Jornal Mensal em idioma gírio. Edição 027– Ano 3 – Niterói/RJ, Junho / Julho de 2003

Agradeço aos 67.928 internautas que já visitaram esta página.
Sou grato a quantos me mandam e-mail pedindo informações gírias para trabalhos nas escolas.
Agradeço aos professores que demandam tais trabalhos.
A gíria está presente não apenas na linguagem falada dos brasileiros, mas na escrita também.
Nesta edição mais uma justa homenagem ao rei da malandragem: Bezerra da Silva, com base nas expressões gírias contidas em três de seus “bolachões” (elepês, em vinil) “Malandro Rife”, “É esse aí que é o homem”.e “Alô malandragem, maloca o flagrante”.
Este ciclo é inesgotável.
As homenagens vão também para os compositores do “Malandro Rife” - Almir Ribeiro, Ary do Cavaco, Baianinho da Em Cima da Hora, Bezerra da Silva, Bira do Cavaco, Cláudio Inspiração, Crioulo Doido, Dario Augusto, Edson Show, Embratel do Pandeiro, 1000tinho, Netinho, Ney Alberto, Nininha, Oswaldo Hugo, Otacílio, Pinga, Romildo, Rubens da Vila, Sarabanda, Tonho, Velho Bira, Zé Dedão do Jacaré.
Para os compositores do “É esse ai que é o homem”: Aderbal Moreira, Adezonilton, Almir, Ary Guarda, Bezerra da Silva, Caboré, Délcio Carvalho, Dida , Felipão, Franco Teixeira, G. Martins Guará, Ilsinho, Jorge Garcia, José Garcia, Jorge Portela, Jorge Washington, Luiz Grande, Neoci, Nono do Morro Azul, Pinga, Ubirajara Lúcio.
Para os compositores de “Alô malandragem, maloca o flagrante”: Adezonilton, Alicate, Barbeirinho do Jacarezinho, Beto Sem Braço, Bicalho, Celsinho, Cláudio Inspiração, Edson Show, Evandro do Galo, Jorge Garcia, Lauriano, Luiz Grande, 1000tinho, Moacyr Bombeiro, Naval, Pedro Butina, Pinga, Popular P, Romildo, Roxinho, Serginho Merity, Sylvio Modesto, Tião Miranda, Tonho, Walmyr.

Malandro Rife

Bicho feroz – valente
Anda rebolando – requebrando, afeminado
A rapaziada não sabe – o pessoal não sabe
Entrou em cana – foi preso
Lavava roupa da malandragem – afeminado
Dormia no canto da cama – afeminado
Anda trepado – empertigado
Com marra de cão – valente
Pagar sugestão – assustar, impressionar
Tô dando esse alô – avisando
Quando leva arrocho dos “home” – aperto da polícia
Home – polícia
De bandeja – entrega, delata, denuncia
Bicho solto – valente
Corujão – delator
A ordem do dia não é levar mané – a orientação é pra não levar otário, bobo
Malandro rife – sabido, esperto, vivo
Papo de cadeado – conversa
Não vi, não sei, não conheço – lei do morro
Fim de festa – delator
Dedo duro – delator
Fim de estrada – delator
Fim de barraco – delator
Dedo de gesso – delator
Caguetar – delatar
Meio pau – delator
Meio tijolo – delator
É o maior rabo de foguete – coisa ruim, desagradável
Batendo pra Deus e o mundo – falando demais
Fim de comédia – delator
Amarrava mulher – prendia
Amansava marido – tranqüilizava
Só faltava era fazer chover – fazer tudo
Era um tremendo 171 – estelionatário
Tomou de montão – tirou dinheiro
Com um papo caô caô – conversa fiada
Tinha corpo fechado – nada lhe atingia
Quando sujou geral – alguma coisa aconteceu
Pintou a caçapa – apareceu a polícia
Doutor muito invocado – o delegado muito irritado
Tira a roupa do malandro – fica nu
O couro vai comer – vai apanhar
Bate até o cavalo correr – cansar
Malandro de primeira – bom malandro, boa gente
Bocada – lugar, local, bairro, favela, morro
Bem chegado – bem aceito, bem vindo, bem recebido
Tá caído – em situação difícil, preso
Nem joga conversa fora – não fala nada
Cara bacana – boa gente
Tem cabeça feita – sabe das coisas
Botando pra frente – fazendo maldade
Arrepia o tremendo canalha – mata
A vida sempre foi um perde e ganha – com coisas boas e ruins
O coisa ruim – diabo, capeta, satanás.
Você diz que faz e acontece – conta vantagem
Cheio de conversa fiada – conversa sem nexo
Não tem pra ninguém - valente, brigão, xerife
Recebi um alô federal – fui avisado, alertado
Entrega de bandeja – delata, denuncia
Se não sair batido – se não sair rápido
Vai comer capim pela raiz – morrer
Poderoso chefão – líder
Da pesada – difícil
Umas e outras – mulher
De cara cheia – bêbada
Dava pernada – lutava
Dava cabeçada – lutava
Era de morte – lutava
Minha crioula de fé – namorada, mulher, amiga, companheira
Na marra – à força
E só com sujesta – conversa, impressão, sugestão
Babava – espumava
Metendo a mão na turbina – pegando o revólver
Meti a mão no meu ferro – saquei do revólver
Saí dando pipoco - atirando

É esse aí que é o homem

A malandragem da área – o grupo, o pessoal
Não dá volta em ninguém – não se aproveita nem passa pra trás
Disse me disse – fuxico, intriga, boato
Jornal da pedra – jornal que não existe, mas faz de conta, tradição oral, conceito
Não sei, não vi, não conheço – lei do morro
Quem caguetar – delatar, denunciar
Vai dançar – vai morrer
O bicho vai pegar – vai haver confusão e morte
Rei da cocada preta – importante, líder, xerife
O dono do samburá – importante, líder, xerife
Trambiqueiro – enganador, pessoa sem caráter e dignidade
Partideiro indigesto – sambista competente e atrevido
Partideiro da pesada – sambista competente e valente
Rabo de foguete – coisa ruim
Se eu não corcoviasse – não presentisse
E não me mandasse – não fosse embora
Minha barba crescia – a coisa ficaria difícil, complicada
Não tomei jeito – não aprendi
Entrei numa fria – fiquei numa situação difícil
Linda jambete – morena bonita
Parou na minha – chegou a mim
Embarcando em canoa furada – entrando em dificuldade
Cheguei lá no biombo – na casa, no barraco, na caxanga
Se manda – vá embora
É prejuízo você encarar – não meça forças, não enfrente
O malandro é de amargar – é difícil, valente
Eu bati que o esperto era rife legal – entendia que o amigo era uma boa pessoa
Era do time da entregação – delator
Dedo nervoso - delator
A polícia pintou no velório – apareceu
Dedão do safado – delator
Dedão do coruja – delator
A polícia arrochou o velório – prendeu
Grampeei um rapaz boa pinta – prendi um rapaz de classe média
Botando pra frente – roubando
Dei um flagrante perfeito – cheguei na hora certa
O esperto – o ladrão
Além de ter a costa quente – filho de gente importante
Mane – otário
Presepada – ação estabanada, ridícula
Pegaram ele de tapa – bateram
Tomaram-lhe o ferro – tomaram o revólver
Pintou na colina – apareceu no morro
Com maior quatro cinco na cinta – com revolver
A rapaziada pensou que mane fosse pinta – polícia
A malandragem é maneira – calma, pacífica
Não gosta de ver vagabundo abusado – pessoa insolente
Podes crer – acredite
Ele podia deitar e rolar – fazer e acontecer
Se a barra ta pesada – situação difícil
Eu topo a parada – enfrento
Não sou corredor – covarde, frouxo
Meti a mão no cano – saquei o revólver
E saí pipocando pra valer – atirando
Gente boa – pessoal
A onda braba que o cara tirou – o que ele fez
O patamo pintou no pedaço – a rádio-patrulha apareceu
Ele subiu batido – sumiu
O cavalo dançou – a polícia prendeu
Cheio de baratino e de pose – cheio de onda
Deixou o mane grampeado no doze – preso
Só sabe fazer macete – inventar moda
Quando viu a suate – quando viu a polícia
Deixou o mane no rabo de foguete – em situação difícil.


“Alô malandragem, maloca o flagrante”

Alô malandragem – alô pessoal
Maloca o flagrante – esconde o que acontece
Malandragem dá um tempo – aguarda, espera
Vou apertar – vou usar, acionar o revólver
Mão não acender agora – não vou atirar
Se segura, malandro – calma
Pra fazer a cabeça tem hora – espera o momento certo
A boca – local onde se vende droga
Ta assim de corujão – cheia de delator
Dedo de seta – delator
E dedo de seta adoidado – muitos delatores
A fim de entregar os irmãos – denunciar, delatar
Pá de sujeira – gente ruim,
Dois oito um – tráfico de droga
Dezesseis – uso de droga
Doze – tráfico de droga
Muvuca de esperto demais – muita gente
Deu mole – facilitou
O bicho pegou – houve confusão
Os homens da lei – polícias
Grampeiam – prendem
Couro come – bate, agride, tortura, surra, apanha
Pintou sujeira – surgiu algo ruim
A cana dura chegou – polícia
Caguetaram que tinha malandro aqui de montão – muito
Os tiras – polícias
Quem marcar bobeira – facilitar, vacilar
Não vai dar pra dividida – enfrentar a polícia
Esconde a muamba – guarda a droga
Sai batido – foge , desaparece
Foi a fim de atrasar toda a rapaziada – prejudicar
Aqui não tem malandro da barra pesada – violento, brigão
Sua cabeça não passa na porta – é corno, marido traído
Gavião – rufião, conquistador de mulheres casadas, amante
Vê se toma um chá de simancol – acorda, desperta para a realidade
O chapéu do sem vergonha está a trêws palmos da cabeça – é corno
Lá na minha bocada – onde moro
O couro comia – apanhava
A nega apanhava que nem um ladrão – demais
Flagrou um esperto no seu barracão – rufião que transava com sua mulher
Quem usa antena é televisão – é corno, marido traído
Vacilação – traição
Vamos botar logo as cartas na mesa – resolver o assunto
Piranha braba – traidora, prostituta
Para uma pá de pagodeiros – muitos sambistas
Sou do pico da colina maldita – do alto do morro
Se Deus deu asa a cobra – pra ela voar
Já mandei minha pro inferno – matei
Nesse mundo cão – mundo cruel
Sapatão – lésbica
Virou comida de piranha – morreu
Judas traidor – delator
Quis bagunçar meu coreto – estragar tudo
Crocrodilo – traidor
Acaba no pinel – doido
Pra tu sair da aba do meu chapéu – sair da minha sombra
Não é mole não – é difícil
Ladrão de gravata – ladrão grã-fino
Dão bolacha no gato – batem no ladrão
Tomar tapa – apanhar
Cachorrinho da polícia – delator
Não é esculacho – não é mentira
Praga ruim – coisa ruim
Está na corda bamba – ameaçado
Se continuar pisando – errando
Aí o couro vai comer – vai apanhar
Deixe de armação – deixe de tentar enganar os outros
Língua de tamanduá – linguarudo, falador, delator
Ripar – matar
Leva rajada – é metralhado
Entra no cassete – apanha
Língua nervosa – delator
Vai levar eco – será metralhado
Na bata este martelo – não decida
Fechou o tempo – ficou difícil
Sururu formado – confusão
Grampeado – preso
Quis sair de pinote – fugir
Corcoviei – vacilei
Saltei de banda – agi
Fiquei miudinho –
Escorreguei – saí
Saí de fininho – fui devagar
Pra curtir um barato – fumar maconha ou cheirar droga
Quase fecharam meu paletó – mataram
Comendo um ciscante – comendo frango
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Remeto os internautas ao Dicionário de Gíria, na 6a. edição, para entender as expressões gírias aqui citadas.
Caso não estejam dicionarizadas, aguardem a 7a. edição que já está com 26 mil gírias!

 

(Serviço: para entender o que está neste JORNAL DA GIRIA compre o DICIONÁRIO DE GÍRIA, de JB Serra e Gurgel, à venda na Saraiva e na Siciliano, a 20 mangos, 20 contos, 20 merréis, 20 reais, 20 barões, 20 paus, 20 pratas, 20 pilas. Se preferir, peça direto ao autor, com direito a autografo. E-mail: gurgel@cruiser.com.br

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