Jornal Mensal em idioma gírio. Edição 037 - ANO V – Niterói/RJ –Janeiro/Abril de 2005

 

7A. EDIÇÃO DO DICIONÁRIO DE GÍRIA
CONTÉM 28 MIL E 500 VERBETES
AMPLIANDO A PRESENÇA GÍRIA NO PAÍS

A 7a. do Dicionário de Gíria, do prof.JB Serra e Gurgel, está chegando às livrarias do país, com 722 páginas e 28.500 verbetes, tornando-se o maior Dicionário de Gíria dos países da comunidade de língua portuguesa e trazendo, como inovações, a data provável do surgimento de algumas gírias, a região do Brasil em que a gíria poderia ter surgido e a identificação de gírias comuns ou diferenciadas entre Portugal e Brasil. “Nem assim o Dicionário de Gíria é definitivo, disse o prof. JB Serra e Gurgel, ressaltando que o Dicionário incorporou 11 mil novas gírias desde a 6a. edição em 2000, o que atesta a explosão gíria no Brasil. O modismo gírio está cada vez mais presente no dia a dia dos brasileiros”.

O Dicionário de Gíria contem um capítulo sobre a Evolução da Gíria na Língua Portuguesa, tendo como marco mais visível o Vocabulário Português e Latino, do padre Raphael Bluteau, lançado em Coimbra, em 1712, seguido do Infermidades da língua e arte que a ensina a emudecer para melhorar, de Manuel Joseph Paiva, publicado em Lisboa em 1759.

No Brasil, o novo marco gírio é de 1854, portanto, há 151 anos, com a publicação do livro Memórias de um Sargento de Milícias, de Manuel Antonio de Almeida, que contém muitas gírias do Brasil Império, especialmente recolhidas no Rio de Janeiro. Outra referência importante está contida no livro O Cortiço, de Aluisio de Azevedo, de 1890, há 105 anos, com muitas gírias do Rio de Janeiro sendo utilizadas na narrativa e nos diálogos. O Vocabulário Sul Riograndense, de J. Romaguera Correa, de 1898, publicado há 107 anos, em Pelotas/RS, é considerado o primeiro trabalho sobre gíria, ainda que contenha mais regionalismos gaúchos. Em 1903, no Rio de Janeiro, foi editado o Dicionário Moderno, de José Ângelo Vieira de Brito (J.Brito), com pseudônimo de Bock, este sim, com gírias. “Lamentavelmente, disse o prof.JB Serra e Gurgel, o centenário desta publicação deixou de ser assinalado em 2003, embora J.Brito tivesse também sido senador da República por Alagoas. É que ainda subsiste um forte preconceito contra a gíria”.

‘A gíria, há muito tempo, deixou de ser uma linguagem cifrada e restrita de grupos exclusivos, excluídos e marginalizados, de malandros, desocupados, meliantes, presos, policiais, vagabundos, funkers e rappers. A gíria se transformou em uma linguagem universal, a segunda língua dos brasileiros, sem que seja regionalismo ou dialeto, afirmou a prof. JB Serra e Gurgel, ressaltando que a gíria é um modismo, um recurso de linguagem, de ricos e pobres, de alfabetizados ou não,homens e mulheres, jovens e idosos, gente de todas as classes, cores, religiões, tribos, galeras e patotas. Lamentavelmente, com o baixo padrão de educação e cultura que vige no Brasil, nos últimos 30 anos, sem a gíria, os brasileiros não se comunicariam e não se entenderiam ”.

“A expansão e a difusão acelerada do idioma gírio está mudando a língua portuguesa, no Brasil, de forma persistente, intensa e avassaladora e poucos pesquisadores, estudiosos, linguistas e lexicógrafos se deram conta do que está acontecendo”., admitiu, frisando que as autoridades de Brasil e de Portugal deveriam convocar uma reunião para examinar o nível de devastação da língua padrão e de confinamento da língua culta.

O prof.JB Serra e Gurgel mostra a expansão progressiva da gíria no Brasil com os trabalhos de Elysio de Carvalho (Gíria dos Gatunos Cariocas), 1912; Amadeu Amaral (O Dialeto Caipira), 1920; Raul Pederneiras (Geringonça Carioca); de 1922; Antenor Nascentes (A Gíria Brasileira), 1953; Manuel Viotti (Dicionário de Gíria), em três edições, 1945,1955 e 1956; Ariel Tacla (Dicionário de Marginais), 1968; Euclides Carneiro da Silva (Dicionário da Gíria Brasileira), 1973. Assinala ainda a importância das contribuições dos profs. Mônica Rector, da UFF, e Dino Pretti, da USP, na estruturação e no ordenamento da gíria, além da enxurrada de publicações de pequeno formato sobre uma variante gíria dos falares regionais: baianês, piauiês, cearês, manezês (Ilha de Florianópolis) e. pernambuquês, paraês, rondonês, gauchês.

PREMISSAS BÁSICAS
JB Serra e Gurgel voltou a sustentar suas premissas básicas sobre a gíria:
- é falsa a afirmação de que a gíria é linguagem de malandros, marginais, de pobres, de excluídos;
- é falsa a afirmação de que rico, educado, bem nascido, não fala gíria;
- - é falsa a afirmação de que empobrece a língua.
- é a linguagem usual dos brasileiros que não tiveram a oportunidade de estudar;
-
- - é a linguagem usual dos brasileiros que tiveram a oportunidade e não estudaram;
- - é a linguagem dos brasileiros de todas as cores, raças, etnias, sexo, níveis, instrução, educação, cultura, classes sociais, posse de bens, etc;

EXPLICAÇÃO

O Dicionário é conseqüência de uma frustrada tentativa de fazer mestrado em Lingüística Social. Elaborara uma monografia: Modismo Lingüístico, o Equipamento Falado do Brasileiro, acompanhada de um glossário das 2.200 gírias mais faladas pelos brasileiros médios. Como não tive chance de fazer o mestrado,acabei por publicar a monografia no Jornal do Commércio, do Rio de Janeiro, em 20/21/22/23.04.1984, e em seguida parti para a 1a. edição do Dicionário, com cerca de 6.500 verbetes

ESCLARECIMENTO

Depois da 1a.edição, entrei em contato com o acadêmico e mais tarde ministro da Cultura, Antonio Houaiss, recebendo estímulos para continuar na trilha da gíria.
Recebi então um belo texto de apoio que publiquei na Nota à 2a;edição.


“Meu caro amigo,
Recebi , sábado passado, seu Dicionário de Gíria, que me chegou em boa hora, pois me deu o domingo para examina-lo com interesse e carinho.
Não subscrevo alguns dos conceitos teóricos introdutórios, mas louvo muito sinceramente o desejo de faze-los, pois explicam em boa parte a forma por que você levou a cabo o seu trabalho.
A esse respeito, quero dizer-lhe, muito lealmente, que você levou a bom termo alguma coisa de extremo de extremo interesse presente e futuro, não só para a nossa língua formal presente, mas também para a informal, cujos enlaces você não deixou de apontar.
Os critérios seguidos - em termos de averbação e exemplificação de uso – se podem ser objeto de discordância, são, porém, de extrema utilidade, razão por que as objeções eventuais de pura tecnologia ficam ofuscadas pela riqueza empírica que continua sendo um dos termos essenciais para qualquer pesquisa ou coleta linguateira.
Sinto que nesta terrível área de sacrifício quase inglório, que é lexicografia no Brasil,você entra com o pé direito e você está titulado a prosseguir nela brilhantemente. Suspeito que um pouco mais de aprofundamento na área da sociolingüística não lhe fará mal, mas mesmo que você não tome esse rumo granto que seu faroempírico (repito a palavra) guiará bem nos seus esforços.

Escusa dizer-lhe que fiquei muito honrado com a referência que você faz a mim, não só na sua introdução,, senão que também na sua carta e na sua bondosa dedicatória.
De coração grato e que todos os bens o acompanhem”.

UMA OBRA LEGAL

Recebi também estímulo do então presidente da Academia Brasileira de Letras, Arnaldo Niskier, que escreveu uma apresentação para a 2a. edição, sob o título “Uma obra legal”.

 

AS ORELHAS

A 1A., 2A. 3A. 4A. edições não tiveram orelhas.
A partir da 5a.as orelhas da 6a e da 7a. serviram para mostrar dados pessoais do autor que se julga um cidadão comum.
Vejam as orelhas da 7a. edição:
“Pediram-me para fazer aqui constar alguns registros autobiográficos.
Vamos nós.
Nasci em Acopiara, Ceará, no sertão central , há 360km de Fortaleza, no ano em que deixou de ser Afonso Pena, 1943.
Aprendi as primeiras letras com d. Cecília Bernardes, no Grupo Municipal, e as segundas com d. Jaci Ricarte, em sua casa.
Como Acopiara não tinha ginásio, eu e todos nós fomos para o Seminário São José, do Crato. De lá, fui para Fortaleza, onde conclui o ginasial no Lourenço Filho e o colegial no Liceu.
Graduei-me em Ciências Sociais, Sociologia e Antropologia, na UFRJ. Não tive formatura, foi em 1968. Eu e mais dois fizemos o juramento. Um deles, Gilberto Alves Velho.

No Jornalismo comecei na Gazeta de Notícias, em Fortaleza, com Tarcísio Holanda, Juarez Barroso, Nelson Lessa, Edmundo Maia, depois passei pelo O Estado, com Odalves Lima, e Rádio Dragão do Mar, com Geraldo Fontenele.Considerava Lustosa da Costa, Milano Lopes, Fernando César Mesquita, Rangel Cavalcante, Moraes Né Tarcisio Tavares e Blanchard Girão, como gurus, e caminhava com Inácio de Almeida, Antonio Frota Neto, Egídio Serpa, Gervásio de Paula e Wilson Ibiapina.]
Levado por Adahil Barreto, fui para o Rio de Janeiro e continuei no Jornalismo, na Última Hora, novamente com Tarcisio Holanda, Peri Augusto e Humberto Alencar, depois na Interpress, no Diário de São Paulo, com Leo Guanabara, Meridional, Ibrahim Sued, Jornal e Televisão, sucedendo ao Elio Gaspari e sendo sucedido por Ricardo Boechat, tendo Fernando Carlos de Andrade como bom companheiro.

Mais tarde, em Brasília, passei pelo Jornal de Brasília, com Haroldo Hollanda e Leonardo Mota Neto, Jornal do Commércio, com Aziz Ahmed, A Crítica, com Pery Augusto e Antonio Bragança, O FLUMINENSE, com Alberto Torres e Ephrem Amora, Folha de Linhares, Folha de Vila Velha, com meu irmão,Nelson Serra e Gurgel, e Fatorama, com J. Alcides.
Entrei no serviço público federal na área de Comunicação Social, no eixo do Jornalismo , Relações Públicas, Publicidade e Propaganda, na EMBRATUR, passando pelo IBC, INPS, MPAS, para onde fiz concurso. Fui cedido à Presidência da República, a vários Ministérios e à Caixa Econômica Federal. Trabalhei com 16 ministros e dois Presidentes da República.
Na comunicação social pública, creio que realizei um trabalho profissional, impessoal, anônimo, Não deixei o nome em qualquer delas, salvo nas que escrevi com parcerias competentes e nas exigidas por Lei.Deixei a alma. Fui um servidor público, do Estado brasileiro, antes de ser identificado com este ou aquele governo, autoritário ou democrático.
Entrei para Universidade de Brasília, como professor convidado, em 1979 e saí em 2003. Penso que cumpri minha missão com integridade, seriedade . Fui professor dos cursos de Relações Públicas e Publicidade e Propaganda.
Prestei assessoria a ABIC, SACIPAN, ANASPS, Rede Sarah, SEBRAE, ANUP, GEAP, sempre na área de Comunicação Social.
Como se conclui: uma trajetória modesta, digna.
Trabalhei sempre em equipe, solidário. “Não dê idéias, execute-as”, era meu refrão. Assumi responsabilidades e corri riscos. Inovei, criei, compliquei, ousei, realizei.


Minha família: classe média, meus pais, dignos, 10 irmãos que encaram a vida de frente. Casado com Marília, tenho três filhos, Ivana Marília, João André e Illyana Marília e três netos, João Eduardo, João Gabriel e Rafaela.Uma nora, Kathia. Deles me orgulho.
Caí na gíria quando tentava fazer um mestrado, lá atrás. Quase que fiz, José Honório Rodrigues, Arnaldo Niskier e Ítalo Zappa cumpriram sua parte, a Universidade de Columbia, de Nova Iorque, a dela, mas não tive condições de cumprir a minha. Fiquei na saudade.
Pensava em Antropologia Cultural e na Lingüística Social. O sonho se desfez e comecei a catar gírias para construir um glossário que fundamentaria a tese da gíria como modismo lingüístico e o denso equipamento lingüístico falado dos brasileiros. Daí nasceu o Dicionário,com a força do Waldin, Divina, Paulo Oliveira, com suas edições sucessivas, acumulando verbetes, transformando-se em uma obra cheia de boas intenções, referência e qualidade.
O Dicionário de Gíria virou meu mundo, no eixo Niterói-Brasilia, por sua presença em bibliotecas de Washington, Lisboa, Berlim, Hamburgo, universidades e centros culturais.
É difícil escrever num país de baixo índice de leitura, de educação e de cultura. É complicado ser autor, editor, distribuidor independente. O “trade” e o “business” do livro são trituradores..
Creio que o livro reflete minha trajetória de dedicação e luta ao vencer os obstáculos diversos e conseguir apresentar a 7a. edição de uma contribuição significativa à documentação da evolução da gíria na lpingua portuguesa falada no Brasil. Como dizem por aí, um trabalho sério que junta de modo continuado, metódico e sistemático um monte de coisinhas para formar uma obra de consistência. Em suma, um bom resumo do que é minha biografia”.


SERVIÇO

A 7a. edição do DICIONÁRIO DE GÍRIA, com 722 páginas e 28.500 verbetes, poderá ser solicitada pelo e-mail Gurgel@cruiser.com.br ou pelo Correio, ao preço de R$ 40,00, postagem incluída, a:
JB Serra e Gurgel,
Rua Álvares de Azevedo, 39, apto. 1401,
Icaraí
Niterói/RJ
24.220.020
ou a
JB Serra e Gurgel
SQS 302, Bloco A, apto.607,
Asa Sul
Brasília-DF
70.338.020
. O pagamento poderá ser feito por cheque ou por depósito na conta 261-644-6, Agência 0005, da Caixa Econômica Federal, ou na conta 825.754-x, agencia 2873-8m do Banco do Brasil.
Poderá ser igualmente encontrado nas livrarias Livro Técnico, de Fortaleza-Ce.
Norte Shopping
Centro Cultural Dragão do Mar
Av Dom Luis, 851 – Aldeota
Av. Dom Luis, 863 – Aldeota
Av Dom Luís, 859 – Aldeota
Travessa Pará , 22 – Praça do Ferreira
Rua Floriano Peixoto, 830 – Centro

Rua Dom Joaquim, 54 – Aldeota
Universidade Federal do Ceará – Campus do Pici
UNIFOR
Em Brasília, poderão ser encontradas nas livrarias da Mídia Digital:
MÍDIA Livraria
Praça dos Três Poderes, Ed. Flávio Marcílio - Anexo IV, Câmara dos Deputados, Tel/Fax: 55 61 318 – 6477
MÍDIA Banca de Jornais e Revistas
Praça dos Três Poderes, Ed. Principal – Chapelaria, Câmara dos Deputados, Tel/Fax: 55 61 318 – 7271
Revistaria & Tabacaria Mídia
SHIS QI 03 Boloco D Lojas 15/16, Edificio Medical Plaza, Tel.: 55 61 365-1113

LASELVA BOOKSTORE

Livraria Siciliano

 

O ACERVO DO DICIONÁRIO
1A. edição, 1990 – 6.023 verbetes
2a. edição, 1993 - 7.533 verbetes
3a. edição, 1995 – 11.158 verbetes
4a. edição, 1996 - 12.279 verbetes
5a. edição, 1998 – 13.384 verbetes
6a. edição, 2000 - 16.195 verbetes
7a. edição, 2005 – 28.500 verbetes

AGRADECIMENTOS

Agradeço aos 125 mil visitantes do JORNAL DA GÍRIA.
Um marco que me faz insistir na difusão dos estudos gírios entre nós.