Jornal da Gíria
Jornal Mensal em idioma gírio – Edição 058 – Ano XIX– Niterói RJ –Março e Abril de 2009

NÃO PODEM PASSAR EM BRANCO EM 2009
OS 250 ANOS DO LIVRO ‘INFERMIDADES DA LINGUA”
MARCO DA GÍRIA NA LINGUA PORTUGUESA



Um importante marco: em 17.02, a nossa página passou dos 400 mil acessos. Apesar de todo o patrulhamento dos olham a gíria com desprezo, o fato é da maior relevância. Confirma o que se afirma em outros setores: há o Brasil ideal e o Brasil real. Estamos no território livre do Brasil real, que tem a gíria, a língua viva, a língua do povo, – como linguagem de todas as tribos, classes, sexos, credos, idade, cores, etnias, etc. Quem não quiser aceitar o repuxo que saia da frente.
Este registro, independentemente de qualquer outro que se faça, é para marcar os 250 anos do livro de Manuel Joseph Paiva em seu “Infermidades da Língua e arte que ensina a emmudecer para melhorar,” , lançado em Lisboa, Portugal, dos idos de 1759. Desnecessário assinalar que o livro “Infermidades” é o segundo grande marco gírio da Língua Portuguesa. O primeiro é o Dicionário, do padre Raphael Bluteau, cujos 300 anos , o tricentenário, poderão ou ser lembrados em 2012.

Lanço a provocação pois nós brasileiros deixamos passar em brancas nuvens dois de nossos marcos:
- 2003 – centenário do Dicionário Moderno, de Bock.
- 2004 – os 150 anos de Memórias de um Sargento de Milícias, de Manoel Antonio de Almeida.

Nenhuma comemoração, nenhum registro em nenhuma publicação. Êta povinho de memória curta.

O caso das “Infermidades” (não enfermidades, como hoje se escreve) tem razões históricas valiosas, pois se trata de uma relação de cerca de 1.600 expressões que não deveriam ser pronunciadas ou escritas pelos portugueses naquele período, em nome da pureza da língua, do patrulhamento da Santa Inquisição, do fato que esta linguagem era tiíficada como sendo das classes baixas da sociedade ou de outras pieguices relacionadas com a linguagem padrão ou a linguagem oficial. Como em Portugal não é de uso corrente o termo gíria, mas calão, tais “infermidades” soavam como calão. Quem as usasse, na linguagem falada ou escrita, estava sujeito às penas da Lei ou às sanções da Santa Inquisição que era a Lei.

Em algumas bibliotecas portuguesas ainda há exemplares desta publicação, relativamente bem conservados. Nem é preciso ir-se à Lisboa ou Coimbra.

No Rio de Janeiro, no tesouro das obras raras do Real Gabinete Português de Leitura, há um exemplar ao qual tive acesso, nas minhas pesquisas gírias.

O que mais impressiona quaisquer estudiosos da Língua Portuguesa, entre os quais nos incluímos, está o fato de muitas das “infermidades”, como calão ou gíria, sobreviveram aos nossos dias. Apesar da gíria ser um modismo – que cumpre um ciclo – digamos que é um ciclo dinâmico, pois vai e volta, como se fosse um ioiô. Quem se der ao trabalho de ler todas as expressões aqui listadas (não estão todas , as que exclui, realmente, estão em desuso total e pertencem ao classificamos de língua morta) vai perceber que são quase todas válidas nos nossos dias.


GÍRIAS DE 1759

Registradas por Manuel Joseph Paiva (Portugal) em seu “Infermidades da Língua e arte que ensina a emmudecer para melhorar,” por Sylvestre Silvério da Silveira e Silva, impresso na Oficina de Antonio Monteiro.

“evite as palavras seguintes””

à frescalhota
a olhos vistos
a queima roupa
à risca
a torto e a direito
a trancos
a rodo
à valentona
abilhudo
abobado
acabrunhado
acachapado
acanhado
advinhão
afogadilho
ai torce a porca o rabo
alcunha
aloucado
amargurado
amigalhão
amuado
andar à matroca
andei numa roda viva
ao frigir dos ovos o veremos
apaniguado
apoquentado
apoucado
arco da velha
arenga
arengar
arengueiro
arquejar
arreganhou-lhe os dentes
as escancaras
asneira
atabalhoado
atarantado
atinar
atravancado
atrapalhar
aturdido
azougado

babozeira
baforada
badameco
bagulho
balburdia
balela
bambo
bandalho
bandulho
banana
banzeiro
barafunda
barretada
barrigudo
barulho
basbaque
bayuca
bazófia
bebedeira
beberete
bebericar
bedelho
beliscar
belisco
berreiro
besbelhoteira
bicharoco
bicho
birra
bitola
bizarraço
bocarra
bofetão
botou as tripas
brejeiro
brigão
brincalhão
bronco
bufão
burburinho
busillis

cá e lá mas fadas há
cachola
cabeçudo
caganeira
caganito
cagarrão
caiu (cahio) como um patinho
cambada
cambalaxo
cambalacho
cambalhota
cambulhada
caquético
cara de corno
cara de lua cheia
cara de fuinha
carcundacareta
carão
carcaça
carola
carracudo
casmurro
catinga
chorou a morte da bezerra
com a mãos abanando
comes e bebes
comilão
contemporizar
conchavar
corja
corpanzil
cochichar
corrida
cuecas
custou-lhe os olhos da cara


dá-lhe que dá-lhe
de arromba
de alto e bom som
de cabo a rabo
de fio a pavio
de improviso (improvizo)
de mansinho
de xofre
deitou as mãosinhas de fora
dengue
denguice
derradeiro
desalmado
desatinado
descadeirado
desembuchar
desfeita
desleixado
desenxavido
desvencilhado
deu com a língua nos dentes
deu com tudo em polvorosa
deu-lhe um sabão
deu-lhe um sabonete
deu-lhe uma verdade com uma madura
devagarinho
dia de são nunca à tarde
dinheirama
disse eu com os meus botões (botoens)
dorminhoco
doudo (doido) varrido

é um pau mandado
emaranhado
embasbacado
embriagado
empazinado
encalacrado
encruzilhada
enfezado
enfrascado
engalfinhar
engodo
enlabuzado
entabulado,
entornou-se o caldo
ntrou com o pé direito
enxovalhado
enxouriçado
esbaforido
esbarrar
esbandalhar
esborrachar
esbugalhado
escafeder
escangalhado
esculhambada
esfarrapado
esganiçado
esmigalhado
espatifar
espicaçar
espivitado
esta borracho
está em mãos (maus) lençoes (lenlçois)
está fazendo chacota de mim
está na testa
está tudo pela hora da morte
estabanado
estarambótico
estava a rua coalhAda de gente
estouvado
estúpido

fala como papagaio
fala com sete pedras na mão
fala pelos cotovelos
falatório
fakou quanto lhe veio à boca
falou sem tom nem som
falcatrua
fanfarrão
fanta
farnel
farripas
farroupilha
faz das tripas coração
fedelho
festa de arromba
festança
fez me ver estrelas
fez orelha de mercador
ficou de queixo caído
ficou mamado
ficou varado
fiel patife,
filharada
fiquei chuchando no dedo
focinho de porco
foi de deo em deo
folgazão
fona
fradalhão
frangalho
franzino
fresquidão
frigideira
fuinha
fungada


galhofada
galhoufeira
galhudo
ganga
gargalhada
gato capado
gatuno
gente como milho
grandalhona
grandalheirão
graúdo
guinada

hidiondo (hediondo)
hoje é hoje, amnhã é outro dia

indiabrado
impanturrado
impazinado (empazinado)
impertigado
incasquetado (encasquetado)
incurrralado
isto são outros quinhentos
isto tem dente de coelho

lábia
labutar
lambada
lambeu-lhe os beiços
lambiscadeira
lambuge
lamuria
larapiar
latejar
lembrete
lenga lenga
lvantou aquela lebre
lvou-o à breca
levou-o pelo beiço
levou pisa
levou uma tunda
louviminhas (louvaminhas)
lufa lufa


maçada
macaquice
machão
machona
machucar
magrizello
mal encarado
mamou-lhe o dinheiro
mandinga
mandigueiro
maricas
maricota
maricotona
mariquita´
marmanjo
maroto
matança
matraca
matroca
matreiro
mazela
mequetrefe
meteu a sua colherada
meteu-se em camisa de onze varas
meteu-se-lhe a pédra no sapato
metido de pé de cabeça
mexerico
michórdia (mixórdia)
mijar fora do texto
moganga (muganga)
mosca morta
mole mole
moleira
morrinhento
mostrengo (monstrengo)
mulher de vida airada
mulherengo
mulherio


naco
não diz coisa com coisa
não faz farinha com ninguém
não pude pregar o olho
não quer crer qye há bruxas
não sabe da missa a metade
não sabe disto, pataca
não seja asno
não tem eira nem beira nem ramo de figueira
não tem mãos a medir
não tem papas na língua
não vale dez réis de mel coado
nariz de cera
negaça
nem assim nem assado
nem carne nem peixe
nem dado nem de graça
nem tuge nem muge
nem xique nem niqui
ninhada
ninharia
numa roda viva


o homem vale quato pesa
o negócio sta em mãos lençoes (lençóis)
ódio figadal
olheiras
olho da rua
olho do cu
olhudo
orelhão

pacóvio
paga o justo pelo pecador
pandorga
pantafassudo(pantafaçudo)
papão
parentalha
parvoíce
paspalhão
passarinhar
patacoada
patife
patrão
patuscada
paxorrento (pachorrento)
pendor
pécora
pelo sim sim pelo não não
pendanga (pendenga?)
pequerrucho
perdulário
pesquisar
pícoinha (picuinha)
pilhar
pindorocalho (pindurucalho)
piparote
pirata
pirraça
põe lhe uma pedra em cima
por o negócio em pratos limpos
por um tris
porqueira

que diabo é isto?
queixo caído
quejando
quiquiriqui
quizília


rabanada
rabiola
rabisaca
ranheta
rapadura
rapazola
ratazana
reboliço
recalcado
refrega
remandiola
resmungar
respingar
retumbar
reviravolta
rexonxudo (rechonchudo)
rezingar
rir as estopinhas
roeu-lhe a corda
rosnada
rosnar


sabichão
sacudidela
safanão
são nunca a tarde
sarabulhento
sarabulho
saracotear
sargeta (sarjeta)
seca e Meca
sem a minima
sem mais nem menos
sem que nem pra que
sem tirar nem por
sem tugir nem mugir
sem tom nem som
serumbático (sorumbático)
serviçal
sirigaita
solapa
songa monga
somnorento (sonolento)
sonso
sotaque
sou filho da fortuna neto da extravagância
gsovina
surra

tabaréu
tagarela
tanto anda como desanda
tatebitate
tem as costas quentes
tem dinheiro a dar-çhe com um pau
tem dinheiro como milho
tem medo que se pela
tem o bicho carpinteiro
tem razão às carradas
tem razão para dar e vender
tirou a ferrugem à língua
tirou o ventre da miséria
toada
toleirão
trambolho
trambulhão
trabuzana
tramóia
trancos
tranquitana (traquitana)
trapalhada
traquinada
traz a honra na ponta do nariz
trincar
tristonho
totó
tunda


zeiro vizeiro (useiro e vezeiro)


vai à fava
vai com fogo no rabo
vai de deo em deo
vai deitar na cama das pulgas
valdevinos
valentona
varado
varinha de condão
varreu da mmória
vay às mil maravilhas (vai a mil maravilhas)
veneta
ventorola
ventarola
verdoengo
vergastado
verter
vesgo
vou remexendo minha vida como posso


xacota
xafurdado na lama
xafurdar
xumela


zabumba
zarolho.
zoada
zorra

A 8ª. edição, com 32.500 gírias, está na reta final.
Deverá ser lançada em março de 2009.
Quem desejar poderá reservar seu exemplar.
Terá gírias do Brasil, Portugal, Angola e Moçambique.