defesa da Língua. Seus dirigentes clamam no deserto.
Vejam, nesta edição, algumas notas sobre as causas desta distonia entre o governo e a nação e a Língua brasileira.


ACORDO INTERNACIONAL DEVE MUDAR ORTOGRAFIA NO BRASIL
A abolição do trema é uma das mudanças propostas.
Queda do circunflexo em palavras como vôo e enjôo também está prevista.

DO G1, NO RIO, COM INFORMAÇÕES DO JORNAL NACIONAL, EM 08.09:

As normas que regem a escrita no Brasil têm futuro incerto. Com o acordo ortográfico discutido pelos países que falam o português, muitas mudanças podem vir por aí.
Na hora de enfrentar papel e caneta, o bom português nem sempre está na ponta da língua. As dúvidas agora chegam até a Academia Brasileira de Letras (ABL).
Em um mês de funcionamento, o serviço que responde a perguntas sobre a língua portuguesa recebeu 1.500 consultas pela internet. E muito mais pode vir por aí, quando o acordo ortográfico discutido pela Comunidade dos Países de Língua Portuguesa sair do papel.
Será uma nova reforma para deixar mais parecido o português que
Parte das bandeiras do Brasil e de Portugal (Foto: Reprodução/G1)
se escreve no Brasil, em Portugal e mais seis países. O acordo ortográfico vai mudar uma parte desse enorme universo de palavras. Hoje, no Brasil, são 360 mil e todas elas estão aqui no vocabulário oficial da ABL.

Saiba mais
A maneira de escrever muitas dessas palavras deve mudar para que os países de língua portuguesa possam, no futuro, consultar um dicionário único. Para que a gente, além de falar, também escreva a mesma língua.
"Vantagens culturais, vantagens de ordem política, vantagens de ordem de econômica até, porque aí a língua portuguesa não terá duas vertentes em matéria de ortografia", explica Evanildo Bechara, gramático e membro da ABL.
A idéia é economizar acentos. O circunflexo, popular chapeuzinho, sai de cena em palavras como vôo, abençôo,enjôo. E o trema? Tão desprezado que tem gente que nem sabe o nome.
"Não tá faltando nada?", pergunta a repórter a uma mulher ao mostrar "linguiça" escrito em um papel. "Acho que a crase", responde a mulher. "Dois pontinhos pra você é crase?", pergunta a repórter. "É. Até hoje em dia, sim", finaliza a mulher.
Pois os dois pontinhos podem ser extintos. Para os jovens da geração internet, que já aboliram os acentos por conta própria, a mudança vem tarde. "Não vai fazer grande diferença, porque a gente já não usa mesmo", reconhece uma jovem estudante.
Brasil, Cabo Verde e São Tomé e Príncipe já ratificaram o acordo, mas Portugal não se posicionou, por isso, a mudança ainda não vale.

MÍDIA ELETRÔNICA FACILITA REFORMA ORTOGRÁFICA
Rapidez está ligada ao fato de dicionários e corretores on-line dispensarem impressão.
Última reforma foi realizada em 1971, na era ‘pré-internet’.

JULIANA CARPANEZ Do G1, em São Paulo, em 1009:

Os dicionários virtuais podem agilizar a criação de referências para a reforma ortográfica, que ainda está sem data para entrar em vigor. Isso porque as alternativas on-line e os corretores digitais dispensam a etapa da impressão e, assim, podem exibir antes dos dicionários tradicionais a atualização das palavras alteradas.
Apesar das expectativas, só a experiência poderá mostrar se a informática vai realmente facilitar esse processo de transformação. Na última reforma ortográfica, somente os meios impressos sofreram mudanças: ela foi realizada em 1971, na era pré-internet.
A Microsoft afirma que, quando a reforma entrar em vigor no país, “trabalhará para definir a melhor forma de viabilizar a atualização ortográfica da versão brasileira do Word”. O mesmo acontece com o Dicionário Aurélio Digital, da Positivo informática. “Estamos nos preparando para atuar assim que o acordo for implementado”, disse ao G1 Radamés Manosso, produtor de conteúdos e ferramentas para internet da Positivo.
Como todo o conteúdo usado com referência no universo digital fica em banco de dados, as alterações devem ser mais rápidas. Manosso dá um exemplo: “a reforma propõe a extinção do trema. Com o auxílio do computador, ficará mais fácil localizar as palavras com trema na base de dados e realizar essas mudanças.”
O executivo lembra, no entanto, que existe a possibilidade de as duas versões serem liberadas simultaneamente. “O Aurélio é uma referência para as pessoas e, por isso, a versão on-line precisa ser impecável. Além disso, a linha de produtos tem uma unidade e não é interessante rompê-la”, continuou. A revisão das palavras a serem alteradas será única para as duas alternativas.
As empresas de tecnologia ainda não definiram como a reforma será conduzida. No meio on-line, as mudanças ortográficas poderão ser feitas através de pacotes de atualização instalados nos computadores dos usuários. Também é possível que as empresas prefiram realizar todas as mudanças de uma só vez, para não haver confusões.
Outra alternativa possível no meio digital, quando as mudanças já tiverem todas sido feitas, é exibir as duas versões de uma mesma palavra: a mais atual e a antiga, para que os usuários possam compará-las.
Portugal pode atrasar reforma ortográfica


PAÍS TEM DEZ ANOS PARA COLOCAR ACORDO EM VIGOR.

SIMONE HARNIK Do G1, em São Paulo, em 10.09
A um ano de se tornar “maior de idade”, com 18 anos, o acordo ortográfico assinado pelos países de língua portuguesa tem toda a cara de virar um “trintão” sem nem ser aplicado. É que Portugal dá indícios de que só implantará o acordo daqui a dez anos. Como se não bastasse a indefinição lá no velho mundo, aqui no Brasil o Governo federal ainda não tem prazos definidos para o que se poderia chamar de “desacordo ortográfico”.
Não há pronunciamento oficial do governo português, apenas um artigo da ministra da Cultura de Portugal, Isabel Pires de Lima, no qual ela diz que o acordo “ao entrar em vigor dentro de um período de dez anos, permite ao tecido editorial preparar-se com uma margem de conforto para este novo cenário (...)”. Para entrar em vigor em Portugal, a reforma ortográfica deveria passar por duas instâncias: o Conselho de Ministros e a Assembléia da República.
O ministro da Educação brasileiro, Fernando Haddad, questionado pelo G1, sobre quando, de fato, a reforma vai ser implantada, disse apenas que “o Itamaraty está centralizando as negociações com o governo português, e que o acordo já pode entrar em vigor”. Não deu data e nem opinião sobre a conveniência dela para o país. Uma comissão deverá discutir prazos no próximo dia 14.
Legalmente, todas as mudanças que buscam unificar o registro escrito nos oito países que falam o idioma - Angola, Moçambique, Cabo Verde, Guiné-Bissau, São Tomé e Príncipe, Timor Leste, Brasil e Portugal - já poderiam estar valendo, como explica o embaixador do Brasil, Lauro Moreira, que trabalha junto à Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP).
“Em 1990, o que foi assinado dizia que o acordo entraria em vigor em 1994, com a ratificação dos sete países, pois o Timor Leste ainda não era independente. Passaram os anos e nada de os sete países ratificarem”, conta Moreira. “Então, em 2004, foi assinado um protocolo modificativo, que dizia que o acordo entraria em vigor quando três países tivessem ratificado. O Brasil, Cabo Verde e São Tomé e Príncipe já ratificaram.”
De acordo com o gramático Evanildo Bechara, da Academia Brasileira de Letras, que está à frente das negociações, sem a ratificação de Portugal, dificilmente o acordo pode vigorar, pois “os países africanos, de modo geral, seguem o que Portugal definir”.
Bechara diz que o Brasil deu o primeiro passo, mas Portugal ainda não sinalizou mudanças. "Em 1990, Portugal aceitou abolir as consoantes mudas. Agora que o Brasil cedeu muito mais, Portugal está dizendo que quer que a reforma entre em vigor a dez anos", afirma.
O que pode mudar na língua?
As crianças não poderão mais aprender o alfabeto cantando o “Abecedário da Xuxa” – se é que elas ainda aprendem assim. É que o novo alfabeto vai incorporar o “k”, o “w”, e o “y”, ficando, então, com 26 letras.
Haverá a supressão de acentos diferenciais, como o de “pára”, do verbo parar; de acentos agudos em ditongos como o de idéia (virará “ideia”); e do circunflexo em “vôo” ou “crêem”; além de mudanças com o hífen. E o trema (aqueles dois pontinhos que muitos se esquecem de colocar sobre o “u”) desaparecerão. Não se sabe bem se a medida dará tranqüilidade ou se deixará seqüelas.

COMISSÃO DISCUTE PRAZOS PARA O ACORDO ORTOGRÁFICO
A Comissão para Definição da Política de Ensino-Aprendizagem, Pesquisa e Promoção da Língua Portuguesa (Colip), da Secretaria de Educação Superior (Sesu) do Ministério da Educação (MEC), se reuniu para discutir a implantação do acordo ortográfico da língua portuguesa no Brasil.
Segundo o presidente da comissão, Godofredo de Oliveira Neto, a reunião, no Rio de Janeiro, serviu para definir o processo de introdução das novas normas no Brasil. Serão discutidos, por exemplo, o prazo de convivência das duas normas - a atual e a prevista no acordo - e o tempo necessário para que os livros e outras publicações sejam adaptados à nova ortografia.
Segundo o presidente da comissão, Godofredo de Oliveira Neto, a reunião, que será no Rio de Janeiro, servirá para definir o processo de introdução das novas normas no Brasil. Serão discutidos, por exemplo, o prazo de convivência das duas normas - a atual e a prevista no acordo - e o tempo necessário para que os livros e outras publicações sejam adaptados à nova ortografia.
Neto explica que os outros países que já assinaram o acordo, Cabo Verde e São Tomé e Príncipe, também estão trabalhando no mesmo processo em suas localidades. Segundo a regra da Comissão dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), o acordo já pode entrar em vigor, porque três países já o ratificaram.
O acordo busca unificar o registro escrito nos oito países que falam o idioma - Angola, Moçambique, Cabo Verde, Guiné-Bissau, São Tomé e Príncipe, Timor Leste, Brasil e Portugal. O ministro da Educação, Fernando Haddad, informou nesta quinta-feira (6) que o Ministério das Relações Exteriores está negociando com os países da CPLP, que ainda não ratificaram o acordo, uma data comum para a adoção das novas normas.



A LÍNGUA AFECTIVA

Escreveu o jornalista, escritor e colunista Joaquim Ferreira dos Santos, em O Globo, de 13.09:
Meu prezado professor Nélson Cunha Mello, venho por meio destas mal traçadas linhas, medindo as palavras, mas sem ficar no chove não molha, nem cheio de dedos, dizer na lata que agradeço penhorado o convite para escrever o prefácio de seu espetacular dicionário de expressões coloquiais brasileiras. Melhor que isso, só dois disso. É Deus no céu e seu dicionário na terra. Mas, infelizmente, vou ser curto e grosso. Não posso. Seu “Conversando é que a gente se entende”, com mais de dez mil casos, palavras, ditos populares, gírias, bordões, máximas e outras forma do falar informal, vai virar obra de referência clássica, sonho de consumo para todos que gostam de brincar com a língua afetiva, metê-la onde não se deve e cavucar gostoso as idiossincrasias da fala que se fala na falácia desta vida real. Mil desculpas.

Assaz me honraria a carona na tua aba de pesquisador de primeira. Sei da inteligência de se chegar aos bons e ser um deles. Mas leva a mal, não, Nélson. O bicho tá pegando, meu irmão.
O pau tá roncando na casa de Noca. Longe de mim passar por um cara cheio de novehoras, ipsilone e lero-lero. O buraco é mais embaixo.
Tá ruço, meu nego. Estou o próprio burro de carga, suando sangue, sabe como é que é?! Trabalho feito um condenado, num sufoco que eu vou te contar, tudo pra no final do mês descolar uns cobres e honrar os carnês. Conhece aquela música do “Tá faltando um zero no meu ordenado”? Pois, então. Eu, Zé Mané vacilão. Espero que você compreenda. O motivo é de força maior. Digo isso com o coração apertado, água na boca, na maior cara limpa, e certo de que estou engolindo barriga. Mas fazer o quê? Não empomba comigo, não é embromação.
Tempo nenhum para prefaciar à altura sua magnífica obra. Salta à vista a qualidade do dicionário, uma peça rara no gênero, já que pode ser usado como fonte de consulta e também como leitura isolada, um volume em que se viaja como numa deliciosa crônica dos costumes nacionais. É a língua que eu também gosto de sentir na minha orelha, caro Nélson, e estamos juntos no apreceio desse pitéu. Dessa fruta eu chupo até o caroço, lambo os beiços e passo na cara. Minha alma canta quando ouço um “miolo mole”, “botar os bofes pela boca” e “esculhambação”. Vivo disso, da insistência nesses rega-bofes que os chiques dizem apenas ser a língua vulgar. Bando de emergentes proparoxítonos, gente de outro ramo e paladar.
Eu não confundo bife de caçarolinha com rifle de caçar rolinha, e te agradeço por perceberes meu gosto por esse drible da vaca. Você me procurou por eu ter, tempos atrás, perpetrado meia dúzia de textos sobre a necessidade de se recuperar esses borogodós semânticos, essas carraspanas vernaculares, essas sirigaitas do palavreado nacional que vão se perdendo, tiram o time de campo, levam esbregues do discurso telemarketing — e, no entanto, da mesma forma que o samba, a prontidão e o Cristo no alto da colina, elas são coisas nossas.
É isso mesmo, Nélson. Senta a pua! Vamos estar disponibilizando para a cachola desses otários do gerundismo o ouvido de tuberculoso dos que gostam da carne farta das palavras cheias. Vamos estar afogando, para eles verem o que é bom para a tosse, a cobra caolha no buzanfã desses pernósticos. Vão catar coquinho! Todos para a Cochinchina, onde já se viu?! Um país como este aqui é feito das curvas do Niemeyer, da folha-seca do Didi, dos descompassos do Jobim e de gente como a gente que chega no balcão e, na maciota, sem cagar goma, pede, ei, garçom, me dá aquela que matou o guarda. De gente que olha a mulata assanhada passando com graça, sente um frio na espinha e diz “O que é a natureza!”. Drummond estava certo. As palavras são a senha da vida, a senha do mundo. Elas têm perfume embaixo das vogais, tesão por cima das consoantes.
Senti pimenta entre os dentes quando, dias atrás, disse songamonga numa conversa sobre Carlos Zéfiro, porque a iniciação sexual dos meninos do tempo de Dom João Charuto vinha pelo palavrório, e songamonga era como se chamavam nas revistas de sacanagem aquelas diabinhas que queriam, mas fingiam que não queriam. Não havia o Sexy Hot no meio da sala.
Mulher pelada chegava aos meninos embalada dentro da palavra nua e crua. Nada da Siri, rica de recortes, na “Playboy”. Eu sou capaz de morder sagu de mingau toda vez que digo rebimboca da parafuseta, porque é uma expressão muito engraçada e me lembra um colega de infância teimando que dentro dela, no seio de suas bilabiais explosivas, estava contido algum mistério sexual que os adultos não divulgavam.
Palavras têm alma, perdigotos, umbigos.
Hoje uma palavra abriu o roupão pra mim: vi tudinho dela!», me disse uma vez Mario Quintana. Elas contam a história da nossa vida, abrem o jogo sobre quem nós somos agora, e, aliás, muito a propósito, eu não vejo melhor retrato do que passa ao redor, do deslumbramento oco dos mal letrados, do que essa onda chinfrim de chamar de nova coleção o novo cardápio dos restaurantes. Que patacoada, Nélson! Durma-se com um barulho desses! Palavras têm cheiros, texturas, dormem de conchinha com a sua imaginação, e algumas, se você reparar bem, as mais atrevidas como sofreguidão, salsaparrilha, aparvalhada, mentira cabeluda, sibarita — se você reparar bem nos salamaleques dessas doces vadias, ditas ali pelas três e quinze da madrugada, elas se revelam com mais hora de cama do que urubu de vôo. Durmo com elas diuturnamente. São as que usamos para falar com os amigos, com a família. Fico feliz, meu bom Nélson, de te ver farinha do mesmo saco, vinho da mesma pipa, comendo no mesmo cocho que este humilde colecionador de idiossincrasias verbais. Estou contigo e não abro. Venha de lá com um abraço e aperte os ossos porque teus supimpas são os nossos. Só te peço que me perdoe a pressa. Minha ausência, outrossim, não abrirá qualquer lacuna. Apenas um zambeta, um zero à esquerda, um zureta como eu, que deixa mais uma vez escapar a bola na zona do agrião — e manquitola, chama o maqueiro, desce ao vestiário.
Repito o outrora dito. Falta-me tempo para fazer no capricho, cheio das rabiolas e borboletas de estilo, o prefácio de seu “Conversando é que a gente se entende”, um marco que ora se anuncia, tenho certeza, na lexicografia nacional.
Sem mais, fui. Me recomende à patroa.
Aceite por fim o abraço deste urso velho — mas sempre empolgado com o balancê das palavrinhas sapecas.

DESIGUALDADE NO ACESSO À INTERNET
Publicou o Jornal O Globo, de 04.07:
Embora em constante ascensão, o acesso à internet no país ainda é um retrato da discrepância socioeconômica brasileira. Dados de 2005 mostram que 74,3% dos alunos do ensino fundamental em escolas privadas utilizaram a rede de computadores no período de três meses. Em contrapartida, apenas 17,2% dos alunos de escolas públicas do mesmo nível acessaram a internet.
Os percentuais integram o relatório “Lápis, borracha e teclado: tecnologia da informação na educação”, fruto de uma parceria entre a Rede de Informação Tecnológica LatinoAmericana (Ritla) e o Ministério da Educação.
No ensino médio, a diferença diminui, mas ainda é alta: 83,6% dos alunos da rede particular acessaram a rede no período de três meses, contra 37,3% dos alunos de escolas públicas. Entre estudantes de nível superior, quase não há diferença: 88,6% do ensino privado, contra 85,3% da rede pública.
O mesmo estudo também mostra as diferenças regionais através do uso da internet. Segundo o relatório, 77% das pessoas brancas, com renda considerada alta e moradoras do Distrito Federal têm acesso à rede.
Por outro lado, apenas 0,5% dos negros, pobres e moradores de Alagoas tem a mesma oportunidade.
A diferença entre um grupo e outro é 154 vezes maior.
As discrepâncias nacionais são mais contundentes que a comparação do Brasil com outros países. Em 2005, 17,2% da população brasileira teve acesso à internet. O percentual é um dos menores da América Latina: perde para o Chile, com 28,6%; Costa Rica, (21,3%); Uruguai (20,6%); e Argentina (17,8%). O Brasil ocupa a 76aposição entre os 193 países do mundo pesquisados neste quesito pela União Internacional de Telecomunicações, segundo dados apresentados no estudo da Ritla.
Entende-se no trabalho que as brechas nada mais são que uma nova forma de manifestação das tradicionais diferenças e divisões existentes em nossas sociedades e no mundo, novas formas de exclusão que recapitulam e reforçam as diferenças preexistentes — analisa o diretor-executivo da Ritla, Jorge Werthein.


LEVANTAMENTO MOSTRA QUE 15% DOS UNIVERSITÁRIOS NUNCA LERAM UM LIVRO
Publicada Maiá Menezes, em O GLOBO, de 04.07:
RIO - A leitura de livros não-didáticos está fora das lições de casa da maioria dos estudantes de universidades públicas e privadas de São Paulo e do Rio. A raridade do hábito foi medida em pesquisa encomendada pelo Centro de Integração Empresa Escola (CIEE) e feita pelo Instituto Toledo e Associados, segundo a reportagem publicada nesta quarta-feira pelo jornal O Globo. Em junho, foram ouvidos mil jovens na Região Metropolitana de São Paulo, dos quais 34% não lêem com freqüência, 18% não gostam de ler e 16% lêem apenas de vez em quando.
No ano passado, pesquisa feita por técnicos do CIEE apontou problemas semelhantes no Rio: 15% dos universitários nunca leram um livro não didático, 12% leram apenas um, e 36% leram entre um e três livros.
A leitura de jornais diários também não está incluída na pauta da grande maioria dos universitários. As duas pesquisas mostram que apenas 9% dos estudantes lêem diariamente jornais depois que entram na faculdade.
- Uma parcela dos estudantes ainda não despertou para a necessidade de uma formação mais ampla e de ter referências bibliográficas. A base cultural é avaliada no processo seletivo. Quando a formação cultural é pequena, há prejuízo no processo seletivo. Quem lê mais tem vocabulário mais completo e adquire uma cultura geral maior – ressalta Marcelo Gallo, diretor regional do CIEE.
A pesquisa também identificou que o acesso à internet se democratizou entre os universitários: 90% dos que foram ouvidos têm acesso à rede.

JOVENS BRASILEIROS NÃO LÊEM
Publicou O GLOBO, de 03.07:
O hábito de ler ajuda a escrever e a pensar, mas poucos estudantes vão além dos livros didáticos obrigatórios. Profissionais que selecionam universitários em busca de estágio dizem que ler pouco prejudica quem quer entrar no mercado de trabalho.
Hábito raro. Os estudantes ainda estão muito longe de fazer da leitura a sua principal fonte de conhecimento. Em uma universidade, só se viam livros didáticos. Poesia, prosa, romance... As páginas da ficção e das histórias dos nossos tempos não têm encontrado espaço no dia a dia dos jovens. “Às vezes é falta de tempo, falta de oportunidade até”, diz uma aluna.
Foram ouvidos dois mil estudantes de universidades públicas e privadas no Rio e em São Paulo. Entre os paulistas, 34% não lêem com freqüência, 18% simplesmente não gostam de ler e 16% só lêem de vez em quando.
Já no Rio 15% dos universitários nunca leram um livro não didático, 12% leram apenas um e 36% leram entre um e três livros.
Outras revelações da pesquisa também preocupam os educadores. Apenas 9% dos universitários, tanto do Rio quanto de São Paulo, incluem a leitura de jornais diários depois que entram na faculdade. “A gente costuma ler muita coisa relacionada ao nosso curso. O que está faltando é exatamente isso, a leitura de jornal para você se informar”, acredita uma estudante.
O resultado da desinformação aparece logo, basta reparar nas filas de exame de seleção para estágios em empresas. “Para cada estudante que faz estágio, aqui no Rio de Janeiro por exemplo, nós temos outros quatro estudantes esperando essa oportunidade. E esse conhecimento cultural é fator muitas vezes decisivo em um processo seletivo“ diz Marcelo Gallo, diretor regional do CIEE.
E a mudança de hábitos começa em casa. “Casa de leitores são casas que formam mais leitores. Com pais que não têm esse universo dentro de casa a tendência é que o aluno, ou o estudante, ou o jovem replique isso posteriormente“, diz a consultora Andrea Ramal.