Jornal da Gíria
Jornal Mensal em idioma gírio – Edição 053 – Ano VIII – Niterói RJ –Maio e Junho de 2008

Ich kann schon brosiliónisch", uma infância entre dois mundos


Quatro classes na tradicional foto da escola primária


O ano de 1969 foi um grande marco na minha vida. Não porque o primeiro ser humano pisou na Lua, mas porque comecei a freqüentar a escola. Isto para os filhos de "colonos", como ainda hoje se chamam os descendentes de imigrantes alemães no Sul do Brasil, significava aprender a falar português. Finalmente havia chegado a oportunidade de me igualar com minha amiga de infância, Marilene, filha do dono da "venda", que havia aprendido o idioma com os irmãos mais velhos e pelo contato com os brosilióner (Brasilianer, brasileiros), que freqüentavam o armazém.
Nasci em Batinga, um lugarejo de 120 famílias, quase todas de ascendência alemã. Os 19 quilômetros da estrada até a sede do município de Brochier ainda hoje são de chão batido, como quase todo o interior do Rio Grande do Sul. Nosso contato com o resto do mundo se dava através do rádio e do leiteiro, que ao passar todos os dias para recolher o leite trazia o jornal (do dia anterior) e encomendas especiais. Meu avô, o único assinante naquelas bandas, não se importava com o atraso. Lá, o mundo de qualquer forma girava muito mais devagar.
Muito não se precisava de fora, pois havia por exemplo ferraria, moinho, carpintaria e serraria no local, além disso todos eram mestres em auto-suficiência e improvisação no reaproveitamento de materiais. Já dentista e barbeiro atendiam com certa regularidade no salão de baile.
Aus der Schuul komme
Como só havia um professor, as quatro classes da escola primária tinham aula juntas na única sala do prédio, onde também funcionava a cozinha (nunca entendi por que naquele interior tão farto em alimentos recebíamos merenda escolar do governo, em forma de sopa e leite de soja). Embora o professor dominasse ambos os idiomas, éramos obrigados a falar português em aula.
Meus avós pertenceram à última geração alfabetizada em alemão. Naquela época, escola e religião corriam paralelas. Tanto, que se dizia Aus der Schuul komme (Aus der Schule kommen, terminar o primário) quando se fazia a comunhão ou confirmação (luteranos).


Três bonecas, toda a riqueza de uma criança

Era um marco importante na vida, pois se deixava de ser criança e se adquiria permissão para freqüentar o mundo dos adultos, ir a bailes e ter namorado (Schätzen haben).
Minha mãe já havia sido alfabetizada em português, mas estudou a catequese em alemão. Até os anos 70, os pastores da Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil vinham todos da Alemanha, sendo os cultos, portanto, em alemão. Hoje em dia, muitas comunidades ainda oferecem serviço em alemão em ocasiões especiais.
Assimilações entre alemão e português
Há enormes variações entre os dialetos falados nas regiões de imigração alemã no Brasil, dependendo do local de onde vieram os colonizadores. Enquanto dentro do Rio Grande do Sul há locais em que se diz Sonnabend para sábado, como no norte da Alemanha, em outras só se conhece a palavra Samstag.
Ao mesmo tempo, a falta de contato com a língua-mãe e sua evolução fez com que algumas palavras simplesmente fossem esquecidas, como reicht, trocada por es chegt (chega, é suficiente!). Em vez de Bonbon (bala em alemão), fala-se pale, o que está mais próximo do português. Também foram criadas palavras aportuguesadas para designar "invenções modernas" como o caminhão, que os colonos vieram a conhecer no Brasil (kamion, em vez de Lastwagen). Outras, que os alemães não conheciam ao chegar ao país, foram incorporadas ao dialeto. Servem de exemplo as palavras milhe (milho) e potreer, de potreiro (local cercado onde os animais pastam durante o dia).
Onde nasci, não se conhece a propagada expressão Mariechen, mach die janela zu, es chuvt. Em Batinga, diriam Marieche, mach der lóde (Laden) zu, das rehnt (regnet), para "Mariazinha, feche a janela, está chovendo".
Minha avó, por exemplo, entendia muito pouco em português. Certo dia, vieram "da cidade" à procura de meu avô e perguntaram: "Onde está ele?" A coitada atrapalhou-se toda, pois chamava-se Elli — que se pronuncia como "ele" — e fez mil gestos para mostrar que ela estava ali mesmo.
Móie gehen un Tee trinken
Ao contrário das cidades tipicamente alemãs, que geralmente dispunham de sociedades de canto, de atiradores ou de ginástica, as zonas rurais ofereciam aos colonos bem menos oportunidades de esquecer a dura vida no campo. Podia-se Uf die Mussik oder ufs Fescht gehen (Ir à música, ou melhor, baile, ou à festa). Havia o Naijoarspól (Baile de Ano Novo) e o Vereinspól (Baile da Sociedade de Cantores), além do Kerb, a festa da igreja, que vem do alemão Kirmes, quermesse. Nos finais de semana, os homens distraíam-se jogando cartas ou bolão, enquanto as mulheres iam tomar chimarrão nas vizinhas (Móie gehen un Tee trinken).
A festa de aniversário da igreja começava após o culto no domingo e ia até terça-feira. Havia bailes todas as noites, transmitidos ao vivo pelo rádio, e comida que não acabava mais para atender a todos os parentes.
Começava com o almoço. Após a sopa, era servido o assado, geralmente de porco, com arroz e massa caseira, salada de batata à moda alemã (com molho cozido) e outras saladas em conserva, feitas com muita antecedência. Para beber, cerveja, é claro. Mulheres e crianças tomavam suco de limão e sangeri, vinho com água e açúcar, talvez um legado italiano na colônia alemã. De sobremesa, das síss (o doce) não podia faltar sagu com creme e diversas compotas de frutas. Primeiro eram servidos os homens, depois as mulheres e, por fim, as crianças.

Igreja da Comunidade Evangélica de BatingaApós uma pequena pausa, já era servido o café da tarde, com gefilte bolo (bolo recheado, torta). Diz-se também Torte, mas a palavra Kuchen (bolo em alemão) é usada apenas para um tipo de especialidade: a cuca, hoje inclusive motivo de festa típica no interior do Rio Grande do Sul. O pão de festa era o pão sovado, servido com sagu ou nata. No dia-a-dia, comia-se pão de milho. Muitas especialidades do Kerb hoje são encontradas nos cafés coloniais no Sul do Brasil.
Enquanto as festas religiosas, como o Natal, eram comemoradas com toda a comunidade no salão de baile, os vizinhos e familiares faziam juntos o pixurum da colheita (pixurum é o termo em tupi para mutirão), carneavam uma rês ou um porco, e se ajudavam nos dias de fazer schmia (o termo vem do alemão schmieren, barrar). Entre os descendentes de alemães no Sul, é a geléia de passar no pão. Ela pode ser feita à base de açúcar e frutas ou então à moda antiga, em enormes tachos a céu aberto, à base de caldo de cana e abóbora. Para variar, ou na falta de outra coisa para passar no pão, fazia-se eierschmier (um creme de ovos com farinha, leite, açúcar e banha).
Uma infância entre dois mundos
Entre os passatempos prediletos das crianças estava andar de schiesskarret, o carrinho de lomba (com rolimã). Nos campos íngremes, um esporte perigoso que podia levar a feridas feias. Para estes casos, ou os ainda mais graves, a mãe ou avó sempre tinham Mainzetrope (Mainzer Tropfen) ou ainda Springesalb (pomada Springer), sem falar nos emplastros e outros medicamentos caseiros.
O que eu sempre achei engraçado é que chamavam as pessoas pelo sobrenome seguido do nome, como Müllererwin, para Ervino Müller. Brinquedos havia poucos, pois só se ganhava presentes na Páscoa, no Natal e no aniversário. Aliás, ver a decoração do pinheiro de Natal era obrigatório. Embora não seja feriado no Brasil, ainda hoje não se trabalha em muitas localidades no interior, no segundo dia de Natal e de Páscoa, tal como na Alemanha.
É quando os afilhados vão à casa dos padrinhos buscar o päckchen (pacotinho), recheado de guloseimas, chocolates e toss no Natal (não se conhece a palavra Plätzchen, bolacha) ou de ovos ocos de galinha, coloridos e recheados com amendoim doce, na Páscoa.

Roselaine Wandscheer
Cultura | 20.04.2004
O alemão lusitano do Sul do Brasil



Nova geração fala um alemão diferente
©G.Schüür


O apanhado de diferentes dialetos falados no Sul do Brasil chega a ser chamado por alguns teóricos de “riograndenser hunsrückisch”: o Hunsrück é uma região do oeste alemão, localizada perto dos rios Reno e Mosela e próxima à atual fronteira com Luxemburgo. “Riograndenser” significa “do Rio Grande”.

Apesar dos 180 anos em solo brasileiro, da mistura de diferentes dialetos entre imigrantes e do contato destes com a língua portuguesa, essa “variação intra e interlingüística”, como define o teórico Cléo Altenhofen, continua viva. Estima-se que haja um milhão de bilíngües nesta região.

Assimilação e resistência

Mesmo com o constante processo de “assimilação” destas comunidades pelo português brasileiro nas últimas décadas – que teve seu ponto alto durante a ditadura de Getúlio Vargas – o alemão falado em regiões do Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná resiste.

Tema de diversas teses acadêmicas, tanto no Brasil quanto na Alemanha, o mosaico lingüístico presente em regiões rurais do Sul do país deixa entrever não apenas aspectos da cultura local, como revela detalhes da história da imigração alemã no país.

“Não existe um dialeto teuto-brasileiro unificado. A língua falada pelos descendentes de alemães é, de uma forma ou de outra, formada por diversos dialetos e misturada com o português. Os dois fatores dependem do grau de escolaridade daquele que fala. Os mais velhos, na zona rural, falam mais alemão que os jovens nas cidades.

É admirável que, em várias regiões do Rio Grande do Sul, o alemão continue sendo a primeira língua, aquela predileta na comunicação dentro da família e entre amigos”, comenta a pesquisadora Ingrid Margareta Tornquist, autora da tese Isto aprendi com minha mãe. Linguagem e conceitos éticos entre teuto-brasileiros no Rio Grande do Sul, em entrevista à DW-WORLD.

Língua da família e entre vizinhos

Em uma pesquisa realizada em 1993 por Lourdes Claudete Schwade Sufredini em Legado Antunes, uma pequena comunidade no interior de Santa Catarina, verificou-se que as variações da língua alemã ainda eram uma constante no seio familiar.

Mais de 75% dos entrevistados afirmaram falar quase sempre alemão com os pais e avós, enquanto os 25% restantes disseram fazer uso ocasional do idioma. Em várias comunidades como essa, especialistas apontam que o alemão continua sendo o idioma preferido na comunicação familiar e entre vizinhos.

Trata-se, na grande maioria dos casos, de uma mistura de dialetos de várias regiões alemãs, entre elas Hunsrück, Vestfália e Pomerânia (hoje em grande parte território polonês). Este idioma desenvolvido pelos imigrantes alemães no Brasil vem despertando o interesse de especialistas, que apontam o perigo de um desaparecimento completo destas variantes dialetais.

Já sensivelmente distante da língua oficial da Alemanha de hoje (Hochdeutsch), esse idioma teuto-brasileiro está, por exemplo, isento de quaisquer anglicismos, muito presentes na Alemanha atual. Estes, segundo Tornquist, não são nem mesmo compreendidos pelas comunidades bilíngües brasileiras.

Português “urbano” e alemão “arcaico”

“O português passou a ser símbolo da cidade, das camadas mais altas da população, do saber, da escola e de uma geração mais jovem. O hunsrückisch ficou associado às zonas rurais, à origem, à família, à solidariedade entre os grupos e às gerações mais velhas”, descreve Cléo Altenhofen o processo de “lusitanização das novas gerações” em determinadas comunidades do Rio Grande do Sul.

O respeito à língua – transmitida de geração a geração, mesmo quase dois séculos após a chegada dos primeiros imigrantes – é uma prova do caráter de “ilha lingüística” (Sprachinsel) das colônias alemãs na região Sul do Brasil.

Fenômenos semelhantes são analisados por especialistas entre os descendentes de alemães na Rússia, por exemplo, onde se observa um fenômenos semelhante ao ocorrido no Brasil: o uso de formas de linguagem arcaicas, a convergência de vários dialetos e a interferência do idioma dominante (russo e português, nos dois casos) no desenvolvimento do alemão.

Das Aviong, die Schuhloja, das Canecachen.
Alles gut?


O falante bilíngüe teuto-brasileiro se apropria com freqüência de expressões e vocábulos da língua portuguesa, já a partir do cumprimento inicial alles gut?, uma tradução literal do brasileiro tudo bem?, em detrimento da forma corrente na Alemanha de hoje, wie geht`s?, e da declinação correta alles gute (que significa tudo de bom e não como vai).

Segundo a pesquisadora Tornquist, descrições do mundo animal e da flora, bem como a denominação de meios de transporte são dois exemplos clássicos de formas híbridas usadas por essas comunidades de teuto-brasileiros, como no caso de rossa (roça/Feld), fakong (facão/grosses Messer), aviong (avião/Flugzeug), kamiong (caminhão/Lastwagen).

Entre outras apropriações estão palavras em português, cujo diminutivo é formado como no alemão: canecachen = caneca (port.) + chen (dim. alemão). Ou mesmo aglutinações híbridas como em schuhloja (loja de sapatos, sapataria) ou milhebrot (pão de milho).

Interferências sintáticas também são freqüentes, detectadas na inversão da ordem da palavras na frase ou no uso “incorreto” de preposições, como por exemplo träumen mit (sonhar com, ao invés de träumen von – sonhar de – do alemão moderno); bleiben mit Dir (literalmente ficar com você, no lugar do bleiben bei Dir).

Além disso, pode ser observada ainda uma enorme apropriação do português no uso dos verbos, que “ganham” na linguagem do teuto-brasileiro terminações em alemão: lembrieren, namorieren, sich realisieren, ofendieren, respondieren.

Atlas lingüístico

É interessante notar ainda como o português falado por comunidades bilíngües se difere daquele falado por outras comunidades no Sul do Brasil: enquanto estas demonstram clara predileção pelo uso do tu, constata-se “uma variação significativa que aponta para o emprego do você nas áreas bilíngües, devido à forma de aquisição do português (padrão), que se deu durante muito tempo essencialmente via escola”, como descreve a pesquisadora Paula Biegelmeier Leão em sua tese Variação de “tu” e “você” no português falado no Sul do Brasil.

Com o intuito de catalogar as diversas variações aí presentes, foi criado o Atlas Lingüístico-Etnográfico da Região Sul do Brasil (Alers), uma co-edição da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Universidade Federal de Santa Catarina e Universidade Federal do Paraná. Com cerca de 300 mil dados orais, colhidos em 275 pontos dos três estados, o Alers procura registrar a variante lingüística dominante em cada localidade cartografada.

Além de ser um importante subsídio para o registro da história de ocupação destas regiões, o atlas serve como importante fonte de informação sobre a variedade do português falado pela população rural de baixa escolaridade em toda a região Sul do Brasil.

Soraia Vilela
Brasil alemão" comemora 180 anos


Traje típico só sai do guarda-roupa em dia de festa (Foto: Schüür)

Em clima de festa, com Spiessbraten (churrasco), Schnaps (cachaça) e Volkstanz (dança folclórica), descendentes da segunda colônia de imigrantes alemães no Brasil – São Pedro de Alcântara, em Santa Catarina – receberam, há alguns anos, um grupo de 42 turistas da Alemanha. Para a maioria dos anfitriões, esse primeiro encontro com o povo de suas raízes, porém, foi um choque: conversar com os "alemães de verdade" só era possível com a ajuda das mãos e dos pés, tão estranho soava o Hochdeutsch para quem falava apenas fragmentos do Hunsrückisch, um dialeto da região do Palatinado.
No decorrer da visita – e com a ajuda da cachaça – a língua dos teuto-brasileiros destravou, mas o episódio evidenciou uma coisa: o tempo e a chamada "política do abrasileiramento" cavaram um enorme fosso entre a Alemanha dos emigrantes do século 19 e o "Brasil alemão" do século 21. São Pedro de Alcântara parece não ser uma exceção. Calcula-se que dos 2,5 milhões de descendentes de alemães do Rio Grande do Sul, apenas 500 mil ainda falam ou entendem alemão.
Enquanto nos pequenos municípios do interior, principalmente da região Sul, ainda sobrevivem tanto antigas formas do Hochdeutsch, Hunsrückisch ou Pommerisch quanto canções e danças tradicionais, nas grandes cidades a integração dos alemães ao caldo cultural brasileiro é praticamente completa.
A adaptação foi acelerada pela chamada "nacionalização": a partir de 1937, o ditador Getúlio Vargas proibiu qualquer língua que não fosse o português. Depois que o Brasil entrou na guerra ao lado dos Aliados em 1942, os alemães brasileiros passaram a ser considerados a quinta coluna nazista, foram discriminados, transferidos ou até internados. Nas escolas, eram chamados de "alemães batata".
O "abrasileiramento" forçado, porém, não impediu que a cultura brasileira fosse enriquecida por uma valiosa herança germânica, cujos resquícios ainda estão presentes no dia-a-dia dos brasileiros e visíveis não apenas durante as comemorações dos 180 anos da imigração.
Do enxaimel às escolas comunitárias


Prefeitura de Blumenau (SC), exemplo de construção em estilo enxaimelSegundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), os alemães no Brasil tiveram um importante papel no processo de diversificação da agricultura, na urbanização e industrialização, tendo influenciado, em grande parte, a arquitetura das cidades e a paisagem físico-social brasileira.
Um exemplo são as casas no chamado estilo enxaimel, uma das principais atrações turísticas em qualquer região de colonização alemã. Quando os primeiros alemães chegaram ao Brasil, essa arquitetura já estava fora de moda na Alemanha, mas teve continuidade, com adaptações, principalmente no Vale dos Sinos no Rio Grande do Sul e no Vale do Itajaí em Santa Catarina. Parte do enxaimel de hoje, porém, é só fachada para atrair turistas e pouco tem em comum com as construções robustas e baratas dos pioneiros.
Além de difundir o Fachwerk, o imigrante alemão trouxe a religião protestante, contribuiu para o desenvolvimento urbano e da agricultura familiar, bem como introduziu no país o cultivo do trigo e a criação de suínos. "Na colonização alemã, está a origem da formação de um campesinato típico, marcado fortemente com traços da cultura camponesa da Europa Central", constata o IBGE.
Os primeiros colonos eram também artesãos e ajudaram a lançar as bases das indústrias têxtil, metalúrgica e calçadista (Novo Hamburgo) no Sul do país. Prova disso é a própria ex-colônia de São Leopoldo, hoje um centro industrial com 200 mil habitantes.
Com suas escolas comunitárias (Gemeindeschulen), os alemães deram um forte impulso à educação. Hoje "os dez municípios brasileiros mais alfabetizados são de colonização alemã. O mais alfabetizado é São José do Oeste, no extremo-oeste de Santa Catarina; os outros nove, no Rio Grande do Sul", diz o professor Altair Reinehr, de Maravilha (SC).
A Universidade Federal do Vale dos Sinos (RS), por exemplo, foi fundada por padres jesuítas alemães que vieram trabalhar nas colônias. As ordens e as congregações religiosas também foram responsáveis pela chamada "restauração do catolicismo brasileiro".
Oktoberfest, Kerbs, árvore e doces de Natal

Oktoberfest de Munique, precursora da festa de Blumenau

Na religião, foi forte a influência dos pastores, padres e religiosos descendentes de alemães. Várias igrejas protestantes, como a IECLB – Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil, foram implantadas com a chegada dos imigrantes e o próprio ritual católico adquiriu certas especificidades nas comunidades alemãs. Por influência das igrejas também surgiram organizações como a Associação Rio-Grandense de Agricultores (Bauernverein), de caráter interconfessional, e a Sociedade União Popular para os Alemães Católicos do RS (Volksverein). As associações de leigos criaram cooperativas e hospitais, maternidades e asilos para idosos. Somam-se a isso as sociedades de ginástica, canto coral e clubes de caça e tiro, ainda cultivadas no Sul.
A vida cultural dos imigrantes também teve um papel importante na formação da cultura brasileira, especialmente no que diz respeito a certos hábitos alimentares, encenações teatrais típicas, corais de igrejas, bandas de música. Um exemplo característico é a Oktoberfest que, a princípio, surgiu como uma forma de manifestação contra a "política de nacionalização" do Estado Novo. Hoje, ela é uma festa que simboliza a alegria alemã, tendo incorporado, com adaptações e modificações, a gastronomia, a música, a língua alemãs. A mais conhecida no Brasil é a Oktoberfest de Blumenau, imitação da festa de Munique.
Não menos importantes para os descendentes é o Kerb (também chamado de Kerchweifest ou Kirmes), que está na origem de muitas festas de igreja nas regiões de colonização alemã. Também as comemorações de Natal e da Semana Santa foram influenciadas pela figura do São Nicolau (Papai Noel), a árvore e doces de Natal e o coelho de Páscoa trazidos da Alemanha. É nas festas populares que se vê a maior concentração de ingredientes alemães no cardápio sulista, como o assado de porco, a salsicha bock ou iguarias como a cuca – tudo regado a chope.
Literatura
Segundo o professor Luís Augusto Fischer, da UFRGS, a primeira referência aos alemães na literatura brasileira acontece no romance Canaã, de Graça Aranha, editado em 1902. Nele, dois personagens discutem a questão da manutenção da identidade em oposição à miscigenação. Vianna Moog foi o primeiro a centralizar o problema, em sua novela Um rio imita o Reno (1939), que aborda os limites da integração cultural de teutodescendentes com brasileiros, numa cidade imaginária, Blumental. Na mesma geração, Érico Veríssimo apresentou alguns traços da chegada alemã no Sul, em seu romance histórico O tempo e o vento, publicado a partir de 1949. Pelo menos um poeta e crítico de origem alemã alcançou projeção nacional na mesma época: Augusto Meyer.
Nos anos 70, Josué Guimarães relata o lento enraizamento do colonos sulinos em A ferro e fogo. Depois, Luiz Antônio de Assis Brasil abordou o episódio dos Mucker. Nos últimos 30 anos, segundo Fischer, vários escritores deram continuidade ao tema da imigração alemã, como Lya Luft, Charles Kiefer, Paulo Becker, Luiz Sérgio Metz, Roberto Velloso Eifler, Nilson Luiz May, Valeska de Assis e Fernando Neubarth.
Da herança colonial aos "100% brasileiros"

Guga: "Sou 100% brasileiro"Dependendo do ponto de vista, pode-se falar até numa presença e participação alemã na formação da nação brasileira anterior à fundação de São Leopoldo (RS), há 180 anos. O historiador Telmo Lauro Müller argumenta, porém, que o ano de 1824 marca o início da imigração alemã para o Brasil, "porque, ao contrário do que ocorreu nos povoamentos com participação alemã alguns anos antes no sul da Bahia ou Rio de Janeiro, São Leopoldo foi um projeto claramente definido". Para o Sul do Brasil esta data representou o início de uma nova era, acrescenta Müller, para quem "os artesãos alemães foram os precursores da posterior industrialização do país".
Já o jornalista e historiador Dieter Böhnke, de São Paulo, relativiza essa data, afirmando que os primeiros alemães desembarcaram em 1500, entre eles o cozinheiro de Pedro Álvares de Cabral. Segundo ele, mais de 10% da atual população brasileira tem pelo menos um antepassado alemão. Parece muito, mas é pouco, se comparado aos 43 milhões de norte-americanos (15,2% da população dos EUA) que dizem ter pelo menos um ascendente germânico, formando o maior grupo étnico do país. "No Brasil, esses números são bem menores, mas sem a sua contribuição é impossível entender a história, cultura e identidade brasileira", conclui.
Ele lamenta que até mesmo muitos dos descendentes de alemães desconhecem a herança cultural de seus antepassados. Em parte, isso é explicado pelo lusitanismo da historiografia oficial e o alienamento geral pela televisão. Outros simplesmente não vêem mais sentido em cultivar as tradições do passado, como revelam integrantes do clube Sogipa (antigamente Deutscher Turnverein) em Porto Alegre. "Ainda tiramos os trajes típicos do guarda-roupa para a Oktoberfest, mas ao cultivo dos costumes só se dedica mais o departamento bávaro".
Por mais que se festejem os 180 anos da imigração – inclusive com hasteamento da bandeira alemã – isso não deve mudar um sentimento aparentemente dominante, sobretudo entre os jovens descendentes, sintetizado nas palavras do tenista catarinense Gustavo Kuerten, o Guga. "O fato de eu descender de alemães não significa nada. Sou 100% brasileiro".


Definições de determinadas palavras

- AMOR
- Enfermidade temporária que se cura com o casamento.
- Palavra com quatro letras, duas vogais e dois idiotas.

- DANÇAR
- Representaão vertical de um desejo horizontal.

- CÉREBRO
- Órgão que serve para que pensemos que pensamos.

- ESCOTEIROS
- 40 crianças vestidas de pateta, comandadas por um pateta vestido de - criança.

- DOR DE CABEÇA
- O anticonceptivo mais usado pela mulher desde sempre.

- VIRGEM
- Menina de 9 anos, muito feia, que corre mais que o primo.

- EXAME ORAL
- Prova para conseguir um estágio na Casa Branca.

- LÍNGUA
- Órgão sexual que os antigos usavam para falar.

- CONFIANÇA
- Via livre que se dá a uma pessoa para que cometa uma série de - abusos.

- FÁCIL
- Diz-se da mulher que tem a moral sexual de um homem.

- GINECOLOGISTA
- Especialista que trabalha no lugar onde outros se divertem.

- HERÓI
Indivíduo que não teve tempo de fugir.

- HOMEM
- Ser masculino que durante seus primeiros nove meses de vida quer - sair de um lugar em que tenta entrar pelo resto de sua vida.

- INDIFERENÇA
- Atitude que uma mulher adota perante um homem que não lhe interessa, e que é - interpretada pelo homem como se estivesse "se fazendo de difícil".

- INTELECTUAL
- Indivíduo capaz de pensar por mais de duas horas em algo que não seja sexo.

- NINFOMANÍACA
- Termo com o qual um homem define uma mulher que deseja fazer sexo mais – vezes - que ele.

- TRABALHO EM EQUIPE
- Possibilidade de colocar a culpa nos outros.

Revisão gramatical feita pelo Clube das Loiras ou Louras

ABREVIATURA - ato de se abrir um carro de policia;

ALOPATIA - dar um telefonema para a tia;

BARBICHA - boteco para Gays;

CÁLICE - ordem para ficar calado;

CAMINHÃO - estrada muito grande;

CATÁLOGO - ato de se apanhar coisas rapidamente;

COMBUSTÃO - mulher com peito grande;

DESTILADO - aquilo que não está do lado de lá;

DETERGENTE - ato de prender indivíduos suspeitos;

DETERMINA - prender uma garota;
ESFERA - animal feroz amansado;

HOMOSSEXUAL - Sabão utilizado para lavar as partes íntimas;

LEILÃO - Leila com mais de 2 metros de altura;

KARMA - expressão mineira para evitar o pânico;

LOCADORA - uma mulher maluca de nome Dora;

NOVAMENTE - diz-se de indivíduos que renovam sua maneira de pensar;

OBSCURO - 'OB' na cor preta;

QUARTZO - partze ou aposentzo de um apartamentzo;

RAZÃO - lago muito extenso porém pouco profundo;

RODAPÉ - aquele que tinha carro mas agora roda a pé;

SAARA - muulher do Jaaco;

SEXÓLOGO - sexo apressado;

SIMPATIA - concordando com a irmã da mãe;

SOSSEGA - mulher desprovida de visão;

TALENTO - característica de alguma coisa devagar;

TÍPICA - o que o mosquito nos faz;

UNÃO - erro de concordância muito frequente (o correto seria um é);

VATAPÁ - ordem dada por prefeito de cidade esburacada;

VIDENTE - dentista falando sobre seu trabalho;

VIÚVA - ato de ver uva;

VOLÁTIL - sobrinho avisando onde vai.

Armadilhas da língua

A Sociedade Feminina Brasileira se queixa do tratamento machista existente na gramática portuguesa.(com razão).

Veja só alguns exemplos:

Cão........................ melhor amigo do homem
Cadela................... puta
Vagabundo........... homem que não trabalha
Vagabunda........... puta
Touro................... homem forte
Vaca...................... puta
Pistoleiro............. homem que mata pessoas
Pistoleira............. puta
Aventureiro........ homem que se arrisca, viajante, desbravador
Aventureira........ puta
Garoto de rua..... menino pobre, que vive na rua
Garota de rua..... puta
Homem da vida.... pessoa com sabedoria adquirida ao longo da vida
Mulher da vida.... puta
O galinha.............. o "bonzão", que traça todas
A galinha ............. puta
Tiozinho............... irmão mais novo do pai
Tiazinha............... puta
Feiticeiro............ conhecedor de alquimias
Feiticeira.............. puta
Roberto Jefferson, Zé Dirceu, Maluf, ACM, Jader Barbalho,Eurico Miranda............. políticos
Mãe deles ............ putas

E para finalizar...
Puto....................... nervoso, irritado, bravo
Puta....................... puta

Depois de ler este e.mail,
Homem............... vai sorrir
Mulher............... vai ficar puta!

O VERBO DA BOCA
Correio Braziliense 13 de julho de 2007.

Aloprar – brigar, “zoar”
Avião – o que passa a droga
Baba-ovo – bajulador
Baculejo – revista policial
Badu – ruim de mais
Boca de fumo – local de venda de drogas
Bodinho – jovem da classe média, com dinheiro, morador do Plano Piloto
Bundão – medroso
Cabada – bater com a coronha da arma
Caxanga – roubar casa
Chegado – amigo próximo
Comédia – bobo, “otário”
Cuzão – medroso
Dar balão – enganar
Dar o bote – roubar
Dar uma pisa – bater
De rocha – forte, tem “atitude”
Esfumaçar – dar um tiro
Estiga – querer o que não tem
Estoque – faca fabricada dentro da cadeia
Fazer a fita – realizar um roubo
Ferro – arma
Jurado – jurado de morte
Laranja – “otário”, bobo
Loló – droga composta de éter
Mané, manezão, zé-mané – bobo
Manha – ser esperto
Noiado – o que fuma merla
Orelha-seca – trabalhador braçal, sem qualificação, que trabalha fundamentalmente na construção civil
Paga-pau – interesseiro, força amizade Pagar pedágio – pagar uma quantia em dinheiro ou objetos Paia – ruim, sem graça
Peia – bater
Pinar – fugir correndo
Prego – chato
Quebrado – sem dinheiro
Rato – safo, esperto
Ripar – roubar
Rupiá – roubar
Sapecar – “encher” de bala
Ter atitude – ser valente
Véi – tratamento trivial entre jovens equivalente a “cara”, “meu”, “sangue bom”
Zoar – brincar, divertir-se à custa de terceiros

Fonte: Gangues, Galeras, Chegados e Rappers / Miriam Abramovay, Rio de Janeiro,Garamond,2004