Jornal Mensal em idioma gírio. Edição 018 – Ano 3 – Niterói/RJ, Março/Abril de 2002

UMA PEQUENA AMOSTRA DE UM VIGOROSO

LIVRO ESCRITO NO IDIOMA GÍRIO

Nesta edição, uma pequena amostra do livro de Paulo Lins, Cidade de Deus, da LPM, que tende a ser considerado um clássico escrito em idioma gírio. O livro tem 550 páginas. O resumo aqui compreende apenas 41 páginas. Trata-se de um notável e candente depoimento crítico sobre a situação de excluídos sociais. A tragédia se passa no bairro Cidade de Deus, no Rio de Janeiro, um mega conjunto habitacional, que recebeu muitos favelados,. Foi um projeto de reassentamento urbano e humano, com todas as dramáticas consequências, captadas com detalhes e narradas de forma contundente por Paulo Lins.
Antes, porém, meus agradecimentos aos 33 mil internautas que já acessaram esta página e aos milhares de pessoas, especialmente jovens, que pacientemente, têm mandado suas gírias. Eles continuam sendo bem vindas. Não importam que já estejam dicionarizadas, mesmo porque, muitas delas ganham outro significado.Vamos a um "flash" da obra de Paulo Lins.

"Barbantinho e Busca pé fumavam um baseado à beira do rio". 11
"(...) entreolharam-se apenas quando um passava a bagana para o outro". 11
"(...) ficar boiando com as retinas lançadas no azul". 11
"Resignava-se em seu silêncio com o fato do rico ir para Miami tirar onda enquanto o pobre vai (...) pra puta que o pariu". 12
"(...) logo, logo compraria uma máquina e uma porrada de lentes". 13
"Um dia aceitaria um daqueles tantos convites para assaltar ônibus, padarias, taxi qualquer porra".13
"A pior coisa do mundo é casar com mulher careta". 13
"Jimmy Hendrix era a maior doideira". 13
"Achava que Tim Maia, Caetano, Gil, Jorge Bem, Big Boy, etc eram todos os chincheiros". 13
"Fumar maconha não significava que iria sair por aí metendo bronca".13
"Ele mesmo acendeu o fininho, deu dois catrancos e passou para o parceiro". 14
"(...) a ausência do sol faz as horas passarem desapercebidas pra quem está ao léu dará". 14
"(...) constatou que estava atrasado para a aula de datilografia, mas que se foda já que tinha perdido um montão de aulas". 14
"Não estava mesmo com saco para ficar batendo à máquina". 14
"A soma dos quadrados dos catetos é igual ao quadrado da hipotenusa é o caralho". 14
"Estava era muito puto com a vida". 114
"(...) já ia perguntar ao amigo se estava a fim de descolar mais um trouxa (...)". 14
"(...) outro presunto brotou numa curva do rio como um guaiamum devorando suas tripas". 14
"A que se fez a soberana de todas as horas vinha para levar qualquer um que marcasse bobeira". 14
"(..) juntos ouviram os homens daquele carro de chapa branca". 18
"Os novos moradores levaram (...) biroscas". 18
"Os tons vermelhos do bairro batido viam novos pés no corre corre da vida". 19
"Já panhei manga". 19
"Que nada, rapá". 21
"Maneiro, maneiro". 21
"Todo mundo quetinho, se não leva tiro". 24
"Os transeuntes saiam de fininho". 24
"Que nada, cumpádi". 25
"Sabe lá se aparece alguém aí para sabarcar nosso dinheiro". 25
"Tá pensando que só tem nós de bicho solto aqui, xará"? 25
"Tem nego até na Baixada entocado por aí. E se os samangos pia na parada?".
"Pensou em levar tudo da brancalhada". 26
"Se nego vim tirar chinfra comigo eu aperto o dedo em cima. 26
"Se não mandar a redonda o bicho pega". 26
"Arrumaram um pichulé maneiro".27
"Se deparar com ele, tem que ter atitude, senão o bicho pega, tá sabendo? Mas se falar em meu nome, ele aceita uma idéia".27
"Não tenho medo de marra de cão, não". 27
"Não quero ficar duro, não, porque dá azar de sujar e a gente não tem um qualquer para dar um calaboca pros homi, morou?" 30
"A polícia vai ficar toda na moita só esperando pra encaçapar vagabundo, morou?". 30
"Alguns biriteiros bebiam nas biroscas". 30
"Aí, cumpádi, onde tu arrumou essa merreca toda"? 31
"Vai me dando, que eu vi bem você de pinote na hora que os samangos pintou (...)" 31
"Não tem caô nem lerolero (...) 31
"Qualé, Cabeleira? Qualé, Pelé? Tão lombrando por causa de quê?" 31
"(...) Vamos ali tomar um birinaite (...)" 31
"(...) Tem uma caralhada de tempo que a gente não cruza". 31
"Tu tá é de conversa fiada, morou?" 32
"As crianças faziam "pombo sem asa": defecavam numa folha de jornal e varejavam de longe". 33
"Assaltavam turistas, lojas comerciais, pedestres com pinta de grã-finos". 34
"(...) a velha Bá montara uma boca de fumo". 34
"Vamos tomar uma cerva?" 36
"Quem é essa piranha que tá vindo aí?" 37
"Já tão sabargando até no Anil". 38
"Eu sou militar e tu é bundão, rapá". 39
"Não vou dar sopa mermo". 39
"Eu já tinha falado pra vocês que eu já tinha corujado a caxanga".40
"Não tionha ninguém na rua e era cedo pros otários chegar da batalha". 40
(...) era o maior cachangão". 41
(...) Peguei o camelo, pedalei com vontade". 41
"E aquele birimbolo lá no baile?". 41
"Se não é Salgueirinho nós tava no xadrez ganhando um sal dos homi". 41

 

SAIU NOVA EDIÇÃO DO `VOCABULÁRIO ORTOGRÁFICO'

Para corrigir a defasagem entre a língua falada e a escrita, a Academia Brasileira de Letras (ABL) lançou a nova edição do Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa. O livro inclui muitas expressões criadas ou popularizadas nos últimos anos no País que, embora de uso corrente, não eram aceitas como palavras da língua portuguesa escrita no Brasil. Era o caso de diversos termos da informática, como deletar, e de inúmeras gírias, caso de biritar.  O livro incluiu 6.242 novas palavras, que não faziam parte da primeira edição, lançada em 1981. Além de reconhecidas como parte integrante da língua escrita, as novas palavras passam a ter uma grafia oficial definida. "O lançamento é muito importante para o uso sistemático da língua", afirmou o acadêmico Eduardo Portela, integrante da equipe que coordenou a edição do livro. "Essas incorporações tornam a língua viva, impedem-na de estar distanciada da vida cotidiana." A nova edição do livro, que reúne um total de 349.817 verbetes, está sendo preparada desde o fim do ano passado por uma comissão de lexicografia nomeada pela ABL. Ao contrário de um dicionário comum, que dá o significado de cada palavra, a obra apenas relaciona os termos da língua. O objetivo é exclusivamente consolidar sua grafia e definir sua categoria gramatical e seu gênero. Os maiores dicionários chegam a 130 mil palavras e usamos muito mais", explicou Diógenes de Almeida Chaves, da comissão de lexicografia. "Essas palavras têm de estar em algum lugar." Segundo Chaves, os acréscimos equivalem a 10% da obra. "Mas havia defasagens importantes, especialmente em matéria de termos de computação e científicos, de uma maneira geral", apontou. Chaves faz parte da Academia Brasileira de Ciências e foi chamado para integrar a comissão justamente por isso. Só na área científica foram inseridos 3.724 novos verbetes. É o caso de termos médicos, como cineangiocoronariografia, endorfina e ebola. Para Chaves, a influência cada vez maior da tecnologia e da ciência fez com que os termos desses camposganhassem maior importância e popularidade. Na área das novas tecnologias, também houve diversos acréscimos. Passam a ser aceitos oficialmente termos como deletar, holograma, compact-disc, moden, scanner, robótica e up-date, entre outros. Muitas gírias e expressões populares também foram incluídas. Entre elas, agito, auê, amasso, chacrete e caipirosca. O critério para aceitação das novas palavras no vocabulário é o uso corrente por autores ou a popularização via televisão ou jornais

 

O LATIM TEM OS DIAS CONTADOS, COMO LÍNGUA OFICIAL DA IGREJA

O latim, a língua oficial da Igreja Católica, tem os dias contados, segundo um anúncio feito num congresso dedicado à língua dos césares e dos papas, em Roma.
"Já não há alunos que estudem seriamente o latim nos seminários e nas universidades eclesiásticas", declarou à AFP o salesiano Cletus Pavanetto, de 70 anos, presidente da Fundação Vaticana Latinitas, que celebrará meio século de vida ano que vem.
"O próprio Papa não está livre de cometer erros em latim", explicou. Durante o sínodo celebrado no outono passado, só o cardeal Janis Pujats, arcebispo de Riga, fez sua intervenção em latim, comenta com amargura. E o Papa comentou sorrindo: "Paupera lingua latina, ultimum rifugium in Riga habet" (pobre língua latina, tem seu último refúgio em Riga).
"Infelizmente os puristas tiveram que lhe reprovar certos erros. Cícero teria dito melhor 'Pauperis lingua latina, ultimum rifugium Rigae habet'", explicou.
"Mas isto pode acontecer. Havia um erro inclusive no solene decreto em latim que registrava naquele momento o cisma de monsenhor Marcel Lefebvre", confessou o padre Pavanetto, que acaba de deixar, por causa da idade, a direção da seção latina da secretaria de Estado.
Os seis prelados dessa secção, que substituem a antiga secretaria de letras latinas, estão encarregados de traduzir para a língua dos padres da Igreja as encíclicas, as constituições apostólicas e os demais documentos do Papa.
Segundo o padre Biagio Amata, decano da faculdade de latim da Universidade salesiana, "há sacerdotes hoje que nem sequer sabem ler as placas comemorativas de suas igrejas".
O padre Amata, que se considera o "Dom Quixote do latim", organizou o congresso por ocasião do 40§ aniversário da constituição apostólica de Juan XXIII, "Veterum sapientia", voltado para a reativação do estudo do latim nos seminários e nas universidades católicas.
O padre Pavanetto denunciará sexta-feira a desconfiança de alguns círculos episcopais em relação ao "poder romano" como uma das causas do fracasso da encíclica.
O latinista del Vaticano destaca que, atualmente, o latim tem mais sucesso na Alemanha e até na Finlândia, onde a rádio pública emite um programa em latim, que nos "países latinos".
Ele mesmo organiza anualmente o concurso de latim "certamen vaticanum" e dirige la revista "Latinitas", que informa aos leitores fatos atuais,como "depressionem oeconomicam imminere" (uma possível crise econômica) ou "Talebani Buddhas delent" (a destruição dos budas por parte dos talibãs).

(Serviço: para entender o que está neste JORNAL DA GIRIA compre o DICIONÁRIO DE GÍRIA, de JB Serra e Gurgel, à venda na Saraiva e na Siciliano, a 20 mangos, 20 contos, 20 merréis, 20 reais, 20 barões, 20 paus, 20 pratas, 20 pilas. Se preferir, peça direto ao autor, com direito a autografo. E-mail: gurgel@cruiser.com.br

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